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sábado, 29 de junho de 2019

Desaceleração econômica global amplia fosso entre países ricos e pobres

Diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde.

Olá alunos, 

Hoje a notícia apresenta uma das consequência do cenário atual de desaceleração da economia mundial. 

Esperamos que gostem e participem!

Lucas Pessôa é membro do Grupo de Pesquisa "Estado, Instituições e Análise Econômica do Direito" - GPEIA. 

A reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI) realizada neste mês em Washington elevou o nível de alarme em que já havia soado em outubro do ano passado. Os riscos então detectados continuam presentes: tensões comerciais, geopolíticas e ameaças aos emergentes. Mas esses riscos agora são maiores. Países grandes e muito populosos, como Nigéria, Paquistão e África do Sul, terão um declínio na renda per capita nos próximos cinco anos, o que os afastará ainda mais das economias mais ricas do mundo.


Não é apenas o FMI. O Banco Mundial acaba de alertar para o risco de aumento da concentração da pobreza extrema, especialmente na África subsaariana. Isso impediria cumprir a meta de acabar, até 2030, com esse problema que afeta 700 milhões de pessoas em todo o mundo.

A colcha de retalhos das economias emergentes reúne países muito heterogêneos com uma evolução díspar. “Na média há convergência, os emergentes crescem mais do que os avançados. Os dois mais populosos, China e Índia, crescem muito acima da média. Mas a parte que terá um crescimento menor é muito preocupante porque reúne países onde vive um bilhão de pessoas”, diz desde Washington Gian Maria Milesi-Ferretti, diretor-adjunto de Pesquisa Econômica do FMI. Federico Steinberg, do Real Instituto Elcano, não acredita que a aproximação entre pobres e ricos tenha parado, embora seja mais lenta. A convergência cessou? “Passa pelos bairros”, resume.

São precisamente as características dos países afetados por um distanciamento do trem do crescimento o que mais preocupa este pesquisador chefe do Real Instituto Elcano. “A convergência até agora foi liderada pela China, que sofre um processo de desaceleração por condicionantes demográficas. A convergência continuará, mas não a taxas de 10%, como nos anos noventa. Vejo mais o problema nos países africanos, que são os que mais nos interessam na Europa por causa de sua proximidade”, acrescenta.

Steinberg considera esgotado o modelo que permitiu que a China se tornasse a segunda economia mundial, o que alimenta dúvidas sobre as possibilidades de os países emergentes acelerarem seu crescimento e reduzirem o fosso com o mundo mais desenvolvido. “A dinâmica da robotização, da automação e de tecnologias como a impressão 3D fazem com que o modelo de baixos salários já não seja suficiente. Existe a possibilidade de que os países africanos, que são uma bomba demográfica, não se juntem à convergência por não poderem reproduzir um modelo que teve sucesso no sudeste asiático”, conclui.

Milesi-Ferretti não tem tão claro que o modelo de baixos salários já esteja esgotado em outras partes do mundo. “É verdade que é mais complicado crescer muito apenas através de um modelo baseado na manufatura, porque ocupa uma proporção menor de trabalhadores. Mas existem setores que podem se beneficiar dos avanços tecnológicos. Na África, onde a telefonia fixa não está muito desenvolvida, as novas tecnologias podem impulsionar a criação de emprego e a maior produtividade no setor de serviços”, explica. O diretor do FMI insiste na necessidade de diferenciar: enquanto países grandes como Nigéria ou África do Sul apresentam taxas de crescimento decepcionantes, outros como Etiópia, Senegal ou Uganda crescem com energia.

Uma olhada nas previsões do FMI é suficiente para entender as diferenças. Diante de estimativas de crescimento anêmicas, em torno de 1%, para os países ricos nos próximos cinco anos, os emergentes terão uma porcentagem respeitável de 3,5% e a China se aproximará de 6%. Mas ao retirar os emergentes, o Fundo prevê que os asiáticos (sem a China) crescerão acima de 5% ao ano. As economias africanas, as latino-americanas, as do Oriente Médio e as de países como Afeganistão ou Paquistão, o farão abaixo de 2%.

quarta-feira, 26 de junho de 2019

Governo Bolsonaro: cinco perguntas sobre o corte das bolsas de pós-graduação

Jair Bolsonaro fala em evento do governo federal

Olá alunos, 

A notícia em tela diz respeito sobre um dos desdobramentos oriundos do contingenciamento de verbas dos institutos federais de ensino apresentado em modelo de perguntas e respostas.

Esperamos que gostem e participem!
Lucas Pessôa é membro do Grupo de Pesquisa "Estado, Instituições e Análise Econômica do Direito" - GPEIA. 

O governo do presidente Jair Bolsonaro surpreendeu a comunidade acadêmica ao anunciar, na quarta-feira, 8, a suspensão da concessão de novas bolsas de mestrado e doutorado pela Coordenação de Pessoal de Nível Superior (Capes), uma das principais entidades de fomento a pesquisas em nível de pós-graduação no Brasil, ligada ao Ministério da Educação (MEC).

A medida veio uma semana depois de o MEC anunciar o contingenciamento de 30% das verbas das universidades federais, e despertou fortes críticas de universidades e institutos de pesquisa.


Entenda as mudanças e o impacto dos cortes.

Por que os cortes estão sendo realizados?

A medida vem no bojo do bloqueio de 30% das verbas previstas para as universidades federais em 2019, anunciado na semana passada pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub. Com os cortes, a Capes perdeu R$ 819 milhões do total de R$ 4,1 bilhões de verba não obrigatória, e anunciou que congelaria bolsas ociosas.

"A Capes esclarece que a economia racional de recursos, a melhoria do sistema de pós-graduação e a parceria com o setor empresarial são as diretrizes adotadas para superar os desafios apresentados pela necessidade de contingenciamento de recursos na administração pública federal", informou, em nota, o órgão.

O texto acrescenta que o sistema de geração de bolsas, em geral "reaberto no início de cada mês", permaneceu fechado no início de maio. Assim, houve o "recolhimento" das bolsas "ociosas" ou que ainda não estavam sendo utilizadas por instituições acadêmicas.

Na prática, são recursos que haviam sido disponibilizados a novos candidatos, após a conclusão de trabalhos de outros bolsistas. A Capes informa não ter ainda o número exato das bolsas recolhidas.

Na terça-feira, em audiência na Comissão de Educação no Senado, Weintraub afirmou que não se trata de "corte" no orçamento das universidades e instituições federais, e sim de "contingenciamento" - cuja duração será ditada pela retomada da economia e a aprovação da reforma da Previdência.

"Retomando a dinâmica, aumenta a arrecadação, se descontingencia. Não há corte. E isso não foi imposto, a gente tem que cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal", afirmou o ministro da Educação no Congresso.

O que acontece com as bolsas ativas?

De acordo com a Capes, as bolsas de pós-graduação que já estão ativas não serão afetadas, e "nenhum bolsista já cadastrado nos sistemas" foi retirado.

