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segunda-feira, 31 de março de 2014

Sonegação dos ricos é 25 vezes maior que corrupção nos países em desenvolvimento




Olá alunos,

A corrupção é um fenômeno geralmente associado aos países em desenvolvimento. Porém, será que ela se restringe a eles? A postagem de hoje expõe formas de corrupção presentes nos países desenvolvidos e que são tão, ou mais, prejudiciais a economia mundial do que aquelas dos países em desenvolvimento.

Esperamos que gostem e participem.

Fellype Fagundes e Carlos Araújo

Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense

Uma visão muito difundida sobre o desenvolvimento econômico afirma que os problemas enfrentados pelas economias em desenvolvimento e os países pobres se devem à corrupção. Essa visão se choca com um dado contundente da realidade internacional: a China. Nem mesmo o Partido Comunista põe em dúvida que a corrupção é um dos grandes problemas nacionais, o que não impediu um crescimento médio de dois dígitos nas últimas três décadas.

No entanto, segundo Jason Hickel, professor da London School of Economics, esta perspectiva oculta um problema muito mais fundamental em termos sistêmicos para a economia mundial: a corrupção dos países desenvolvidos. Trata-se de uma corrupção do colarinho branco, invisível e refinada, que foi uma das causas do estouro financeiro de 2008. Carta Maior conversou com Hickel sobre o tema.

Segundo a Convenção da ONU sobre Corrupção, ela custa aos países em desenvolvimento entre 20 e 40 bilhões de dólares anuais. É uma soma considerável. Mas você diz que, comparativamente, a corrupção do mundo desenvolvido é muito maior e tem um impacto sistêmico muito maior. Como chegou a essa conclusão?

Jason Hickel: O presidente do Banco Mundial, Jim Kim, fez este cálculo sobre o custo da corrupção no mundo em desenvolvimento. Mas esta soma, sem dúvida importante, constitui apenas cerca de 3% do total de fluxos ilícitos que abandonam os países em desenvolvimento a cada ano. A evasão fiscal é 25 vezes maior que essa soma. No ano passado, cerca de um trilhão de dólares fugiram dos países em desenvolvimento e terminaram em paraísos fiscais por meio de uma prática  conhecida como re-faturamento, através da qual as empresas falsificam documentos para que seus lucros apareçam em paraísos fiscais nos quais não pagam impostos, ao invés de aparecer nas jurisdições onde as empresas realizaram esses lucros. É claro que isso é só parte do problema. Há outras práticas como o chamado preço de transferência. As multinacionais comercializam seus produtos entre suas próprias subsidiárias para pagar na jurisdição onde o imposto é mais baixo, algo que envolve cerca de um trilhão de dólares anuais, mais ou menos a mesma coisa que o re-faturamento.

Por que a evasão fiscal é tão fácil?

Jason Hickel: Porque as regras da Organização Mundial do Comércio permitem aos exportadores declarar o que bem entendam em suas declarações alfandegárias. Isso lhes permite subavaliar seus produtos para que paguem menos impostos. Isso não deveria nos surpreender dada a ausência de democracia interna da OMC.
O poder de negociação na OMC está determinado pelo tamanho do mercado e as decisões mais importantes são tomadas em reuniões do chamado “quarto verde”, administrado pelos países mais poderosos, de maneira que o comércio mundial termina sendo manipulado em favor dos ricos.

Curiosamente, no índice mais difundido em nível global sobre corrupção, o da Transparência Internacional, se apresenta um panorama exatamente oposto, ou seja, o mundo desenvolvido sofrendo nas mãos do mundo em desenvolvimento por causa dos estragos da corrupção. Qual sua opinião sobre esse índice?

Jason Hickel: Ele tem uma série de problemas. Em primeiro lugar, se baseia na percepção da corrupção que há no próprio país. De maneira que os pesquisados não podem dizer nada sobre o que pensam acerca de outros modos de corrupção como, por exemplo, os paraísos fiscais ou a OMC. Em segundo lugar, como o índice mede mais percepções do que realidades, está exposto às narrativas dos departamentos de relações públicas.

A narrativa dominante é promovida por um complexo de organizações, desde o Banco Mundial até a USAID e passando por muitas ONGs, que centram o tema da pobreza na corrupção dos próprios países em desenvolvimento. De maneira que não surpreende que os entrevistados terminem refletindo essa visão. Além disso, os índices se baseiam em dados de instituições como o Banco Mundial e o Fórum Econômico Mundial. Estas instituições, que representam países ricos ocidentais, tem interesse direto em manter essa narrativa sobre a corrupção.

