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sábado, 28 de junho de 2014

Conheça os principais investimentos chineses na América Latina





Olá alunos,

A China tem feito grandes investimentos na América Latina. A postagem de hoje expõe quais são as principais áreas de investimento.

Esperamos que gostem e participem.

Fellype Fagundes e Carlos Araújo
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense

Nada mais simbólico sobre a presença da China na América Latina do que a recente aquisição da mina Las Bambas, no Peru.

O consórcio chinês MMG LTD, liderado pela estatal Minmetals Corp, adquiriu a mina de cobre da companhia suíça Glencore Xstrata PLC por US$ 5,8 bilhões.

O Brasil também está na lista dos países latino-americanos que mais recebem investimentos do país asiático. No ano passado, um consórcio composto pela Petrobras, a francesa Total, a anglo-holandesa Shell, e as chinesas CNPC e Cnooc ganhou os direitos para explorar a bacia de Libra, maior reserva petrolífera brasileira.

O desembarque chinês na região tem se caracterizado pelo deslocamento ou aquisição de empresas ocidentais por meio de grandes investimentos de empresas ou consórcios estatais.

Esta estratégia vem sendo possível por meio de um sistema de liberação de fundos do banco estatal chinês, que permite às empresas acesso a grandes somas e, aos governos da região, financiar projetos sociais, como habitação, ou em infraestrutura, como estradas, transportes, entre outros.

Segundo o Instituto de Governança Econômica Global (Gegi, na sigla em inglês), da Universidade de Boston, a China concedeu US$102 bilhões em empréstimos à América Latina entre 2005 e 2013.

"Com a entrada da China na Organização Mundial do Comércio, em 2001, o comércio cresceu muito e isso levou, naturalmente, a um boom nos investimentos", afirma à BBC Mundo Amos Irwin, da Gegi.

"Em vez de comprar o cobre de uma empresa na América Latina, a China decidiu adquiri-la ou ganhar uma participação majoritária para ter mais controle", acrescenta.

A estratégia chinesa é uma complexa integração entre seu setor financeiro e produtivo.

"Em relação aos montantes, os empréstimos para a indústria petroleira e para outros propósitos garantidos pelos dividendos da commodity são mais importantes do que as aquisições", afirma Irwin.

No reino dos grandes investimentos do gigante asiático, a estrela é o petróleo. Três companhias chinesas, Sinopec, CNPC e Cnooc, disputam o conjunto dos investimentos neste setor.

Abaixo, os cinco maiores investimentos chineses na região.

1. Venezuela

Em 19 de setembro do ano passado, o ministro do Petróleo venezuelano, Rafael Ramírez, anunciou um acordo com a China National Petroleum Corporation (CNPC) para obter investimentos de US$ 28 bilhões em um novo projeto na Faixa Petrolífera de Orinoco.

A CNPC é a companhia mãe da Petrochina, segunda maior petroleira do mundo em termos de capital.
A este acordo se somou outro de US$ 14 bilhões anunciado pelo mesmo ministro com a estatal China Petroleum & Chemical Corporation (Sinopec).

A Sinopec também já foi protagonista de outros grandes investimentos chineses na região.

2. Brasil

Em outubro de 2010, a Sinopec, maior refinaria chinesa, adquiriu 40% da espanhola Repsol no Brasil por US$ 7,1 bilhões.

Em 2011, expandiu suas operações no país com a aquisição por mais de US$ 5 bilhões de 30% das operações da petroleira portuguesa GALP.

As duas operações são uma clara indicação da presença da Sinopec no Brasil e da estratégia chinesa de adquirir parcialmente ou de fazer uma fusão com companhias já em atuação.

E esta estratégia não se limita ao Brasil. Dois meses depois da aquisição parcial da Repsol, a Sinopec adquiriu na Argentina a americana Occidental Petroleum por mais de US$ 2,4 bilhões.

No ano passado, as chinesas CNPC e CNOOC fizeram parte do consórcio vencedor do leilão para a exploração da bacia de Libra, maior reserva de petróleo do Brasil.

3. Argentina

A petroleira China National Offshore Oil Corporation (Cnooc) se tornou a segunda maior petroleira na Argentina, atrás apenas da estatal YPF, por meio de uma série de aquisições parciais multimilionárias de diferentes companhias.

Seu maior investimento foi em março de 2010, quando comprou 50% da petroleira argentina Bridas por US$ 3,1 bilhões.

