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sexta-feira, 17 de julho de 2015

A produção da crise

                     


Olá alunos,

Por meio da estrutura monopolista de sua economia, o Brasil inventou o capitalismo sem concorrência. Em um ano onde o medo tomou conta das estruturas econômicas brasileiras, a postagem de hoje pretende decifrar um ambiente melhor para futuros investimentos.
Esperamos que gostem e participem.

Joyce Borgatti e Palloma Borges. Monitoras da Disciplina “Economia Política e Direito” da Universidade Federal Fluminense.

economia é um campo de saberes peculiar. Desde que as discussões sobre economia política e formação socioeconômica saíram paulatinamente de circulação, desde a troca de Celso Furtado por Gary Becker, a economia procura nos levar a acreditar que ela não seria exatamente uma ciência humana, mas algo próximo de uma ciência matemática. Sendo assim, os sujeitos que aparecem como agentes econômicos não parecem mais ser portadores de crenças, desejos e afetos. Antes, eles seriam agentes maximizadores de benefícios. Seus sistemas de interesses poderiam ser descritos a partir de uma pretensa racionalidade fundada em cálculos de custos e ganhos passíveis de mensuração e quantificação.

Com essa ilusão epistêmica a respeito de seus objetos, a economia procura ignorar sua dimensão normativa e levar a sociedade a partilhar tal ilusão. Enquanto campo de saber que visa legitimar políticas de intervenção social, ela tem uma característica partilhada por toda e qualquer ciência humana, a saber, sua performatividade. Contrariamente às ciências exatas e naturais, os objetos das ciências humanas apreendem reflexivamente os modelos de explicação sobre si mesmos e produzem novos efeitos e comportamentos a partir da internalização de descrições. As descrições em ciências humanas não são meramente constatativas, elas não simplesmente constatam o que já estava lá à espera de ser descoberto. Elas são performativas, ou seja, elas produzem novas realidades a partir do momento que os objetos aceitam reflexivamente as descrições a eles imputadas. Por exemplo, uma sociedade que, a partir de certo momento, compreende seus conflitos sociais através do conceito de “luta de classes” começa a criar fenômenos antes não produzidos e abre uma nova série de efeitos. Um sujeito que, a partir de certo momento, vê-se como portador de “depressão” (sim, a psicologia também é uma ciência humana) produz uma série de efeitos por unificar sintomas dispersos no interior de um quadro compreensivo unitário.
Vale a pena fazer tal digressão epistemológica para falar sobre a atual crise econômica brasileira. Uma crise também, a seu modo, peculiar. Normalmente, crises de economia nacionais são expressas, entre outros índices, por um porcentual elevado na relação entre PIB e dívida, como no caso da Itália, com sua relação em 128%. Mas não é o caso do Brasil, onde os níveis dessa relação são absolutamente normais. No entanto, é fato que o País conhece há muito processos de retração de investimentos. Nada estranho para uma economia montada para ser uma plataforma de valorização do capital financeiro e dos rendimentos de rentistas através de taxas de juros substantivas. Por sinal, o Brasil é um país onde a economia é declarada em crise enquanto seus principais bancos aparecem periodicamente com recordes de lucro líquido. Isso talvez explique por que o Brasil deve ser a única nação no mundo no qual o presidente da federação das indústrias mais importante do país, localizada no estado de São Paulo, não é há muito um industrial, mas um investidor.

Mas é fato vermos em manchetes superlativas que o medo (um conceito psicológico) se instalou e provocou a paralisia da economia. Agora, é necessário “criar um ambiente melhor para os investimentos”. O que significa, no senso comum atual, abrir as portas para um processo sem freios de intensificação do trabalho e redução dos salários. Isso poderia significar também lutar contra o caráter monopolista do capitalismo brasileiro, com sua oligopolização extensiva da economia patrocinada com dinheiro público. Afinal, quem investe quando já tem a segurança de controlar seu mercado e suas margens de lucro mesmo sem necessidade de investimento. O Brasil, através da estrutura monopolista de sua economia, inventou o capitalismo sem concorrência.

Assim, com suas descrições repetidas como mantra encantatório pela imprensa e com seus arautos pagos por consultorias do sistema financeiro para sair em cruzada contra todos os que subam a voz diante dessas leituras interessadas (vide a polêmica recente envolvendo a economista Leda Paulani), o discurso econômico nacional produz uma crise com causas próprias e em causa própria. Não é difícil saber a quem tudo isto beneficia. 




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Entenda o cálculo progressivo que muda o fator previdenciário

                


Olá alunos,

Muitos trabalhadores estão se indagando sobre qual seria afinal o novo cálculo do fator previdenciário para se aposentar, no Brasil. A postagem de hoje traz, com isso, a nova proposta da presidente Dilma Rousseff, como medida provisória, buscando esclarecer os leitores sobre o assunto.

Esperamos que gostem e participem.
Joyce Borgatti e Palloma Borges. Monitoras da Disciplina “Economia Política e Direito” da Universidade Federal Fluminense.

Após vetar a mudança no cálculo do fator previdenciário, aprovada no Congresso Nacional, a presidente Dilma Rousseff editou uma medida provisória com uma proposta alternativa, na qual a fórmula para calcular a aposentadoria varia progressivamente com a expectativa de vida da população. O texto da MP foi publicado nesta quinta-feira (18) no "Diário Oficial da União".