Dois países que costumam estar na vanguarda de todas estas denúncias sobre a corrupção no mundo em desenvolvimento são Estados Unidos e o Reino Unido. Qual é a situação real destes países a respeito da corrupção?

Jason Hickel: Segundo a Transparência Internacional, os Estados Unidos estão bastante livres da corrupção. Segundo a Rede Tax Justice, em troca, os Estados Unidos estão em sexto lugar no ranking da corrupção mundial, devido ao fato de que têm jurisdições secretas que permitem que funcionem como centros de evasão tributária. Além disso, sabemos que a corrupção atravessa o sistema político estadunidense. As corporações podem gastar dinheiro sem limites nas campanhas políticas para assegurar que seus candidatos sejam eleitos. Assim, não surpreende que mais da metade dos congressistas sejam multimilionários. E há outras formas de lobby político muito mais diretas.

Segundo a Rádio Nacional Pública, para cada dólar gasto pelas corporações em tarefas de lobby, elas obtêm um retorno de 220 dólares. E os sistemas regulatórios costumam ser capturados por gente dessas corporações que devem ser reguladas. O exemplo mais óbvio é Henry Paulson, o CEO de Goldman Sachs, que foi Secretário de Tesouro dos EUA e artífice do resgate que canalizou trilhões de dólares dos contribuintes para a banca privada.

Em resumo, as corporações abusam do Estado para seu próprio proveito, o que é a definição de corrupção da Transparência Internacional. O Reino Unido é outro grande exemplo. A City de Londres é um dos centros de funcionamento dos paraísos fiscais, de maneira que surpreende que o Reino Unido seja classificado pela Transparência Internacional como um país sem corrupção. E não é a única instância de corrupção. A privatização da infraestrutura pública, tanto do sistema nacional de saúde como a dos trens, permitiu que pessoas como o multimilionário Richard Bransen ganhassem milhões em subsídios estatais para sua empresa Virgin Trains.

Isso não elimina o fato de que a corrupção no mundo desenvolvido é real e tem um forte impacto social, econômico e institucional. Como deveria ser um índice neutro e justo sobre o tema da corrupção?

Jason Hickel: Certamente que a corrupção no mundo em desenvolvimento é real e não deve ser subestimada como problema. Mas é importante concentrar o olhar em formas de corrupção ocultas. No momento, o mais próximo que temos de um índice objetivo é o elaborado pela Rede Tax Justice. Neste índice, o ranking é elaborado considerando países responsáveis por ocultar cerca de 30 trilhões de dólares de riqueza em países fiscais. Se você olhar a lista verá que os países que encabeçam o ranking são Reino Unido, Suíça, Luxemburgo, Hong Kong, Singapura, Estados Unidos, Líbano, Alemanha e Japão. Estes são os principais centros de corrupção que devemos enfrentar.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Após anos de queda, economias 'correm' para recuperar produtividade do trabalho


 

Olá alunos,

Os debates sobre a retomada do crescimento econômico, geralmente, giram ao redor de temas como o índice de desemprego e as taxas de juros. A postagem de hoje revela o surgimento de uma maior preocupação com outro indicador da economia: a produtividade do trabalhador.

Esperamos que gostem e participem.

Fellype Fagundes e Carlos Araújo

Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
 

Previsões otimistas em 2014 para economias avançadas estão fazendo com que alguns países busquem melhorar um indicador - que estava em queda no mundo desde o começo da crise global em 2008 - para ajudá-los na retomada do seu crescimento: a produtividade do trabalhador.

A produtividade é uma medida de eficiência da produção, que calcula a relação entre o que é produzido, os meios empregues (como trabalhadores ou máquinas) e o tempo gasto - e permite a avaliação de quanto cada fator de produção contribui para produzir uma unidade de riqueza na economia.

Neste ano, a produtividade foi colocada no centro da política econômica de alguns países – que costumam dedicar suas atenções a índices de desemprego e de crescimento econômico.

Na Grã-Bretanha, o presidente do Banco da Inglaterra (o banco central britânico), Mark Carney, anunciou no dia 12 que a produtividade passará a ser um dos indicadores a balizar decisões sobre a taxa de juros.