Em novembro do mesmo ano, a Bridas, já de maioria chinesa, adquiriu 60% da Pan American Energy por US$ 7 bilhões.

E em fevereiro do ano seguinte, a Pan American Energy adquiriu 100% dos ativos da Esso Argentina por mais de US$ 800 milhões.

A nacionalização da YPF em 2012, que pôs em pé de guerra vários países ocidentais, não perturbou a China, que, em janeiro do ano passado, se associou à estatal argentina para a exploração de petróleo de xisto na gigantesca reserva de Vaca Muerta.

4. Peru

Depois do setor energético – petróleo e gás –, a mineração é a área que mais capta investimentos chineses na região.

Com a aquisição pelo consórcio MMG LTD das minas de cobre Las Bambas, a maior em valor na história peruana, a China elevou seus investimentos em projetos de mineração na região para US$ 19 bilhões.
Outros investimentos

Em termos de valores, os empréstimos superam qualquer investimento direto.

Segundo a Gegi, a Venezuela recebeu cerca de US$ 50 bilhões em empréstimos garantidos por fornecimento de petróleo. Se a isto se somar o investimento direto, a Venezuela é o primeiro destino de investimentos chineses na América Latina.

Exemplos destes empréstimos são o fundo de investimento bilateral de US$ 17 bilhões, criado em 2007 com prioridade para investimentos agrícolas, ou os US$ 4 bilhões concedidos em 2011 pelo Banco da China para a construção de casas.

No caso do Brasil, a Petrobras recebeu, em 2009, um empréstimo de US$ 10 bilhões para o desenvolvimento da produção de petróleo offshore.

Em novembro de 2007, a Petrobras anunciou a descoberta do campo de Tupi, com reservas potenciais de 8 bilhões de barris de petróleo que poderiam começar a ser exploradas a partir de 2020.

A descoberta do pré-sal foi classificada como a mais importante em 30 anos, mas exigia grandes investimentos em um momento em que os mercados financeiros globais estavam secos pela crise do crédito.

O mau momento se acentuou um ano depois, com a queda do banco Lehman Brothers e a consequente crise financeira internacional.

A China soube aproveitar deste momento para financiar investimentos da Petrobras por meio de um empréstimo do China Development Bank Corp.

Mas os investimentos chineses não ocorrem necessariamente dentro do território latino-americano.
Exemplo disso são os investimentos em refinarias de petróleo.

Em 27 de abril de 2012 foi inaugurada a pedra fundamental da refinaria Jie Yang, na província chinesa de Guagdong, empreendimento no qual a estatal venezuelana PDVSA está associada à China National Petroleum Corporation (CNPC). Juntas, pretendem construir outras duas refinarias em território chinês por um custo aproximado de US$ 16 bilhões.

O objetivo destas refinarias é processar petróleo venezuelano para uso doméstico chinês.

O investimento em transportes é outro ponto forte da expansão do gigante asiático.

De acordo com o rastreador global de investimentos chineses da Heritage Foundation, a China investiu na Venezuela mais de US$ 8 bilhões em transporte, enquanto na Argentina a soma gira em torno dos US$ 3 bilhões.

Apesar de o crescimento dos investimentos chineses ter diminuído nos últimos dois anos (abaixo de 7,4% no ano passado), nada indica que o fluxo de recursos vai parar.

"Se a economia chinesa continuar crescendo, continuará exigindo um enorme fluxo de recursos, tanto para o consumo interno quanto para a exportação", afirma Irwin.

"Assim, continuará forte a demanda por matérias-primas e a pressão interna para que esses recursos sejam adquiridos diretamente", acrescentou.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Crítico sensação do capitalismo quer estudar Brasil, mas Receita não libera dados




Olá alunos,

O processo de concentração de renda acontece não somente na economia interna de cada país mas também em ambito global. A postagem de hoje expõe considerações feitas pelo economista Thomas Piketty sobre esse processo.

Esperamos que gostem e participem.

Fellype Fagundes e Carlos Araújo
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense



O francês Thomas Piketty - economista que virou celebridade com a tese de que o capitalismo está concentrando renda em vários países - tenta há alguns anos estudar o Brasil, mas não consegue acessar os dados.

O argentino Facundo Alvaredo, que integra a equipe de Piketty em Paris, contou à BBC Brasil que desde 2008 tenta obter – sem sucesso - os dados anônimos de Imposto de Renda do Brasil com a Receita Federal.

