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quinta-feira, 20 de abril de 2017

Editora FGV lança ‘A democracia impedida: o Brasil no século XXI’




Olá alunos,

A notícia de hoje vem convidá-los para o lançamento do livro "A Democracia Impedida: o Brasil no século XXI", de autoria do cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, a ser realizado no dia 24 de abril, no Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

O livro desenvolve uma análise das etapas do processo de impeachment que culminou na condenação da então presidente Dilma Rousseff por crime de responsabilidade. O tema acalorou o debate público e dividiu opinião em todos os centros políticos do país. Entre os pontos que fazem parte da obra estão o exame do comportamento dos eleitores às vésperas das eleições de 2014; a reeleição da presidente, as heranças do seu governo anterior e as insatisfações políticas com medidas no novo mandato; as comparações e distinções entre os eventos de 1964 e 2016; a democracia representativa, o golpe constitucional e o golpe parlamentar.

Esperamos que gostem e participem.
Caio Malta, monitor da disciplina "Economia Política e Direito da Universidade Federal Fluminense.

sábado, 15 de abril de 2017

Entenda como a guerra da Síria virou maior crise humanitária da atualidade




Olá alunos,

A notícia de hoje mostra como a guerra civil na Síria se transformou na maior crise humanitária da atualidade e as implicações geopolíticas da disputa no país.

Esperamos que gostem e participem.
Caio Malta, monitor da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense.

Ao longo de seis anos, a guerra civil na Síria se transformou na maior crise humanitária da atualidade.
Em 2011, a Primavera Árabe chegou à Síria. A onda de protestos populares contra ditadores, que já atingia a Tunísia, Líbia, Egito, agora mirava também Bashar al-Assad. Mas, ao contrário do que aconteceu nos outros países, na Síria, o ditador não caiu. Assad reagiu com forte repressão. Parte da oposição pegou em armas.
A revolução popular evoluiu para uma guerra que não parou mais. Mais de 400 mil morreram, a grande maioria civis. Cinco milhões de pessoas fugiram para outros países.
Assad é um muçulmano da corrente alauita - minoritária no país. Os grupos rebeldes variam entre os mais moderados e os radicais e são, na maioria, da corrente sunita do Islã.

Em 2012, a Síria admitiu pela primeira vez que tinha armas químicas. O então presidente americano, Barack Obama, ameaçou usar força militar caso Assad ultrapassasse o que ele chamou de linha vermelha e usasse essas armas. 


Em 2013, a Síria ultrapassou a linha vermelha, fez um ataque químico na cidade de Ghouta, que era controlada por rebeldes. Mais de 500 pessoas morreram.
Obama pediu autorização ao Congresso para usar força militar contra a Síria, mas não conseguiu aprovação.

A guerra interna deixou a Síria em caos e o grupo terrorista Estado Islâmico - nascido no vizinho, Iraque - aproveitou para ocupar territórios sírios 


A partir daí, era o governo de Assad contra os vários grupos rebeldes e também contra o Estado Islâmico.
Em 2014, Barack Obama liderou a formação de uma coalizão para atacar o Estado Islâmico, que já controlava grandes áreas na região. Isso poderia ajudar Assad a se livrar de um dos inimigos dele. Por isso, muitos países não quiseram se envolver.
Em 2015, o governo de Assad estava enfraquecido. Além do avanço dos terroristas, os grupos rebeldes conseguiram tomar bases militares. Foi então que a Rússia entrou na guerra.
O governo de Vladimir Putin dizia que era para atacar os terroristas, como faziam outros países, mas logo ficou claro que a Rússia queria era ajudar Assad a recuperar o terreno perdido.
Até agora, os Estados Unidos não miravam em alvos do governo sírio. Lançavam ataques aéreos apenas contra os terroristas do Estado Islâmico e apoiavam os grupos rebeldes mais moderados para que eles atacassem o regime de Assad.

Mas essa estratégia não funcionou contra o ditador. O que funcionou foi a estratégia da Rússia. Com a ajuda dela, Assad conseguiu permanecer no poder e retomar áreas que já tinha perdido. Na ONU, a Rússia vetou várias vezes resoluções contra o governo de Assad.


