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terça-feira, 28 de março de 2017

Os mistérios do câmbio


Olá alunos, 

A notícia de hoje mostra que o câmbio ameaça a tênue recuperação industrial e atinge o setor agrícola, que enfrenta a falta de investimento em transportes.

Esperamos que gostem e participem.
Palloma Borges, monitora da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense. 

Nos últimos 170 anos, ficou cada vez mais evidente que a organização capitalista, apesar de eficiente, tem graves problemas. Keynes os resumiu, há 80 anos, ao reconhecer que a sociedade em que vivemos é incapaz de manter o pleno emprego e gera uma arbitrária distribuição da renda e da riqueza.
Boa parte dessas dificuldades deriva do chamado trilema, que já era amplamente reconhecido, em torno de 1920, nos trabalhos da Liga das Nações e ficou ainda mais visível nas discussões da Conferência de Bretton Woods, em 1944, onde se criou o Fundo Monetário Internacional.
O que afirma o trilema? Que nenhum país pode, simultaneamente, ter três condições: 1. Uma política monetária independente, necessária para o controle macroeconômico de seu sistema econômico. 2. Uma taxa de câmbio fixa, conveniente para o comércio. 3. O livre movimento de capitais, sobre cujos benefícios sempre houve dúvidas.
Concretamente, ele afirma que uma dessas três condições deve ser sacrificada para a estabilidade do funcionamento de qualquer sistema econômico.
O que se sacrificou no primeiro acordo de Bretton Woods, por insistência de Keynes? A liberdade de movimento de capitais, restrição que vigorou até 1958. Cada país exerceria a política monetária mais conveniente ao seu nível de atividade, as taxas de câmbio seriam fixas e reajustáveis sob o controle do FMI. As moedas seriam livremente conversíveis para todas as transações correntes, mas os governos poderiam opor restrições às operações puramente financeiras.

A delegação americana recusou a proposta de Keynes de criar uma moeda internacional (o Bancor, que, emitido pelo FMI, controlaria os excessos dos países credores e devedores), provavelmente porque Harry White, economista-chefe do Tesouro, estava a serviço do seu sistema financeiro, que temia perder a hegemonia mundial adquirida durante a Guerra.

Estabeleceu-se, de fato, uma espécie de fixed-rate dollar standard, no qual os Estados Unidos se comprometeram a manter fixa a paridade do dólar com o ouro. As outras N-1 moedas teriam o seu valor referido a ele.
AgrícolaA taxa e câmbio já atinge ao setor agrícola, que, por outro lado, sofre com a falta de investimento no setor de transporte (Shahnoor Habib Munmun)
Em 1960, Robert Triffin, em um livro sensacional, pôs a nu o paradoxo do sistema e colocou em dúvida a sua sustentabilidade. De fato, em 1971, o presidente Nixon desvalorizou o dólar em 8,5%, o que desencadeou reações na Alemanha, na Suíça e na Holanda, que deixou suas moedas flutuarem e não houve mais condições de fazer Bretton Woods funcionar.
Dois anos depois, em 1973, os EUA fizeram outra desvalorização de 10% e deixaram o dólar flutuar. Bretton Woods estava morto, mas o dólar americano continuou a ser a moeda reserva internacional!
Em relação à taxa de câmbio, é preciso distinguir claramente o seu papel quando ela se refere ao equilíbrio comercial, sem a liberdade de movimento de capitais, e quando há liberdade de movimento de capitais.
No primeiro caso, ela é um preço relativo que equilibra, em uma unidade de tempo convencional, o fluxo do valor das exportações (quantidade exportada multiplicada pelo preço nacional externo) com o valor das importações (quantidade importante multiplicada pelo preço externo).
É um parâmetro que controla a criação e destruição de emprego e o crescimento do PIB. No segundo (isto é, quando há liberdade de movimento de capitais), ela assume o papel de um ativo financeiro que depende do diferencial de juro real interno e o externo. É completamente insensível à criação ou destruição do emprego.
Serve à especulação do sistema financeiro internacional, mas não à economia real, a ponto de chamarmos hoje, no Brasil, de “investimento” a entrada de recursos tomados lá fora a 1% ao ano e remunerados, na Bovespa, nos últimos 14 meses, a 4,9% ao mês, graças à flutuação da nossa taxa de câmbio, mesmo porque a falta do nosso grau de investimento impede a aplicação a longo prazo.
Ela ameaça a tênue recuperação industrial e já atinge o setor agrícola, que, apesar de bons preços externos, enfrenta a falta de investimento no setor de transporte. Alguém ainda duvida que quem conduz a política monetária brasileira é o Fed?

