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terça-feira, 30 de dezembro de 2014

OMC fecha primeiro acordo de comércio global de sua história






Olá alunos,

Depois de anos de paralisação a OMC
adotou a primeira reforma do comércio global de sua história. A postagem de hoje busca analisar os impasses que levaram a demora da aprovação e os termos do novo acordo.

Esperamos que gostem e participem.

Fellype Fagundes e Carlos Araújo
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense


A Organização Mundial do Comércio (OMC) adotou a primeira reforma do comércio global de sua história nesta quinta-feira (27), depois de anos de paralisação, meses de impasse e um atraso no último dia em função de uma objeção em cima da hora.

Com o acordo, a OMC irá adotar novos padrões de verificações aduaneiras e procedimentos nas fronteiras. Seus patrocinadores dizem que a simplificação do fluxo de comércio acrescentará até um trilhão de dólares e 21 milhões de empregos à economia mundial.

"Colocamos nossas negociações de volta nos trilhos", afirmou o diretor-geral da OMC, o brasileiro Roberto Azevêdo, em uma coletiva de imprensa.

Os diplomatas da área aplaudiram o fim da espera de 19 anos por um acordo.

No entanto, o acordo é só uma fração das propostas comerciais da Rodada de Doha, que foi iniciada em 2001 e acabou se mostrando impossível de ser aprovada.

A OMC diminuiu suas ambições e buscou um entendimento bem mais modesto do que Doha, que buscava reduzir barreiras comerciais, tarifas e subsídios agrícolas, o tema mais controverso das discussões.

Azevêdo ressaltou que os membros da OMC precisam encontrar uma maneira de acelerar as negociações no futuro. "Não podemos esperar outros 17 ou 18 anos para apresentar resultados", declarou.

O representante comercial dos Estados Unidos, Michael Froman, disse que o pacto pode reduzir substancialmente o tempo e os custos das transações, e que irá trazer novas oportunidades tanto para países ricos quanto pobres.

Ele declarou ser "uma vitória particularmente importante para negócios pequenos e médios de todos os países".

Impasse

Mesmo este acordo implementado foi bloqueado por um impasse de quatro meses causado pela Índia, que vetou a adoção do pacote de reformas na véspera do prazo original, meia-noite do dia 31 de julho.

A Índia exigiu mais atenção para seus planos de estocar alimentos subsidiados, uma violação das regras costumeiras da OMC. Concessões acordadas entre os governos norte-americano e indiano puseram fim ao empecilho.

O embaixador indiano na OMC, Anjali Prasad, não quis comentar.

O pacote de reformas adotado nesta quinta-feira foi acertado em uma reunião da entidade no Bali em dezembro do ano passado. Sua aprovação é amplamente vista como uma oportunidade de progresso rumo a novas negociações globais, cujo conteúdo deve ser definido até julho de 2015.

Isso deve tranquilizar as nações menores entre os 160 membros da OMC. Muitas temiam que a postura dura da Índia levasse os EUA e a União Europeia a darem às costas à OMC e se concentrar em organismos comerciais menores, pondo fim às esperanças de que as reformas no comércio beneficiassem a todos.

A Comissária de Comércio da Europa, Cecilia Malmstrom, afirmou que o acordo confirmou o lugar da OMC no centro da política de comércio internacional. "Em resumo, a OMC voltou com tudo."

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sábado, 27 de dezembro de 2014

O que aconteceu com os Brics?



Olá alunos,

Os Brics foram considerados os países que poderiam remodelar a economia mundial, porém, o grupo também vem sentido os efeitos da crise de 2008. A postagem de hoje busca analisar o cenário político-econômico de cada um desses países.

Esperamos que gostem e participem.

Fellype Fagundes e Carlos Araújo
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense


Em 2001, os Brics foram considerados países que poderiam remodelar a economia mundial. 
Brasil, Rússia, Índia e China -na época o grupo não incluía a África do Sul- foram identificados como economias grandes e de crescimento rápido que teriam papeis globais cada vez mais influentes no futuro.
Mas a desaceleração econômica pela qual o Brasil está passando se repete em todo o grupo. O que aconteceu com estas economias?

Hoje, China e Rússia são possivelmente as mais preocupantes para o resto do mundo no curto prazo. Podem provocar uma reformulação séria e bastante indesejável.

No caso da China, há o risco de a desaceleração econômica se transformar em algo mais prejudicial para a economia mundial. Com a Rússia, há a possível consequência econômica do conflito na Ucrânia.

A desaceleração da China aconteceria mais cedo ou mais tarde. Na verdade, é notável que não tenha vindo antes.

A China tem registrado taxas extraordinárias de crescimento econômico há muito tempo - uma média de 10% ao ano nas últimas três décadas.

Mas este crescimento é baseado em taxas muito elevadas de investimento, atualmente em 48% da renda nacional ou PIB.

Quando o investimento é alto assim, há sempre o risco de que muitos projetos acabem sendo um desperdício ou não rentáveis, minando as finanças dos próprios investidores e de qualquer pessoa que tenha emprestado dinheiro a eles.

Poucos países têm taxas de investimento mais altas do que as chinesas -e nenhum deles têm muito a ensinar para a China. São eles Butão, Guiné Equatorial, Mongólia e Moçambique.

Outro fator que ajuda a entender o crescimento chinês é a exportação.

Mas não é possível depender disso atualmente, quando o resto do mundo ainda luta para se recuperar da crise financeira.

Transição chinesa

O que o governo chinês quer fazer é avançar no sentido de um crescimento econômico um pouco mais lento e mais influenciado por venda de bens e serviços para os consumidores chineses.

A desaceleração está acontecendo. Já nesta década, a taxa média de crescimento caiu em mais de dois pontos percentuais.

O homem que inventou o termo "Brics", Jim O'Neill, então da Goldman Sachs, acredita que a transição pode ser gerida sem muita turbulência.

Outros são mais cautelosos.

O professor Kenneth Rogoff, da Universidade de Harvard, diz que a desaceleração da China é ao mesmo tempo inevitável e desejável, mas adverte: "Não é fácil conter o crescimento gradualmente sem provocar problemas generalizados de projetos de investimentos ambiciosos."

Ele diz que, se o crescimento chinês entrar em colapso, a queda global poderia ser muito pior que a causada por uma recessão normal nos EUA.

Já a Rússia é uma história diferente.

Seu impacto econômico potencial sobre o resto do mundo em um futuro próximo está altamente relacionado com questões políticas.

O conflito na Ucrânia já prejudicou a Rússia economicamente.

As sanções impostas pelo Ocidente e o receio entre os investidores de que elas possam aumentar agravaram uma desaceleração que ocorreria de qualquer maneira.

O país já perdeu US$ 85 bilhões este ano, de acordo com dados do Banco Central.

A Rússia é muitas vezes criticada por ter um ambiente de negócios difícil, devido à burocracia e incertezas sobre o sistema legal.

O FMI já falou disso antes, e Jim O'Neill também afirma que a Rússia precisa de normas confiáveis de direito empresarial.

Os problemas da Rússia já tiveram impacto econômico além de suas fronteiras, notadamente na Alemanha.
As exportações para a Rússia caíram acentuadamente - o que é um fator importante por entender por que a Alemanha está perto da recessão.

Olhando para o futuro, o FMI também advertiu que "riscos geopolíticos", ou seja, a crise na Ucrânia e no Oriente Médio, são algumas das principais ameaças para a recuperação da economia global que já é, nas palavras do próprio FMI, "fraca e desigual".

Força da Índia

Outros dos Brics com problemas claros é o Brasil - apesar de o país representar menos perigo no contexto global.

Assim como a Rússia, é uma economia em que as exportações de commodities desempenharam um papel importante para os bons resultados da década de 2000.

Na Rússia, o que se exportava era de petróleo e gás. Já o Brasil tem minério de ferro e commodities agrícolas como soja, café e açúcar.

Jim O'Neill diz que ambos precisam tomar medidas para tornarem-se menos dependentes do setor de commodities.

Devem melhorar a sua competitividade de trabalho, diz, e se tornarem mais atraentes para o investimento privado em outras indústrias.

Entre os países do Bric original - que não inclui a África do Sul -, a Índia aparentemente é o que está causando menos ansiedade nos mercados financeiros e instituições econômicas internacionais no momento.
O crescimento ganhou força este ano, embora esteja muito aquém daquele da década anterior.

Muitos investidores receberam bem o novo governo de Narendra Modi, que assumiu o cargo em maio.
"Estou mais otimista do estive por algum tempo sobre a Índia", diz Jim O'Neill.

Então, os Brics estão desmoronando?

É bom lembrar de onde este conceito veio. Ele apareceu pela primeira vez em um artigo escrito em 2001 por Jim O'Neill.

Não era um grupo, mas apenas uma maneira conveniente, com uma sigla agradável, para detectar tendências importantes.

Somente anos depois os países começaram a fazer cúpulas anuais e, nesta fase inicial, o grupo não incluia a África do Sul. O "s" no final de Brics aparecia apenas como um plural.