A aliança com a Síria é antiga e vital para a Rússia no Oriente Médio - região onde a maior parte dos governos é alinhada com os Estados Unidos. Desde a década de 70, os russos têm um grande porto na cidade de Tartus, no Mar Mediterrâneo.
Após a Segunda Guerra Mundial, a então União Soviética ajudou a Síria a desenvolver suas forças militares e fez do país um aliado durante a Guerra Fria, quando disputava poder e influência com os Estados Unidos.
O professor de política internacional Fernando Brancoli explica que, ainda hoje, a Rússia disputa esse espaço com os Estados Unidos.
“Desde o final da Guerra Fria, a Rússia vem perdendo prestígio e influência no sistema internacional. E essas ações militares, seja na Ucrânia, seja na Crimeia e agora na Síria, é uma forma, um trampolim para a Rússia mostrar que ainda é um ator relevante, que ainda tem capacidade de atuar internacionalmente com força e de que qualquer movimentação importante nessa região necessariamente precisa da Rússia. Pra Rússia, não é interessante a queda de Bashar al-Assad e ela certamente vai fazer as movimentações para impedir qualquer tipo de situação nesse sentido”, diz o professor de política internacional – UFRJ.

"A renda básica universal seria a maior conquista do capitalismo"




Olá alunos,


A notícia de hoje apresenta a ideia de um historiador holandês que propõe uma repartição gratuita de dinheiro, a qual chama de renda básica universal, e a instituição de uma jornada semanal de 15 horas.

Esperamos que gostem e participem.
Caio Malta, monitor da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense.

O historiador Rutger Bregman (Westerschouwen, Holanda, 1988) surgiu no debate ideológico em seu país há três anos com a publicação do ensaio Utopia para realistas. O texto foi divulgado inicialmente na Internet, no site The Correspondent. A indústria editorial juntou-se depois ao fenômeno, que agora chega à Espanha pelas mãos da editora Salamandra. Colaborador de jornais como The Washington Post e The Guardian, Bregman acredita ser possível sacudir o capitalismo para acabar com as desigualdades com propostas como a renda básica universal, redução da jornada de trabalho para 15 horas semanais e abertura das fronteiras.
Pergunta. No sul da Europa, o debate está focado hoje na questão de como continuar financiando o Estado de bem-estar social. Acredita ser viável acrescentar a esse sistema uma renda básica universal?
Resposta. A renda básica é um complemento das medidas fundamentais que compõem a sociedade de bem-estar. Ela deveria ser somada à saúde e ao ensino público. Mas há coisas que essa renda poderia substituir, em especial os subsídios como o seguro-desemprego, que se tornou um sistema incrivelmente burocrático e paternalista e que não funciona.




“QUERO UMA SOCIEDADE NA QUAL TODOS DECIDAM EM QUE QUEREM TRABALHAR”


Pergunta. Quantas horas o senhor trabalha por semana?
Resposta. O que é trabalhar? [riso]. Eu trabalho no The Correspondent, um coletivo de jornalistas de investigação, e isso me proporciona um salário básico. E o faço porque acredito nele, não por causa do dinheiro.
P. Mas quantas horas? É possível dedicar apenas 15 horas por semana a isso?
R. Talvez eu trabalhe zero hora, pois não considero isso realmente como um trabalho. Ninguém me obriga a fazê-lo. Mas eu gostaria de ver uma sociedade na qual cada um pudesse escolher livremente o trabalho que quer fazer. Eu me considero um felizardo, mas gostaria de viver em uma sociedade na qual todos se sentissem assim.

P. Os trabalhadores então deixariam de receber quando estivessem desempregados?
R. A renda básica é o primeiro estágio da distribuição e é incondicional. Todos a receberiam: ricos e pobres.
P. Como seria o seu financiamento?
R. Como eu disse, ela substituiria alguns elementos da sociedade de bem-estar. Mas a renda básica é um investimento. Há várias demonstrações científicas provando que a pobreza é algo que sai muito caro: gera mais delinquência, resultados acadêmicos piores, doenças mentais... Seria muito mais econômico erradicar a pobreza do que combater os sintomas que ela causa.
P. O senhor critica o Estado por ser um “supervisor” e por ser “paternalista”. Mas é preciso controlar de alguma forma como é empregado o dinheiro público, não?
R. Os pobres são os verdadeiros especialistas em suas próprias vidas. Acredito na liberdade individual, as pessoas sabem o que fazer com suas vidas, mas hoje vivemos em uma sociedade de burocratas e paternalistas. As pesquisas mostram que é melhor dar o dinheiro diretamente a quem precisa dele do que destiná-lo a funcionários públicos e à burocracia. Muitas pessoas se preocupam com a possibilidade de a renda básica ser usada para compra de bebida alcoólica ou drogas, mas já houve experiências no passado cuja conclusão foi de que deram muito certo.
P. Mas não foi essa a postura demonstrada pelo líder do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, ao dizer, referindo-se aos países do sul da Europa, que não se pode gastar tudo com mulheres e bebidas e depois vir pedir mais dinheiro?
R. Gostaria de pedir desculpas por isso em nome do meu país. A boa notícia é que ele logo mais já não trabalhará mais nesse lugar. Sim, esse é um grande exemplo da falta de confiança que as grandes instituições têm em relação às pessoas comuns. Na verdade, esse dinheiro não foi parar integralmente no bolso dos lixeiros, dos faxineiros ou dos professores, mas sim no dos banqueiros. No meu livro, eu procuro expor uma ideia mais otimista daquilo que podemos conseguir como sociedade. Minha geração está cansada de políticos como Dijsselbloem, que opõem as pessoas umas às outras.
P. O livro é bastante crítico em relação à esquerda social democrata por causa de seu discurso “perdedor”. Como seria possível renovar esse discurso?