Pelo texto, o segurado que preencher o requisito para se aposentar por tempo de contribuição poderá abrir mão do fator previdenciário e optar pela fórmula "85/95" – mas ela será acrescida em 1 ponto em diferentes datas, a partir de 2017 – atrasando um pouco mais o acesso ao benefício.

A fórmula 85/95 significa que o trabalhador pode se aposentar, com 100% do benefício, quando a soma da idade e tempo de contribuição for 85, no caso das mulheres, e 95, no caso dos homens. O tempo mínimo de contribuição para elas é de 30 anos e, para eles, de 35 anos.

O fator previdenciário é o mecanismo que reduz o valor do benefício de quem se aposenta por tempo de contribuição antes de atingir 65 anos (nos casos de homens) ou 60 anos (mulheres). A fórmula, criada em 1999, se baseia na idade do trabalhador, tempo de contribuição à Previdência Social, expectativa de sobrevida do segurado e um multiplicador de 0,31.

Como funciona o cálculo progressivo que muda o fator?

Na MP publicada nesta quinta, a fórmula para calcular a aposentadoria varia progressivamente com a expectativa de vida da população – que, em tese, aumenta a cada ano. As somas de idade e de tempo de contribuição previstas serão acrescidas de um ponto em diferentes datas. Veja como fica a pontuação mínima, em cada ano, para obter aposentadoria integral:

Em 1º de janeiro de 2017: 86 para mulheres e 96 para homens (acréscimo de 1 ponto na fórmula 95/85)
Em 1º de janeiro de 2019: 87 para mulheres e 97 para homens (acréscimo de 2 pontos na fórmula 95/85)
Em 1º de janeiro de 2020: 88 para mulheres e 98 para homens (acréscimo de 3 pontos na fórmula 95/85)
Em 1º de janeiro de 2021: 89 para mulheres e 99 para homens (acréscimo de 4 pontos na fórmula 95/85)
Em 1º de janeiro de 2022: 90 para mulheres e 100 para homens (acréscimo de 5 pontos na fórmula 95/85)

Na prática, um homem que completar 95 pontos em 2017 (60 anos de idade e 35 de contribuição, por exemplo) precisará de um ponto a mais para se aposentar, seja em idade ou por tempo de contribuição. Para se aposentar em 2019, vai precisar de mais um ponto, além dos 96 necessários pelo cálculo.

Por que a fórmula considera a expectativa de vida?

A cada ano, os beneficiários do INSS tendem a receber a aposentadoria por mais tempo, porque passam a viver mais. Com o aumento da expectativa de vida, crescem os gastos da Previdência, gerando um desequilíbrio entre receitas (contribuições) e despesas (benefícios) e contribuindo para aumentar o rombo do sistema.

A regra é diferente para alguma profissão?

No caso do professor e da professora que comprovarem exclusivamente o tempo de efetivo exercício de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio, eles ganham 5 pontos na soma da idade com o tempo de contribuição. Então, se um professor tem 90 pontos, será considerado que ele atingiu 95.

Quem se beneficia com a mudança?

O principal benefício da mudança do favor previdenciário é para o trabalhador que começa a trabalhar mais cedo e que, portanto, atinge o tempo de contribuição antes da idade mínima para aposentadoria. Mudanças no fator, no entanto, podem prejudicar as contas públicas, que já se encontram em situação delicada.

Quanto tempo é preciso contribuir?

O tempo mínimo é de 35 anos para homens e 30 para mulheres. Mas para pedir a aposentadoria integral, a soma da idade e do tempo de contribuição deve ser igual ou superior a 95 pontos para homens e a 85 pontos para as mulheres. Essa pontuação mínima vai ganhar 1 ponto, de forma progressiva, nos anos de 2017, 2019, 2020, 2021 e 2022.

A regra já está valendo?

A Medida Provisória entrou em vigor na data de sua publicação no "Diário Oficial da União", nesta quinta-feira (18).

Como funciona o fator previdenciário?

Atualmente o chamado "fator previdenciário" reduz o valor do benefício de quem se aposenta por tempo de contribuição antes de atingir 65 anos (nos casos de homens) ou 60 (mulheres). O tempo mínimo de contribuição para aposentadoria é de 35 anos para homens e de 30 para mulheres.

Quais mudanças foram vetadas pela presidente?

O Congresso propôs a mudança na regra do fator previdenciário com adoção da fórmula 85/95, pela qual o trabalhador se aposentaria com proventos integrais (com base no teto da Previdência, atualmente R$ 4.663,75) se a soma da idade e do tempo de contribuição resultasse 85 (mulheres) ou 95 (homens).


Para professoras, de acordo com a emenda, a soma deveria ser 80 e para professores, 90. Se o trabalhador decidisse se aposentar antes, porém, a aposentadoria continuaria sendo reduzida pelo fator previdenciário.

O abalo na construção civil

            

Olá alunos,

"Marca” do primeiro mandato de Dilma Rousseff e um dos principais trunfos da campanha à reeleição, o Programa Minha Casa Minha Vida, assim como o resto dos projetos na construção civil, paga o preço dos erros recentes na condução da economia  e do agravamento da crise. A postagem de hoje pretende nos mostrar como a crise tem abalado as estruturas do setor de construção do país.

Esperamos que gostem e participem.
Joyce Borgatti e Palloma Borges. Monitoras da Disciplina “Economia Política e Direito” da Universidade Federal Fluminense.