Alcançando o crescimento

O objetivo do trabalho era mostrar o papel cada vez mais influente que esses países desempenhariam na economia global pelos próximos 10 anos, e argumentar que a cooperação econômica internacional deveria mudar para refletir esta realidade diferente. E isso ocorreu.

Desde 2008, um dos fóruns-chave para questões de política econômica tem sido o grupo G20, que inclui todos os Brics entre os seus membros.

Os Brics eram as maiores economias emergentes. Não havia nenhum país africano quando a ideia foi usada pela primeira vez, e em termos do seu peso econômico a África do Sul estava bem atrás dos outros, e também de alguns que não foram incluídos, como a Indonésia e o México.

Um artigo de acompanhamento de dois outros economistas do Goldman Sachs estendeu a análise até 2050 e sugeriu que os Brics, em conjunto, poderiam ser maiores que os seis principais países industrializados somados em 2039.

A rigor, os artigos do Goldman Sachs não eram previsões. Eram retratos de como o mundo poderia ser se os países crescessem o quanto podem.

As taxas de crescimento previstas eram muito maiores do que a de países ricos.

Eles têm a possibilidade de alcançar esses países ao investir rapidamente em tecnologia, o que já está estabelecido em economias desenvolvidas.

Eles também têm mão de obras disponível, para as indústrias em rápida expansão, por causa da população em crescimento e urbanização, com as pessoas se mudando do campo para as cidades.

Nas projeções originais de Jim O'Neill, o crescimento chinês ao longo dos próximos 10 anos foi fixado em 7%, da Índia de 5%, e Rússia e Brasil, em 4%.

O Brasil foi o único que não atingiu essa projeção.

Mas todos os Brics têm desacelerado na década atual, por mais de dois pontos percentuais cada, com exceção da África do Sul.

Potencial para o futuro

O FMI investigou a desaceleração dos países em desenvolvimento.

Uma parte significativa dele reflete a demanda internacional mais fraca por suas exportações e políticas governamentais dos próprios países, que se tornaram uma limitação ao crescimento, à medida que reverteram políticas de estímulo anteriores -cortando gastos ou aumento impostos para reduzir as necessidades de financiamento.

Mas também há outros fatores que afetam a capacidade das economias emergentes de crescer no futuro - que limitam o que o FMI chama de "potencial de crescimento".

As taxas de juros tendem a subir gradualmente de seus atualmente baixos níveis nos países ricos - particularmente nos EUA e no Reino Unido.

Isso vai afetar as taxas globais e tornar o investimento mais caro em economias emergentes.

Muitos também terão de lidar com o envelhecimento da população e um crescimento mais lento do número de pessoas em idade ativa.

Para alguns, a vantagem demográfica que tinham anteriormente está desaparecendo.

Rússia e China estão entre nesse grupo. Isso foi levado em conta nas projeções do Goldman Sachs. Jim O'Neill diz que, mais recentemente, suas políticas nesta área têm sido "surpreendentemente boas".

A China está afrouxando sua política de filho único e, diz ele, "a Rússia tem tido algum sucesso no aumento da expectativa de vida com políticas muito mais inteligentes sobre o consumo de álcool."

Apesar de todos os Brics terem desacelerado nesta década, os que apresentam perfomance mais fracos agora são Brasil e Rússia.

Suas taxas médias de crescimento têm sido inferiores a dos Brics asiáticos o tempo todo e, neste ano, eles desaceleraram ainda mais. Para 2014 como um todo, o FMI projetou crescimento para os dois, mas muito pouco - de 0,3% para o Brasil e 0,2% para a Rússia.

Os dois números, aliás, são um bem menores do que foi previsto este ano até para a zona do euro - apesar de ela ainda estar em crise e ter sido descrita como assombrada pelo "fantasma da estagnação" por Mark Carney, do Banco da Inglaterra.

Jim O'Neill ainda não achar que é o caso de tirar Brasil e Rússia do Brics - mas os últimos anos têm certamente sido uma decepção.

Portanto, não é hora de abandonar os Brics.

Os países do grupo estão passando por alguns problemas, certamente. Para mudar o quadro, a China, em particular, está embarcando em uma operação audaciosa, enquanto busca uma forma diferente e, talvez, em última análise, mais sustentável de desenvolvimento econômico.

Os Brics e seu desempenho importam para o resto do mundo, mais do que importavam na virada do século - o que é, afinal, o ponto principal do conceito original.

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quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Comissão Europeia apresenta prognósticos econômicos sombrios



Olá alunos, 
 
As previsões econômicas para 2015 são desoladoras: crescimento de 1,5% para a UE e de 1,1% para a zona do euro. A postagem de hoje busca analisar as causas desse cenário, entre elas profundos problemas estruturais, o excesso de dívidas públicas e privadas, as tensões nos mercados financeiros desde a crise e um curso de reformas instável e não amplamente implementado.
 
Esperamos que gostem e participem. 
 
Fellype Fagundes e Carlos Araújo  Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense

Mal a nova Comissão Europeia foi empossada, sob a presidência de Jean-Claude Juncker, e os problemas já começaram. Enquanto o finlandês Jyrki Katainen – vice-presidente para o Emprego, Crescimento, Investimento e Competitividade do órgão executivo – é conhecido como adepto do Pacto de Estabilidade e Crescimento da Zona do Euro, não se pode dizer o mesmo de seu colega de equipe, Pierre Moscovici.

Na qualidade de antigo ministro das Finanças da França, Moscovici é responsabilizado pelo endividamento excessivo do Estado francês. Como comissário para Assuntos Econômicos e Financeiros e Fiscalidade, ele terá que trabalhar em conjunto com Katainen.

Entretanto, nesta terça-feira (04/11), a coletiva de imprensa para apresentação do prognóstico econômico para o quarto trimestre na União Europeia (UE) e na zona do euro mostrou que a colaboração entre os dois ainda não está funcionando muito bem.

Inesperadamente, Moscovici anunciou que pretendia viajar para a Grécia, a fim de conversar sobre o breve fim do programa de apoio financeiro da UE para o país. Katainen disse, então, que tinha a mesma a intenção e que talvez ambos pudessem viajar para Atenas juntos. Assim, a primeira lição que os dois precisam aprender é como coordenar suas agendas.

O que ambos tinham a anunciar em seguida, porém, eram os lamentáveis dados sobre o desenvolvimento econômico na zona do euro, coletados por seus antecessores. A tendência é sombria, e só com muito esforço os dois comissários conseguiram passar alguma esperança de melhora.

Se, no início do ano, Bruxelas ainda contava com uma taxa de crescimento de 1,6% para a UE, agora está claro que ela não passará de 1,3%. Na zona do euro, o crescimento deve ser de 0,8%, em vez do antes previsto 1,2%. As previsões para 2015 são igualmente desoladoras: crescimento de 1,5% para a UE e de 1,1% para a zona do euro. Somente para o ano seguinte, as perspectivas melhoram ligeiramente.

Como primeira razão dessa dinâmica tão lenta, Katainen citou os problemas estruturais profundos, conhecidos mesmo antes da crise do euro. Em segundo lugar, vem o excesso de dívidas públicas e privadas; em terceiro, as tensões nos mercados financeiros desde a crise; e por último, um curso de reformas instável e não implementado em alguns Estados-membros.

Segundo a Comissão Europeia, mesmo na Alemanha, até então país-modelo, as coisas não vão mais tão bem: em 2014 a economia alemã se arrasta à beira de uma recessão, mas ainda alcança 1,3% de crescimento. No ano seguinte, o nível permanece baixo, e só em 2016, a conjuntura alemã volta a ganhar impulso. Por enquanto, o país estará bem restrito em seu papel de locomotiva econômica da UE. Katainen aconselha investimentos em infraestrutura.

Confiança na UE em xeque
No entanto, os prognósticos ficam realmente negativos quando se trata da maior economia nacional da zona do euro, a França: no ano em curso, seu crescimento fica abaixo de 1%, insuficiente para progredir na redução da dívida pública. E o novo endividamento francês aumenta implacavelmente, devendo chegar a até 4,7% do PIB até 2016 – bem distante dos 3% prescritos pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento.

A questão é se – e como – a Comissão pode dar mais tempo para o país reduzir suas dívidas, já que ela tem até o fim do mês para se manifestar a respeito do planejamento orçamentário de Paris. A princípio, está claro que não haverá uma advertência de Bruxelas, porém, ainda não está à vista nenhum curso de reforma e austeridade plausível para a França.

Por sua vez, Moscovici reforçou que está na hora de a política europeia agir. "Nas últimas eleições europeias, partiu dos eleitores uma mensagem inquietante para nós: eles nos dizem que querem crescimento e empregos. Por isso, faz tanto sentido o presidente Juncker nos chamar de 'a Comissão da última chance'."
Caso não haja nos próximos cinco anos uma vontade definida nem ação decidida no sentido de crescimento e de vagas de trabalho, os cidadãos poderão ter dúvidas sobre o projeto europeu, advertiu o comissário francês. "Por isso, temos que acrescentar uma nova dimensão à política europeia: estabilização era e é necessária. Agora precisamos de mais dinamismo."