"(...) vivemos em uma sociedade de burocratas e paternalistas."

R. Os sociais-democratas foram totalmente esmagados nas recentes eleições gerais da Holanda. Perderam o rumo de casa e não têm propostas a acrescentar. Dijsselbloem é o maior exemplo de tecnocrata e dessa percepção de que os homens de terno sabem mais do que os outros aquilo que nos convém ou não. E essa concepção levou à irrupção dos populismos de direita. A tecnocracia e o populismo estão convencidos de que só existe uma receita capaz de funcionar, enquanto que para nós o que realmente convém é o pluralismo. O problema da esquerda, hoje, é que ela só sabe ao que se opõe. Permanece com uma visão muito paternalista, de ajudar a quem precisa. Precisamos virar esse discurso ao avesso. Por exemplo, defender a meritocracia. Se a levássemos a sério, muitos professores deveriam ganhar mais e muitos banqueiros deveriam ter um saldo negativo, por destruir a riqueza. Esse é o discurso de que precisamos para combater a desigualdade.
P. Mas no livro a sua crítica é generalizada. O senhor se queixa de que sua geração é carente de novas ideias.
R. Mas já há alguns sintomas que alimentam a esperança. Eu escrevi o livro pela primeira vez em holandês em 2014, e naquela época ninguém tinha a menor ideia do que era a renda básica. Agora, somente na Holanda, existem 20 cidades que implementaram programas para aplicá-la. Ela está sendo experimentada na Finlândia e prestes a ser adotada também no Canadá. Isso mostra que se trata de uma ideia que está conquistando o mundo.
P. O senhor defende uma jornada de trabalho semanal de 15 horas. Essa ideia já foi colocada por John Maynard Keynes, e não parece que tenhamos nos aproximado muito disso. Por que acredita que agora seria possível implementá-la?


"Minha geração está cansada de políticos que afrontam os cidadãos, como Dijsselbloem(...)"

R. Durante décadas muitas pessoas acharam que chegaríamos a jornadas mais curtas. Keynes não foi o único. Nos anos setenta, a maioria dos economistas e sociólogos estavam convencidos disso. Mas nos anos oitenta a coisa mudou, e começamos a trabalhar muito mais. Hoje estamos atolados de trabalho. Há dois motivos para isso. Primeiramente, o consumismo: compramos coisas de que não temos necessidade para impressionar pessoas das quais não gostamos. O problema dessa explicação é que a maior parte das coisas que compramos sem necessidade são produzidas por robôs e no Terceiro Mundo, o que faz com que a maioria de nós trabalhe no setor de serviços. E isso nos leva ao outro motivo, ou seja, que nos últimos 30 anos temos visto um crescimento absurdo do nível de trabalhos lixo.
P. Em que sentido esses trabalhos são lixo?
R. Um trabalho lixo é um trabalho considerado inútil pela própria pessoa que o exerce. Muitas vezes são trabalhos bem remunerados, mas que podem consistir em enviar correios eletrônicos ou escrever relatórios que ninguém lerá. Não estou falando de lixeiros, professores ou enfermeiras. E existem funções extremamente úteis que não são remuneradas, como o cuidado com as crianças ou os idosos e o voluntariado. Se todos esses deixassem de trabalhar, aí sim teríamos problemas de verdade.
P. Qual mecanismo seria usado para determinar os salários?
R. A renda básica seria fundamental, pois permitiria pela primeira vez na história que as pessoas pudessem recusar trabalhos que não quisessem realmente fazer. Hoje em dia esse é um privilégio ao alcance apenas dos mais ricos, mas, caso se implementasse a renda básica, seria um direito de todos. Hoje se diz às crianças que elas precisam estudar para alguma profissão que lhes dê dinheiro. Com a renda básica, elas poderiam fazer o que bem entendessem na vida.
P. O senhor diz que haverá menos emprego por causa da tecnologia. Mas, em vez disso, não poderá acontecer de surgirem novos tipos de empregos?