sexta-feira, 17 de março de 2017

Desemprego em alta eleva risco de agitação social no Brasil, diz OIT

Olá alunos, 
A postagem de hoje mostra algumas repercussões sociais de um dos reflexos mais drásticos que vivenciamos com a crise econômica: o alto índice de desemprego. 
Palloma Borges, monitora da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense.
A marcha lenta da economia global está aumentando a agitação social pelo mundo, e o Brasil, com a piora no mercado de trabalho local, alimenta esse mal-estar, aponta relatório da Organização Mundial do Trabalho (OIT) divulgado nesta quinta-feira.
Segundo a organização, o crescimento econômico mundial continua decepcionante, sem motivar a criação de empregos suficientes para compensar o número de pessoas que ingressam no mercado de trabalho.
Com isso, a taxa mundial de desemprego deverá subir de 5,7% para 5,8% em 2017, estima a OIT, elevando o contingente de desempregados em 3,4 milhões de pessoas na comparação com o ano anterior. Ao todo, serão 201,1 milhões de pessoas sem emprego no planeta neste ano.
No Brasil, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o desemprego está em 11,9%, índice do trimestre encerrado em novembro de 2016, com 12,1 milhões de pessoas nesta situação.
A incerteza global com o desempenho da economia está aumentando o risco de agitação social e descontentamento em praticamente todas as regiões do mundo, aponta a OIT.
O chamado Índice de Agitação Social busca ser um termômetro da "saúde social" dos países.
Loja em São PauloDireito de imagemAFP
Image captionDesaceleração do comércio global está entre as razões da macha lenta da economia
Calculado pela OIT a partir de informações sobre protestos como manifestações de rua, bloqueios de vias, boicotes e rebeliões, pretende refletir a insatisfação da população com fatores como mercado de trabalho, condições de vida e processos democráticos.
No Brasil, o índice avançou 5.5 pontos em 2016, enquanto o aumento global foi de 0.7 ponto.
Como resultado da equação que soma insatisfação social e falta de trabalho, há um aumento na decisão das pessoas pela migração, aponta a OIT. O órgão cita estimativas que identificavam 232 milhões de migrantes internacionais no planeta em 2013, 89% em idade de trabalho.
Protesto em frente a Fiesp, em São Paulo, no ano passadoDireito de imagemEPA
Image captionDesemprego no Brasil aumenta descontentamento da população e chance de manifestações violentas, segundo relatório

Âncora brasileira

A OIT estima que o PIB (Produto Interno Bruto, soma dos bens e serviços produzidos pelo país) do Brasil irá recuar 3,3% em 2016, puxando para baixo a performance de toda a América Latina e Caribe.
A região deverá registrar a segunda recessão em menos de dez anos, com contração de 0,4% no PIB em 2016.
"Isso (recessão na América Latina) foi amplamente motivado pela performance econômica ruim do Brasil, dado o peso da influência do país na região e em parceiros de exportação", afirma o relatório da OIT, intitulado Perspectivas Sociais e do Emprego no Mundo - Tendências de 2017.
O Brasil também impactará negativamente o emprego na região, que deverá recuar 0,3% em 2017, estima a organização.
A OIT projeta o índice de desemprego no Brasil neste ano em 12,4%, um ponto acima do percentual de 2016.
Notas de real
Image captionPIB do Brasil deve ter recuado 3,3% em 2016, de acordo com o OIT

Outras tendências

A organização destaca outros reflexos da precarização no mercado mundial de trabalho, como aumento das chamadas formas vulneráveis de ocupação - trabalhadores familiares não remunerados e trabalhadores por conta própria são exemplos desta situação.
Esse tipo de trabalho, diz a OIT, deve representar mais de 42% da ocupação total, ou 1,4 bilhão de pessoas em 2017, e o número deverá avançar 11 milhões por ano.
Outra tendência é a desaceleração da redução da pobreza dos trabalhadores - países em desenvolvimento deverão registrar nos próximos dois anos, por exemplo, aumento de mais de 5 milhões no número de trabalhadores que ganham menos de US$ 3,1 (R$ 9,84) por dia.
Ganhos fracos de produtividade, avanço tímido do investimento (movido em parte pela baixa nas commodities) e desaceleração do comércio global são fatores, segundo a OIT, que ajudam a explicar a marcha lenta da economia global - e os reflexos negativos no emprego.

domingo, 12 de março de 2017

Protecionismo de Trump ameaça sistema multilateral de comércio


Olá alunos, 

A notícia de hoje mostra que o risco de eclodirem guerras comerciais, que parecia afastado durante a Grande Recessão, emerge com mais força do que nunca com o governo Trump.