Esse foi o motivo pelo qual o Brasil ficou de fora do livro O Capital no Século XXI – publicação de Piketty cuja tradução para o inglês alcançou, no final de abril, o topo da lista dos mais vendidos na Amazon.com, desbancando até mesmos os de ficção ou auto-ajuda. Há dois meses, ele está entre os cem mais vendidos na loja online. 

Facundo disse que já solicitou à Receita Federal por diversos meios as informações dos últimos 25 anos. Ele já conseguiu os números de 1930 a 1988 e do ano 2000 – valores que foram divulgados no passado pela própria Receita Federal e hoje estão disponíveis em bibliotecas de importantes universidades como Harvard. A análise desse período será publicada até setembro, afirma.

"Nem todos os países aos quais solicitamos os dados nos deram retorno positivo, mas a Receita brasileira nem nos respondeu", disse Alvaredo.

"O Brasil é um país importante. Se tivéssemos tido acesso aos dados dos últimos anos, essas estimativas já teriam sido publicadas e citadas no livro", acrescentou.

Piketty já analisou dados tributários de quase 30 países, constatando o aumento recente da concentração de renda em economias ricas, como Estados Unidos e Europa, e também nas em desenvolvimento, como Índia e Colômbia.

Sua equipe criou um site com os números coletados - Clique The World Top Incomes Database - e está agora levantando mais números de cerca de 50 países. 

A expectativa de Alvaredo é que o enorme reconhecimento alcançado pelo livro de Piketty convença o governo brasileiro a liberar os dados. Ele observa que o estudo da concentração de renda é importante para o desenvolvimento de melhores políticas sociais e tributárias.

Piketty defende, por exemplo, que as pessoas mais ricas paguem mais imposto de renda. No caso dos Estados Unidos, ele sugere em seu livro que pessoas com rendas anuais acima de US$ 1 milhão (cerca de R$ 2,2 milhões) paguem alíquotas superiores a 80%. O objetivo, diz ele, é desestimular o pagamento de super salários. Já as rendas acima de US$ 200 mil (R$ 440 mil) seriam taxadas em 50% ou 60%.

Nos Estados Unidos, a alíquota máxima já foi de 90% após a Segunda Guerra, mas voltou a cair depois dos anos 70 e hoje não chega a 40%. Simultaneamente, a concentração de renda passou a subir e hoje é recorde no país (o estudo de Piketty abrange um século de dados).

"É importante ressaltar que algum grau de desigualdade é importante para gerar incentivos [econômicos]. O ponto aqui é que os incentivos não parecem exigir níveis tão altos de desigualdade como os observados em muitos países em desenvolvimento, incluindo o Brasil", destaca Alvaredo.

"Níveis muito altos de desigualdade são indesejáveis sob muitos pontos de vista - por exemplo, para o bom funcionamento das sociedades democráticas - e desnecessários para o crescimento", ressalta.

Desigualdade mais alta

As informações mais utilizadas no mundo para o estudo da desigualdade de renda são os dados coletados nas pesquisas domiciliares, como o Censo, que no Brasil são feitas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O problema é que em geral essas pesquisas captam bem os salários das classes baixa e média, mas não identificam adequadamente a renda da parcela mais rica da população – seja porque essas pessoas preferem não informar a totalidade de sua renda, seja porque não sabem precisar tão bem seus ganhos com investimentos.

E nos últimos anos, revela a pesquisa de Piketty, o rendimento do capital (aplicações financeiras, aluguéis, lucros empresarias) tem crescido mais rapidamente do que os salários – o que explica porque a concentração de renda está aumentando no mundo.

No seu livro, ele diz que em todos os países analisados "os dados fiscais revelam níveis de renda muito maiores e mais realistas entre os mais ricos do que mostram as pesquisas domiciliares".

No caso dos Estados Unidos, a pesquisa domiciliar indica que em 2012 os 5% mais ricos detinham 22,5% da renda nacional. Já o economista francês calcula um percentual bem maior: 38,6%.

Alvaredo acredita que o mesmo será observado no caso brasileiro - apesar de uma parcela menor ter capacidade de investir nos países em desenvolvimento, isso tem aumentado a cada ano, nota.

O economista José Roberto Afonso, da Fundação Getúlio Vargas, tem a mesma expectativa. Há anos ele também tenta ter acesso aos dados da Receita Federal.
 