Com isso, Moscovici se referiu a novos investimentos e, nesse ponto, continua defendendo a linha do governo francês. Para a Comissão Europeia, contudo, o impulso virá na forma do pacote de investimentos de 300 bilhões de euros anunciado por Juncker, cujos detalhes ainda são desconhecidos.

Desemprego elevado

Para citar pontos positivos dos prognósticos apresentados em Bruxelas: a economia da Irlanda cresceu sensacionais 3,6% – a lembrança da crise nacional de endividamento quase já vai longe. A Espanha também se encontra em rota ascendente, com expectativa de 1,7% de crescimento para 2015. O que continua sendo catastrófico no país, contudo, é o desemprego, cuja taxa é claramente superior a 20%.

No que tange à zona do euro, em geral, nos próximos dois anos os índices de desemprego só baixarão discretamente, mantendo-se bem acima de 10%. A Comissão segue prescrevendo reformas estruturais e investimentos públicos como antídoto.

A questão que o comissário Katainen não conseguiu responder a contento, é por que a zona do euro apresenta os mais baixos índices de crescimento entre as regiões econômicas mais desenvolvidas. Por um lado, disse, as crises pelo mundo, da Ucrânia até o Oriente Médio, afetam com violência especial sobre a Europa. Além disso, alguns países-membros se acomodaram numa falsa segurança, acrescentou. Afinal, a zona do euro só pode ser tão forte quanto a soma de seus membros.

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terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Por que o investimento estrangeiro se sustenta no Brasil?



Olá alunos, 

A economia brasileira continua atraindo o interesse de alguns investidores estrangeiros - uma contradição aparente que encontra explicações no longo prazo. A postagem de hoje busca analisar os motivos da
resiliência desse interesse estrangeiro pelo Brasil.
 
Esperamos que gostem e participem. 
 
Fellype Fagundes e Carlos Araújo  Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense

Apesar de dados que têm despertado o pessimismo de analistas e de uma parte da sociedade, a economia brasileira continua atraindo o interesse de alguns investidores estrangeiros - uma contradição aparente que encontra explicações no longo prazo.

Animados, Phil Popham, diretor de marketing da Jaguar Land Rover (JLR), e Terry Hill, diretor do grupo para a América Latina, descreveram no Salão Internacional do Automóvel, no mês passado em São Paulo, os planos da empresa para a construção de uma fábrica em Itatiaia e as perspectivas de negócios no país.
"O segmento de carros premium continua a crescer apesar da desaceleração", explicou Popham. "Além disso, nosso foco é no longo prazo."

A fábrica da JLR no Brasil será a primeira totalmente controlada pelo grupo fora da Grã-Bretanha e começará a fabricar o Land Rover Discovery Sport em 2016. A estimativa é que custe R$ 750 milhões e crie, inicialmente, 400 empregos - número que poderia dobrar em alguns anos.

O grupo não parece ser o único a olhar para além do atual estado de quase estagnação da economia brasileira - que deve crescer em torno de 0,3% este ano, segundo as projeções do mercado.

Surpreendemente, apesar da desaceleração, o fluxo de Investimentos Diretos Estrangeiros (IDE) para o Brasil continua em patamares relativamente elevados.

Nos últimos 12 meses, tal fluxo atingiu US$ 66,5 bilhões, segundo dados do BC - mesmo nível de 2011, quando o Brasil ainda era o queridinho entre economias emergentes. Em 2010, quando o PIB se expandiu 7,5%, o IED ficou na casa dos US$ 48 bilhões.

Dados da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) parecem confirmar o fenômeno. De acordo com a Cepal, o IDE para o Brasil aumentou 8% de janeiro a agosto na comparação com 2013. Já na região como um todo, os investimentos estrangeiros caíram 23%.

O caso do setor automobilístico chama a atenção também porque ele parece ter sido um dos mais rapidamente afetados pela freada do PIB.


As vendas caíram 8,9% este ano sobre o mesmo período de 2013 e os pátios cheios se tornaram a imagem-símbolo do desaquecimento econômico. O setor também teria fechado 12 mil postos de trabalho nos últimos 12 meses, segundo o IBGE.

Ainda assim, também no Salão do Automóvel, tanto a BMW quanto a chinesa Chery Internacional apresentaram modelos de carros a serem produzidos em fábricas recém-inauguradas no Brasil.

E a Geely Automobile, também chinesa, confirmou que está estudando a abertura de uma montadora no país embora, como ressalta Rodrigo Baggi, da consultoria Tendências, "ao menos no curto e médio prazo, haja dúvidas sobre se haverá demanda para tanto carro".

O que explica a resiliência desse interesse estrangeiro pelo Brasil?

Planejamento

Parte desses investimentos foi planejada anos atrás, quando o crescimento brasileiro ainda empolgava, como nota o economista Caio Megale, do Itaú-Unibanco.

"Mas isso só explica uma parte da história", diz Megale. "O mercado brasileiro de fato tem algumas características que tem ajudado a sustentar o interesse estrangeiro. Somos uma democracia estável e a economia ainda apresenta fundamentos sólidos, por exemplo."

Irene Mia, diretora para América Latina e Caribe da Economist Intelligence Unit, concorda. A EIU tem planos de abrir um escritório em São Paulo até o final do ano, para "melhor servir seus clientes brasileiros e estrangeiros focados no Brasil".

"O crescimento não é o único critério usado pelos investidores para tomar suas decisões de investimento. A atratividade do Brasil para o IDE permanece enorme ", diz ela.

Economistas e analistas econômicos costumam apontar pelo menos dois fatores que estariam por trás da atratividade do mercado brasileiro.

O primeiro estaria ligado à escala desse mercado, que estimularia as empresas a pensarem "no longo prazo" no que diz respeito ao Brasil.

"O mercado de cosméticos brasileiro é o terceiro maior do mundo, o automobilístico é o quarto maior e o de laptops, o terceiro", diz Olavo Cunha, do Boston Consulting Group.

"Muitas multinacionais sentem que precisam ter um plano para o Brasil para os próximos dez, vinte anos. E mesmo aquelas que já têm uma forte presença no país, como a Nestlé ou a Unilever, por exemplo, precisam fazer investimentos para manter sua fatia do mercado no longo prazo."

Mobilidade social

Nos últimos anos, as dimensões do mercado brasileiro ainda teriam sido reforçadas pelo processo de expansão da Classe C. Milhões de brasileiros deixaram a pobreza para serem incluídos nessa nova classe de consumidores. E embora esse processo tenha sido freado pela desaceleração, continua em curso.

Além disso, como as taxas de desemprego continuam em patamares historicamente baixos, ao menos até agora a desaceleração ainda não chegou a afetar de forma drástica a vida e hábitos de consumo da maioria dos brasileiros, segundo os analistas.


Outro fator que fomentaria o interesse estrangeiro pelo Brasil é que alguns nichos da economia brasileira - e algumas regiões geográficas do país - ainda estão crescendo em um ritmo relativamente acelerado.

O setor de petróleo e gás, por exemplo, continua a atrair a atenção de investidores - embora o escândalo de currupção da Petrobras possa deixar sequelas.

A área de infra-estrutura também seria promissora, segundo Luis Afonso Lima, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e Globalização Econômica (Sobeet).

"Há um enorme potencial para se atrair aportes nessa área, mas para isso o governo precisa garantir um ambiente regulatório favorável", diz ele.

O mercado de bens de luxo é outro exemplo. De acordo com um relatório da McKinsey, o número de grifes estrangeiras com presença no Brasil dobrou nos últimos cinco anos.

Ainda assim, as três principais marcas de luxo no país têm apenas 0,3 lojas para cada milhão de clientes em potencial - contra 4 lojas na China.

No caso dos carros premium, a JLR prevê que eles possam aumentar sua participação de 2% para 4% ou 5% do mercado de automóveis no Brasil até 2020. Na Europa, essa participação é de 10% e há pouco espaço para crescimento.

Mesmo entre os modelos populares, associações do setor acreditam haver espaço para uma expansão do mercado automobilístico no longo prazo.

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), por exemplo, projeta que, até em um cenário pessimista, a frota de automóveis no país deve dobrar nos próximos 20 anos.

"Para completar, as empresas estrangeiras também estão lentamente descobrindo o potencial de crescimento das cidades médias e interior do país", diz Baggi, da Tendências.

"Impulsionadas por recursos do agronegócio, algumas dessas cidades estão se tornando uma nova fronteira de consumo"

Alta lucratividade

Para Marcos Troyjo, Co-Diretor do BRICLab na Universidade Columbia, há ainda um outro fator por trás da atratividade do Brasil para investidores estrangeiros.