Depois de atrasar pagamentos às construtoras e restringir o crédito, o governo reviu certas posturas e ofertou mais dinheiro ao mercado. A reação tende, porém, a demorar. Antes será preciso limpar o caminho. Presidente da maior construtora de imóveis destinados à baixa renda, a MRV Engenharia, e da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias, Rubens Menin só enxerga novas obras a partir do próximo ano. “Neste momento, o setor precisa cumprir as obras contratadas em 2014, colocar os atrasos em dia e ter uma definição do cronograma de pagamentos.” A faixa básica do programa representa 40% das unidades entregues e 30% da ocupação de mão de obra, calcula o empresário.

O abalo no Minha Casa Minha Vida é parte da crise do setor imobiliário, em queda desde o último trimestre do ano passado e fortemente afetado pelo ajuste fiscal e a política monetária. Entre os efeitos negativos, destaca-se a redução do orçamento do programa, de 18,6 bilhões para 13 bilhões de reais. Além disso, a Caixa Econômica Federal, responsável por 70% das operações do Sistema Financeiro de Habitação, aumentou as exigências para a concessão de empréstimos. Uma combinação de juros e inflação altos resultou na fuga de mais de 30 bilhões de reais da caderneta de poupança, principal fonte do crédito. Desde outubro, 290 mil postos de trabalho foram fechados no setor, mostra a Sondagem da Indústria da Construção Civil, da Confederação Nacional da Indústria.

Após uma intensa ação, em Brasília, das entidades empresariais de construção, vendas e financiamento imobiliário, o setor recebeu um novo fôlego no fim de maio. O conselho curador do FGTS aprovou um aporte de 5 bilhões de reais ao Programa Pró-Cotista, para crédito à casa própria até o valor de 400 mil, de famílias com renda acima do limite de 5 mil reais do Minha Casa Minha Vida. Além disso, o Conselho Monetário Nacional liberou 22,5 bilhões do compulsório dos bancos relativo aos saldos em poupança, e garantiu que os certificados de recebíveis serão efetivamente lastreados em imóveis com perfil do SFH.

Uma “injeção de adrenalina” para o setor imobiliário neste momento seria reajustar o valor dos imóveis subsidiados, nas faixas 1 e 2, do Minha Casa Minha Vida, de até 190 mil reais em São Paulo. “Isso é o mais urgente. Nesses segmentos há muita demanda, baixíssima inadimplência e alta geração de emprego. Pleiteamos uma atualização para cerca de 230 mil reais, abaixo da variação da inflação da construção no período, de 22%. Mesmo com margem pequena, esse ajuste tornaria os investimentos mais atraentes e viabilizaria a retomada de lançamentos”, sugere Menin.

O conjunto de medidas no fim de maio atenua uma retração brusca da dinâmica do setor. Houve uma liberação do compulsório, embora inferior ao pleiteado, além dos recursos para o Pró-Cotista. A correção das regras para os CRIs deve representar o ingresso de 15 bilhões de reais nos próximos 24 meses. Para o setor, foi importante o governo garantir a isenção das letras de crédito imobiliário, principalmente no momento em que o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo enfrenta juros altos e dificuldade de captação.

Previsibilidade é o mais importante agora para as construtoras do programa habitacional, analisa Ronaldo Cury, vice-presidente da Habitação Popular do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP). 

“O corte no Orçamento e nas novas contratações é fato consumado. Esperamos uma reprogramação dos pagamentos, inclusive para ter base de negociação com fornecedores e prestadores de serviços.”

Na faixa 1 do Minha Casa Minha Vida, Cury aguarda uma retomada das contratações ainda no segundo semestre, com desembolso para o próximo ano. “Se adiantarmos as obras contratadas de 1,6 milhão de residências, com base no Orçamento atual, e em 2016 o total atingir os mesmos 13 bilhões de reais deste ano, haverá recursos para novos contratos. Em 2017, se esse Orçamento permanecer, caberão novas contratações.”

O diretor do SindusCon defende ainda um reajuste do teto do programa habitacional, para estimular a oferta de imóveis de médio padrão. Em 2009, construía-se um imóvel de 100 mil reais para vender a uma família com renda de 2 mil. Agora, há o teto de 190 mil, ou de 135 mil em algumas cidades, para oferecer a quem ganha até 3,2 mil, na faixa 2 do programa.

Além das medidas para minimizar a escassez de crédito, avalia Cury, o governo deve manter a interlocução com o setor, para atenuar a brusca retração dos últimos trimestres. “Nas pequenas construtoras, que atendem à faixa 1 e estão sem receber, há muito medo de investir. Mas com a normalização dos pagamentos e o lançamento da terceira etapa, o empreendedor retornará. Passamos por nove meses terríveis, mas creio que foi a pior fase.”

Flávio Amaury, presidente em exercício do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo, reforça a necessidade de se definir logo a terceira etapa do Minha Casa Minha Vida. “Encontrar terreno, contratar e vender é demorado e a descontinuidade acrescenta custos.” Em março, as vendas de imóveis em São Paulo recuaram 27,1% em relação ao mesmo período do ano anterior, enquanto os lançamentos se reduziram em 72,3%, em uma confirmação da tendência de as incorporadoras focarem na comercialização do estoque.