"O problema da esquerda, hoje, é que ela só sabe ao que se opõe."

R. Nós subestimamos a incrível capacidade do capitalismo de gerar novos trabalhos inúteis. Hoje em dia, talvez cerca de 30% dos empregos são inúteis, mas o capitalismo pode elevar essa taxa a 40%, 50% ou 60%. A não ser que se introduza a renda básica ou se redefina o conceito de trabalho.
P. O senhor poderia ser encaixado na categoria dos que são antissistema, mas no livro há uma defesa do capitalismo, que é visto como um “motor de prosperidade”...
R. A renda básica universal seria a conquista mais importante do capitalismo. Não é uma ideia absurda. É uma plataforma a partir da qual se pode ir adiante, proporcionando a todos uma ferramenta para se arriscar e empreender. E é nisso que consiste o capitalismo.
P. Os críticos à ideia da renda básica dizem que essa medida acabaria com o incentivo à busca por trabalho. Qual é sua opinião sobre isso?
R. Uso três capítulos para mostrar experiências concretas que revelam que, quando recebem dinheiro gratuitamente, as pessoas não o desperdiçam ou gastam com bebida. As pesquisas mostram que todos nós queremos realizar os nossos sonhos. E o grande desperdício dos nossos dias são os milhões de pessoas que estão presas à pobreza ou a um trabalho inútil.
P. O senhor propõe a abertura de fronteiras em um contexto em que o mundo parece caminhar numa direção contrária a essa. Seria o item mais utópico das suas propostas?
R. É, sem dúvida, o mais radical. Mas temos provas de que a imigração é uma arma contundente contra a pobreza. Um país com um patriotismo forte deveria se sentir orgulhoso por abrir suas fronteiras a emigrantes e refugiados, pois todos os grandes países da história da humanidade se basearam neles.
P. Essa ideia exigiria um consenso internacional. Pensando no papel desempenhado pela União Europeia na crise dos refugiados, parece viável chegar a ele?
R. Tudo deve começar por contar a história de uma forma diferente. É a mesma coisa para a renda básica. Muitas vezes me dizem que as pessoas são contra, mas no século XVII a maioria também era contra a democracia.

terça-feira, 11 de abril de 2017

Mais emprego ou precarização? Os possíveis impactos da lei da terceirização



Olá alunos,




A notícia de hoje traz uma análise dos impactos da lei da terceirização, recentemente sancionada, e seus impactos nas relações de trabalho.



Esperamos que gostem e participem.
Caio Malta, monitor da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense.
Após uma manobra que desengavetou um projeto parado há quinze anos no Congresso, a Câmara dos Deputados aprovou a ampla liberação da terceirização do trabalho no país. A nova legislação também foi sancionada pelo presidente Michel Temer.
Segundo o entendimento atual da Justiça do Trabalho, apenas as chamadas "atividades meio" poderiam ser terceirizadas no país - ou seja, uma empresa de sapatos não pode terceirizar as atividades diretamente ligadas à produção dos calçados, mas pode contratar trabalhadores de outras empresas para desempenhar funções auxiliares, como limpeza e segurança.
Já a nova lei prevê que qualquer atividade de uma empresa seja terceirizada.
Temer sancionou a lei no mesmo dia em que manifestantes protestam em São Paulo e outras cidades brasileiras contra as reformas trabalhista e da Previdência propostas pelo governo. Os protestos foram organizados por entidades associadas à esquerda, como a frente Brasil Popular e a frente Povo Sem Medo.
Ao aprovar o projeto, o presidente vetou parcialmente três pontos da proposta que, apesar de ter sido aprovada pela Câmara dos Deputados recentemente, estava parada há quinze anos no Congresso.
Um dos ítens vetados permitia que contratos temporários de trabalho fossem prorrogados, podendo durar mais de 270 dias. Os outros dois vetos tiraram da lei direitos que já constam na Constituição Federal e estavam redundantes.
Entenda abaixo quais podem ser as consequências da ampliação da terceirização no país. 