A Capes tem ainda 107 mil bolsas ativas para formação de professores do ensino básico. Estas tampouco serão comprometidas pelos cortes. Já as bolsas do programa Idiomas sem Fronteiras foram todas suspensas.

Qual é o impacto da medida?

A Capes ainda não informou o número de bolsas que serão cortadas, em que áreas de pesquisa e por quanto tempo a suspensão vai vigorar.

O órgão tem atualmente 92 mil bolsas ativas de pós-graduação, nos valores de R$ 1.500 para mestrado e R$ 2.200 para doutorado.

O Brasil está entre os 15 países com maior número de estudos científicos no mundo, e 95% da pesquisa é realizada em universidades públicas. Há temor de que os cortes possam inviabilizar essa produção, já que bolsistas de pós-graduação são tidos como motores da pesquisa científica nas universidades, com forte impacto em todas as áreas.

Qual foi a reação?

Na quarta-feira, após o envio de um comunicado interno da Capes a reitores e coordenadores de pós-graduação informando sobre o "congelamento", diversas instituições divulgaram notas de esclarecimento.

A Universidade de São Paulo (USP) afirmou as bolsas que não estavam ocupadas "deixaram de constar no sistema" da Capes, mas buscou tranquilizar bolsistas que já estão recebendo seus benefícios, reiterando que não houve suspensão de bolsas vigentes.

Segundo Carlos Gilberto Carlotti Junior, Pró-reitor de Pós-Graduação da USP, o momento é de "preocupação", mas é preciso aguardar novas informações e seguir com as atividades acadêmicas para ter "uma pós-graduação de excelência".

Em nota, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) criticou a "insensatez da medida", destacando que a atividade de pesquisa recai fortemente sobre as universidades públicas no Brasil e não conta ainda com grande engajamento de empresas e do setor privado.

"Esse é um problema que o país tem que enfrentar, mas não vai conseguir com cortes horizontais no orçamento das universidades e nas bolsas de pós-graduação e pós-doutoramento."

Em nota, a Capes afirma que vai realizar chamadas públicas para que que setores empresariais invistam em bolsas e fomento a pesquisa em troca de isenção fiscal.

Qual é o pano de fundo para essa medida no governo?

O temor de cortes nas bolsas da Capes é algo que ronda os pesquisadores desde o ano passado. À época, ainda sob o governo Michel Temer, o Conselho Superior da Capes alertou sobre o risco de paralisação nas atividades após uma ameaça de redução de R$ 580 milhões no orçamento do setor.

A instituição afirmou que a redução interromperia 200 mil bolsas de pesquisa científica, projetos de formação e programas de cooperação internacional - prejudicando a imagem do Brasil no exterior.

O conselho pediu ao governo federal que impedisse a redução nas verbas. Mas o contingeciamento anunciado por Weintraub acabou sendo ainda maior, de R$ 819 milhões.

O aperto de cintos se soma a visões e iniciativas polêmicas do governo Bolsonaro e do novo ministro da Educação.

Após uma série de polêmicas envolvendo o ex-ministro Ricardo Vélez Rodríguez, Weintraub assumiu o posto no início de abril. Duas semanas depois, anunciou um corte de 30% no orçamento de três universidades federais: de Brasília (UnB), da Bahia (UFBA) e a Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói, no Estado do Rio, acusando-as de promover "balbúrdia" e permitir a realização de "eventos políticos, manifestações partidárias ou festas inadequadas". As instituições ocupam, respectivamente, o 9º, 14º e 16º lugares no Ranking Universitário Folha (RUF).

"Universidades que, em vez de procurar melhorar o desempenho acadêmico, estiverem fazendo balbúrdia, terão verbas reduzidas", ameaçou o ministro.

O anúncio e o teor das críticas do ministro despertaram apreensão entre universidades, deteriorando uma situação que já era grave. "Não há como ter pesquisa de alto nível se não tenho luz e água no laboratório", disse o reitor da UFF, Antonio Claudio Lucas da Nóbrega, em entrevista ao UOL.

Weintraub também se alinhou ao presidente Bolsonaro ao prometer cortar recursos para cursos de filosofia e ciências sociais. Em transmissão ao vivo pelo Facebook ao lado do presidente, disse que "a função do governo é respeitar o dinheiro do pagador de imposto", e que é importante investir em um ofício que "gere renda para a pessoa, bem-estar para a família, que melhore a sociedade em volta dela".

terça-feira, 25 de junho de 2019

Banco Mundial pede à América Latina que fortaleça redes de proteção social contra a crise

Crise na América Latina

Olá alunos,

Hoje trazemos uma notícia que chama a atenção para a necessidade de se combater as desigualdades sociais, principalmente em épocas de crise econômica, amenizando, assim os efeitos desta.

Esperamos que gostem e participem!
Lucas Pessôa é membro do Grupo de Pesquisa "Estado, Instituições e Análise Econômica do Direito" - GPEIA

Em “tempos desafiadores” para a economia latino-americana, os países da região devem prestar especial atenção aos mais pobres. É imprescindível que os Governos impulsionem planos de proteção social que moderem o impacto da desaceleração dos indicadores e permitam manter no futuro o terreno ganho na luta contra a pobreza durante os períodos de bonança. Estas são as conclusões do último relatório semestral regional do Banco Mundial, intitulado Como o Ciclo Econômico Afeta os Indicadores Sociais na América Latina e Caribe? – Quando os Sonhos Enfrentam a Realidade, que foi apresentado no final da semana passada.

O cenário econômico não é alentador para a América Latina, e o desafio da pobreza aumenta, segundo o Banco Mundial. “As expectativas iniciais de crescimento em 2018 não foram cumpridas, e as projeções para 2019 se deterioraram. A região cresceu 0,7% em 2018. As principais razões para esse fraco crescimento em 2018 são uma contração de 2,5% na Argentina, a lenta recuperação do Brasil logo depois da recessão de 2015 e 2016, o crescimento anêmico do México devido à incerteza política e o colapso da economia venezuelana”, diz o Banco Mundial, alertando que “o escasso crescimento econômico está tendo um impacto previsível nos indicadores sociais”. Deixando de lado a Venezuela, o caso mais dramático foi o do Brasil, que “experimentou um aumento da pobreza monetária de aproximadamente três pontos percentuais entre 2014 e 2017”. O dado brasileiro é especialmente relevante porque o país representa um terço da população da região.

A pobreza, portanto, precisa estar na agenda política e econômica dos Governos, onde os planos de contenção não abundam. “Os programas sociais que ajudam a absorver o impacto das crises econômicas são comuns nos países desenvolvidos, mas não estão suficientemente difundidos nesta parte do mundo”, disse Carlos Végh, economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe. “Esta é uma agenda social pendente na região para assegurar que aqueles que recentemente escaparam da pobreza não deem nenhum passo atrás”, acrescenta.