A dificuldade de acesso ao crédito foi um dos motivos da queda do índice de confiança da construção, que recuou 5,1% entre abril e maio, para 72,9 pontos, o menor nível da série Sondagem da Construção, realizada mensalmente pela FGV/Ibre, desde julho de 2010. “Além das famílias que sofrem com as taxas de juro, as empresas reportam, a cada levantamento, problemas para obter financiamento”, afirma Ana Maria Castelo, coordenadora de projetos da construção da FGV/Ibre. “As medidas aliviam a tensão do ponto de vista das famílias que precisam dos empréstimos para tomar posse do imóvel. Isso atenua os riscos de distratos.” Apesar das medidas do CMN, a economista avalia que a retração da oferta de recursos pelos bancos e da demanda por parte das famílias, principalmente daquelas das faixas intermediárias para cima, se manterá. As restrições nos empréstimos da Caixa Econômica Federal, a queda dos depósitos na caderneta  e a alta das taxas de juro agravaram muito uma situação que iria ocorrer.
“Há dois anos a redução da demanda apontava para um momento de ajuste dos estoques. O crescimento da oferta e o aumento dos preços caminhavam adiante da renda. A coincidência com as condições macroeconômicas criou a tempestade perfeita”, acrescenta a economista.

Os bancos privados procuram, no entanto, aproveitar a lacuna criada pela política da Caixa, de reduzir de 80% a 50% o valor financiado, para ganhar mercado, avalia Daniele Akamine, diretora da Akamine Negócios Imobiliários. Os juros do banco público estão entre 1 e 3 pontos porcentuais abaixo da média, mas instituições como Santander, Itaú e Bradesco oferecem empréstimos entre 70% e 80% do valor do imóvel. “Uma família com 200 mil reais disponíveis para a entrada tende a comprar um bem de 600 mil, pois o porcentual histórico de entradas é entre 25% e 30%.” Do lado da oferta, o Bradesco  ampliou em 20% a carteira de crédito para imóveis, o Banco do Brasil expandiu-a
em 49% e outras instituições estão dispostas a aumentar o volume de recursos.

O pior talvez tenha passado, mas o horizonte continua nebuloso para um setor decisivo na política econômica e social dos últimos anos. 

              



quinta-feira, 16 de julho de 2015

Imposto sobre herança deve ir ao Congresso após ajuste fiscal

               

Olá alunos,

Em meios a tantos ajustes que a população brasileira têm sofrido em relação à Economia, a discussão sobre a taxação sobre grandes fortunas volta a tona nos meios de debate. A postagem de hoje pretende analisar um pouco melhor o que isso provocaria em nosso país.

Esperamos que gostem e participem.
Joyce Borgatti e Palloma Borges. Monitoras da Disciplina “Economia Política e Direito” da Universidade Federal Fluminense.

O governo deve enviar ao Congresso um projeto que aumenta as alíquotas do imposto sobre heranças após a votação do ajuste fiscal. A informação foi publicada nesta segunda-feira 22 pelo jornal Valor Econômico, segundo o qual o projeto é defendido pelos ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Nelson Barbosa (Planejamento), mas contestado por Joaquim Levy (Fazenda).

Previsto na Constituição, o imposto sobre heranças é cobrado pelos estados e tem, atualmente, uma alíquota média de 3,86%. É um índice bem abaixo do praticado por outros países que, como o Brasil, não taxam a renda e a riqueza de forma intensa. A Suíça, por exemplo, tem uma taxa de 25%, enquanto nos Estados Unidos ela é de 29% e, na Inglaterra, de 40%. Países com tributos elevados sobre a renda, patrimônio e riqueza, como Austrália, Canadá, Noruega e Suécia, não cobram imposto sobre herança.

A intenção do governo é mudar essa realidade, como forma de ampliar a arrecadação, mas também de acenar para setores progressistas e aumentar a contribuição do chamado "andar de cima" sem regulamentar o imposto sobre grandes fortunas, também previsto na Constituição. Para isso, como mostrou Carta Capital, a ideia é obter o apoio de prefeitos e governadores para o novo imposto sobre heranças, cuja arrecadação ficaria, na maior parte, com os estados e os municípios. Com o tributo elevado, mesmo ficando com uma parte do imposto, a parcela seria maior que a totalidade recebida hoje. 

Segundo o Valor, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) elaborada pelo governo trará faixas de isenção, casos de não incidência e limites mínimos e máximos para o imposto. Um dos cenários prevê alíquota mínima de 20%, o que elevaria a arrecadação anual do imposto dos atuais 4,5 bilhões de reais para 25 bilhões de reais. Atualmente, a taxa máxima possível no Brasil é de 8%, praticada em apenas três estados: Bahia, Ceará e Santa Catarina. 

A nova PEC só deve ser mandada ao Congresso após a conclusão da votação do ajuste fiscal, prioridade do governo. O último projeto do ajuste é o que diminui a desoneração da folha de pagamentos. Ele está na pauta da Câmara para esta semana, mas a tendência é que sua análise seja adiada.




terça-feira, 14 de julho de 2015

Nos EUA, Dilma tenta acalmar empresários sobre efeitos da Lava Jato

                  
      
Olá alunos,

Nem ano de crise em todo o Brasil, presidente busca convencer empresários americanos a investir no Brasil e afastar temores sobre turbulência política no país. A postagem de hoje vêm nos trazer a íntegra de sua visita aos EUA.

Esperamos que gostem e participem.
Joyce Borgatti e Palloma Borges. Monitoras da disciplina “Economia Política e Direito” da Universidade Federal Fluminense.

Ao lado de vários de seus principais ministros, a presidente Dilma Rousseff dedicou boa parte do terceiro dia de sua visita aos Estados Unidos a tentar convencer empresários americanos a investir no Brasil e afastar temores sobre a turbulência política no país gerada pela Operação Lava Jato.