"Um carro que custa US$ 15 mil nos Estados Unidos pode ser vendidos no Brasil pelo dobro ou o triplo", diz ele.

O preço mais alto compensa, em parte, os custos da carga tributária mais elevada, a complexa burocracia do país e os problemas ligados à falta de infraestrutura.

"Mas as margens (de lucro) também são maiores. As empresas são obrigadas por barreiras protecionistas a produzir no país para acessar o nosso mercado doméstico. Mas, uma vez aqui, elas também acabam protegidas da concorrência externa", diz Troyjo.

"Quem perde, mais uma vez são os consumidores brasileiros."

Segundo Troyjo, 2015 será decisivo para definir as tendências nos fluxos de IDE para o Brasil nos próximos anos.

"Se o governo começar a fazer as reformas e correções de rumo na política econômica vistas como necessárias para a retomada do crescimento, os investidores devem responder positivamente. Se o sinal for contrário, alguns podem começar a repensar até sua estratégia de longo prazo para o país", opina.

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domingo, 21 de dezembro de 2014

O abismo entre ricos e pobres cresce



Olá alunos, 

Com raras exceções, a desigualdade tem aumentado em todos os países do mundo. A desigualdade econômica produz diferenças em termos de oportunidades de vida, quem está na parte baixa da escada social tem grande desvantagem em termos de escolaridade, saúde, violência e expectativa de vida. A postagem de hoje busca analisar esse cenário e possíveis medidas para redução da pobreza e desigualdade. 

Esperamos que gostem e participem. 

Fellype Fagundes e Carlos Araújo  Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense

Em um mundo angustiado pela crise econômica, aprendemos que de março de 2009 a março de 2014, exatamente o período considerado mais crítico, depois da bancarrota do Lehman Brothers, o número de bilionários do planeta dobrou: eram 793 no começo do furacão e agora somam 1.645. Os 85 mais ricos entre eles, no mesmo período, incrementaram seus capitais em 668 milhões de dólares a cada dia e sua renda equivale àquela de metade da população mundial, 3,5 bilhões de outros seres humanos. Os dados constam, entre outras “pérolas”, do recente estudo sobre a desigualdade no mundo, publicado pela Oxfam, rede internacional de 19 ONGs que combatem a pobreza. Na sequência da divulgação do relatório, originalmente chamado Even It Up: Time to end extreme inequality, foi lançada a campanha mundial de sensibilização “Equilibre o jogo”.

Crise é um termo utilizado no mundo inteiro para descrever situações diferentes, mas com um denominador comum, a desaceleração do crescimento das economias, que em média superava os 4% anuais na década passada e hoje sofre para chegar perto dos 3,5%. Para resolver os problemas provocados por esse recuo e retomar o ritmo anterior, os defensores do atual sistema econômico-financeiro indicam um caminho único, a ampliação do espaço da iniciativa privada em detrimento do setor público, com corolário de cortes nos gastos sociais e intensificação da produtividade no trabalho. Em outras palavras, salários mais baixos para criar produtos mais baratos. Essa receita, baseada numa visão brutalmente quantitativa do bem-estar da humanidade e sem nenhuma atenção à equilibrada convivência social, é rotundamente recusada pela Oxfam. Com riqueza de informações e análises, a desigualdade é descrita sob diversos aspectos, e o estudo chega à conclusão de que essa praga contemporânea não só é contrária a uma ética humanista, mas também a causa fundamental da crise econômica em curso.

O primeiro mito que o relatório se encarrega de derrubar é aquele que considera natural a desigualdade entre os seres humanos. Melhor se concentrar na redução da pobreza, afirmaram os liberais a partir da Revolução Industrial, pois a compaixão é a única maneira de mitigar a lei natural que inevitavelmente produz as diferenças. Mas a desigualdade excessiva tem comprometido o combate à pobreza, apesar dos bons resultados conseguidos nesse campo até o início dos anos 80 do século passado. O abismo entre ricos e pobres nas últimas três décadas, demonstra a pesquisa, tem clara correlação com a baixa mobilidade social. Em outros termos, nos países em que o fenômeno é mais acentuado, quem nasce rico fica rico, quem nasce pobre não tem outra alternativa além de permanecer pobre. A esperança de uma vida melhor, na evolução entre pais e filhos, é banida do horizonte de bilhões de seres humanos.

Com raras exceções, a desigualdade tem aumentado em todos os países do mundo. Caso particularmente emblemático, a Oxfam calcula que até na África do Sul a desigualdade é hoje maior do que no período do Apartheid. Com base em dados de 2013, 7 de cada 10 habitantes do mundo vivem em países em que a desigualdade econômica é maior do que há 30 anos.

O enriquecimento desmedido de um número restrito de indivíduos, a depender dos países, encolheu ou limitou o crescimento da classe média, comprometendo a sua capacidade de gasto e, em última análise, o motor do crescimento mundial. Desde 1990, a participação do trabalho na composição do PIB mundial é constantemente decrescente. O ataque ao valor e à dignidade do trabalho é particularmente acentuado nos países mais pobres, mas também ocorre nas nações ricas. Por consequência, o PIB mundial é composto por uma porcentagem crescente do capital, que se autoalimenta cada vez mais da especulação financeira.

As 150 páginas da pesquisa, com amplíssima bibliografia, demonstram que a desigualdade extrema também está associada à violência. A América Latina, a região mais desigual do mundo do ponto de vista econômico, reúne 41 das 50 cidades mais violentas do planeta e registrou 1 milhão de assassinatos entre 2000 e 2010. Países desiguais são lugares perigosos para viver, e a insegurança afeta tanto ricos quanto pobres.

A desigualdade econômica produz ainda diferenças em termos de oportunidades de vida. Quem está na parte baixa da escada social tem grande desvantagem em termos de escolaridade, saúde e expectativa de vida. A Oxfam demonstra com dados e gráficos que a “pobreza interage com desigualdades econômicas e de outros tipos para criar ‘armadilhas de desvantagens’ que empurram os mais pobres e marginalizados para o fundo – e os mantêm lá”. E a globalização da economia aumentou consideravelmente o número de super-ricos nos países em desenvolvimento e emergentes. Na África Subsaariana, 16 bilionários convivem com 358 milhões em pobreza extrema.

No atual cenário, o Brasil, que nos últimos 12 anos tirou da pobreza dezenas de milhões de indivíduos, é citado várias vezes no relatório como positiva exceção por ter agido na contracorrente mundial, mas também como exemplo de uma desigualdade ainda gravíssima que afeta as perspectivas de resgate econômico e de pacificação nacional. É extremamente fácil evidenciar a imediata correspondência entre o aumento de 50% no valor do salário mínimo entre 1995 e 2011 e a redução da pobreza e desigualdade no País.

Como exemplo oposto, dados de 40 países europeus e latino-americanos revelam que a capacidade redistributiva de um bom sistema fiscal, combinada com gastos sociais bem-focados, pode reduzir as disparidades de ingressos produzidas pelo mercado. A Finlândia e a Áustria conseguem reduzir pela metade essa desigualdade por meio de impostos, enquanto o sistema fiscal e o gasto social brasileiro a limitam de maneira insignificante.

O relatório da Oxfam não se restringe à análise da situação de fato, mas identifica as causas que provocaram a absurda desigualdade atual: o fundamentalismo de mercado e a captura do poder pelas elites econômicas. A ideologia neoliberal, que continua dominante, apesar das contradições que suscitou, segue a impulsionar as diferenças, que não poderão ser reduzidas enquanto os países forem forçados a engolir remédios como a desregulamentação financeira, a austeridade fiscal, as privatizações, a redução de programas sociais ou o corte de impostos para os ricos. Por outro lado, como em um círculo vicioso, o dinheiro compra a influência e o poder político, tanto nos países ricos quanto nos pobres.

Para “reequilibrar o jogo”, a Oxfam identifica uma série de medidas específicas que, acrescentamos, não poderão ser alcançadas com base em alguma milagrosa fulguração de bondade da parte de quem hoje dirige o jogo, mas apenas à medida que as relações de força e de poder entre as minorias ricas e as maiorias pobres se inverterem. O mérito do relatório é demonstrar implicitamente que a batalha deve ser combatida em cada lugar de trabalho e em cada país, mas, para ser vencida, deve incluir um pensamento e uma ação global de todas as vítimas da desigualdade e de todos os seus aliados de boa vontade. Se a economia e a riqueza do mundo são globalizadas, a resposta para redistribuir deve ter a mesma escala. O nacionalismo é uma ferramenta arcaica. O que hoje precisamos é de um novo internacionalismo.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Sobre os objetivos do dumping do preço do petróleo



Olá alunos, 

A Arábia Saudita está injetando mais petróleo no mercado e a um preço menor do que o convencional. Esse desajuste esta causando preocupação e a postagem de hoje busca analisar os motivos que levaram a essa política.

Esperamos que gostem e participem. 
 