Végh se refere aos milhões de latino-americanos que saíram da pobreza durante a chamada Década de Ouro das matérias primas (2003-2013), uma etapa onde os indicadores sociais melhoraram notavelmente. A pobreza monetária, medida sobre a base de uma renda de até 5,50 dólares (21,30 reais) por dia por pessoa, passou de 42,2% em 2003 para 23,4% em 2014. A pergunta do Banco Mundial agora é: “Que proporção da queda foi permanente, e que proporção foi transitória?” “A importância relativa da redução permanente frente à redução temporária da pobreza tem implicações cruciais para medir a verdadeira magnitude da redução na pobreza e quão duradoura será, e as políticas públicas que podem ser implementadas para obter reduções permanentes na pobreza ao invés de temporárias”, afirma o relatório.

O Banco Mundial dedica especial atenção à necessidade de medições comparáveis para que haja um combate sério à pobreza. Os analistas que comemoraram as reduções da pobreza durante as fases econômicas expansivas “obteriam conclusões muito diferentes se avaliassem a mudança da pobreza durante um ciclo econômico completo (ou seja, auge e recessão)”, diz o relatório. “A importância do componente cíclico nos indicadores sociais se magnifica no caso dos mercados emergentes sujeitos a grandes choques externos. Todos estes choques são de natureza cíclica, por isso tenderão a amplificar os ciclos econômicos dos mercados emergentes e, por sua vez, os componentes transitórios dos indicadores sociais”, acrescenta o Banco Mundial. Por isso, insiste em que são necessárias políticas distributivas de fôlego prolongado. O Banco reconhece, contudo, que durante a Década de Ouro a América Latina avançou muito nesse sentido.

Os Governos de esquerda que dominaram a política regional impulsionaram programas de ajuda que agora conseguiram moderar o impacto da crise. O mais notável foi o programa Bolsa Família no Brasil, que condicionou a ajuda ao cumprimento de certos critérios de saúde e educação que ficaram nas mãos dos beneficiários. Entretanto, o exemplo não se estende a toda a região.

“Em tempos desafiadores para a economia, é mais importante que nunca que os países façam as reformas necessárias para impulsionar um crescimento sustentável e inclusivo. Não podemos dar como consumadas as conquistas recentes na redução da pobreza e devemos redobrar os esforços para consolidá-los e aproveitá-los”, disse Axel van Trotsenburg, vice-presidente do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe. Trata-se, em todo caso, de que em tempos de bonança os países possam “controlar de alguma forma os efeitos cíclicos sobre a pobreza antes de comemorar qualquer feito como permanente”. O desafio se torna especialmente complexo quando a tempestade aumenta.

segunda-feira, 24 de junho de 2019

Seis perguntas para entender por que a gasolina e o diesel custam o que custam no Brasil

Manifestantes ateiam fogo em pneus para fechar via em Brasília

Olá Alunos, 

Em meio a boatos sobre uma nova greve de caminhoneiros, a precificação dos combustíveis no Brasil volta a despertar uma série de dúvidas e indagações. Para estas duvidas , a notícia de hoje busca trazer os devidos esclarecimentos.

Esperamos que gostem e participem!

Lucas Pessôa é membro do Grupo de Pesquisa "Estado, Instituições e Análise Econômica do Direito" - GPEIA 

Se você é dono de um dos 55 milhões de carros que circulam no Brasil, o preço do combustível importa para você. Mesmo se você mal usa o veículo. Como as rodovias são o meio de transporte mais utilizado no país, o valor dos derivados do petróleo afeta o bolso de todas as famílias.

A briga pelo valor do diesel chegou a ser o centro das atenções de todo o país no ano passado, com o protesto de caminhoneiros. A paralisação afetou a distribuição de alimentos em várias regiões e chegou a travar a economia brasileira, que teve um crescimento de 1,1% em 2018.

A categoria voltou a levantar a possibilidade de novo protesto neste ano, o que levou o governo a anunciar medidas para o grupo, como a abertura de uma linha de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em um total de R$ 500 milhões, para caminhoneiros autônomos. O ponto que mais chamou atenção nesse episódio foi a interferência do presidente Jair Bolsonaro na Petrobras, ao segurar o aumento do diesel previsto pela companhia.

Na estrutura atual, o preço dos combustíveis tem colocado, de um lado, os consumidores (taxistas, caminhoneiros e outros motoristas) e, de outro, a Petrobras e os seus acionistas - inclusive o governo, que é o principal deles.

"Se o governo tenta de alguma forma controlar o preço, normalmente isso causa prejuízo à empresa produtora de petróleo. E, se há um repasse integral dos preços, você atinge os setores consumidores do combustível. É uma situação de difícil solução porque sempre vai ter um lado que vai sofrer mais", explica Mauricio Tolmasquim, professor do programa de planejamento energético da COPPE, da Universidade Federal do Rio de Janeiro e ex-presidente da Empresa de Pesquisa Energética.

A seguir, a BBC News Brasil explica o preço do combustível no Brasil em 6 perguntas.

1. A Petrobras controla os preços no Brasil?

O tamanho da Petrobras faz com que muitos digam que é ela que determina os preços no Brasil. A empresa, por outro lado, diz que as revisões de preço feitas pela companhia podem ou não se refletir no preço final, já que ele tem tributos e ainda há outros agentes da cadeia de comercialização dos combustíveis.

No Brasil, é impossível falar de petróleo sem pensar na Petrobras, estatal criada na década de 1950 após o movimento "O petróleo é nosso".

Inicialmente, a empresa tinha o monopólio nessa área. Ele só acabou, em teoria, em 1997, quando o então presidente Fernando Henrique Cardoso sancionou uma lei que extinguiu o monopólio nas atividades de exploração, produção, refino e transporte do petróleo no Brasil.

Depois disso, empresas com sede no Brasil e constituídas sob as leis brasileiras passaram a poder atuar nessas áreas mediante contratos de concessão e autorização. Em 2010, foi criado também o regime de partilha para a exploração do petróleo do pré-sal. Nesse regime, a Petrobras tem a preferência de ser operadora e a participação dela no consórcio de empresas não pode ser inferior a 30%.

Mesmo com o fim do monopólio, a Petrobras segue como a grande referência nessa área. Ela é uma empresa estatal de economia mista: tem capital aberto e o acionista majoritário é o governo brasileiro. O bloco de controle, composto pela união, BNDES, BNDESPar, Caixa e Fundo de Participação Social, tem 63,5% das ações com direito a voto.

"A Petrobras é o principal agente de produção, de distribuição. A Petrobras tem um peso muito grande. Ela, no fundo, que define o preço no mercado brasileiro, pelo seu poder de monopólio de fato, mesmo que se possa ter outras distribuidoras, ela tem um tamanho que dá a ela um certo poder monopolista", diz Tolmasquim sobre a dimensão da estatal no mercado brasileiro.

2. De onde vem o combustível consumido no Brasil?

Para virar combustível, o petróleo passa por um longo processo. Primeiro, o óleo, que leva milhões de anos para ser formado nas rochas sedimentares, é extraído e separado nas plataformas.

Em 2018, a Petrobras exportou 21% do petróleo que extraiu e os outros 79% foram para as refinarias no Brasil.