Enfrentando uma recessão e denúncias de envolvimento de dirigentes do PT e ministros do governo no escândalo da Petrobras, Dilma buscou mostrar a investidores em Nova York que o Brasil tem avançado no combate à corrupção e que o governo está aberto a sugestões do setor privado.

Em público, empresários que participaram das reuniões com a presidente elogiaram o ajuste fiscal promovido pelo governo e afirmaram que o Brasil apresenta boas perspectivas econômicas no longo prazo. Reservadamente, porém, dois executivos disseram temer que novas revelações da Lava Jato dificultem ainda mais a capacidade de Dilma para governar e levar adiante as reformas prometidas.

A presidente se reuniu nesta segunda-feira com representantes de bancos de investimentos e de várias empresas americanas nos ramos industrial, varejista e do agronegócio com atividades no Brasil, entre as quais Coca Cola, Dupont, Walmart, Caterpillar, GM e GE.

Dilma disse que um de seus objetivos era mostrar que o ajuste fiscal não é só uma estratégia para resolver problemas de curto prazo como a inflação, mas também engloba ações "estruturais" para fazer o país voltar a crescer. Ela citou entre essas ações mudanças recentes que farão o governo gastar menos com pensões por mortes e com seguro desemprego, além de esforços "para ampliar a participação do crédito privado no crédito global do país" e "ampliar a presença dos mercados de capitais no financiamento de longo prazo da infraestrutura".

As últimas medidas visam diminuir o papel do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) na economia e os custos que o governo tem com empréstimos subsidiados do banco.

A agenda desta segunda-feira começou com uma visita de Dilma ao The Wall Street Journal, maior jornal econômico americano, onde ela se reuniu com Rupert Murdoch, dono do diário e de um dos principais conglomerados jornalístico do mundo, a News Corp.

Em sua edição desta segunda, o WSJ publicou um encarte publicitário pago pelo governo brasileiro sobre os leilões no país na área de infraestrutura. À tarde, Dilma tratou dos leilões no encerramento de um seminário com empresários.

Instabilidade política

O governo tenta impedir que as denúncias de corrupção na Lava Jato afastem investidores dos leilões.
Um dos ministros a falar no seminário, Nelson Barbosa (Planejamento) afirmou a jornalistas que a operação "causa alguma incerteza maior de curto prazo, mas não prejudica as expectativas de longo prazo que são mais importantes nesse tipo de projeto".

Segundo ele, o Brasil "tem uma tradição de transparência no uso de recursos públicos e de respeito aos contratos" que o torna atraente a investidores.

Outro ministro presente na visita, Armando Monteiro (Indústria) disse que nenhum executivo tratou nas reuniões com Dilma dos efeitos políticos e econômicos da Lava Jato.

"A presidente é quem tomou a iniciativa de dizer que o Brasil está (se) aperfeiçoando, que a Petrobrás está aperfeiçoando a sua governança, adotando medidas, renovando o conselho, a gestão", disse ele.
Segundo Monteiro, Dilma afirmou aos empresários que o Ministério Público no Brasil é autônomo e que não há interferência do governo nas investigações do órgão.

Tom otimista

Em declarações a jornalistas após seus encontros com a presidente, empresários adotaram um tom otimista. "O Brasil é um mercado importante para nós e estamos comprometidos com seu futuro", disse David Cheesewright, presidente da rede de supermercados Walmart.

Ele se disse "encorajado" pelas reformas do governo e por "esforços para tornar mais simples gerenciar negócios e melhorar o sistema de impostos".

O brasileiro Carlos Brito, CEO da gigante de bebidas AB Inbev, elogiou a iniciativa de Dilma de se aproximar dos empresários na visita. Segundo ele, a presidente afirmou que "estará aberta a sugestões" do grupo.

Para Andre Gluski, presidente da AES, dona da Eletropaulo, "o público em geral ficou muito impressionado" com o discurso de Dilma. Ele também se disse otimista sobre a perpectiva de investimentos no Brasil no longo prazo.

Em privado, porém, executivos de duas empresas com representantes nas reuniões disseram que os desdobramentos da Lava Jato geram incertezas sobre a economia brasileira e a capacidade de Dilma de governar. Um deles se disse receoso de que, conforme as denúncias se aproximam do alto escalão do governo, Dilma se fragilize e o ajuste fiscal fique comprometido, o que "tiraria o Brasil dos trilhos".

Ele afirmou que, embora no longo prazo o Brasil siga sendo um mercado promissor para sua empresa, algumas decisões de investimento poderão ser adiadas até que o ajuste fiscal se consolide e se conheça toda a extensão das denúncias da Lava Jato.

Delegação desfalcada

No dia anterior, a presidente ouviu em Nova York executivos de multinacionais brasileiras. A Lava Jato desfalcou a delegação empresarial nacional.

Normalmente presentes em missões como essa, as principais empreiteiras brasileiras, que tiveram executivos presos na operação ─ entre as quais Odebrecht, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e OAS ─, não enviaram representantes para a visita de Dilma aos Estados Unidos.




Massimo Amato: "No capitalismo, as dívidas existem para serem compradas e vendidas"

       

Olá alunos,
Em uma época em que valores estão se invertendo, e o capital tomando mais espaço e relevância do que a própria política, a postagem de hoje busca trazer o esclarecimento de um lado da moeda, em entrevista com Massimo Amato, pesquisador italiano.
Esperamos que gostem e participem.
Joyce Borgatti e Palloma Borges. Monitoras da disciplina “Economia Política e Direito” da Universidade Federal Fluminense.