  • Aumento do emprego ou precarização das condições de trabalho?
Críticos da ampliação da terceirização dizem que esse modelo vai provocar a precarização das condições de trabalho.
Segundo estudo feito pela CUT (Central Única dos Trabalhadores) e o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) a partir de dados de 2013 do Ministério do Trabalho, terceirizados trabalham em média três horas a mais por semana que os contratados diretos, ao mesmo tempo em que ganham salários em média 25% menores.
Além disso, também costumam sofrer mais acidentes de trabalho, aponta a pesquisa.
Outro estudo, publicado em nota técnica do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica aplicada) a partir de dados de 2007 a 2012 do Ministério do Trabalho, estimou uma diferença menor entre os salários.
De acordo com esse levantamento, terceirizados ganham em média 17% a menos que os contratados. Os autores da pesquisa, porém, concluem que outros fatores impactam essa diferença, como disparidades no nível de escolaridade dos trabalhadores, idade, gênero, cor, tempo de serviço, entre outras. Quando excluídos esses fatores, calculam, a diferença cai para 3% em média.
O deputado Laércio Oliveira (SD-SE), relator da proposta na Câmara, contesta o argumento de que a terceirização promove uma precarização das condições de trabalho.
Segundo ele, o objetivo dela é permitir que companhias contratem serviços de empresas especializadas em determinadas atividades, aumentando a eficiência da produção. Isso, segundo ele, vai melhorar o desempenho delas, possibilitando a geração de mais empregos.
"Terceirização não é precarização, é eficiência. Precarização é falta de emprego. Situação que o país vive hoje por uma legislação ultrapassada. Isso que é precarização", afirma Oliveira.
"O que estamos fazendo, o que o governo Michel Temer está fazendo, é modernizando as relações de trabalho no Brasil para que a gente consiga, em curto prazo, resolver o problema do desemprego", reforçou.
De acordo com o deputado, a terceirização não traz qualquer perda de direitos ao trabalhador, pois os terceirizados são contratados com carteira assinada.
Os críticos à ampliação da terceirização, por sua vez, dizem que o único fator que de fato gera emprego é o crescimento econômico. Segundo eles, eventuais economias geradas pela terceirização para as empresas serão convertidas em aumento das margens de lucro, e não em mais contratações.
"Levamos a proposta de que a nova lei estabelecesse que o trabalhador terceirizado tivesse o mesmo salário do contratado direto. Não foi aceita a proposta, e nem seria, pois justamente na diferença salarial entre o terceirizado e o trabalhador contratado diretamente que há essa margem de lucro da empresa intermediadora", afirma Germano Silveira, presidente da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra). 

  • Aumento da segurança jurídica ou menos garantias para o trabalhador?
Defensores da nova lei para terceirização defendem que ela trará mais segurança jurídica para as empresas e os cerca de 12 milhões de trabalhadores terceirizados que existem no país.
Como atualmente não há legislação específica que regule esses contratos de trabalho, as regras foram estabelecidas por meio de decisões da Justiça do Trabalho.
"O projeto (de lei aprovado) garante, ainda, maior segurança jurídica. Isto é essencial para as empresas que buscam, na terceirização, uma alternativa para serviços especializados e o aumento da competitividade", disse a Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro) em nota divulgada nesta quinta-feira.
O presidente da Anamatra, por sua vez, diz que a nova lei reduz as proteções ao trabalhador e vai gerar mais ações na Justiça.
Um ponto polêmico do projeto aprovado nesta quarta-feira é a definição de que as empresas contratantes dos serviços terceirizados têm apenas responsabilidade subsidiária às empresas prestadoras de serviço.
Na prática, isso significa que, caso a empresa prestadora do serviço deixe de pagar benefícios dos empregados, por exemplo no caso da mesma falir ou ser fechada pelos donos, esses trabalhadores não podem acionar imediatamente a empresa contratante na Justiça.
Primeiro, é preciso acionar apenas a empresa prestadora do serviço.
O outro projeto de lei, aprovado em 2015 na Câmara e que está desde então parado no Senado, previa a responsabilidade solidária das duas empresas. Isso permitiria ao trabalhador processar as duas empresas ao mesmo tempo.
"Na responsabilidade subsidiária, a Justiça tem que primeiro tentar executar aquela empresa que você já sabe que não tem como dar retorno, que não tem patrimônio. Fica-se gastando uma energia absurda processual, procurando bens daquela empresa da qual não tem o que tirar, para somente depois passar a executar a outra empresa responsável. Você vai gastar anos correndo atrás de uma moeda podre e o trabalhador vai ter que ficar esperando", critica Silveira.
"Essa lei não produz nenhuma segurança jurídica. É uma lei ruim, mal redigida e fere a Constituição. Acho que vai gerar um número de ações ainda maior", acrescentou.
Para o deputado Laércio Oliveira, ocorre justamente o contrário. Se houver responsabilidade solidária, cria-se um vínculo de "subordinação" do terceirizado com a empresa contratante, abrindo espaço para processos na Justiça.
"Se a responsabilidade for solidária, não faz sentido algum fazer a terceirização. O funcionário não é dele (da empresa contratante do serviço terceirizado). Já pensou você ter controle do funcionário que não é seu? Isso vai significar subordinação, aí daqui a pouco começa a aparecer milhares de ações contra a empresa buscando o vinculo empregatício", argumentou.
"O funcionário terceirizado é subordinado à empresa prestadora de serviço e não à que contrata", disse ainda. 