Fellype Fagundes e Carlos Araújo  Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense

A Arábia Saudita está destruindo o mercado de petróleo ao vender 11,8 milhões de barris (dois milhões a mais que sua cota) a um preço de 50-60 dólares o barril (d/B), ou seja, até 40 dólares menos do que alguns meses atrás. Se a baixa vai ser temporária, só Washington poderá saber, além de Riad, já que a fórmula oferta demanda não explica a situação: a elevada tensão e as guerras que estão esgotando o Oriente Próximo, junto das flutuações na oferta do Iraque, Líbia, Irã, Nigéria e Síria deveriam ter empurrado os preços para cima.

O conjunto das explicações convencionais apontam para a necessidade de a Arábia Saudita conseguir grandes quantidades de dinheiro para realizar seus mega projetos de construção de infraestrutura; recompensar a redução de suas exportações para os Estados Unidos, país que aumentou sua própria produção; a desaceleração na China e o estancamento na zona do Euro; o fracasso da Abenomics, o projeto de reformas econômicas no Japão, lançadas pelo premiê Shi ao Abe; a queda da tensão entre Rússia e Ucrânia e inclusive a diminuição do avanço do Estado Islâmico no Iraque.

Parece que desta vez uma queda no preço do petróleo não impulsionará o crescimento econômico de seus compradores. Por sua vez, os analistas "não convencionais", divididos em dois principais apontam o seguinte:

(A) Um complô arquitetado pelos Estados Unidos e pela Arábia Saudita para afundar as economias da Rússia, principal produtor de petróleo no mundo, e do Irã. Desse modo, também castiga Moscou pela Ucrânia e Crimeia e pelo apoio a Bashar al Assad, forçando o Kremlin a reduzir seus gastos militares. No caso do Irã, serve para tirar vantagem de Teerã nas negociações nucleares em curso e tirar sua força na região. Lembra 1985, quando os sauditas quintuplicaram sua produção de 2 a 10 milhões de barris por dia e os vendeu a 10 dólares em vez dos 32, que era seu preço, obrigando a URSS a oferecer seu barril por 6 dólares, afundando a economia planificada.

(B) Que se trata de outro caso de dumping lançado pelos sauditas: fixar preços predatórios com a finalidade de atingir a Rússia e o Irã, mas também os EUA por sua "revolução do xisto". Assim, pretende conseguir contratos interessantes na Ásia e sabotar a petição das companhias norte-americanas ao Congresso para levantar a proibição sobre as exportações de petróleo.

O cenário, porém, é mais complexo: em um cartel como a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), um aumento da produção não tem por que acarretar uma queda nos preços.

O Irã, apesar de ser uma das principais reservas mundiais de petróleo, envia somente ao mercado 800 mil barris (comparados aos 4 milhões de 1977) e a política dos sauditas não pode lhe prejudicar mais do que as sanções da ONU, dos EUA e da União Europeia fazem.

Se Riad quisesse prejudicar os EUA, teria desvinculado o petróleo do dólar. Em vez disso, reduziu os preços para seu aliado estratégico, sendo consciente de seu status de ser “Estado cliente” e que sua existência e segurança continuam dependendo da proteção militar do Tio Sam, que controla os sauditas, entre outros mecanismos, mediante a venda de armas.

Que um preço abaixo de 75 dólares não é rentável para os EUA pelo alto custo da produção de xisto betaminoso. Seria dar como um tiro no pé.

Objetivos: desmantelar a OPEP e salvar o petrodólar

Em 1973, Henry Kissinger sugeriu que os EUA deveriam invadir o Oriente Próximo e dissolver a OPEP. Acabar com o controle da OPEP sobre os preços do petróleo, fazer com que cada sócio estabeleça de forma individual para reduzir as tarifas e impedir que utilizem outra moeda que não seja o dólar, são dois objetivos da guerra de preços. Dois líderes que tentaram substituir a moeda verde pelo Euro, Saddam e Kadafi, foram assassinados. Em setembro de 2000, o presidente iraquiano anunciou a venda de seu pretróleo em Euros e em 2002 transformou os 10 bilhões de dólares do fundo de reserva do país na ONU na moeda europeia, desvalorizando o dólar. Os EUA querem sancionar, encurralar ou atacar todos os produtores de petróleo para obrigá-los a usar o dólar? E o capitalismo de livre mercado?

Meses antes da invasão do Iraque, um barril custava 15,30 dólares. Meses depois, 40,42, preço que continuou subindo sem parar, enchendo a Reserva Federal de petrodólares. Hoje, esta situação se inverteu; o valor do dólar aumentou e o preço do óleo bruto reduziu. Assim, ressuscitaram um dólar martirizado – cuja fortaleza depende dos petrodólares – mais forte desde junho de 2010.

O petróleo saudita e o dólar são dois dos pilares do domínio de Washington sobre o mundo. Que sua moeda seja o patrão do petróleo é tão vital para os EUA que o país pode perder um punhado de dólares e a indústria de xisto, em troca da desestabilização da Rússia, Irã, Venezuela e Equador. Derrotar Bashar al Assad seria a cereja do bolo.

Em 2012, Barack Obama forçou a Europa a deixar de comprar petróleo iraniano, impedindo, entre outros fatores, a transação petróleo/euro. Guerra financeira entre as potências ocidentais que também se refletiu nas sanções aplicadas por Washington contra o Irã, incluindo seu Banco Central – que em 2005 tinha convertido a metade de suas reservas de dividas em Euros – e que em setembro de 2014 foram declaradas ilegais pelo Tribunal Geral da União Europeia.

Ganhadores e perdedores imediatos

Entre os beneficiários do petróleo barato está a China, que compra cinco milhões de barris por dia e é o maior cliente da Arábia Saudita. Também está aumentando suas compras da Rússia e, pela primeira vez, da Colômbia (30 mil toneladas). Índia e Europa também estão aproveitando do petróleo barato.

Moscou, que aumentou seu orçamento para o próximo ano pensando em um barril de 100 dólares, com 20 ou 40 dólares a menos, sofrerá um déficit orçamentário que se somará aos efeitos das sanções e à queda do preço do rublo. Por isso, vai atuar a partir dos BRICS para desbancar o petrodólar do sistema financeiro mundial, enquanto a China trabalhará para estabilizar o rublo: pedem que seus sócios comerciais usem euro e iene. O Irã, por sua vez, já está trocando o petróleo por bens acordados, eludindo as sanções dos EUA, pois já anunciou a criação de um banco de desenvolvimento com a Rússia, com a finalidade de elevar suas transações comerciais, a construção de novas usinas nucleares e aumentar a compra do petróleo iraniano para exportar para outros países.

Novos movimentos no tabuleiro

Apesar de a China ter diminuído a importação de petróleo iraniano até 30% para “melhorar suas refinarias” - e talvez porque o Irã rompera em maio do ano passado o contrato de 2.500 milhões de dólares com a Corporação Nacional de Petróleo da China por descumprir o mesmo (em seis anos deveria ter perfurado 185 poços), pelo primeira vez na história – os exércitos dos dois países realizaram em setembro uma manobra conjunta no Golfo Pérsico em que participaram Changchun e Changzhou, um destrutor e uma fragata de mísseis. O Irã é a peça fundamental na estratégia chinesa de Marcha para o Oeste” - Ásia central, Ásia do Sul, Oriente Médio e Oceano Índico – e em ampliar o cinturão econômico marítimo na velha Rota da Ceda.

Longe de isolar a Rússia, o Ocidente conseguiu a formação de novas e temíveis alianças: uma aproximação entre Pequim e Moscou sem precedentes após a morte de Stálin, enquanto aumenta cada vez mais a aberta inimizade entre os mandatários e xeques sauditas.

É o final da era do petróleo: estão sendo utilizados os últimos 25% da reserva aproveitável, cuja oferta, se prevê, se esgotará em 25-30 anos. Diante do auge do petróleo e dos cenários que não são possível de se antecipar, a única garantia são os novos conflitos nas regiões produtoras de petróleo.

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quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Estudo mostra redução das desigualdades entre as regiões metropolitanas


Olá alunos, 

A disparidade socioeconômica existentes entre as regiões metropolitanas no Brasil é um dado histórico. De acordo com dados da Fundação João Pinheiro, Pnud e Ipea essa desigualdade vem diminuindo.

Esperamos que gostem e participem. 

Fellype Fagundes e Carlos Araújo 
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense


Os indicadores socioeconômicos das regiões metropolitanas brasileiras melhoraram entre 2000 e 2010 e mostram redução das disparidades entre metrópoles do Norte e do Sul do país. Os dados constam do Atlas do Desenvolvimento Humano nas Regiões Metropolitanas Brasileiras, divulgado hoje (25), fruto de parceria entre o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e a Fundação João Pinheiro.

De acordo com o atlas, entre 2000 e 2010, as disparidades entre as 16 regiões metropolitanas analisadas diminuíram e todas se encontram na faixa de alto desenvolvimento humano. A análise leva em conta o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM).