"O lema da era subprime foi: “emprestar dinheiro (com vantagem para todos) também para aqueles que não o merecem”. É o lado “mefistofélico” do capitalismo: ele apresenta-se como veículo de democratização da sociedade, sem mostrar os rendimentos financeiros naquilo que de fato são, ou seja, rendimentos daqueles que não trabalham", afirma o pesquisador italiano, Massimo Amato.
Imagine um mundo sem política. Ou pior, um mundo em que o capital pode orientar, e até comandar, a política. O valor que se dá para o capital na contemporaneidade está elevando esse grau de importância numa espécie de despolitização, quando o dinheiro e as questões econômicas surgem em detrimento das questões políticas. Essa é a visão do pesquisador em História Econômica Massimo Amato.
“A implicação política fundamental (do modelo econômico financeirizado e globalizado) é a despolitização da política. A ‘comunidade financeira global’, que pode deslocar seu capital de um lado a outro do planeta a qualquer momento, é quem agora decide o destino das nações”, diz em entrevista concedida por e-mail para a IHU On-Line.
Amato ainda reflete sobre a incoerência em pensar o dinheiro, o capital, a moeda, como fim e não apenas como meio. Recorda que, para Aristóteles, “moeda não é um poder, mas o sinal que lembra a dependência dos outros”. Numa perspectiva keynesiana, completa seu raciocínio considerando que possuir dinheiro é estar exposto a desejos alheios, à vontade dos outros. “Essa maneira de ver o dinheiro implica que ele não pode ser pensado como riqueza ou como ‘fim’, mas como um ‘meio’ do qual é preciso saber se liberar”, explica, ao propor um deslocamento. O que o professor evidencia é a função básica da moeda: mensurar algo na troca, e não ser o objeto da própria troca.
Ao longo da entrevista, em que Amato aprofunda seus conceitos de moeda, mercado e o mercado globalizado, também propõe reflexões que levem à saída dessa concepção equivocada do dinheiro. Sua crença é na capacidade da existência de “outro dinheiro” numa “outra economia”. “Keynes não nos deixa esquecer que a moeda não é uma simples convenção, mas uma instituição: ele não cresce como trigo nos campos, nem pode ser simplesmente produzido como um automóvel. Mesmo a moeda capitalista, que pretende impor-se como um dado da natureza, é uma instituição. Ora, o que é próprio das instituições é que elas podem mudar”, provoca.
Massimo Amato é pesquisador em História Econômica da Università Bocconi, em Milão, e também professor no curso de disciplinas filosóficas e históricas. Entre suas principais publicações estão “Milan and the Mediterranean Economy, 16th and 17th Centuries”, in AA.VV., Cities of Finance, Elsevier, 1996; I monetaristi italiani fra Cinque e Settecento (Milão, Electa, 1995); Il bivio della moneta. Problemi monetari e pensiero del denaro nell'Italia settentrionale del secondo Settecento (Milão: EGEA, 1999), entre outros.
Em 2011, juntamente com Luca Fantacci, Massimo Amato publicou o livro The End of Finance, 300 pp, pela editora Polity.
 