  • Qual vai ser o impacto sobre o setor público e os concursos?
A nova legislação vai liberar a terceirização ampla também no setor público. Para o presidente da Anamatra, isso vai aumentar a substituição de servidores concursados por terceirizados.
O deputado Laércio Oliveira diz que isso não é verdade porque as carreiras exclusivas de Estado jamais podem ser terceirizadas.
Silveira, por sua vez, afirma que outras atividades do setor público, com a nova lei, agora poderão.
"A terceirização vai atingir carreiras auxiliares no Poder Público, como técnicos, analistas. Evidentemente que não vão poder ser terceirizados carreira de juiz, procurador, mas carreiras na Petrobras, nos bancos, essas serão certamente terceirizadas", disse.
"Por exemplo, a função de escriturário, cuja terceirização na Caixa Econômica, há 20 anos, foi muito intensificada e depois proibida", acrescentou.
Germano Silveira lembra ainda que está em análise no Supremo Tribunal Federal se o Poder Público pode ser considerado responsável subsidiário no caso das empresas contratadas deixarem de pagar os funcionários terceirizados.
O processo, que terá repercussão geral, trata do caso de uma recepcionista terceirizada que não teve verbas trabalhistas pagas pela empresa.
A União recorreu ao STF contra uma decisão da Justiça do Trabalho que determinou que o Poder Público deveria pagar esses benefícios devido a sua omissão na fiscalização da companhia que prestava o serviço.
O julgamento do Supremo está empatado em cinco a cinco. Caberá ao novo ministro, Alexandre de Moraes, decidir a questão.

sexta-feira, 7 de abril de 2017

Empresas buscam o funcionário digital




Olá alunos, 

A noticia de hoje sinaliza que os trabalhos do futuro, buscarão, tendencialmente, conjugar a tecnologia, em suas diversas nuances, com o perfil multidisciplinar de demanda de trabalho. Busca-se, dessa forma, enfrentar os desafios da sociedade contemporânea, crescentemente informatizada.

Esperamos que gostem e participem.
Caio Malta, monitor da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense. 


Em 2012, a plataforma de fotografias Instagram foi vendida por um bilhão de dólares. Tinha 13 funcionários fixos (e 30 milhões de usuários). Naquele mesmo ano, mais de 18.000 empresas desapareceram, e 250.000 empregos em tempo integral sumiram do mapa. São as mutações do presente e, ao que parece, também do futuro.

Os economistas Carl Benedikt Frey e Michael Osborne, da Universidade Oxford, lançaram um alerta, no ano passado, segundo o qual 47% das funções correm o risco de desaparecer sob a ditadura da tecnologia, que imporá o uso de robôs, tese a que se contrapõem, no entanto, outros especialistas e instituições, como a OCDE, para a qual somente 9% das funções atuais estão em via de extinção. Algumas pesquisas, por outro lado, se apoiam no chamado paradoxo de Solow, pelo qual as novas tecnologias não produzem efeito sobre a produtividade porque requerem investimentos que obedecem a exigências de rentabilidade muito elevadas. Em resumo, o mundo pode estar vivendo uma ilusão, mas, mesmo assim, não é capaz de vencer o medo de que a tecnologia acabe com o trabalho das pessoas.
Ela realmente fará isso? Qualquer resposta acabada para essa questão seria tão digna de credibilidade quanto um horóscopo. O único ponto com o qual os quinze especialistas consultados pelo EL PAÍS estão de acordo é que o trabalho se transforma. E o faz muito rapidamente. A EAE Business School acaba de publicar um estudo mostrando que os postos de trabalho com maior necessidade por parte das grandes empresas dentro de dois ou três anos serão, por ordem de prioridade, os seguintes: especialista em análise de dados, engenheiro de informática, responsável por estratégia digital e comercial (digital). Bem precisamente. “Os dois grupos mais assinalados, com muita clareza, são os que têm a ver com comércio e tecnologia. O Big Data ocupava em 2014 a vigésima posição e já subiu para a primeira”, observa Pilar Llácer, coordenadora do estudo.
O sobrenome “digital” é a nova grande aposta. “Todos os postos relacionados a tecnologia e que serão mais procurados foram criados recentemente”, diz. É a transformação das profissões abraçadas pela vida inteira, como a do responsável de vendas, que terá de fidelizar um consumidor do qual desconhece o rosto, em um ambiente online. Várias outras funções ainda serão criadas, pois, assim como o aplicativo de mensagens WhatsApp não existia oito anos atrás, outras tecnologias e programas hoje desconhecidos surgirão, “exigindo novos conhecimentos”, acrescenta Llácer.
Na InfoJobs, maior plataforma digital de intercâmbio de ofertas, sabe-se que as funções mais requisitadas neste momento são as chamadas transversais: aquelas de que todas as empresas precisam. “Perfis que se encaixam nas categorias comerciais e de vendas; informática; telecomunicações e atendimento ao cliente, que reúnem 56% do total de vagas oferecidas”, conta Dominique Cerri, sua diretora. Nos últimos anos, houve uma explosão do fenômeno digital, notadamente em cargos como programador, especialista em Big Data, HTML5, desenvolvedor de aplicativos móveis ou na nuvem, ou especialista em redes sociais. Por outro lado, determinados cargos, devido à sua grande quantidade disponível e baixa procura, constituem excelente oportunidade de emprego e um bom caminho para quem pretende buscar uma orientação no mercado de trabalho que se desenha para o futuro: procuram-se programadores em linguagens como J2EE, Oracle, Java, Net, Abap ou Cobol, arquitetos de informática, programadores de aplicativos móveis ou consultores de energia. “Todos eles, com exceção do último, ligado a energias renováveis, têm a ver com tecnologia”.
Robótica, inteligência artificial, segurança cibernética, internet das coisas e nanotecnologia –esses são os campos mais promissores. Mas nem todos os trabalhadores serão necessariamente engenheiros com várias pós-graduações. Na empresa de trabalho temporário Nortempo, algumas profissões mais comuns são também integradas à lista. “Pensando até 2020, a automação e a logística ligada ao consumo online absorverão a demanda de mão-de-obra intensiva com qualificação média ou baixa”, comenta Mercedes Elipe, diretora. Concretamente, fala-se em atendimento ao cliente, telemarketing especializado, cozinheiros, camareiras, sommeliers, carregadores de peças para controle de qualidade, soldadores, ferramenteiros ou encarregados de tráfego (logística).