Depois da extração, se for refinado no país, o produto bruto é transportado para terminais no litoral, de onde segue para uma refinaria e passa por três etapas de processamento até se transformar nos subprodutos (diesel, gasolina, querosene e gás liquefeito de petróleo).

A Petrobras responde hoje por 98% do petróleo refinado no Brasil. A estatal tem 13 refinarias que produzem 1,765 milhão de barris de combustível por dia - em abril, anunciou que vai colocar 8 delas à venda, como parte dos planos de negócio da companhia.

Na produção de derivados no ano passado, a Petrobras usou 91% de petróleo nacional - complementado por petróleo importado devido a especificidades técnicas para o refino. O produto final foi vendido principalmente no Brasil (1,89 milhão de barris por dia), mas também no exterior (178 mil barris por dia).

Atualmente, a Petrobras produz mais petróleo bruto do que o Brasil consome, mas mesmo assim tem que importar uma pequena parte devido ao tipo do óleo brasileiro, que, sozinho, não é adequado para produzir alguns derivados. Além disso, o Brasil não tem capacidade de refino compatível com a demanda interna.

"Ela não tem a capacidade de refinar todo o petróleo que produz, então ela exporta uma parte (de produto bruto) e precisa comprar derivados refinados a fim de atender o mercado", explicou Antonio Jorge Ramalho, professor de relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB) que estuda o assunto.

Depois do refino, esses combustíveis são transportados para distribuidoras, onde a gasolina recebe adição de etanol e se transforma na chamada "gasolina comum", que é a mistura que é encontrada nos postos.

No processo da distribuição, as maiores empresas são a BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras, com 24% do mercado na distribuição de gasolina, além das empresas brasileiras Raízen e Ipiranga, com cerca de 20% cada uma.

No total, o Brasil importou 206 milhões de barris de derivados de petróleo em 2018, 8,3% a menos do que os 224,7 milhões importados em 2017, segundo dados da balança comercial disponibilizados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Só de gasolina foram 18,7 milhões de barris comprados do exterior no ano passado.

3. O que determina o preço do combustível?

Como o diesel e a gasolina vêm do petróleo, a flutuação do preço do barril no mercado internacional afeta o custo final dos combustíveis no Brasil. O produto faz parte do grupo das commodities comercializadas em todo o mundo, com uma classificação de qualidade ou uma padronização, como soja, trigo e minério de ferro.

Outro fator determinante para o custo final do combustível é se o país tem forte atividade de extração do petróleo e de refino.

Nessa parte, os especialistas explicam que a estrutura do mercado também afeta o preço que o consumidor paga. Quanto maior a competição entre empresas, menor tende a ser o valor do produto.

Essa estrutura do mercado depende de como historicamente o país tratou o setor e da inclinação dos governos para estimular a concorrência nessa área ou exercer mais poder estatal para controlar preços. (Leia na pergunta 6 exemplos de medidas do governo nessa área)

A forma como os combustíveis são transportados também é relevante, segundo Ramalho.


"O fato de usar matriz rodoviária para entregar o óleo aumenta muitíssimo o preço. Aumenta risco de acidentes, com danos ambientais, e assim por diante. O lógico seria ter refinarias espalhadas pelo país, seria ter o transporte do óleo por oleoduto. É mais seguro e mais barato", disse.

A paralisação dos caminhoneiros em 2018 afetou a distribuição de combustível em diversas regiões -- já que no Brasil diesel, gasolina e querosene são transportados em caminhões. As Forças Armadas chegaram a ser chamadas para escoltar os caminhões que saíam de refinarias, para evitar que os protestos impedissem o transporte desses produtos em um momento em que as companhias aéreas já cancelavam voos por falta de combustível e os postos de gasolina estavam desabastecidos.

"O Brasil é um país enorme, então torna os custos muito mais elevados. Não é só o preço do petróleo que vai definir o preço final da entrega do produto. É esse conjunto de fatores: o preço internacional importa, mas a estrutura do mercado importa, a capacidade de refino importa, o custo dos transportes importa, e os custos finais (tributos) do produto também", resumiu Ramalho.

4. O que mais está dentro do preço que você paga no Brasil?

Os tributos que incidem sobre os combustíveis frequentemente são alvo de reclamações dos consumidores. Além disso, alterações nas alíquotas são usadas pelos governos como forma de tentar reduzir o preço final do combustível ou aumentar a arrecadação.

No auge da paralisação dos caminhoneiros em 2018, por exemplo, o então presidente Michel Temer zerou a Cide incidente sobre o óleo diesel, numa tentativa de controlar o aumento do preço - alvo de reclamação da categoria.

A Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico, ou Cide-combustíveis, foi criada em 2001 com a finalidade de garantir recursos para investimento em infraestrutura de transporte e projetos ambientais relacionados à indústria de petróleo e gás.

Atualmente, os tributos federais sobre combustíveis têm as seguintes proporções: 9% do preço final do diesel e 15% do valor da gasolina.

No entanto, a maior parcela de tributo é estadual: o ICMS corresponde, em média, a 15% do preço final do diesel e 29% da gasolina, segundo dados da Petrobras.

Isso significa que, em média, a cada R$ 10 gastos com gasolina no Brasil, R$ 4,40 são de tributos. No diesel, a cada R$ 10 em compra, R$ 2,40 são referentes aos tributos.

A justificativa para menor incidência de tributos em cima do diesel é que esse é o combustível usado nos ônibus e caminhões. Como o Brasil depende muito do transporte rodoviário de carga, o aumento no diesel impacta toda a cadeia de produção, afetando inclusive a inflação.

5. O combustível é caro ou barato no Brasil?

O valor dos combustíveis varia inclusive dentro do Brasil. O preço médio da gasolina em abril foi de R$ 4,42 por litro, mas variou de R$ 3,59 a R$ 5,98 em diferentes partes do país.

Os dados são do sistema de levantamento de preços da ANP, em pesquisa com mais de 23 mil postos no país em abril.

Já o diesel teve um preço médio de R$ 3,56 no período e variou de R$ 2,99 a R$ 4,95.

Doutora em Planejamento Energético e coordenadora de pesquisa do centro de estudos FGV Energia, Fernanda Delgado explica que a diferença entre as regiões se deve principalmente à variação da alíquota do ICMS, que é definida por Estado.

"Dentro do país você tem diferenças por causa da tributação de ICMS. O Rio de Janeiro tem a gasolina mais cara do Brasil porque o ICMS sobre a gasolina aqui é de mais de 30%. É um dos percentuais mais altos de ICMS que você tem no país inteiro e isso dá diferença muito grande em relação a outros Estados", disse.

Em relação a outros países, o Brasil fica em posições intermediárias, sem figurar entre os países que têm os combustíveis mais caros e tampouco entre os que apresentam os menores preços.

No ranking internacional do diesel, 57 países têm o produto a preços menores que o do Brasil e 105 têm o preço mais alto, na comparação dos preços convertidos em dólar. Ou seja, o Brasil fica em 106º lugar no ranking de 163 países com diesel mais caro no mundo.