As regiões metropolitanas que apresentaram os maiores valores para o IDHM em 2010 foram São Paulo (0,794), Distrito Federal e Entorno (0,792), Curitiba (0,783), Belo Horizonte (0,774) e Vitória (0,772), todas com índices mais altos que os apresentados em 2000.

As regiões metropolitanas de mais baixo IDHM, em 2010, eram Manaus (0,720), Belém (0,729), Fortaleza (0,732), Natal (0,732) e Recife (0,734). Essas regiões, na mesma ordem, eram as de menor IDHM, em 2000. Entretanto, todas melhoraram.

Em 2000, apenas São Paulo tinha índice de desenvolvimento humano alto. Manaus tinha baixo e as outras regiões, médio. Em 2010, todas passaram a ter IDHM alto.

Em 2010, a diferença registrada entre a região metropolitana com o maior e o menor IDHM foi 0,074 pontos ou 10,3%. Enquanto São Paulo ficou com índice 0,794, Manaus estava com IDHM 0,720. Dez anos antes, essa diferença era 22,1%.

O IDHM é um número que varia entre 0 a 1: quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento humano de um estado, município ou região metropolitana. O índice é calculado levando em conta três fatores: expectativa de vida, renda per capita e acesso ao conhecimento, que considera a escolaridade da população adulta e o fluxo escolar da população jovem.

Os dados do atlas são calculados com base nos Censos Demográficos de 2000 e 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ( IBGE).

Entre 2000 e 2010, as regiões metropolitanas que apresentavam um IDHM menor tiveram avanço maior e as que tinham índices maiores cresceram menos. Isso fez com que as diferenças entre as regiões metropolitanas diminuíssem, resultando em maior equilíbrio entre as 16 regiões pesquisadas (Belém, Belo Horizonte, Cuiabá, Curitiba, Distrito Federal e Entorno, Fortaleza, Goiânia, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Luís, São Paulo e Vitória). Essas 16 regiões correspondem a quase 50% da população brasileira.

No período analisado, as regiões metropolitanas que tiveram o maior avanço no IDHM, em termos relativos, foram Manaus, Fortaleza, São Luís, Belém e Natal. As que tiveram menor avanço foram as de São Paulo, Porto Alegre, Curitiba, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Vitória.

Para o representante do Pnud no Brasil, Jorge Chediek, gestores públicos e população devem usar os dados do atlas não apenas para constatar as disparidades, mas também para direcionar e reivindicar políticas pública inclusivas e eficientes para as áreas mais carentes.

“Para além de evidenciar o fato de que o país ainda tem um caminho a percorrer na redução das desigualdades em suas cidades, a intenção do atlas é justamente ajudar no estabelecimento de políticas inclusivas que tenham como fim a melhoria das condições de vida das pessoas”, disse.

Além das regiões metropolitanas, foram pesquisadas 9.825 unidades de Desenvolvimento Humano (UDHs), conceito próximo ao de bairros. Nessas UDHs, “é possível notar níveis significativos de desigualdades intrametropolitana”, aponta o atlas.

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segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

"O risco de uma terceira recessão na Europa é muito real”

Olá alunos, O setor industrial teve um declínio em termos de participação na produção e no emprego das economias capitalistas maduras durante o século vinte. A postagem de hoje analisa se essa queda teve efeitos sobre qualidade de vida da população e suas relações sociais. Esperamos que gostem e participem. Fellype Fagundes e Carlos Araújo Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
Olá alunos, O setor industrial teve um declínio em termos de participação na produção e no emprego das economias capitalistas maduras durante o século vinte. A postagem de hoje analisa se essa queda teve efeitos sobre qualidade de vida da população e suas relações sociais. Esperamos que gostem e participem. Fellype Fagundes e Carlos Araújo Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
Olá alunos, O setor industrial teve um declínio em termos de participação na produção e no emprego das economias capitalistas maduras durante o século vinte. A postagem de hoje analisa se essa queda teve efeitos sobre qualidade de vida da população e suas relações sociais. Esperamos que gostem e participem. Fellype Fagundes e Carlos Araújo Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
Olá alunos, O setor industrial teve um declínio em termos de participação na produção e no emprego das economias capitalistas maduras durante o século vinte. A postagem de hoje analisa se essa queda teve efeitos sobre qualidade de vida da população e suas relações sociais. Esperamos que gostem e participem. Fellype Fagundes e Carlos Araújo Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
Olá alunos, O setor industrial teve um declínio em termos de participação na produção e no emprego das economias capitalistas maduras durante o século vinte. A postagem de hoje analisa se essa queda teve efeitos sobre qualidade de vida da população e suas relações sociais. Esperamos que gostem e participem. Fellype Fagundes e Carlos Araújo Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
Olá alunos, O setor industrial teve um declínio em termos de participação na produção e no emprego das economias capitalistas maduras durante o século vinte. A postagem de hoje analisa se essa queda teve efeitos sobre qualidade de vida da população e suas relações sociais. Esperamos que gostem e participem. Fellype Fagundes e Carlos Araújo Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
Olá alunos, O setor industrial teve um declínio em termos de participação na produção e no emprego das economias capitalistas maduras durante o século vinte. A postagem de hoje analisa se essa queda teve efeitos sobre qualidade de vida da população e suas relações sociais. Esperamos que gostem e participem. Fellype Fagundes e Carlos Araújo Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal FluminensBarry Eichengreen é professor de Economia e Ciência Política na Universidade de Berkeley. Especialista em mercado de divisas, é o historiador econômico de maior prestígio nos Estados Unidos. Visitou recentemente a Espanha para dar uma conferência no Instituto Figuerola de História e Ciências Sociais.
Olá alunos, O setor industrial teve um declínio em termos de participação na produção e no emprego das economias capitalistas maduras durante o século vinte. A postagem de hoje analisa se essa queda teve efeitos sobre qualidade de vida da população e suas relações sociais. Esperamos que gostem e participem. Fellype Fagundes e Carlos Araújo Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
Olá alunos, O setor industrial teve um declínio em termos de participação na produção e no emprego das economias capitalistas maduras durante o século vinte. A postagem de hoje analisa se essa queda teve efeitos sobre qualidade de vida da população e suas relações sociais. Esperamos que gostem e participem. Fellype Fagundes e Carlos Araújo Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense


Olá alunos, 

A situação econômica pós-crise de 2008 continua preocupante. A postagem de hoje traz uma entrevista concedida pelo historiador econômico Eichengreen, que busca analisar o cenário internacional.

Esperamos que gostem e participem. 

Fellype Fagundes e Carlos Araújo 
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense

Olá alunos, O setor industrial teve um declínio em termos de participação na produção e no emprego das economias capitalistas maduras durante o século vinte. A postagem de hoje analisa se essa queda teve efeitos sobre qualidade de vida da população e suas relações sociais. Esperamos que gostem e participem. Fellype Fagundes e Carlos Araújo Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
Eichengreen, o historiador econômico de maior prestígio nos Estados Unidos, diz que é complicado encontrar outra região onde a situação econômica não seja decepcionante.

Pergunta. Está otimista com a situação econômica mundial?

Resposta. É difícil estar otimista neste momento. Excetuando os Estados Unidos, que estão se saindo relativamente bem, e o Reino Unido, é complicado encontrar outra região do mundo onde a situação econômica não seja decepcionante.

P. Acha possível que a Europa caia em uma terceira recessão?

R. Sim, esse risco existe. Até na Alemanha há uma desaceleração da atividade. A deflação na Europa não é um problema de médio prazo, mas já está aqui. As medidas que estão sendo adotadas para combatê-la, com estímulos fiscais pelos Governos e estímulos monetários pelo Banco Central Europeu (BCE) são poucas e talvez estejam chegando muito tarde. Para enfrentar a deflação são necessárias decisões mais traumáticas, mas a Europa não está organizada para isso, sua estrutura não permite atuar da forma decidida que a situação requer. O risco de uma terceira recessão, acompanhada de um ambiente deflacionista, é muito real e preocupante.

P. Em que medida o empenho da Alemanha pela austeridade está por trás dessa debilidade?

R. Um dos problemas da crise é que a Alemanha teve um diagnóstico distinto dos problemas. Não admitiram que se adotasse uma política de mão dupla: por um lado incentivar a oferta através de reformas estruturais; e por outro facilitar a demanda mediante mais gasto público. Os alemães não acreditam em uma demanda maior. Entretanto, sua posição se enfraqueceu nos últimos meses, porque sua economia também está mais fraca e porque as facções contrárias à austeridade em outros países estão ganhando força. A Comissão Europeia, por exemplo, permitiu à Itália e à França certa margem com o déficit. A Alemanha não gostou da decisão, mas não pôde fazer muita coisa para mudá-la.

P. Atravessamos uma fase bipolar quanto às políticas monetárias. Os Estados Unidos começam a retirar liquidez do sistema, enquanto a Europa acelera a aplicação dos estímulos. Que consequências essa situação pode trazer?