"Quando o pesquisador do IBGE pergunta a renda de uma pessoa, ela responde seu salário. Se ela tem investimentos, muitas vezes nem sabe dizer quais são seus ganhos. Quando sabem, muitas vezes não querem revelar", afirma Afonso.

O Censo mais recente, de 2010, indica que 37% da renda do país está no bolso dos 5% mais abastados.

Desigualdade em queda?

Para Alvaredo, é extremamente importante ter acesso aos dados mais recentes do Imposto de Renda para entender melhor a queda da desigualdade no Brasil nos últimos anos.

Ele acredita que os números da Receita devem confirmar a redução da concentração de renda, mas podem indicar que isso ocorreu mais por causa de um crescimento mais lento da renda da classe média (em comparação com a dos mais pobres), do que por uma expansão menor do ganho dos mais ricos.

O pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Marcelo Medeiros observa que os dados do IBGE tem indicado que a desigualdade tem recuado mais lentamente nos últimos anos. Se a renda dos mais ricos estiver crescendo mais rápido do que o instituto estima, ressalta ele, pode ser que a concentração de renda tenha até parado de cair.

A BBC Brasil questionou a Receita Federal sobre a não divulgação dos dados anônimos de Imposto de Renda, mas tudo que obteve como resposta foi um Clique link para estudos do órgão que não trazem as informações em questão. 

"Há previsão de divulgação de outros estudos, semelhantes aos que te enviamos, no site na Receita Federal a partir da próxima semana, referentes aos anos de 2011 e 2012. Esses estudos mostram os dados públicos da Receita Federal. Existem outros estudos que dizem respeito a processos internos da Administração Tributária, usados para subsidiar decisões internas da Receita Federal e que não são divulgados", respondeu o órgão.

 Desafio

Piketty observa em seu livro que nos anos 90 houve uma piora na divulgação dos dados tributários em vários países, ironicamente por causa da informatização. Antes, quando as informações não eram computadorizadas, os órgãos de receita precisavam produzir relatórios para seu próprio funcionamento - e disponibilizavam seu acesso.

Além disso, ele também atribui a maior dificuldade de acesso aos dados a uma crescente resistência ao imposto de renda progressivo (em que as alíquotas sobem conforme a renda aumenta).

Defensor de taxas mais altas sobre os ricos, Piketty tem como grande desafio vencer essa resistência. Apesar do sucesso do seu livro, a etapa mais difícil vem agora: conseguir transformar esse prestígio em capacidade de influenciar governos.

Uma de suas propostas é criar um imposto global sobre a riqueza, o que parece politicamente inviável, segundo seus críticos.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

O impacto econômico da Copa do Mundo vai decepcionar?





Olá alunos,

Um dos principais temas relacionados a copa diz respeito aos possíveis benefícios, para economia e a infraestrutura do país, que ela traria. A postagem de hoje expõe pesquisas e pontos de vista que divergem em relação ao proveito, ou não, desse legado.

Esperamos que gostem e participem.

Fellype Fagundes e Carlos Araújo
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
Desde que o Brasil foi escolhido para sediar a Copa, em 2007, autoridades de Brasília têm exaltado o potencial do torneio para gerar empregos, acelerar investimentos em infraestrutura e atrair turistas com os bolsos recheados de dólares.

"O Mundial é uma oportunidade histórica para promovermos desenvolvimento socioeconômico no âmbito local e nacional", disse à BBC Brasil Joel Benin, assessor para Grandes Eventos do Ministério dos Esportes.

"Ele gerará 3,6 milhões de empregos, movimentará R$ 65 bilhões (este ano) e deixará um legado importante na área econômica".

Nas últimas semanas, porém, alguns analistas têm advertido que o torneio pode decepcionar aqueles que esperam um efeito econômico significativo – seja no curto ou no longo prazo.

Dois relatórios recentes, da agência Moody's e da consultoria Capital Economics, por exemplo, chamam a atenção para o pequeno peso em relação ao PIB dos gastos potenciais dos turistas e investimentos em infraestrutura ligados ao evento.

"Nem o impacto econômico imediato da Copa nem seu legado devem ser expressivos", acredita Neil Shearing, economista-chefe da Capital Economics para Mercados Emergentes.

"Mesmo os aportes em aeroportos, redes de transporte e infraestrutura urbana não chegam a 0,5% do PIB. Depois de décadas de escasso investimento nessas áreas, não é isso que vai aliviar os gargalos estruturais da economia brasileira."