Quando a comparação é referente ao litro da gasolina, o Brasil aparece no meio da lista: 82 países registraram preços mais altos e 81, valores menores. Ou seja, o Brasil fica em 83º lugar no ranking de 164 países com gasolina mais cara no mundo.

Nos dois casos, Venezuela, Sudão e Irã estão entre os locais com combustíveis mais baratos e Zimbábue, Hong Honk e Mônaco registraram os preços mais altos. Os dados são do site Global Petrol Prices, usado como referência pela Petrobras.

Os Estados Unidos estão na posição 124 no ranking do diesel mais caro e na posição 130 na lista da gasolina.

6. Dá pra diminuir o preço do combustível no Brasil?

Sem uma considerável queda no preço internacional do petróleo, dois cenários poderiam reduzir o preço dos combustíveis no Brasil de forma instantânea.

Um deles é a intervenção no preço praticado pela Petrobras - vista como medida indesejável por quem defende a autonomia da empresa em relação governo, já que compromete o caixa da empresa e é uma sinalização ruim para os investidores.

Entre 2014 e 2017, a Petrobras acumulou mais de R$ 70 bilhões em prejuízos, resultados que são atribuídos não só aos desvios por corrupção revelados pela Operação Lava Jato, mas também à política de preços controlados.

O governo da ex-presidente Dilma Rousseff foi criticado por congelar preços em períodos de aumento do preço do petróleo, como medida para tentar controlar a inflação.

Logo nos primeiros meses de governo, o presidente Jair Bolsonaro também interviu na política de preços da Petrobras, ao determinar que a estatal suspendesse um aumento no diesel. No dia seguinte, a queda de mais de 8% nas ações da empresa fez a petroleira perder R$ 32,4 bilhões em valor de mercado.

"A política energética nacional sempre foi feita através da Petrobras, usando a Petrobras como política", afirmou Fernanda Delgado. "Todos os países que tiveram preços controlados pelo Estado tiveram algum problema em algum momento. É parte de uma política muito paternalista, que não é saudável. Temos estrutura de mercado nacionalista e fechado. Falta maturidade pra gente andar em direção a um mercado aberto."

Outro cenário para a redução do preço do combustível no curto prazo seria a redução dos tributos, o que parece pouco provável no Brasil, onde tanto o governo federal quanto a maioria dos Estados estão com as contas comprometidas.

"(O combustível) tem carga tributária elevadíssima. Então parte do problema, se o governo quisesse resolver, seria reduzir os impostos. Mas a maior parte dos impostos não é federal, é estadual. Então tem aí outra dificuldade, que é chegar a consenso entre governos federal e estaduais visando estabelecer preço razoável", disse Ramalho.

Segundo ele, o ideal, na verdade, seria que o governo conseguisse usar a receita arrecadada com os tributos incidentes sobre esses combustíveis para estimular o investimento em formas de energia que geram menos poluição.

É o caso, por exemplo, da Noruega, que figura entre os países com combustíveis mais caros, apesar de ser a maior produtora e exportadora de petróleo e gás da Europa ocidental. O preço alto vem de uma alta tributação para desestimular o consumo de combustível fóssil. É por isto que o país é acusado de hipocrisia em sua política ambiental: ao mesmo tempo em que é conhecida como exemplo na proteção do meio ambiente, é um dos principais exportadores de petróleo e gás do mundo.

"Aí você criaria uma estrutura de incentivos que desfavorece o uso dessa energia e favorece o uso de energia limpa. Vai conduzindo o mercado a criar e ampliar a escala das indústrias mais limpas. E deixaria de subsidiar a indústria do petróleo. Mas aí tem que vencer o lobby", afirmou.

Ramalho resume o que seria o melhor cenário para a economia brasileira nesta área. "O mercado ideal é o de um país com capacidade produtiva próxima ao menos ao que ele consome - se conseguir produzir mais, melhor - e que ele tenha capacidade de refinar o próprio petróleo. E que tenha capacidade de entregar isso a preços compatíveis com os custos."

Outro cenário capaz de reduzir o preço dos combustíveis, segundo os especialistas entrevistados, seria estimular a competição na cadeia de produção. O tamanho da Petrobras na área de refino, por exemplo, está em análise pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que abriu um inquérito contra a empresa, em dezembro, para apurar "suposto abuso de posição dominante no mercado nacional de refino de petróleo, explorado quase integralmente pela estatal" (98% sob controle da Petrobras).

A abertura do inquérito foi baseada em um estudo sobre a estrutura do mercado de refinaria no Brasil e possíveis medidas para estimular a competição no setor. O documento aponta que há poucas alternativas à estatal para o refino de petróleo e que a concorrência fica a cargo de importação e empresas com baixa expressividade no território brasileiro.

Ainda não houve julgamento. Segundo o Cade, o inquérito continua em análise na superintendência-geral do órgão.

Sobre a formação de preços, a estatal diz que "como a lei brasileira garante liberdade de preços no mercado de combustíveis e derivados, as revisões feitas pela Petrobras podem ou não se refletir no preço final, que incorpora tributos e repasses dos demais agentes do setor de comercialização: distribuidores, revendedores e produtores de biocombustíveis, entre outros."


sábado, 15 de junho de 2019

O liberal Macri anunciará congelamento de preços para controlar inflação argentina

O presidente da Argentina, Mauricio Macri, em um encontro com membros de seu Governo no dia 21 de março.

Olá alunos,

A presente notícia discorre sobre as novas ações do presidente da Argentina para tentar sanar a profunda crise econômica que passa nosso vizinho latino. Chamam atenção tais medidas por contrariarem o discurso liberal que outrora era empregado por Maurício Macri. 

Esperamos que gostem e participem!
Lucas Pessôa é membro do Grupo de Pesquisa "Estado, Instituições e Análise Econômica do Direito" - GPEIA

 A inflação argentina continua galopante. Em março ultrapassou todas as previsões e atingiu 4,7%, segundo o Instituto Nacional de Estatística e Censos, fazendo o índice acumulado dos últimos 12 meses superar os 54%. No primeiro trimestre, chegou a 11,8%. Alimentação e transporte foram os itens que mais subiram. Cada aumento dos preços degrada o prestígio político do presidente Mauricio Macri e acrescenta incerteza ao resultado das eleições de outubro. O homem que chegou à Casa Rosada com a promessa de controlar a inflação agora está encurralado por ela.

Macri alertou na segunda-feira que a inflação de março significaria “um pico”, a partir do qual um declínio gradual seria percebido. O problema é que já em janeiro havia dito que a febre estava “abaixando”, com um resultado mensal de 2,9%. Em fevereiro, admitiu que a batalha contra a inflação estava “custando mais do que imaginava”, e o índice foi de 3,8%. Há uma desaceleração em relação ao pior mês de 2018, setembro, com 6,5%, mas a maioria dos técnicos estima que, assim como março, abril continuará sendo um mês altamente inflacionário.