R. Em primeiro lugar, é lógico que as políticas dessas economias são diferentes porque suas perspectivas de crescimento também o são. Dito isso, devo alertar que as consequências desse mundo bipolar são duas. Em primeiro lugar, há um impacto nas taxas de câmbio. Nos últimos meses já vimos uma depreciação do euro frente ao dólar. Acredito que a moeda europeia tende a cair mais se não forem cumpridas as expectativas do mercado, ou seja, se o Federal Reserve (Fed) elevar as taxas antes do tempo ou se o BCE prosseguir com seu programa de compra de ativos. Eu ficaria surpreso se algum deles saísse desse roteiro. A segunda consequência é que o mercado bancário mundial tem o dólar como referência. A retirada de estímulos do Fed não poderá ser compensada pelas injeções do BCE e o sistema precisará de mais liquidez, prevejo mais turbulências nos mercados emergentes.

P. O que aconteceria se o BCE ativasse um Quantitative Easing como o do Fed?

R. O principal requisito é que passe o tempo. Nem mesmo uma recessão na Alemanha faria seus líderes mudarem de opinião de agora. O BCE tem um mapa de rota, dará pequenos passos na compra de ativos até chegar a adquirir um número muito reduzido de bônus públicos em 2015. Isso deveria servir para afastar da mente dos alemães o medo da hiperinflação. Mas insisto, o problema agora não é a inflação, mas a deflação e para combatê-la é preciso tomar decisões radicais como as do Banco do Japão. O BCE não é capaz de fazê-lo porque tem um conselho muito grande e não quer se indispor com a opinião pública alemã. É como um grande tanque que tem uma enorme dificuldade de mudar de direção.

P. Ainda há muita liquidez no sistema. Há risco de alguma bolha estourar?

R. Algumas Bolsas, sobretudo nos Estados Unidos, subiram muito em um ambiente onde, embora haja crescimento, este não é exagerado. Além disso, no mercado imobiliário de Reino Unido, China ou em algumas áreas dos Estados Unidos como a Califórnia, os preços estão em níveis próximos ao que estavam no início da crise. Se as taxas subirem antes do previsto algumas dessas bolhas podem estourar. A boa notícia é que os reguladores estão atentos e tomaram medidas. Isso quer dizer que embora essas bolhas se desinflem e causem problemas, eles não serão tão graves como em 2007.

P. De quando em quando volta ao mercado a possibilidade de uma guerra de divisas, por quê? Acredita que já estamos imersos em uma dessas guerras?

R. Nas economias desenvolvidas não há uma guerra de divisas. Japão, Europa e Estados Unidos querem que as taxas de juros continuem baixas para estimular suas economias. A inflação no momento não é um problema e baixam taxas com o consequente enfraquecimento de suas moedas. Se todos fazem isso ao mesmo tempo não há movimentos agressivos no mercado de divisas. Acredito que isso é sadio e construtivo. O problema vem para outro grupo de países como os emergentes. Eles não podem baixar as taxas porque têm problemas inflacionários, sistemas financeiros mais frágeis e bancos centrais com menos credibilidade que os dos países desenvolvidos. Isso se traduz em moedas muito fortes para suas necessidades.

P. Onde pode desembocar a montanha russa em que embarcou o rublo?

R. A situação financeira do país vai de mal a pior. A Rússia está prestes a impor controles de capital e de taxas de câmbio. Perdeu-se a confiança em sua economia e a tentação é levar o dinheiro para fora do país. Vários fatores somados levaram a essa situação: as sanções, a política errática do Governo e a queda dos preços da energia.

P. Você é historiador. Com a perspectiva dada pelo tempo, foi um erro lançar o euro sem uma união política e fiscal?

R. É fácil acertar quando se revisa o passado. À sua pergunta respondo que sim, foi um erro criar uma união monetária sem união bancária e política. Isso já não tem remédio e o importante agora é que o euro funcione. Os passos para a união bancária são positivos. Entretanto, devem vir acompanhados de uma maior integração fiscal e de mudanças políticas como a eleição direta do presidente da Comissão Europeia. Não deve haver acordos nos bastidores para escolher os representantes.

P. Como será o mundo posterior à crise?

R. Acredito que deve haver um debate a respeito de quanto Governo necessitamos para ter uma sociedade mais justa e um funcionamento econômico mais adequado. Nos Estados Unidos muitos pensamos que o Governo deveria ser mais forte, com menos limitações, para proporcionar um melhor sistema de saúde e educacional ou um maior investimento em infraestrutura. No caso europeu talvez se necessite de um Governo menor, mas mais eficiente. Também devemos debater se as reformas e a regulação financeira são suficientes para garantir que não vamos ter uma crise como a que acabamos de deixar para trás. Espero que as reformas nesse sentido não tenham terminado.

P. Uma das consequências da crise foi o aumento da desigualdade. O que poderia ser feito para reduzi-la?

R. Eu diria que foi uma das consequências da crise, mas também uma de suas causas. Medidas diferentes poderiam ser tomadas para corrigir a desigualdade de acordo com o país. Nos Estados Unidos terão utilizar a política fiscal: os ricos quase não pagam impostos. Na Europa o que se precisa é gerar crescimento econômico.
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Olá alunos, O setor industrial teve um declínio em termos de participação na produção e no emprego das economias capitalistas maduras durante o século vinte. A postagem de hoje analisa se essa queda teve efeitos sobre qualidade de vida da população e suas relações sociais. Esperamos que gostem e participem. Fellype Fagundes e Carlos Araújo Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
Olá alunos, O setor industrial teve um declínio em termos de participação na produção e no emprego das economias capitalistas maduras durante o século vinte. A postagem de hoje analisa se essa queda teve efeitos sobre qualidade de vida da população e suas relações sociais. Esperamos que gostem e participem. Fellype Fagundes e Carlos Araújo Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
Olá alunos, O setor industrial teve um declínio em termos de participação na produção e no emprego das economias capitalistas maduras durante o século vinte. A postagem de hoje analisa se essa queda teve efeitos sobre qualidade de vida da população e suas relações sociais. Esperamos que gostem e participem. Fellype Fagundes e Carlos Araújo Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense

sábado, 6 de dezembro de 2014

Desindustrialização e capitalismo




Olá alunos,

O setor industrial teve um declínio  em termos de participação na produção e no emprego das economias capitalistas maduras durante o século vinte. A postagem de hoje analisa se essa queda teve efeitos sobre qualidade de vida da população e suas relações sociais.

Esperamos que gostem e participem.

Fellype Fagundes e Carlos Araújo
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense

Semana passada discursei em um painel que debatia a des­industrialização e o socialismo. O painel foi organizado pelo Spring, um grupo com sede em Manchester na Inglaterra e que se tornou um fórum para a discussão dos desenvolvimentos do capitalismo e suas implicações nas perspectivas do socialismo.

O tema principal da discussão foi o fato evidente de que o setor industrial (indústrias, energia, mineração, etc) teve um declínio nítido como parte da produção e do emprego nas economias capitalistas maduras durante o século vinte. A questão em debate era: isso significa que a classe trabalhadora também entrou em declínio e não é mais a força principal da mudança no capitalismo; e também, que uma sociedade socialista ou pós-capitalista será um mundo sem indústria ou emprego dos trabalhadores industriais?

O primeiro ponto que notei na discussão foi que o mundo não esta se desindustrializando. Globalmente, havia 2,2 bilhões de pessoas trabalhando e produzindo valor em 1991. Agora são 3,2 bilhões. A força produtiva global aumentou em 1 bilhão nos últimos 20 anos. Mas não houve des­industrialização globalmente. A desinsdustrialização é um fenômeno das economias capitalistas maduras. Não se dá nas economias capitalistas 'emergentes'. 

Usando as figuras fornecidas pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), podemos ver o que está acontecendo globalmente, com a ressalva de que há um menosprezo sério dos trabalhadores industriais nessas figuras e muitos trabalhadores hi­tech, de transporte e comunicação são colocados no setor de serviços.

Globalmente, a força produtiva industrial cresceu em 46% desde 1991, de 490 milhões para 715 milhões em 2012 e irá alcançar bem mais de 800 milhões antes do final da década. De fato, a força produtiva industrial cresceu em 1.8% desde 1991, e desde 2004 em 2.7% ao ano (até 2012), uma taxa de crescimento mais rápida do que a do setor de serviços (2.6% ao ano)! Globalmente, a porção de trabalhadores industriais na força produtiva total cresceu moderadamente, de 22% a 23%. É nas economias capitalistas maduras desenvolvidas onde houve a des­industrialização. A força produtiva industrial caiu 18%, de 130 milhões em 1991, para 107 milhões em 2012.
 A grande queda não aconteceu no número de trabalhadores industriais globalmente, mas no de trabalhadores da agricultura. O processo de sucção pelo capitalismo de camponeses e agricultores das áreas rurais e da transformação deles em trabalhadores industriais nas cidades não acabou. A porção da força de trabalho agrícola na força produtiva global decaiu de 44% para 32%. Então não devemos falar de des­ruralização, como Marx fez no meio de 1800? Esse é o grande fenômeno global dos últimos 150 anos. 