Acadêmicos como Pedro Trengrouse, consultor da ONU para o Mundial e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Wolfgang Maennig, especialista em economia do esporte da Universidade de Hamburgo, concordam com essa avaliação.

"O governo resolveu apresentar a Copa como solução para questões estruturais do país", diz Trengrouse.

"A Copa é, basicamente, uma grande festa. Foi um erro associar o torneio a obras de infraestrutura que deveriam ter sido feitas há muito tempo para o Brasil continuar crescendo. Ao final, criou-se uma expectativa econômica que não pode ser atendida", completa, referindo-se ao fato de obras de mobilidade urbana e a ampliação de aeroportos terem sido incluídas na chamada Matriz de Responsabilidades da Copa - documento reunindo todos os projetos relacionados ao torneio.

Diante dessas críticas, fica a dúvida: afinal, o impacto econômico do Mundial pode mesmo decepcionar os que esperavam que ele funcionasse como um catalisador da expansão dos investimentos, renda e emprego no país? O evento terá ou não um impacto "significativo" na economia, como promete o governo?

Estudos contraditórios

A resposta depende, primeiro, do que se define pelo termo "significativo". Segundo, de uma série de cálculos que só poderão ser concluídos depois do Mundial.

Embora nos últimos anos tenham sido feitos diversos estudos para estimar os possíveis efeitos da Copa na economia, seus resultados divergem.
 De um lado, estão as pesquisas mais otimistas, citadas pelo governo.

Em 2010, um levantamento encomendado pelo Ministério dos Esportes à consultoria Consórcio Copa 2014 estimou que os "impactos econômicos potenciais" do torneio chegariam a R$ 183,2 bilhões até 2019 - sendo R$ 47,5 bilhões de "efeitos diretos" (como investimentos em infraestrutura e serviços ou gastos de turistas) e R$ 135,7 bilhões de efeitos indiretos (que incluem, por exemplo, os ganhos dos fornecedores das construtoras responsáveis pelos estádios).

No mesmo ano, outro estudo, feito pela Ernst & Young em parceria com a FGV estimou um impacto econômico semelhante: R$ 142 bilhões movimentados até 2014 e a geração de impressionantes 3,6 milhões postos de trabalho.

"A Copa vai produzir um efeito cascata surpreendente nos investimentos no País", dizia o estudo. "A economia deslanchará como uma bola de neve, sendo capaz de quintuplicar o total de aportes aplicados diretamente na concretização do evento e impactar diversos setores."

É com os cenários desses dois relatórios que o governo trabalha ainda hoje. "Não houve exagero - as nossas previsões ainda são essas", diz Benin.

"Essas estimativas iniciais foram confirmadas por um terceiro levantamento, da FIPE (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), que mostrou que a Copa das Confederações (evento-teste para o Mundial) movimentou R$ 20,7 bilhões em 2013. Foi com base nesse cálculo que estimamos um mínimo de R$ 65 bilhões a serem movimentados pelo Mundial (este ano)."

Ceticismo

Do outro lado, porém, outros estudos sustentam que essas previsões são superestimadas.
Entre eles, está um trabalho de 2012 do professor de economia da Unicamp Marcelo Proni, para quem os cenários iniciais não consideraram o desaquecimento econômico dos últimos anos - que teria inibido investimentos em áreas como hotelaria.

Outro levantamento, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), também tem cifras bem mais modestas. "Pela nossa estimativa, o total de empregos gerados pelo torneio seria de apenas 158 mil", exemplifica Edson Paulo Domingues, um de seus autores.

Maennig, da Universidade de Hamburgo - que vem estudando há anos os efeitos econômicos da realização de Copas do Mundo e Olimpíadas - é bastante cético sobre o impacto dessas competições.

"Estimativas infladas de geração de emprego e renda são comuns em eventos desse tipo porque os governos precisam justificar seus gastos com estádios e instalações esportivas", diz Maennig, campeão olímpico de remo pela Alemanha Ocidental.

Ele explica que seus estudos não captaram nenhum efeito econômico significativo analisando a realização de Copas e Olimpíadas em diversos países.

"Com uma Copa temos um ganho concreto no bem estar da população. As pessoas ficam mais felizes - mas é só", diz.

"Os empregos criados costumam ser temporários e é difícil prever se não teríamos mais benefícios econômicos investindo o dinheiro dos estádios em outro lugar."

Mas quais estimativas estão corretas?