Qual é a causa do aumento dos preços? Para começar, a inércia. Em uma economia historicamente inflacionária (durante os últimos 80 anos, a média anual ultrapassou os 60%), as empresas antecipam o aumento, repercutindo-o nos preços e conseguem o que geralmente se chama de “profecia autorrealizável”. Um fator muito importante é a contínua desvalorização do peso em relação ao dólar, bem como a brutal atualização das tarifas dos serviços, especialmente energia e transporte público, depois de anos de semicongelamento. A eletricidade, por exemplo, subiu 14% neste mês em Buenos Aires. O Governo defende os tarifaços: diz que sem eles haveria fenômenos de desabastecimento semelhantes aos da Venezuela.

O Governo tem desde segunda-feira um instrumento potencialmente eficaz para conter a desvalorização do peso. De maneira diária e durante quase todo o ano, o Tesouro venderá 60 milhões de dólares (cerca de 234 milhões de reais) todos os dias. O dinheiro corresponde a uma fração (9,6 bilhões) dos 57 bilhões de dólares emprestados em setembro do ano passado pelo Fundo Monetário Internacional, e é mais ou menos o que o Governo precisa para fazer frente às suas despesas em pesos. Irrigando o mercado com a moeda norte- americana, espera deter sua valorização frente ao peso. Também pode ajudar a entrada de moeda estrangeira advinda das exportações de uma ótima safra agrícola. Na segunda-feira, os exportadores trocaram cerca de 150 milhões de dólares em pesos.

Isso será o suficiente? Provavelmente não. O desejo dos argentinos de economizar em dólares ou especular com eles é historicamente muito justificado. E, como comprovaram as economias dos Estados Unidos e da então chamada Comunidade Europeia nos anos setenta do século passado, é muito difícil sair de uma “estagflação” (estagnação econômica junto com inflação). O caso da Argentina é ainda mais difícil porque os cortes impostos pelo FMI provocaram uma recessão que continuará no próximo ano.

Para evitar que os preços dos produtos básicos, do mate às massas, continuem sua escalada, o presidente Macri anunciará na quarta-feira um plano de contenção acordado com as empresas produtoras e distribuidoras. O plano deve durar seis meses e afetar cerca de 60 produtos. Até mesmo a Casa Rosada admite que é um “paliativo” e não custa muito intuir por trás dele uma intenção eleitoreira: as chances de Macri ser reeleito dependem do poder aquisitivo das famílias, que caiu quase um terço ao longo do ano passado, não continue afundando nesse ritmo.

Macri usou abundantemente a inflação dos últimos anos do mandato de Cristina Fernández de Kirchner durante a campanha eleitoral que o levou à presidência. Dizia que a inflação real da Argentina era superior à da Venezuela. Não era verdade e continua não sendo. Mas um aumento de preços próximo de 5% ao mês, como o de abril, pulveriza as previsões nas quais o orçamento para 2019 se baseou. Previu-se uma inflação em torno de 27% ao ano. Agora quase ninguém espera que o ano termine abaixo de 40%. Em 2018, um ano catastrófico, foi de 47,6%. 

EUA acirram guerra comercial com a China

Contêineres no porto de Tacoma, nos Estados Unidos

Olá alunos, 

Hoje trazemos uma notícia que narra mais um capítulo pertinente aos atritos entre os EUA e China. Boa parte desses embates entre as duas maiores economias globais se deve, entre outras questões, à resistência da China de abrir seus mercado, uma vez que esta planeja transformar suas empresas estatais em importantes atores globais no mercado tecnológico, e o déficit comercial dos Estados Unidos com a China. 

Esperamos que gostem e participem!
Lucas Pessôa é membro do Grupo de Pesquisa "Estado, Instituições e Análise Econômica do Direito" - GPEIA 

Em meio ao impasse das negociações comerciais com a China, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu sinais de que não está disposto a uma trégua e está preparado para uma longa batalha econômica.

Depois de escrever em sua conta no Twitter que os dois dias de negociações em Washington, que terminaram nesta sexta-feira (10/05), foram "francos e construtivos", Trump ordenou a imposição de tarifas a praticamente quase todos os bens chineses importados pelos Estados Unidos.

"O presidente ordenou que começássemos o processo de aumentar tarifas em praticamente todas as importações remanescentes da China, que estão estimadas em aproximadamente 300 bilhões de dólares", anunciou o representante de Comércio Exterior dos EUA, Robert Lighthizer, num comunicado.

O anúncio ocorreu horas depois da entrada em vigor nos Estados Unidos do aumento das taxas alfandegárias sobre o equivalente a 200 bilhões de dólares de bens importados da China. Autoridades americanas subiram de 10% para 25% os impostos sobre mais 5 mil itens produzidos na China, incluindo modems e outros produtos de informática e também material de construção.

Com a taxação sobre outros 300 bilhões de dólares de bens chineses, o novo encargo afetará praticamente todo o volume de importações da China no país. Lighthizer não especificou se a tarifa aos produtos restantes será de 25% e se limitou a explicar que o presidente lhe ordenou "começar o processo para subir os impostos em basicamente todas as importações chinesas que restam".

O representante americano deixou ainda em aberto quando esses novos encargos poderiam entrar em vigor e disse que na segunda-feira serão divulgados mais detalhes sobre essa medida. Ainda deve levar alguns meses até que as novas tarifas sejam aplicadas.

Até agora, a Casa Branca tentou proteger das tarifas alguns dos produtos manufaturados na China mais procurados pelos consumidores americanos, como os celulares iPhone e os tênis Nike, mas as novas tarifas também podem afetar essas marcas.

A decisão de Trump representa uma escalada na guerra comercial entre as duas maiores economias mundiais e acontece em um momento especialmente delicado. Representantes de China e EUA se reuniram em Washington por dois dias para uma nova rodada de negociações, mas novamente não chegaram a um acordo.

Com o impasse, os EUA aumentaram os encargos anunciados anteriormente e ameaçaram taxar os produtos restantes. As novas tarifas representam a ruptura da trégua comercial estipulada no final de 2018 entre Washington e Pequim, algo que esta semana provocou perdas nas bolsas de valores de todo o mundo.

A China afirmou que responderá na mesma moeda, o que deve agravar a guerra comercial entre os dois países, caso não se chegue a um acordo nos próximos dias. Após a entrada em vigor da nova tarifa, o Ministério do Comércio chinês anunciou, sem dar mais detalhes, que tomaria "as contramedidas necessárias".

Pequim tem uma série de cartas na manga, incluindo um novo aumento de taxas sobre bens americanos e investigações antitruste que podem dificultar as operações das empresas americanas no seu mercado.

Apesar da escala no conflito, o vice-premiê chinês, Liu He, que representou Pequim nas reuniões em Washington, afirmou, em entrevista à imprensa americana, que as negociação não entraram em colapso e que é normal haver pequenos contratempos. "Estamos cautelosamente otimistas em relação ao futuro", destacou.

