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domingo, 13 de dezembro de 2015

A suposta ascensão e queda dos BRICS



Olá alunos,

As aspirações dos BRICS estão atingindo níveis cada vez mais altos. Porém, levando-se em consideração a atual situação de seus países membros como, principalmente, Brasil, Rússia e África do Sul, com um mau desempenho econômico, faria repensar a grande revolução na ordem econômica internacional proposta por eles. A postagem de hoje pretende trazer maiores esclarecimentos sobre a temática, buscando uma abordagem mais realista do mesmo.

Esperamos que gostem e participem.
Joyce Borgatti e Palloma Borges
Monitoras da disciplina “Economia Política e Direito” da Universidade Federal Fluminense.

É radicalmente díspare a maneira com que diferentes atores e grupos de interesse abordam o papel dos Brics no cenário global.

Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul querem mais Brics. Os mercados financeiros, aparentemente, menos.

Tais diferenças de perspectiva revelam uma curiosa combinação de, por um lado, fantasias irrealizáveis com, por outro, análises “binárias”. Na maioria dos casos, tais abordagens são bastante superficiais.

Num extremo, a noção de que o grupo está revolucionando a ordem econômica internacional por meio do estabelecimento de novas instituições, como o NBD (Novo Banco de Desenvolvimento), com capital de US$ 100 bilhões, ou o Arranjo Contingente de Reservas, de igual montante, que permite aos países assistência mútua no advento de crises de liquidez.

A partir dessa plataforma, outras obras conjuntas seriam erguidas – ou ações táticas empreendidas – em palcos como as Nações Unidas.

A abstenção por parte dos Brics em votação na ONU que visava à condenação da Rússia por haver aproveitado o tumulto na Ucrânia para anexar a Crimeia seria exemplo de tal força de coordenação dos Brics.

Os cinco países-membros partiriam para coordenação macroeconômica mais sofisticada, e até mesmo a conclusão de transações comerciais entre si em outra moeda que não o dólar norte-americano. Ou seja, os Brics como polo, se não antiocidental, ao menos “alternativo” ao Ocidente.

Noutro, a decretação do “fim” dos Brics. O mau desempenho econômico de Brasil, Rússia e África do Sul – e a redução dos percentuais de crescimento da China – apontariam que a validade do conceito “expirou”.

O último lance nessa tese declinista vem da interpretação, por parte do mercado financeiro, de uma recente decisão do banco de investimento Goldman Sachs.

O desalento de operadores financeiros com os Brics não é apenas questão de modismo. Com exceção da Índia, todos subperformam – porque estão errando muito.

A instituição há pouco anunciou que estava encerrando seu fundo específico sobre Brics, realocando ativos para outros veículos de investimento rotulados sob o conceito mais amplo de “mercados emergentes” (de que os Brics também fazem parte).

Tal decisão parece ainda mais simbólica, pois foi a partir de um estudo conduzido por Jim O’ Neill no próprio banco que o termo “Brics” ganhou grande notoriedade.

Quando, há cinco anos, Christian Déséglise e eu fundamos o BRICLab (um centro para o estudo dos Brics) na Universidade Columbia, em Nova York, nosso intuito não era alardear um futuro da economia global dominado pelos Brics.

Tampouco tratava-se de sugerir, pelas muitas diferenças internas que marcam o grupo, que suas iniciativas conjuntas e mesmo seu potencial econômico rumavam inexoravelmente para o fracasso.

Achamos que a ideia de Brics era (e continuará) válida como fórmula para comparar as estratégias (ou a falta delas) em projetos de poder, prosperidade e prestígio de quatro (China, Índia, Rússia e Brasil) das sete maiores economias do mundo (medidas pelo poder de paridade de compra) tanto pelos cálculos do FMI como do Banco Mundial em 2014.

Além de seu papel relativo na economia global, esses países são superlativos em território, população e influência regional, além de acomodar importante estoque do fluxo global de investimento estrangeiro direto (IED).

Obviamente, o desalento de operadores financeiros com os Brics não é apenas questão de modismo. Com exceção da Índia, todos subperformam – porque estão errando muito.

A China superestimou a velocidade com que a mudança de seu modelo econômico migraria da ênfase em poupança, investimento e exportações para o foco no consumo interno.

A Rússia pagou para ver na disposição do Ocidente em aceitar passivamente a irradiação de seu vulto de poder sobre a vizinhança na Europa Oriental. Além do que, economicamente fez pouco para diminuir sua dependência na exportação de commodities. E as agruras brasileiras são bem conhecidas.

Ainda assim, os Brics continuarão. Nos vários níveis de governo, academia e empresariado a cooperação no âmbito dos Brics aumenta.

A construção institucional vai se expandir e com isso aumentar o peso específico dos Brics em áreas como o financiamento do desenvolvimento ou o comércio e investimento intragrupo.
Não vale, contudo, acreditar ingenuamente que esses movimentos redesenharão em definitivo a ordem internacional.

Bem como a notícia da morte de Mark Twain, rumores sobre o fim prematuro dos Brics são “amplamente exagerados”. Não há nada de automático ou definitivo em torno da potencial queda ou ascensão do grupo ou de seus membros.

Neste momento, a melhor coisa que os Brics poderiam fazer para melhorar sua projeção global seria colocar a casa econômica em ordem. E, claro, tal tarefa se impõe na presente conjuntura menos a Índia e China –e muito mais a Rússia e Brasil.


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