"A verdade é que só poderemos começar a colocar os números à prova em 2015 ou 2016, quando tivermos disponíveis todos os dados relativos aos PIBs regionais e municipais, emprego, turismo e etc.", explica Domingues.

Falta de euforia

De acordo com Trengrouse, até as estimativas da FGV já precisariam ser atualizadas.

Primeiro porque foram feitas mudanças na lista de projetos ligados ao evento (a Matriz de Responsabilidades da Copa). Alguns não saíram do papel. Outros foram incluídos de última hora.

Depois porque em 2010 "se esperava que a Copa geraria um clima de euforia entre a população que, ao menos até agora, não se materializou" – o que, segundo Trengrouse, acabaria se refletindo em um nível de consumo mais baixo durante o Mundial.

"Quando a pesquisa foi publicada, cerca de 80% da população, ou mais, apoiava a realização dos jogos no Brasil", lembra ele.

Nesse meio tempo foram organizados os protestos em que ganharam força slogans anti-Copa.
Hoje, 55% dos brasileiros acreditam que o Mundial trará mais prejuízo que benefícios para o país segundo uma pesquisa Datafolha.

"Quanto mais animadas, mais as pessoas tendem a consumir, decorar suas casas, comprar camisetas e adereços, então precisamos esperar para entender até que ponto essa falta de euforia será revertida até o início dos jogos - e, se for o caso, computar seus efeitos econômicos", diz o professor da FGV.

Interpretações dissonantes

Além da divergência sobre os dados econômicos também há interpretações dissonantes sobre o que os números significam.

As avaliações da Moody's e da Capital Economics, por exemplo, não contestam as estimativas do governo. Apenas notam que todos esses bilhões de reais movimentados ao longo de quatro anos nas preparações para o evento não representam muita coisa em uma economia de R$ 4,8 trilhões como a brasileira.
Ou seja, segundo tais avaliações, os efeitos da Copa não seriam "significativos" para a economia como um todo.

Além disso, os consultores lembram que, como se referem a investimentos feitos no período 2010 – 2014, a essa altura, a maior parte do impacto desses recursos já deveria ter sido sentida.

A Capital Economics, ressalta, por exemplo, que as estimativas iniciais do governo (que acabaram sendo revistas) previam investimentos diretos em estádios e infraestrutura de R$ 23 bilhões até 2014 – menos de 1% do PIB.

No caso dos turistas, os consultores calculam que se os 600 mil visitantes esperados pelo governo de fato desembarcarem nos aeroportos brasileiros, devem gastar um total de US$ 3 bilhões (R$ 6,7 bilhões) – apenas entre 0,1% e 0,2% do PIB.

É claro que mesmo que os analistas céticos estejam certos – e o impacto na economia como um todo não seja importante, a Copa ainda pode ter um efeito expressivo em alguns lugares e para alguns setores em especial.

Quem ganha

Domingues acredita que em certas cidades, como Cuiabá, por exemplo, o aumento do fluxo de visitantes durante o torneio e as melhorias de infraestrutura de fato podem representar um impulso importante para a economia local.

Maennig lembra que na Alemanha a indústria do futebol recebeu novo fôlego com o Mundial – o que poderia ocorrer também no Brasil.

Entre os setores mais beneficiados pelo evento estão a construção civil e o turismo. No varejo, as vendas de televisão podem crescer nas próximas semanas segundo o economista Christian Travassos, da Fecomercio-RJ.

Por outro lado, no curto prazo, muitas empresas também devem computar perdas com os feriados decretados por conta do torneio.

"Algumas empresas vão ganhar e outras vão perder. Nossas estimativas são positivas, mas ainda é difícil prever o saldo do evento para os próximos meses", afirma Bruno Fernandes, economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

Para ele, no longo prazo, o legado econômico do Mundial dependerá da imagem que o Brasil projetará internacionalmente.

Benin, assessor do Ministério dos Esportes, diz que a infraestrutura da Copa fará o Brasil ganhar espaço na agenda de torneios esportivos globais. E o ministro Aldo Rabelo tem repetido que o torneio ajudará a atrair investimentos e turistas - embora seja difícil estimar o impacto dos atrasos e acidentes em obras do Mundial nas percepções de empresários estrangeiros.

"Tentamos ser otimistas, mas se a Copa for um fiasco em termos de segurança e transportes será mais complicado atrair visitantes e investidores daqui em diante", diz Fernandes.