Liu admitiu, porém, que Pequim e Washington têm diferenças, embora descarte que seu país tenha recuado nos acordos alcançados em rodadas anteriores da negociação. "A China acredita que as tarifas são o ponto de partida dos confrontos comerciais, se temos que chegar a um acordo, temos que eliminar todos os impostos, esse é o primeiro ponto", afirmou.

Um segundo ponto gira em torno do desejo dos EUA de que a China se comprometa a comprar um número maior de produtos americanos, a fim de equilibrar uma balança comercial inclinada em favor do país asiático. "Este é um assunto muito sério", acrescentou Liu. "Nós deixamos muito claro que não podemos fazer concessões em questões de princípios, como mostrar-se abertos à cooperação e ser respeitosos."

Os governos das duas maiores economias do mundo já impuseram taxas alfandegárias sobre centenas de bilhões de dólares às exportações de cada um. Os chineses impuseram taxas sobre importações americanas no valor de 110 bilhões de dólares.

Um dos pontos de discórdia é a política de Pequim para o setor tecnológico, que visa transformar as empresas estatais do país em importantes atores globais em setores de alto valor agregado, como inteligência artificial, energias renováveis, robótica e carros elétricos.

Os EUA consideraram que essa estratégia, impulsionada pelo Estado chinês, viola os compromissos da China em abrir o seu mercado, quando Pequim força, por exemplo, empresas estrangeiras a transferirem tecnologia ou dá subsídios às empresas domésticas, enquanto as protege da competição externa.

Em dezembro passado, Washington e Pequim acordaram um período de tréguas, mais tarde prolongado. No domingo, Trump quebrou a trégua e anunciou que os EUA iriam aumentar as taxas alfandegárias, acusando os chineses de voltarem atrás em compromissos feitos anteriormente.


Trump criticou duramente o déficit comercial dos Estados Unidos com a China, que atingiu 419 bilhões de dólares em 2018, afirmando que essa situação elimina empregos na indústria dos Estados Unidos. Esse discurso é bem recebido pela base de apoiadores de Trump nos Estados Unidos. O presidente busca a reeleição em 2020.



quarta-feira, 5 de junho de 2019

Convite!

Olá alunos, 

Viemos convida-los para a palestra  “Gênero, estigma e moralidades na implementação do Bolsa Família“ .



A palestra será ministrada por Mani Tebet que, de acordo com a descrição do evento é "Professora Adjunta de Sociologia da UFRRJ e Professora Colaboradora do Programa de Pós Graduação em Políticas Públicas em Direitos Humanos da UFRJ. Possui Pós Doutorado em Sociologia sob orientação da Prof Elisa Reis (PPGSA/UFRJ), Mestrado e Doutorado pelo PPGSA/UFRJ com Doutorado Sanduíche sob orientação do Prof Bernard Lahire (ENS/Lyon). Pesquisa principalmente os seguintes temas: desigualdades sociais, identidades, Políticas educacionais e Programas de transferência de renda."
Não é necessária a realização de inscrição prévia.

Data: 10/06, Segunda-Feira
Horário: 14h
Local:  IESP-UERJ
Endereço: R. da Matriz, 82 - Botafogo

Esperamos que gostem e participem!
Lucas Pessôa é membro do Grupo de Pesquisa "Estado, Instituições e Análise Econômica do Direito" - GPEIA 

sábado, 1 de junho de 2019

A desestruturação do mercado de trabalho

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Olá Alunos, 

Hoje trazemos uma notícia que versa sobre a reforma da previdência e como esta impactará na intensificação e aprofundamento das injustiças presentes no mercado de trabalho. 

Esperamos que gostem e participem!

Lucas Pessôa é membro do Grupo de Pesquisa "Estado, Instituições e Análise Econômica do Direito" - GPEIA

Qualquer que seja a perspectiva em que se analise a reforma previdenciária, ela aponta necessariamente para novas formas de exclusão social e desigualdade que afetam toda a sociedade e de maneira particular as mulheres – brancas, negras, trabalhadoras rurais, as trabalhadoras domésticas e a população jovem –, condenando-as à precariedade e à desproteção social. A proposta de desmonte despreza as desigualdades estruturais na sociedade e no mercado de trabalho, bem como os diferenciais de gênero, e promove um desmonte dos direitos e do acesso à previdência pública em um contexto em que se recriam e se expandem novas modalidades de exclusão e de segregação no mercado de trabalho com a ampliação de novas formas de contratação advindas da reforma trabalhista.

Uma das grandes virtudes do sistema de seguridade social brasileiro é precisamente a diferenciação das regras de acesso, que vem permitindo ampliar o número de pessoas beneficiadas e compensar, dessa forma, algumas das desigualdades estruturais do mercado de trabalho. Apesar de todos os avanços conquistados nas duas últimas décadas, a sociedade e o mercado de trabalho ainda são marcados por profundas desigualdades, sejam elas de gênero, de raça, regionais ou uma combinação dessas dimensões.

A reforma da Previdência só fará agravar ainda mais o frágil mercado de trabalho brasileiro, em que a formalização e a proteção social convivem lado a lado com a ilegalidade, a precariedade e a vulnerabilidade social. São milhões de pessoas que transitam entre o desemprego aberto e oculto e trabalhos com jornadas insuficientes, por conta própria ou informais. A impossibilidade de manter contribuições regulares por um período mais longo de tempo por aqueles que circulam no mercado de trabalho mostra o quanto já é difícil para a maioria conseguir cumprir o atual mínimo de quinze anos de contribuição.

De acordo com os dados da Previdência Social1 de 2014, as mulheres aposentadas pelo Regime Geral da Previdência Social (RGPS), seja por tempo de contribuição ou idade, se aposentam em média tendo cumprido 22,4 anos de contribuição. Se considerarmos o número médio de contribuições ao ano, que é de nove meses de contribuição, uma mulher precisará perfazer uma vida laboral de 29,8 anos para conseguir acumular 22,4 anos de contribuição cheios. Por idade, as mulheres alcançam, em média, 18,2 anos de contribuição; pelas novas regras propostas pela reforma, serão necessários, no mínimo, vinte anos de contribuição, o que inviabilizaria o acesso à aposentadoria aos 60 anos ou mesmo aos 62 anos de idade. Portanto, recuar da idade mínima para as mulheres sem alterar o tempo de contribuição é falácia!


Em janeiro de 2019, do total de benefícios concedidos para as mulheres (urbanas e rurais), 60% foram por idade, e os demais 40%, por invalidez e tempo de contribuição. O valor médio das aposentadorias concedidas corresponde a R$ 1.144,72 por idade e R$ 2.178,49 por tempo de contribuição. Esses são os privilegiados da previdência social!

O frágil mercado de trabalho brasileiro

Em 2018, conforme últimos dados disponíveis da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), a população em idade ativa no Brasil com 14 anos ou mais totalizava 170.565.689 pessoas. Desse total, 105.197.114 representavam a população economicamente ativa (PEA), e 65.368.574, a população fora da força de trabalho ou não economicamente ativa (Pnea). As mulheres representavam 65% desse total, e as mulheres negras, 57% sobre o total de mulheres.