Os juros britânicos estão nos patamares mais baixos da história. Na tentativa de reanimar a economia, o governo havia prometido subir os juros no momento em que o desemprego caísse para 7% (o número atual é 7,2%), mas agora a produtividade será um dos fatores determinantes na política monetária britânica.

No México, o governo lançou um programa oficial de cinco anos destinado a aumentar a produtividade dos trabalhadores locais. A intenção do governo é investir em infraestrutura e destravar obstáculos que reduzem a eficiência do processo produtivo.

Nos Estados Unidos e na China, a produtividade do trabalhador também está no centro das preocupações das autoridades. A recém-empossada presidente do Federal Reserve (o Fed, banco central americano), Janet Yellen, disse neste mês que o desafio da economia americana é fazer com que os salários dos trabalhadores acompanhem o aumento da produtividade.

Na China, considerada o "grande motor" da produtividade mundial na última década, a desaceleração do indicador foi considerada um sinal de alerta de que a economia chinesa pode estar em declínio.

 

Eficiência

A produtividade é importante porque um incremento de produtividade permite que o Produto Interno Bruto (PIB) de um país cresça sem necessariamente depender da queda no desemprego ou do aumento no número de empresas e fábricas.

Dados recentes divulgados pela entidade americana de pesquisas Conference Board mostram que a produtividade do trabalhador caiu pelo terceiro ano seguido em 2013 em todo o mundo. Cada trabalhador produziu 1,8% menos em bens e serviços do que em 2012.

No Brasil, a produtividade também está no centro da preocupação dos economistas. Em setembro do ano passado, o assunto foi tema de uma edição especial de um boletim do Instituto de Pesquisa Econômica Avançada (Ipea), do governo federal.

Na avaliação dos economistas, o Brasil possui atualmente uma combinação de baixo desemprego com lento ritmo de aceleração econômica. Assim, uma forma de fazer o país crescer seria melhorando a eficiência dos fatores de produção já existentes – como trabalhadores e empresas.

Os dados da Conference Board mostram que a produtividade do trabalhador brasileiro subiu levemente no ano passado, crescendo 0,8%, depois de ter caído 0,4% no ano anterior e de se manter em uma média histórica baixa.

Os números são fracos se comparados com a produtividade do trabalhador chinês – que subiu 7,1% em 2013 e já atingiu 8,8% no começo da década.

Para o professor David Kupfer, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a produtividade tem potencial para ser um tema-chave no debate econômico no Brasil no ano eleitoral, pois não existe sequer um diagnóstico claro de quais são os obstáculos para a produtividade brasileira crescer.

"Fazendo uma analogia, a produtividade é como uma temperatura de um paciente. Você mede e ela pode ser alta ou baixa. Mas ela não tem valor de diagnóstico algum. Ela apenas é um indicação de que alguma coisa está errada e que alguma coisa está fora do lugar, mas só depois disso é que você vai saber o quê."

Para ele, diversos fatores são comumente levantados como causadores de baixa produtividade nos países da América Latina, desde o nível inferior de educação da população ao clima quente (que prejudicaria o desempenho do trabalhador), mas não ainda há um diagnóstico convincente sobre quais fatores afetam o Brasil.

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quarta-feira, 19 de março de 2014

Governo faz corte de 44 bilhões de reais no Orçamento de 2014





Olá alunos,

Esse ano o corte no Orçamento Geral da União alcançará 44 bilhões de reais. Com essa atitude o governo espera que haja um maior otimismo dos agentes econômicos em relação ao Brasil.

Esperamos que gostem e participem.

Fellype Fagundes e Carlos Araújo

Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense


O governo anunciou que o corte no Orçamento Geral da União de 2014 alcançará 44 bilhões de reais. Com o corte, o governo pretende atingir este ano um superávit primário equivalente a 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB), correspondente a todo o setor público consolidado, buscando com isso manter os fundamentos da economia e a confiança dos investidores internacionais e do mercado interno.

O corte de 44 bilhões de reais em 2014 foi superior ao verificado em 2013, que alcançou 38 bilhões de reais, mas inferior ao enxugamento ocorrido em 2012 (55 bilhões de reais) e em 2011 (50,1 bilhões de reais).

Dos 44 bilhões de reais, 13,5 bilhões de reais são despesas obrigatórias e 30,5 bilhões de reais correspondem a despesas discricionárias. O detalhamento dos cortes no Orçamento foi explicado no Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, pela ministra Miriam Belchior e pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. A ministra Miriam Belchior disse que os dados referentes ao corte orçamentário serão publicados no Diário Oficial da União, na sexta-feira 21.