Esperamos que gostem e participem.
Palloma Borges, monitora da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense. 

Bastou uma semana da nova Administração na Casa Branca para que a política comercial dos Estados Unidos sofresse sua guinada mais radical dos últimos 70 anos, ameaçando desencadear a maior mudança nas regras do jogo global desde a Segunda Guerra Mundial. O lema “a América em primeiro lugar”, promovido pelo presidente Donald Trump, na prática sepulta o sistema comercial multilateral e prenuncia negociações baseadas na força, no poder e no tamanho de cada país. O risco de eclodirem guerras comerciais, que parecia afastado durante a Grande Recessão, emerge com mais força do que nunca.
“De hoje em diante, uma nova visão vai governar nosso país. A partir deste momento, vai se impor o ‘a América em primeiro lugar’. Cada decisão em matéria de comércio, impostos, imigração ou relações internacionais será tomada de forma a beneficiar os trabalhadores e as famílias norte-americanas”, disse Donald Trump em seu discurso de posse, sem deixar dúvidas quanto às prioridades do seu mandato, que ele imediatamente começou a colocar em prática. A retirada dos Estados Unidos da chamada Parceria Transpacífico (TPP, na sigla em inglês), a renegociação do Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) e o mandato ao novo secretário de Comércio, Wilbur Ross, para que use todas as ferramentas disponíveis a fim de conter supostos abusos comerciais contra os EUA são parte dessa tendência de regressão na abertura comercial norte-americana. “A proteção nos levará a uma maior prosperidade e força”, bradou Trump no Capitólio, repetindo uma mensagem que já havia levado milhões de cidadãos a votarem nele.
“Não estamos diante de uma guinada casual nem de uma decisão pessoal. Trump ecoa uma mudança que ocorreu em boa parte dos Estados Unidos e à qual as elites financeiras não parecem se opor”, afirmam fontes financeiras internacionais.

O ENTUSIASMO DOS MERCADOS
Quase ao mesmo tempo em que Donald Trump iniciava a sua guinada protecionista, o índice Dow Jones da Bolsa de Nova York alcançava os 20.000 pontos pela primeira vez na sua história. A perplexidade política com a chegada de Trump ao poder foi ignorada pelos mercados – e só no futuro veremos se com ou sem razão.
A combinação de uma redução de impostos, um plano de investimento em infraestrutura e um abrandamento da regulamentação, como prometeu Trump, fez dispararem as previsões de dividendos das empresas e atraiu os investidores para a Bolsa. Mas não é só isso. No curto prazo, segundo David Kohl, chefe da divisão cambial do banco Julius Baer, as medidas protecionistas vão provocar um aumento da inflação e darão mais poder às empresas para fixar os seus preços, após anos de pressões para baixo por causa da concorrência chinesa. E no longo prazo, como dizia John Maynard Keynes, estaremos todos mortos.