Mudança cultural


Essa mudança está nas mãos das empresas. Miguel Premoli, vice-presidente de Recursos Humanos da PepsiCo, desenha o novo caminho do trabalho em multinacionais como a sua, com 76 fábricas e 44.000 funcionários na Europa, sendo 2.500 na Espanha. A equipe de marketing, e-commerce e infraestrutura digital já reúne 150 pessoas na Europa. “É uma grande tendência que já se impõe, e ela tem a ver com a maneira como as marcas se comunicam com as pessoas. Antes havia a publicidade, que era uma coisa fixa. Agora existe uma quantidade enorme de canais, para os quais precisamos recrutar um tipo de talento que não tínhamos conosco antes”.
Outro exemplo é o grupo de cooperativas Corporación Mondragón, com 12,1 bilhões de euros [39,9 bilhões de reais] de faturamento e 74.355 postos de trabalho, onde há um grande esforço, nem sempre bem-sucedido, para encontrar profissionais com formação superior. “Cerca de 54% das cooperativas pedem técnicos em eletrônica, mecatrônica, eletricidade. Outros 25% demandam habilidades mecânicas e outras, como informática”, revela Íñigo Larrea, diretor de gestão de talentos. Na área de distribuição (principalmente para a Eroski, que faz parte da CM), os novos perfis são de analista de dados, marketing digital e segurança cibernética. E, na área financeira, pessoas que conheçam o universo fintech (uso da informática bancária). “Internamento, teremos organizações mais horizontais, com menos níveis hierárquicos e com ambientes culturais mais diversificados”, acrescenta.
Assim, como se diz no futebol, é bom baixar a bola. Em uma pesquisa sobre sistemas de autosserviço em supermercados, por exemplo, os professores do IESE Alejandro Lago e Philip Moscoso descobriram que o emprego de caixas no comércio cresceu 2%, em média, por ano entre 1980 e 2013. “Este é um outro lado importante da história. Os computadores não necessariamente apenas substituem os trabalhadores, mas, muitas vezes, apenas complementam o seu trabalho, e não têm por que ser obrigatoriamente uma ameaça”.As mudanças no trabalho apontam para várias direções, segundo um estudo do IESE (Instituto de Ensinos Superiores da Empresa). “Os trabalhos rotineiros, seja os braçais, como encher caixas, ou os intelectuais, como checar registros, estão correndo risco porque podem ser automatizados rapidamente sem um custo muito elevado. Os não rotineiros estão mais protegidos: seria difícil e custoso automatizar a jardinagem, por exemplo”. Para a consultoria McKinsey, mencionada no estudo, apesar da alta porcentagem de funções que podem ser automatizadas, “na verdade são muito poucas as que podem sê-lo inteiramente”.
Na Câmara de Comércio espanhola, as mudanças também não são vistas como algo tão radial a ponto de desfazerem de uma hora para outra a estrutura do trabalho. Segundo suas pesquisas, em médio prazo, as funções mais procuradas, em todos os níveis, serão de operadores e trabalhadores qualificados de indústrias e construção (cerca de 13% das empresas irão contratar esses perfis), técnicos e profissionais científicos e intelectuais (11,2% e trabalhadores de serviços de restauração, pessoais, segurança e vendedores (10,5%). Por fim, 6,7% das empresas estimam que irão aumentar o seu pessoal administrativo, enquanto 0,5% prevê contratar, em curto prazo, diretores e gerentes.