Para o ministro Mantega, o enxugamento orçamentário constituiu uma boa sinalização aos mercados interno e externo, tendo em vista as turbulências econômicas internacionais do momento. No entanto, o ministro da Fazenda afirmou que, após os cortes verificados, haverá um aumento no otimismo dos agentes econômicos em relação ao Brasil.

Mantega disse que, com o corte de 44 bilhões de reais, o governo economizará 80,8 bilhões de reais, número maior do que a economia verificada em 2013, quando este patamar chegou a 75,3 bilhões.

As previsões do governo foram feitas com base na manutenção dos seguintes parâmetros da economia brasileira: superávit primário de 1,9% do PIB, equivalente a 99 bilhões de reais; inflação de 5,3% e dólar na faixa de 2,44 reais.

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domingo, 16 de março de 2014

Eles e nós: para a hegemonia pós-neoliberal





Olá alunos,

Nas últimas décadas governos progressistas vem se consolidando na América Latina. A postagem de hoje apresenta algumas das características desse processo de consolidação e aponta para as formas pelas quais a oposição vem resistindo a ele. Esperamos que gostem e participem.


Fellype Fagundes e Carlos Araújo

Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense


O movimento de governos progressistas na América Latina veio para superar e virar a página do neoliberalismo. Tiveram uma primeira fase em que foram se sucedendo, conforme foram fracassando os governos neoliberais.       

Esses governos atacaram os pontos mais frágeis do neoliberalismo: a desigualdade social, a centralidade do mercado, os acordos de livre comércio com os EUA. A direita de cada país e Washington se isolaram e perderam capacidade de iniciativa

O que podiam dizer sobre políticas sociais que diminuem a desigualdade, a pobreza e a exclusão social, produzidos por seus governos ao longo de tanto tempo?  O que poderiam argumentar contra a ação do Estado para resistir à recessão produzida no centro do capitalismo? Como garantir direitos sociais e desenvolvimento econômico, senão impulsionados a partir do Estado, ainda mais em época de recessão? Que argumentos poderiam ter contra a intensificação do comércio com a China, do comércio regional – os únicos setores dinâmicos em uma economia mundial recessiva? O que podem argumentar contra a extensão do mercado interno de consumo popular, que amplia o acesso das pessoas a bens fundamentais de consumo, ao mesmo tempo que abre espaço de realização para à produção nacional?

As direitas latino-americanas, onde se instalaram governos progressistas, ficaram reduzidas à inação, à oposição sem alternativas. Basta dizer que nos países em que se aproveitaram de governos ainda fracos, para recuperar o poder – como Honduras e Paraguai -, elas o fizeram por meio de golpes brancos, ferindo a constitucionalidade construída por elas mesmas.

Mas um revés dessas dimensões, propiciado por tantos governos progressistas ao mesmo tempo na América Latina, isolando como nunca os EUA, não poderia deixar de ter contraofensivas por parte das direitas locais e de Washington. As primeiras reações foram claramente golpistas, de que a tentativa de golpe der 2002 na Venezuela foi o exemplo mais expressivo e que, com seu fracasso, fechou o ciclo de tentativas de golpes do velho estilo.

Em seguida vieram outras tentativas, mais diversificadas, nos temas e nas formas de ação. Uma modalidade reiterada é a de acusar os governos progressistas de “corruptos”, que se associa à ideia de que os partidos de esquerda se apropriaram do Estado para seus fins e de que toda fonte de corrupção viria do Estado. A ofensiva contra o governo Lula em 2005, é o melhor exemplo dessa modalidade.

Na Bolívia, a retomada de iniciativa da direita teve como tema a reivindicação de autonomia das províncias contra o governo central de Evo Morales. Posteriormente, o tema ecológico, em versão fundamentalista, foi utilizado pela oposição para apoiar marchas contra o governo.

Na Argentina, a ofensiva de 2007 contra o governo de Cristina Kirchner se centrou na elevação dos impostos – outro tema permanente da direita – sobre a exportação de soja. Posteriormente, temas vinculados à inflação e ao desabastecimento – da mesma forma que atualmente também na Venezuela – são os centros das campanhas opositoras.

A questão da violência e da segurança pública é regularmente utilizada pelos setores conservadores na perspectiva de semear pânico na população e demandar sempre ações mais duras por parte da polícia e penas maiores, implementadas pelos governos e pelos Estados.