Desde o final da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos promoveram a integração econômica como uma de suas principais ferramentas de política externa. Graças aos acordos comerciais multilaterais, a maior potência mundial foi tecendo e ampliando uma rede de alianças internacionais que serviu tanto para a expansão de suas multinacionais como para o incremento do comércio global. Ao deixar para trás a doutrina do isolacionismo defendida pelo presidente James Monroe (1817-25), os EUA se comprometeram a promover os valores universais como arma contra o imperialismo e a impulsionar a criação de instâncias como a Organização das Nações Unidas, o Fundo Monetário Internacional e a Organização Mundial do Comércio (OMC). O protecionismo implícito no “a América em primeiro lugar” abre uma incógnita sobre o futuro das relações comerciais.
Oportunidade para os rivais
“A retirada dos EUA da liderança comercial multilateral cria um espaço que outros países já estão passando a ocupar, a começar pela China. Mas também outros estão se mexendo, como o Japão, a Índia e a África, que apostam na abertura comercial para modernizar suas economias”, diz por email, da Índia, Arancha González, diretora-executiva do Centro Internacional de Comércio, uma agência de desenvolvimento mantida conjuntamente pela ONU e a OMC. “Renunciar à liderança terá um custo para as empresas norte-americanas”, alerta.
A ótica comercial é também a única coisa que dá certo sentido às arremetidas de Trump contra o projeto de integração europeia, uma postura sem precedentes em se tratando um presidente norte-americano. Os 28 países da UE compõem o maior bloco comercial do mundo, que é, além disso, o principal sócio comercial de mais de 80 nações e o maior investidor mundial, segundo dados do Deutsche Bank. Numa nova ordem global, em que os acordos comerciais abandonem o modelo das regras multilaterais e sejam encarados de forma bilateral, o tamanho das economias é o que confere o poder de cada nação nas negociações, e só a UE é capaz de fazer frente nesse terreno aos EUA. Significativamente, Trump não iniciou sua guinada comercial contrapondo-se à China – “a economia mais protecionista do mundo”, segundo o secretário norte-americano de Comércio –, nem contra o Canadá – outro membro do Nafta –, e sim arremetendo contra o “inimigo” mais fraco, o México.
Neste mundo pelo avesso onde vivemos, foi justamente o presidente chinês, Xi Jinping, quem ergueu no Fórum Econômico Mundial de Davos a bandeira da globalização e do livre comércio. “Mas a China não pode substituir os Estados Unidos, certamente não de forma imediata. Seu sistema de garantias ainda é muito deficiente, e sua abertura comercial tem muitos limites”, afirma um alto executivo que trabalha no país asiático. Aliás, o economista-chefe do Unicredit, Erik Nielsen, recorda que quase ao mesmo tempo em que Xi discursava em Davos o presidente do Supremo Tribunal chinês criticava o modelo jurídico ocidental e alertava que o judiciário chinês “estará sempre subordinado ao Partido Comunista”.
A China já pôs em marcha um acordo comercial para se contrapor ao TPP, a Parceria Econômica Regional Abrangente (RCEP, na sigla em inglês), com o qual pretende assumir um papel proeminente, mas apenas em âmbito regional. Tampouco o Japão parece disposto a apanhar o bastão deixado pelos EUA, o que evidencia um mundo sem liderança, o “G-0”, como apelidou Ian Bremmer, diretor da consultoria Eurasia Group.
No final de 2016, o comércio mundial registrou uma recuperação que refletia o comportamento da economia global nos últimos meses do ano. O volume dos intercâmbios comerciais crescia na casa dos 3% em novembro, o que situaria a taxa total de 2016 em 1% positivo, segundo dados do Departamento de Estatísticas da Holanda, uma reconhecida autoridade nesse assunto. “A questão crucial agora é se a nova Administração norte-americana acabará com essa recuperação”, admite Michael Pearce, da Capital Economics, de Londres. Porque “medidas unilaterais de um país induzirão outros a adotarem medidas multilaterais”, como recorda González. E assim estaria formado o cenário para as guerras comerciais.

quarta-feira, 8 de março de 2017

"É o próprio governo que provoca o déficit da Previdência", alerta economista


Olá alunos, 

Na postagem de hoje mostra que não cobrar sonegadores e conceder renúncias fiscais, a União alimenta o problema que diz combater.

Esperamos que gostem e participem.
Palloma Borges, monitora da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense. 

A reforma da Previdência proposta por Michel Temer no fim de 2016 tem como objetivo oculto privatizar o setor. Essa é a avaliação da economista Denise Gentil, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Na avaliação dela, as exigências impostas aos trabalhadores são tão altas e as perspectivas de obter uma boa aposentadoria, com valor integral, foram reduzidas a tal ponto que estimularão a busca por fundos de previdência privada complementar.
A economista alerta, ainda, para o esvaziamento da própria Previdência pública, uma vez que, ao não vislumbrar o acesso a um benefício digno ao fim da vida, muitas pessoas podem acabar optando por não contribuir ao longo dos anos.
Em entrevista à CartaCapital, a professora explica que a reforma alterará o caráter da Seguridade Social passando a uma visão financeira do setor. Segundo ela, entre janeiro e outubro de 2016, os bancos venderam 21% a mais de planos nos fundos privados.
Denise participou do seminário “Em defesa do direito à aposentadoria para todos”, realizado pela Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae) e Associação Nacional dos Participantes de Fundo de Pensão (Anapar), em Brasília, na sexta-feira 27, com a presença de centrais sindicais e outras entidades representativas.
CartaCapital: A reforma da Previdência acabará, de acordo com a senhora, por pressionar o trabalhador a buscar outras alternativas de renda para garantir uma velhice tranquila. Por isso que a reforma induz a uma privatização do setor?
Denise Gentil: Quando o governo anuncia uma reforma que vai exigir um tempo maior de contribuição e uma idade maior para a aposentadoria, ele sinaliza ao trabalhador que terá dificuldade para acessar essa aposentadoria e que, portanto, deve procurar uma previdência privada complementar. Essa reforma tem um conteúdo privatizante muito forte.
O recado é: Quem não buscar os fundos de previdência complementar pode cair na pobreza.  A reforma também tem outro objetivo: achatar os gastos públicos. Ao fazer isso com a Previdência e com a Assistência Social, ela também vai liberar mais recursos para pagar juros. E os grandes proprietários de títulos públicos no Brasil são os mesmos dos fundos de previdência, que são os fundos dos bancos.
CC: O governo anunciou a reforma como uma das soluções para a crise econômica, dentro do ajuste fiscal. Qual seria a melhor alternativa?
DG: Se a reforma tivesse a ver com ajuste fiscal, o governo tentaria aumentar as receitas da Seguridade Social. Ao invés disso, busca comprimir os gastos. O governo poderia, por exemplo, abrir mão das renúncias fiscais em favor de empresas que não dão nada em contrapartida ou cobrar a dívida dos sonegadores da Previdência.