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Qual é a definição de ‘moeda’ para Aristóteles? O que ela significa para os economistas da Escola de Chicago, cuja preponderância teórica domina a economia de hoje?
Massimo Amato - Para Aristóteles  a moeda é “tes hypallagma chreias” (Ética a Nicômaco V, 5) , expressão que em meus livros traduzo por “porta-voz da falta”. Para Aristóteles, portanto, a moeda não é um poder, mas o sinal que lembra a dependência dos outros. Keynes  reconhece firmemente este traço fundamental quando escreve que “aqueles que possuem dinheiro estão à mercê dos outros”. Essa maneira de ver o dinheiro implica que ele não pode ser pensado como riqueza ou como “fim”, mas como um “meio” do qual é preciso saber se liberar. Instituir a moeda significa, pois, saber construí-la de tal modo que sua “nulidade”, sua insignificância, em suma, sua neutralidade, possa aparecer com clareza.
Para a economia política de derivação clássica e neoclássica, da qual a Escola de Chicago é só um discípulo particularmente rígido, a neutralidade da moeda é, ao invés, “um dado da natureza”, totalmente compatível com sua natureza de mercadoria e de reserva de valor. O problema teórico subjacente, hoje, é exatamente de conseguir mostrar a incoerência de tal posição: como pode o dinheiro ser de fato neutro, isto é, “não valer nada”, se ele é projetado e construído para ser “tudo”, ou seja, a forma mais segura de riqueza? Aí reside a força da obra de Keynes: sublinhar a inconsistência e a irrealidade congênita da compreensão da moeda como reserva de valor e, portanto, como mercadoria.
IHU On-Line - Neste sentido, a moeda é uma instituição paradoxal?
Massimo Amato - O paradoxo atual da moeda “assim como a conhecemos” (as we know it, dizia Keynes), ou melhor, assim como acreditamos conhecê-la, está no fato de que, por um lado ela é declarada neutra, ou seja, insignificante, e por outro, pelo modo como é construída, é o objeto de preferência provavelmente sem limites. É a “preferência pela liquidez” de que fala Keynes.
Ao contrário de qualquer outra mercadoria, para a qual a economia política admite limites, a moeda é um objeto de desejo potencialmente infinito. Este traço paradoxal mostra-se particularmente evidente durante as depressões, quando a preferência pela liquidez, ou seja, o desejo de manter o dinheiro fora de circulação, impossibilita as trocas e a produção, criando a “armadilha da liquidez”. A decisão de “gastar amanhã”, na expectativa de uma queda nos preços, determina uma efetiva queda dos preços, alimentando, por sua vez, um ulterior adiamento da decisão de gastar, formando assim o círculo vicioso, lógico e prático da depressão. Depressões econômicas, bem como as psíquicas, podem durar décadas, exatamente porque se autoalimentam dos seus próprios paradoxos.
IHU On-Line - Sob que aspectos o mecanismo da dívida, como culpa (schuld, em alemão), é fundamental para o sucesso da lógica sacrificial do capitalismo?
Massimo Amato - Formalmente vinculado à máxima pacta sunt servanda, no seu funcionamento efetivo, o capitalismo nega a “dívida” como condição comum de todo mundo, para torná-la mercadoria. Nesta operação de transformação da ‘dívida’ em mercadoria, a vítima sacrificial do capitalismo é a própria verdade do sacrifício. Uma vez transformada em mercadoria comprada e vendida, a “dívida” pode ser vista como algo que tendencialmente não implica nenhuma responsabilidade a ninguém.
No capitalismo, as dívidas não existem para serem pagas, mas para serem compradas e vendidas. Esta é a lógica do mercado financeiro. E, enquanto eles “funcionam”, ou seja, enquanto as expectativas especulativas promovem o crescimento dos preços dos títulos financeiros, as financeiras permitem o acesso ao crédito potencialmente a todos. O lema da era subprime foi: “emprestar dinheiro (com vantagem para todos) também para aqueles que não o merecem”. É o lado “mefistofélico” do capitalismo: ele apresenta-se como veículo de democratização da sociedade, sem mostrar os rendimentos financeiros naquilo que de fato são, ou seja, rendimentos daqueles que não trabalham. Ou ainda, em outras palavras, para retomar uma formulação de Keynes que responde diretamente à questão da lógica sacrificial evocada na pergunta: o rendimento “não é a remuneração de nenhum sacrifício genuíno”.
IHU On-Line - Quais as diferenças fundamentais do mercado na sua origem e do mercado financeiro globalizado de hoje?
Massimo Amato – O mercado começa e termina com mercadorias. A moeda, na medida em que determina a diferença entre o que é mercadoria e o que não é (entre o que é negociável e o que foge a qualquer negociação), delimita e estabelece uma economia de mercado. Por esta simples razão um mercado de dinheiro é paradoxal. Mas os mercados financeiros globalizados são a institucionalização deste paradoxo. E enquanto não vermos claramente sua impossibilidade lógica e sua inaceitabilidade prática, será difícil compreender que tipo de benefícios reais uma sã economia de mercado pode trazer.
Podemos, por enquanto, estabelecer de modo formal a distinção entre os dois termos que hoje parecem sinônimos: capitalismo e economia de mercado. O capitalismo é uma economia de mercado com um mercado a mais, aquele do dinheiro. As implicações políticas concretas desta distinção devem ser bem claras: enquanto o capitalismo, para existir, precisa apoiar-se na economia de mercado, este, no entanto, pode ser pensado sem o capitalismo.
IHU On-Line - É correto falar de uma ontologização do mercado hoje? Em que medida?
Massimo Amato - Sempre dentro de indicações formais, diria exatamente o contrário: o “mercado”, ou melhor, o capitalismo, hoje, trata onticamente o que deveria ficar no horizonte ontológico. Trata como “coisa” o que não é, pois trata o dinheiro como se fosse uma mercadoria. O que deveria ser ‘a medida’ nas trocas, torna-se um objeto, até mesmo, de certa forma, o único objeto de troca. Mas este “objeto” é simplesmente um objeto impossível, porque o dinheiro não é um objeto de troca, mas sua medida.
IHU On-Line - Até que ponto se pode pensar em “outro dinheiro” e “outra economia”?
Massimo Amato - Eu diria melhor: a partir de que ponto é possível pensar não utopicamente numa economia diferente? Este ponto de partida é exatamente a moeda. É bom lembrar, e Keynes não nos deixa esquecer, que a moeda não é uma simples convenção, mas uma instituição: ela não cresce como trigo nos campos, nem pode ser simplesmente produzido como um automóvel. Mesmo a moeda capitalista, que pretende impor-se como um dado da natureza, é uma instituição. Ora, o que é próprio das instituições é que elas podem mudar. Uma moeda não simplesmente declarada neutra, mas de fato instituída de modo a não contar nada, seria o início de uma nova e outra economia, e de um outro mercado.
IHU On-Line - Martin Wolf, editor do Financial Times, escreveu, há alguns meses, que deveria ser retirado dos bancos privados o poder de criar dinheiro do nada. Como compreender este poder das instituições financeiras?
Massimo Amato - A criação de dinheiro bancário é, de fato, um problema, agora percebido também pelos bancos centrais, que formalmente mantêm o monopólio da emissão monetária. Mas, na verdade, são cada vez mais incapazes de controlar sua criação e controlar a transmissão dos impulsos monetários do sistema bancário e financeiro para a economia real. Concordo com Wolf, que retoma um tema bem presente em Keynes. Mais uma vez aparece o lado problemático da moeda, como sabemos. Ou seja, o fato de ela ser reserva de valor. O multiplicador bancário trabalha com mais potência quanto mais baixas forem as reservas dos bancos. Mas não podemos deixar de observar que estamos falando de “reservas”. Os bancos atuam hoje não como “intermediários”, capazes de pôr em contato poupadores e investidores reais, mas como sujeitos financeiros que compram e vendem dinheiro. Mas o dinheiro só pode ser comprado e vendido se ele funcionar como mercadoria. E funciona como mercadoria somente se for reserva de valor.
A questão é, então, perguntar-se como poderia funcionar um banco num regime monetário em que o dinheiro não é mais reserva de valor. A estrutura da “International Clearing Union”, proposta por Keynes em Bretton Woods, em 1944, é a estrutura de um banco em que o dinheiro não é uma reserva depositada, mas uma pura unidade de medida das relações de débito e crédito. E ainda mais interessante é notar que estão aparecendo sistemas de compensação local (penso no caso italiano Sardex) que aplicam o mesmo princípio e criam crédito sem criar acumulação monetária.
 