A lista poderia ser mais longa e deveria ser, especialmente, analisada de forma mais detalhada. No entanto, basta isso para que possamos, em primeiro lugar, constatar que um período mais linear de fortalecimento dos governos progressistas já ficou para atrás. Uma parte das importantes conquistas desses governos já são consideradas como adquiridas, requerendo não apenas seu aprofundamento, mas a definição de metas superiores, especialmente que cheguem ao coração dos jovens.

As direitas, por seu lado, se recompõem e, contando com os EUA, buscam retomar a iniciativa. Não dispõem de propostas alternativas, oscilam entre afirmar que farão o mesmo, mas “melhor” e entre formas distintas de retrocessos – de que as oposições brasileiras são o exemplo mais claro, apelando para a equipe econômica do governo de FHC.

O que é certo é que hoje os governos pós-neoliberais conseguiram um grande apoio popular centralmente por suas políticas sociais – determinantes no continente mais desigual do mundo. Os discursos políticos conseguem obter certos graus de consolidação desses apoios – o que significa hegemonia-, mas quando há problemas na implementação das políticas sociais – diretamente, em algumas das áreas ou indiretamente, quando processos inflacionários desgastam o poder aquisitivo dos salários ou situações recessivas aumentam o desemprego -, perdem-se apoios na população.

As políticas sociais, por essenciais que sejam, permitem apenas formas de consenso passivo. Daí as sucessivas vitórias eleitorais, mesmo enfrentando os monopólios privados dos meios de comunicação. Mas a passagem dos consensos passivos – aqueles em que, consultadas, as pessoas se pronunciam a favor dos governos, por suas políticas de caráter popular – a consensos ativos, em que as pessoas dispõem de argumentos a favor dessas políticas, de valores correspondentes às formas de vida solidárias e se dispõem a se organizar e a se mobilizar na sua defesa, requerem estratégias específicas, de construção de hegemonias alternativas.

Essas análises tem que levar em conta o marco geral da hegemonia conservadora, incluindo as formas de vida e de consumo de estilo norte-americano, assumidas por amplas camadas da população, o monopólio dos médios privados de comunicação e os outros fatores que compõem o quadro histórico que vivemos atualmente na América Latina.

É preciso seguir denunciando, sempre, as manobras da direita e de seu grande aliado, o governo dos EUA, mas é preciso ter consciência de que, quando eles conseguem retomar a iniciativa e impor reveses às forças progressistas, é porque encontraram erros dessas forças. É hora de um balanço das trajetórias percorridas por esses governos, desde o triunfo de Hugo Chávez, em 1998, passando por todos os avanços e tropeços desde então, na perspectiva da formulação  consciente de estratégias de hegemonia pós-neoliberal, tomando em conta as forças próprias e as dos adversários, assim como nossos objetivos estratégicos.

Eles sempre atuaram conforme seus interesses e objetivos. Cabe a nós ter os nossos muito claros, fazer balanços constante e atuar de forma coordenada, na perspectiva dos nossos objetivos.



sexta-feira, 14 de março de 2014

Nobel de Economia alerta para risco de estouro de nova bolha





Olá alunos,

Algumas das características que antecederam o estouro da crise econômica em 2008 parecem estar se repetindo. A postagem de hoje expõe algumas dessas características e também aponta novas circunstâncias que podem gerar preocupação.
Esperamos que gostem e participem.

Fellype Fagundes e Carlos Araújo

Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense



O mundo não aprende. As bolhas imobiliárias e financeiras seguem na ordem do dia e o perigo de uma crise ao estilo da de 2008 não está tão distante. O último a fazer esse alerta é o Nobel de Economia Robert J. Shiller. “Em muitos países os preços imobiliários e nas bolsas têm subido muito. Estou particularmente preocupado com o boom nos Estados Unidos porque nossa economia ainda está fraca e vulnerável. Tudo isso pode terminar mal”, disse Shiller domingo à revista alemã Der Spiegel.

Segundo Shiller, a bolha não se limita aos países anglo-saxões, cujas economias estão tradicionalmente mais pendentes de movimentos financeiros e imobiliários. Em suas declarações o economista destacou o aumento do preço dos imóveis no Rio de Janeiro nos últimos cinco anos. “Me parece um pouco o que ocorreu nos Estados Unidos em 2004, quando se justificava essa situação pelas oportunidades de investimento que existiam e por uma florescente classe média”, disse Shiller a Der Spiegel. Ele não é apenas o Prêmio Nobel. Shiller foi um dos poucos a prever um ano antes o colapso das hipotecas “subprime” em 2008 e seu índice “Case Shiller” é uma referência para o cálculo dos preços imobiliários nos Estados Unidos.