Carreiras ou habilidades


Para David Navarro, coordenador do programa de emprego PICE da Câmara da Espanha, as inovações “não causam tantas rupturas como imaginamos. Basta lembrar que já faz vinte anos que as TI [tecnologias da informação] vem sendo vistas como o futuro”. Ele observa a existência de uma tendência que não tem a ver com diplomas acadêmicos, com sim com capacitações. “Provavelmente teremos uma vida de trabalho com projetos diversos ou trabalhos diversos. São necessários perfis multidisciplinares capazes de enfrentar esses desafios”.
Nesse mesmo sentido, o professor de gestão de pessoas, José Ramón Pin assinala duas qualidades que um robô jamais poderá ter: “carinho e imaginação”. E vislumbra um futuro em que os professores terão de continuar a ensinar marketing, finanças, sistemas de produção... mas formar pessoas capazes também de lidar com situações complexas. “Haverá departamentos de recursos humanos robotizados? Talvez. O certo é que as máquinas não têm imaginação nem podem conversar com um idoso ou efetuar qualquer tipo de assistência pessoal”. É difícil, então, escolher uma carreira. “Se existe alguma coisa de que você realmente goste, estude-a. Mas sempre inclua no seu currículo a matemática e mais de um idioma”, aconselha.
José Luis Casado, diretor de Desenvolvimento Profissional do Esic, resume a questão da seguinte forma: “Novos empregos sempre surgem, mas isso já aconteceu em outros momentos da história. O que parece claro é que continuaremos a ter de vender produtos, serviços ou soluções para os outros”. Então, como os centros de formação se preparam para isso? É complicado, avalia Martin Boehm, reitor da IE Business School. “Podemos aprender alguma coisa com o mundo anglo-saxão. É preciso amadurecer e desenvolver a capacidade de raciocínio. Teremos de estudar ao longo de toda a vida, reinventarmo-nos. Poderemos ser advogados, ter uma segunda carreira como jornalistas e acabar como empreendedores. O problema é o tempo de ajuste, pois serão necessárias duas ou três décadas para que se criem novos negócios e profissões”. A especialização tal como a conhecíamos antes terá pouco tempo de vida, porque os conhecimentos se tornarão obsoletos rapidamente. “Já existem até mesmo algumas plataformas que estão substituindo, de alguma forma, os advogados. Pensemos na Watson [sistema de inteligência artificial criado pela IBM. Estudos dizem que ele toma decisões melhores dos que os humanos, porque uma máquina não tem preconceitos”. Para José Luis Guillem, diretor do grupo CEU, o mais importante é algo de que não se costuma falar muito: o enfoque ético. “A empresa tem de ajudar a melhorar as coisas e não focar tudo na maximização dos lucros”.
O futuro é visto como uma página em branco cheia de desafios interessantes, mas a realidade é mais preocupante e obscura. É o que acontece com uma das maiores fontes de riqueza da Espanha, o turismo, para o qual são necessários hoje mais habilidades e conhecimento de mais idiomas. César Galiano, responsável por esse setor na UGT, afirma que as crescentes exigências não se refletem em um esforço por parte dos empresários na formação profissional. “Não existem planos de carreira. Na Restauração, as boas escolas estão no exterior ou são particulares. Não dizemos que o turismo é parte da Marca Espanha? Pois o que ocorre é o contrário: um setor de passagem, um refúgio temporário com horários incompatíveis com uma vida normal e salário baixos”.
Este é apenas um exemplo que questiona a ideia de uma Espanha que brilhará com o apoio da tecnologia. As 302.000 empresas do setor faturam 93,5 bilhões de euros [308,5 bilhões de reais] e empregam 1,2 milhão de pessoas, mas a crise tem priorado as suas condições: o emprego em tempo parcial passou de 19,3% para 26,7%; o emprego temporário cresceu 6% e o salário bruto médio anual não chega a 19.000 euros [62.700 reais].