IHU On-Line - Portanto, como compreender que bancos falidos foram reabilitados na crise de 2008, enquanto populações de nações inteiras foram tragadas pelo desemprego e pela perda de suas casas?
Massimo Amato - É inútil negar. Enquanto os bancos permanecerem fundados sobre a moeda reserva de valor, serão sempre “grandes demais para falir” (too big to fail). E eu diria não só que são grandes demais, mas também demasiadamente parasitários. Os bancos privados apropriaram-se de uma função pública: a gestão do sistema de pagamentos. Portanto, o seu falimento em cadeia, único efeito resultante da decisão de não salvar mais nenhum, privaria a economia real não só da moeda como reserva de valor, mas também da moeda como medida e meio de pagamento. A eliminação do “'hóspede” prejudicaria também o corpo que o abriga. O salvamento dos bancos, moral e economicamente injustificáveis, é um sintoma do impasse teórico e institucional prevalecente no mundo de hoje.
IHU On-Line - É possível prever um cenário com os bancos reduzidos a servidores, e não mais donos da economia?
Massimo Amato - Enquanto as finanças tendem a deixar de lado a economia real, a economia real não pode deixar de lado o crédito, simplesmente porque esta se desenvolve ao longo do tempo. Remeto a algo dito acima: é possível pensar em bancos simplesmente intermediários, e neste sentido servidores, do sistema de investimento real, na medida em que se renuncie a função de reserva de valor. Com importante incidência para todos nós.
A renúncia à função de reserva de valor implica que o ato de poupar volte a ser o que realmente é: uma condição necessária, mas não suficiente, para a realização, por meio dos investimentos, das vantagens esperadas. O dinheiro poupado deve ser de fato aplicado em investimentos reais, mas, como estes são arriscados, e são arriscados porque estruturalmente incertos, e incertos porque voltados para o futuro, então o investidor também deverá aceitar que a remuneração do seu dinheiro não aconteça prefixadamente, na forma de taxa de juros, mas sucessivamente, sob a forma de participação nos lucros. Esta ainda é a doutrina oficial da Igreja, como se pode ler na encíclica Vix pervenit de Bento XIV no ano de 1745: toda remuneração preventiva do empréstimo é usura.
IHU On-Line - É verdade que o sistema bancário foi minado pela desregulamentação, resultando num novo sistema de usura, especulação e exploração? Por quê?
Massimo Amato - Remeto ao que foi apenas dito: se usura não significa “taxa de juros mais elevada do que o mercado”, mas simplesmente “taxa de juros”, a usura sempre existiu desde que a moeda foi introduzida como reserva de valor.
IHU On-Line - Quais são as implicações políticas fundamentais desse modelo econômico financeirizado e globalizado?
Massimo Amato - A implicação política fundamental é a despolitização da política. A “comunidade financeira global”, que pode deslocar seu capital de um lado a outro do planeta a qualquer momento, é quem agora decide o destino das nações. Mas o verdadeiro problema é que ela não é uma verdadeira comunidade, senão simplesmente uma comissão de credores irresponsáveis pelos efeitos das próprias decisões.
“Finança” significa originalmente a conciliação amigável de uma disputa: é o nome de uma relação de cooperação entre devedores e credores. E, nesse sentido, trata-se de uma comunidade. As finanças do mercado financeiro vivem da destruição desta relação: a destruição é vantajosa para os credores, certo, que se livram dos encargos e do risco de uma relação comunitária. Mas também para os devedores, que se sentem dispensados da obrigação de honrar suas dívidas de forma responsável, ao menos enquanto as condições do mercado permitem seu refinanciamento constante. Ora, entre os devedores estruturais dos mercados financeiros encontram-se, desde o início, os Estados. O que não se quer, ou talvez já nem se consiga mais ver, é que os mercados financeiros vivem uma conivência desresponsabilizante do Estado com o mercado.
Os Estados, chamados para supervisionar as finanças, dependem dela para o seu financiamento, e as finanças, chamadas a alocar o crédito com “eficiência”, não podem recusar aqueles devedores insolventes como os Estados. Uma finança diferente só poderia surgir se pudéssemos distinguir entre “público” e “estado”, entre “pagamento da dívida” e “adiamento indefinido do pagamento”. Esta distinção passa, necessariamente, tanto quanto eu posso ver, pela reconsideração da moeda. Enquanto não o fizermos, vamos ter de nos contentar em viver em um mundo que nega a existência e a natureza problemática dos desequilíbrios, alimentados continuamente, e onde a falta de medição é compensada com o exercício, nem sempre necessariamente violento, mas, de qualquer modo, sempre desmedido, das relações de força.