A bolha anglo-saxã
Em abril deste ano o índice Shiller estimou que o ritmo de aumento dos imóveis nos Estados Unidos havia alcançado seu nível máximo desde o feroz estouro da bolha em 2007-2008. Em setembro, o movimento seguia sendo claramente de alta com uma elevação interanual dos preços hipotecários de 12,8%. Em lugares como Sacramento, o incremento disparava para 34,1%. Em Las Vegas, era de 33,3%, em Riverside, Califórnia, de 31%.

Enquanto isso, no Reino Unido, o preço da moradia está subindo 6,5% ao ano, mais do dobro da inflação em um país com salários virtualmente congelados. Esta porcentagem dispara quando se analisa o caso particular de Londres onde a propriedade aumento 9,7% nos últimos 12 meses, ritmo superior ao máximo obtido em 2008.

Um colapso imobiliário no Reino Unido ou no Brasil não teria um impacto global. A situação muda de figura se a bolha estourar nos Estados Unidos. Diferentemente da crise de 2008, alimentada pela venda de “hipotecas podres” a pessoas que muitas vezes não tinham emprego, a bolha atual pode ser sentida no segmento de renda média alta e alta por meio das chamadas “hipotecas jumbo”.

A regulação do mercado hipotecário estadunidense estipula um teto de 417 mil dólares para os empréstimos a um imóvel de família típico, limite que sobe para 625 mil dólares em áreas mais caras como Nova York ou Los Angeles. As hipotecas jumbo se situam acima dessas cifras e tem uma taxa de juro mais alta – cerca de 0,25% a mais – para incorporar ao preço do empréstimo o risco adicional de um montante muito mais alto. Mas agora os bancos estão promovendo hipotecas jumbo de 30 anos que custam menos que os empréstimos para uma família standard.

Um especialista do mercado imobiliário na Flórida, Peter Zalewski, de Condo Vultures, considera que a bolha está em pleno desenvolvimento. “A diferença é que agora vemos nichos, as propriedades que valem ao redor de um milhão de dólares, por exemplo, às quais têm acesso estadunidenses ou estrangeiros muito ricos e investidores institucionais. Os latino-americanos estão contribuindo ativamente para esta bolha”, disse Zalewski à Carta Maior.

O modelo econômico

No Reino Unido está ocorrendo um fenômeno similar. A imobiliária Savills calcula que 38% das moradias do centro de Londres estão sendo compradas por estrangeiros e, se só se leva em conta o imóvel recém-construído, esse percentual sobre para 74%. Segundo alguns o impacto  que isso tem no modelo econômico britânico é que está se convertendo em um país de agentes imobiliários, como ironizou em outubro um editorial do The Guardian. “Hoje há cerca de 562 mil agentes imobiliários, recorde histórico; no último ano se somaram cerca de 77 mil novos empregados no setor”, resumia o editorial.

Este nível de emprego é indicador de um modelo econômico que segue aferrado ao consumo baseado no crédito e na especulação imobiliária. A diferença é que agora as autoridades são mais conscientes de que as bolhas terminam por estourar com consequências devastadoras. Na sexta-feira, o novo presidente do Banco da Inglaterra, o canadense Mark Carney, interveio desviando para pequenas e médias empresas fundos de ajuda destinados ao setor imobiliário. “Seria bom que as pessoas se perguntassem se poderão pagar em cinco ou dez anos os créditos hipotecários se as taxas de juro aumentarem”, advertiu Carney ao The Guardian.

O problema é que o crescimento é tão dependente do crédito no Reino Unido que o debate desta semana é que impacto terá na economia que cresceu no último trimestre um anêmico 0,8%. Esta dependência econômica está igualmente presente nos Estados Unidos e foi a base da crise de 2008. Segundo o co-diretor do Center for Economic and Policy Research de Washington, Dean Baker, as mudanças no sistema regulatório para enfrentar o problema tem sido de natureza cosmética. “O crescimento dos últimos 10 anos se baseou em bolhas. É assombroso que a Reserva Federal não tenha visto isso. O sistema regulatório apenas mudou um pouco”, disse à Carta Maior.

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