Surpreende o elevado percentual de mulheres entre 20 e 39 anos na Pnea, 22%, enquanto que, entre os homens, para a mesma faixa etária, o percentual era de 15%. A condição de maior pobreza tem sido um obstáculo à inclusão das mulheres no mercado de trabalho. Dependendo da situação socioeconômica e da faixa etária, a taxa de participação das mulheres em relação à dos homens pode variar. Isso demonstra o quanto a condição de pobreza afeta sobretudo esse gênero. Para domicílio com renda per capita de até um quarto de salário mínimo, a diferença de taxa de participação entre os sexos pode alcançar 37,1 pontos entre 25 e 29 anos. No entanto, quando a renda é de mais de cinco salários mínimos, a diferença entre os sexos é de apenas 5,4% para a mesma faixa etária. A situação socioeconômica das mulheres é um fator decisivo para sua entrada e permanência no mercado de trabalho. Quanto mais pobres, mais tempo elas estarão afastadas do mercado de trabalho. Essa interrupção comprometerá de forma definitiva sua vida laboral.

As tarefas de cuidados são um grande limitador para as mulheres mais pobres. Em parte, o afastamento delas do mercado de trabalho, entre 25 e 29 anos, está associado à maternidade e à ausência de equipamentos públicos, o que impele as mais pobres a se afastarem temporariamente de alguma atividade remunerada para se dedicarem às atividades de cuidados, que envolvem grande quantidade trabalho e não estão restritas ao cuidado das crianças, incluindo também idosos, enfermos etc.

Precisamente, é em razão da dupla jornada que as mulheres se inserem em piores condições para cumprir com as tarefas de reprodução social. Portanto, é absolutamente relevante o debate sobre a necessidade de preservar o diferencial de tempo de contribuição e idade para mulheres e homens. Além de receberem remuneração que corresponde a 75% dos homens quando na ativa, se negras, seus salários equivalem, em média, a 44% dos do sexo masculino. Nos benefícios também há uma permanência desse hiato: as mulheres percebem, em média, o correspondente a 85% dos benefícios masculinos.

Esses condicionantes vão se refletir na presença das mulheres entre a população ocupada. Elas representavam 44% do total, no entanto são maioria entre as pessoas desempregadas – havia 12,94 milhões de desempregados no quarto trimestre de 2018, e as mulheres perfaziam 52%. O desemprego entre as mulheres praticamente dobrou, crescendo 90% na comparação entre os últimos trimestres de 2014 e 2018. Se desagregarmos ainda mais os dados, veremos que as mulheres negras constituem maioria: elas representavam 33% sobre o total de pessoas desempregadas. Ou seja, em cada dez desempregados no Brasil, entre três a quatro são mulheres negras. A faixa etária em que o desemprego mais se ampliou foi entre as pessoas com 60 anos ou mais: mulheres, 199,3%, e homens, 147,2%, entre 2012 e 2018. A reforma promete emprego até os 80 anos de idade!

Se ampliarmos o conceito de desocupação incorporando o desemprego aberto, a subocupação (insuficiência de horas efetivamente trabalhadas – em média, as pessoas que estão nessa condição trabalham em torno de 19 horas semanais) e a força de trabalho potencial, chegaremos a 26.976.159 pessoas. Esse é efetivamente o total de pessoas fora do mercado de trabalho ou em horas insuficientes. Desse total, as mulheres negras são maioria, 36%. O desemprego é o dobro entre os menos escolarizados. Entre as pessoas com até o ensino fundamental completo, 12% estão desempregadas; entre os de nível superior, o percentual é de 6%.

O propósito da reforma, entre outros, é postergar a saída do mercado de trabalho, o que coloca uma pressão sobre os jovens, que enfrentarão maiores barreiras à entrada no mercado de trabalho. Por causa da dificuldade de ingressar no mercado formal, reforçada pela proposta da carteira verde-amarela, esses jovens terão suas primeiras experiências na informalidade e no trabalho precário, gerando um círculo vicioso de precariedade que os acompanhará durante a maior parte de sua vida laboral. Dados de 2018 indicam que, do total de pessoas desempregadas, 54% são jovens entre 14 e 29 anos.

Por outro lado, é manifesta a resistência dos empregadores em contratar pessoas a partir de determinada faixa etária, quando são consideradas “velhas” para o mercado de trabalho. Com isso, cresce a inserção em empregos atípicos para as faixas acima dos 55 anos: na maior parte, são empregos em domicílio e singularizados pela precariedade – no caso das mulheres, vem crescendo sua presença com cuidadoras.

A informalidade e a não contribuição previdenciária 

A análise do perfil das pessoas ocupadas do ponto de vista dos rendimentos também nos oferece um retrato da precariedade de nosso mercado de trabalho, uma vez que a maioria está concentrada em ocupações de baixa produtividade e baixos salários que variam entre um e dois salários mínimos: 82% das mulheres negras, 63,4% das mulheres brancas, 72,6% dos homens negros e 50,5% dos homens brancos recebiam até dois salários mínimos no quarto trimestre de 2018. Essa característica é determinante para a definição dos benefícios em um futuro próximo. Em janeiro de 2019, 63,4% do valor dos benefícios concedidos para os trabalhadores urbanos e 99% para os rurais eram de até dois salários mínimos.

Uma das maiores conquistas nas duas últimas décadas foi a ampliação do emprego formal para ambos os sexos. Entretanto, desde 2015 observa-se uma reversão dessa tendência, de forma que chegamos a 2018 (quarto trimestre) com 44.529.429 pessoas na informalidade (empregos sem carteira, trabalho doméstico sem carteira, conta própria e trabalhadores familiares), o que já corresponde a 50,3% do total de ocupados, uma evolução de 8% entre 2014 e 2018, enquanto o emprego formal recuou na mesma proporção (–8%). Entre as pessoas ocupadas, tem-se 37,3% sem contribuição previdenciária. Com impactos sobre a contribuição previdenciária!

Entre os trabalhadores por conta própria, do total de 23.496.249 pessoas, 70% não contribuem para a previdência; no trabalho sem carteira assinada, são 11.542.064 pessoas, e 84% destas não contribuem para a previdência; no trabalho doméstico sem carteira, tem-se 4.492.548 pessoas (maioria mulheres), e 85% não contribuem para a previdência; e 29% dos empregadores e 31% dos trabalhadores do setor público sem carteira também não contribuem para a previdência. Esses totalizam 34.268.995 milhões de pessoas (ver tabela).

Se considerarmos as pessoas que estão em uma condição de subutilização da força de trabalho, que somam 26.976.159, teremos 61.244.154 milhões de pessoas no Brasil que estão foram do sistema de proteção social. Para a recomposição das receitas previdenciárias, é essencial criar empregos melhores e com direitos, combater a sonegação, eliminar a informalidade, formalizar os vínculos, reduzir a rotatividade. Isso, em conjunto com outras medidas, criará as condições necessárias para a sustentabilidade do sistema.