Claro, a maioria dos trabalhadores são do setor de serviços. Esse setor é mal definido: pertence a este setor qualquer um que não seja trabalhador industrial ou da agricultura. Esse setor era menor que a agricultura em 1991 (34% para 44%) mas agora é maior, com 45%, comparado com 32% para agricultura.

Enquanto eu discursava em Manchester, o centro da revolução industrial na Grã Bretanha no inicio do século dezenove, fui lembrado do trabalho de Friedrich Engels, o parceiro de Marx, e que gerenciava a firma alemã de seu tio na época. Quando jovem (24 anos), Engels escreveu "A condição da classe trabalhadora na Inglaterra" (publicado em 1845) e descreveu as condições horrendas de pobreza que os homens, as mulheres e crianças rurais eram sujeitadas quando foram trabalhar nas cidades urbanas de industrialização rápida no norte da Inglaterra. É a mesma história agora na Índia, China, sudeste da Ásia e na América ­Latina. Engels se concentrou nas condições de trabalho, mas em um prefácio de uma nova edição do seu livro em 1892, ele comentou que a Grã Bretanha estava sendo substituída rapidamente como o maior poder industrial e capitalista pela França, Alemanha e pelos EUA. "Seus produtores são muito mais novos que os da Inglaterra, mas crescem em um nível bem maior que o da última. Eles alcançaram a mesma fase de desenvolvimento que a indústria inglesa em 1844." E isso acontece agora para as tais economias emergentes da Ásia, América­ Latina e África, quando comparadas às economias capitalistas maduras da Europa, Japão e América do Norte.

Mas é verdade que a porção dos trabalhadores industriais nas economias maduras decaiu de 31% em 1991 para 22% agora. De fato, de acordo com McKinsey, o emprego industrial caiu 24% nas economias avançadas entre 1995 e 2005.
 Então isso quer dizer que o futuro do capitalismo se dará sem um proletariado industrial capaz de ser um agente de mudança e, por esse motivo, o 'pós­capitalismo' será uma sociedade sem indústrias, onde as pessoas podem esperar a redução de suas horas de trabalho com períodos maiores de 'lazer'?

Esse foi o tema que meu companheiro de painel Nick Srnicek propôs. Nick é um camarada da Geopolítica e Globalização na UCL (Universidade Global de Londres). Ele é o autor, junto com Alex Williams, de "Inventing the Future" (Verso, 2015) e o editor junto com Levi Bryant e Graham Harman de "The Speculative Turn" (Re.press, 2010)Nick explicou que, enquanto novas economias estavam sendo industrializadas, seu pico de industrialização veio antes do que para economias como a britânica no século dezenove. De fato, nenhuma economia alcançou mais de uma porção de 45% no emprego industrial. Então o futuro não é a indústria e uma classe trabalhadora industrial. E não deu em nada defender o retorno às manufaturas e indústrias como o único caminho para uma sociedade melhor. 

Tenho certeza que Nick está certo nesses pontos. Divergi no fato de que ele não esclarecia se uma sociedade pós-­capitalista, não-industrial, seria conquistada gradualmente enquanto o capitalismo se expandiria globalmente e a tecnologia substituiria o trabalho industrial pesado e as pessoas trabalhariam menos horas e poderiam usar seu tempo para si mesmas. A ideia de uma mudança em direção de uma sociedade prazerosa e não industrial foi o conceito de Keynes em 1930, argumentando a favor do capitalismo para seus estudantes no auge da Grande Depressão pelos 1930, quando muitos de deles começaram a olhar para o marxismo como a explicação para crises e a alternativa para o socialismo (veja meu post, http://thenextrecession.wordpress.com/2013/05/04/keynes­being­gay­and­caring-for­the­future­of­our­grandchildren/ ).

Keynes reconheceu que o mundo capitalista alcançaria um enorme crescimento do PIB per capita e entraria numa economia de lazer, sem pobreza. Bem, este blog tem revelado dados que mostram que a pobreza é ainda um terrível espectro sobre o mundo todo, uma característica inerente ao capitalismo, e longe de uma economia de lazer, as horas de trabalho diminuíram nas economias maduras e se mantiveram altíssimas em setores industriais de economias emergentes. Ainda trabalhamos duro para viver (exceto o 1%), em trabalhos cada vez mais precários

Não acho que podemos atingir uma sociedade pós-capitalista de economia de lazer através de uma mudança gradual. Será necessário um impulso revolucionário para mudar o modo de produção e as relações sociais de maneira global, mesmo que o potencial de produtividade de robôs e novas tecnologias já estejam disponíveis para a transição em direção à libertação do trabalho duro. O capitalismo se mantém no caminho como um entrave sobre a produção. com os capitalistas como uma classe poderosa oposta à liberdade.

A razão de que as economias capitalistas maduras perderam sua base industrial é a de que não era mais lucrativo que o capital investisse na indústria britânica no fim século XIX ou na indústria dos países da OCDE no final do século XX. Então o capital contrabalanceou esta queda de lucratividade se ‘‘globalizando’’ e encontrando mais força de trabalho para explorar.

E a lucratividade caiu porque a acumulação capitalista corta força de trabalho. Os capitalistas competem entre si para lucrarem mais. Aqueles com mais tecnologia podem passar na frente dos outros ao aumentar sua produtividade reduzindo os custos laborais cortando trabalhadores. A direção que seguem é sempre a de reduzir a quantidade de força de trabalho e aumentar os lucros. A contradição central, tal como foi explicada por Marx na lei da lucratividade, é que a redução da força de trabalho e o aumento da mecanização levam a uma eventual queda na lucratividade, o que faz com que a força de trabalho industrial seja reduzida nas economias maduras e expanda a indústria de maneira global. O capitalismo é um modo de produção que caminha na direção da mecanização, mas a mecanização também levará à sua própria morte, pois ela é um modo de produção voltada ao lucro e não a uma necessidade social, e mais mecanização significará menos lucro. Isto mostra que enquanto caminhamos para uma economia de robôs, o lucro do capital e os interesses sociais se tornarão cada vez mais incompatíveis. E uma sociedade de lazer é apenas um sonho impossível.

O crescimento do emprego está caindo em economias capitalistas avançadas, ele tem sido muito menor do que 1% ao ano no século XXI.

O engenheiro computacional e empresário do Vale do Silício, Martin Ford, coloca a situação da seguinte maneira: “enquanto as tecnologias avançam, as indústrias se tornam cada vez mais intensivas em capital e menos intensivas em trabalho. A tecnologia pode criar novas indústrias e elas são quase sempre intensivas em capital”. A luta entre capital e trabalho é então intensificada.

E tudo isso depende da luta de classes entre os trabalhadores e os capitalistas sobre a apropriação do valor criado pela produtividade do trabalho. E claramente os trabalhadores têm perdido esta batalha, particularmente em décadas recentes, sob a pressão das leis anti-sindicais, o fim da proteção ao emprego, a redução dos benefícios, o aumento do exército de mão-de-obra de desempregados e subempregados e através da globalização das indústrias.

De acordo com o relatório da OIT, em 16 economias desenvolvidas, os trabalhadores obtiveram 75% da renda nacional nos anos 1970, mas este valor caiu para 65% alguns anos antes da crise econômica. Este valor cresceu em 2008 e 2009 — mas apenas porque a renda nacional se afundou nestes anos — antes de retomar seu curso descendente. Mesmo na China, onde os salários triplicaram na última década, a fatia da renda nacional para os trabalhadores diminuiu. De fato, isto foi o que Marx queria dizer com “pauperização da classe trabalhadora.”

E isso será diferente com os robôs? A economia marxista diria que não, por duas razões. A primeira, a teoria econômica marxista começa a partir do fato de que apenas quando os seres humanos realizam qualquer trabalho é que uma coisa ou um serviço é produzido. Então, apenas o trabalho pode criar valor no capitalismo. E o valor é necessário para o capitalismo. O valor é a substância do modo capitalista de produção. Os donos do capital controlam os meios de produção criados pelo trabalho e só o colocarão em uso para se apropriar do valor criado pelo trabalho. O Capital não cria valor por si só.

Agora, se toda a tecnologia, produtos e serviços pudessem reproduzir a si mesmos sem trabalho vivo, apenas a partir de robôs, as coisas e os serviços seriam criados, mas a criação do valor (em particular, o lucro e a mais-valia) não seriam. Como Martin Ford declara: quanto mais as máquinas comandarem a si próprias, o valor que o trabalhador médio adiciona começa a cair.” Então a acumulação sob o capitalismo cessaria logo antes que os robôs tomassem conta de tudo, porque a lucratividade desapareceria. Esta contradição não pode ser resolvida sob o capitalismo.

Nós nunca chegaremos a sociedades robóticas; nós nunca chegaremos a sociedades livres do trabalho — não sob o capitalismo. Crises e explosões sociais ocorreriam muito antes disso.


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