"A União não cobra das empresas sonegadoras e ainda entrega a elas a possibilidade de pagarem menos tributos legalmente. Então, é próprio governo que provoca o déficit"
Ou seja, a União não cobra das empresas sonegadoras e ainda entrega a elas a possibilidade de pagarem menos tributos legalmente. Então, é próprio governo que provoca o déficit. Não é o aumento dos gastos. O governo sabe que tem superávit. Tanto tem que ele faz desonerações tributárias, se dá o luxo de não cobrar sonegadores.
CC: Então o déficit é uma falácia?
DG: Sim. Em primeiro lugar, porque o déficit foi provocado pelo pagamento de juros, o maior gasto do orçamento do governo. Enquanto o déficit anunciado da Previdência pelo governo é de 149,7 bilhões de reais, o governo entrega ao setor privado algo em torno de 501 bilhões ao ano, ou seja, 8% do PIB. A conta não fecha, principalmente, pelo gasto com a dívida pública.

O ajuste fiscal que pretende cortar os gastos da Previdência não vai resolver o problema das contas do governo porque, para isso, é preciso corrigir a política monetária. A verdadeira reforma teria que ser na política monetária e cambial do Brasil, porque é responsável pelo crescimento da dívida pública. A população precisa saber disso.
CC: A reforma tramita no Congresso. A senhora acredita que pode haver grandes mudanças na proposta inicial ou não haverá muito debate?
DG: O Congresso é muito conservador e favorável à reforma da Previdência, mas ele também é sensível aos apelos da população. Acredito, também, que os parlamentares têm uma boa dose de desconhecimento das suas consequências, porque uma reforma como essa não é favorável ao crescimento econômico. Isso impacta muito a sociedade, inclusive os empresários, porque ela vai reduzir drasticamente o consumo das famílias e isso tem impacto no crescimento do PIB.

"O desemprego aumentou, o consumo das famílias caiu e a produção das empresas também. Então, não há porque ter essa expectativa de crescimento diante desse cenário"
Se os congressistas tiverem o devido esclarecimento das consequências dessa reforma, do quanto eles perderão de voto... Os idosos são eleitores, os trabalhadores também. Será que o Congresso vai querer se indispor com a grande massa de eleitores? Precisa ter uma conta muito bem feita sobre o benefício e o custo de ser favorável a uma reforma da Previdência.
CC: A análise do Tribunal de Contas da União sobre as contas apresentadas pelo governo poderá trazer resultados divergentes?
DG: A sociedade espera do TCU clareza sobre isso, porque ele também é responsável por avaliar o quanto o governo desvia da Seguridade Social. Ele julga as contas do governo. Se o governo estiver praticando atos ilegais, tem de ser responsabilizado por isso dentro das leis. TCU tem que zelar pela verdade dos relatórios que são entregues pelo governo.

CC: Alguns economistas têm dito que economia brasileira já dá sinais de melhora. A senhora concorda com essa análise?
DG: O cenário não é de crescimento. O PIB deve fechar negativo em 4%, essa é a expectativa. O desemprego aumentou, o consumo das famílias caiu e a produção das empresas também. Então, não há porque ter essa expectativa de crescimento diante desse cenário. O governo diz que essas reformas sinalizam para o investidor e o setor produtivo que a economia vai crescer, mas não adianta anunciar ilusões. Ficções não funcionam. Na prática, tem que de haver mercado para as empresas investirem.