Olá alunos,
Incrível: menos de um mês após
crime da Samarco/Vale, senadores podem votar, hoje, lei que torna licenciamento
e fiscalização ambientais ainda precários. A proposta estabelece uma licença
ambiental única a ser concedida em torno de oito meses, sem previsão de
audiências públicas. Poderiam ser classificados como “estratégicos”
empreendimentos como extração de minério, estradas, ferrovias, aeroportos,
hidrelétricas, portos e linhas de comunicação. A postagem de hoje pretende
esclarecer sobre tal projeto de lei e onde refletiria em nossa vida pratica.
Esperamos que gostem e participem.
Joyce Borgatti e Palloma Borges.
Monitoras da disciplina “Economia Politica e
Direito” da Universidade Federal Fluminense.
Uma comissão do
Senado pode votar, na tarde desta quarta (25/11), um projeto que fragiliza o
principal instrumento para evitar desastres ambientais: o licenciamento
ambiental. A Câmara também pode apreciar, nas próximas semanas, o novo Código
de Mineração, que promete estimular como nunca a atividade no País, mas não
traz salvaguardas que protejam efetivamente o meio ambiente e populações
afetadas.
As
duas votações podem acontecer poucos dias depois do rompimento de uma barragem
de rejeitos de mineração da empresa Samarco, que destruiu o distrito de Bento
Rodrigues, em Mariana (MG), afetou dezenas de outros municípios entre Minas
Gerais e Espírito Santo, lançou uma onda de lama ao longo do Rio Doce,
praticamente destruindo seus ecossistemas, e agora deverá causar impactos
ambientais graves na costa capixaba, naquela que já é considerada a maior
tragédia ambiental do País. Denúncias dão conta de que o licenciamento
ambiental da barragem deveria ter sido mais rigoroso. A Samarco pertence à Vale
e à mineradora anglo-australiana BHP Billiton.
Por enquanto, já foram registradas 12 mortes e 11
pessoas continuam desaparecidas. A onda de lama interrompeu o fornecimento de
água de pelos menos 500 mil pessoas entre os dois estados. Ainda não se sabe
toda a extensão dos danos, mas os custos de reparação devem passar do patamar
de bilhões de reais. Não há previsão para a recuperação dos ecossistemas ao
longo do rio.
A proposta que pode ser votada nesta quarta é o
Projeto de Lei do Senado (PLS) 654/2015, de autoria do senador Romero Jucá
(PMDB-RR). Ele cria um “rito sumário” para o licenciamento ambiental de
empreendimentos que sejam considerados “estratégicos” pelo Poder Executivo
federal ou estadual, por meio de decreto. A proposta estabelece uma licença
ambiental única a ser concedida em torno de oito meses, sem previsão de
audiências públicas. Poderiam ser classificados como “estratégicos”
empreendimentos como extração de minério, estradas, ferrovias, aeroportos,
hidrelétricas, portos e linhas de comunicação (veja projeto e emendas).
A tendência é que, se aprovado o projeto, teriam um
licenciamento acelerado obras complexas com grandes impactos, justamente
aquelas que especialistas e organizações da sociedade civil consideram que
necessitam de processos de licenciamento mais cautelosos e eficazes.
“É um completo contrassenso que o Senado possa
aprovar um projeto que pretende reduzir drasticamente a prevenção de danos
socioambientais como os ocorridos após o rompimento da barragem da Samarco”,
critica Maurício Guetta, advogado do ISA. “O caso de Mariana, a exemplo de
outros tantos, deveria servir de lição para que o Congresso e o Poder Executivo
aprimore o licenciamento ambiental, evitando a ocorrência de danos
irreparáveis. Flexibilizá-lo será prejudicial a todos: meio ambiente,
populações afetadas, governos e o próprio empresariado.”
O relator da matéria é o senador Blairo Maggi
(PR-MT). O projeto está na Comissão Especial de Desenvolvimento Nacional em
caráter terminativo, ou seja, se aprovado segue diretamente para a Câmara sem
passar pelo plenário do Senado. Os parlamentares podem, porém, aprovar um
recurso para levar a proposta ao plenário. Essa comissão recebeu as propostas
da chamada “Agenda Brasil”, iniciativa do presidente do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), que supostamente visaria a enfrentar a crise econômica.
As assessorias do líder do governo no Senado,
Delcídio Amaral (PT-S), e de Maggi responderam que os parlamentares não
poderiam conceder entrevistas até o fechamento desta reportagem.
Código de Mineração
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
manifestou, há alguns dias, a intenção de levar o Projeto de Lei 37/2011, o
novo Código de Mineração, diretamente ao plenário, atalhando sua tramitação (saiba mais).
O parecer sobre a proposta ainda não foi oficialmente apresentado e discutido
pelos deputados na Comissão Especial que o analisava.
Sob a justificativa de simplificar e liberalizar a
burocracia relacionada à mineração, o relator, deputado Leonardo Quintão
(PMDB-MG), apresentou um parecer preliminar que aprofunda retrocessos para o
meio ambiente e os direitos de comunidades indígenas e tradicionais impactadas
pela atividade. Segundo Quintão, esse relatório teria sido elaborado junto com
técnicos do Ministério de Minas e Energia e teria apoio do Planalto (leia mais).
A assessoria do líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), informou
que ele só vai se pronunciar sobre o projeto quando for apresentado um
relatório final.
Quintão vem
argumentando que sua proposta não reforça salvaguardas ambientais, sociais e
trabalhistas porque já há legislações específicas que as garantiriam. Ele
também afirma que o parecer assegura recursos para as comunidades afetadas por
meio de verbas que serão destinadas aos municípios que abrigam empreendimentos
de mineração. Sem explicitar e detalhar formas de compensação e proteção
socioambientais, no entanto, o relatório não garante os direitos de populações
específicas diretamente atingidas.
Depois
do desastre de Mariana, ao invés de adiar a votação de seu parecer para
reavaliá-lo, Quintão vem empenhando esforços para acelerar a tramitação da
matéria. O deputado limitou-se a prometer algumas mudanças em seu relatório. O
site do parlamentar afirma que ele irá incluir na proposta um “seguro
antidanos” obrigatório para “cobrir prejuízos ao meio ambiente, às pessoas, à
infraestrutura urbana e à economia local em caso de catástrofes”. Também
promete estabelecer a exigência de que as mineradoras apresentem planos para o
tratamento de resíduos de barragem que permitam sua reutilização (leia aqui).
Para
Maurício Guetta, essas medidas são insuficientes e deixam de contemplar ações
preventivas para evitar tragédias como a de Mariana. “Faz mais de dois anos que
cobramos do relator alterações substanciais no texto, para que sejam incluídas
medidas de prevenção de danos decorrentes das atividades minerárias e para que
sejam garantidos os direitos das populações afetadas e dos trabalhadores. Mesmo
após o desastre de Mariana, ele continua a ignorar as demandas apresentadas”,
denuncia Guetta.