Olá
alunos,
As
aspirações dos BRICS estão atingindo níveis cada vez mais altos. Porém,
levando-se em consideração a atual situação de seus países membros como,
principalmente, Brasil, Rússia e África do Sul, com um mau desempenho
econômico, faria repensar a grande revolução na ordem econômica internacional
proposta por eles. A postagem de hoje pretende trazer maiores esclarecimentos
sobre a temática, buscando uma abordagem mais realista do mesmo.
Esperamos que gostem e participem.
Joyce Borgatti e Palloma Borges
Monitoras da disciplina “Economia
Política e Direito” da Universidade Federal Fluminense.
É
radicalmente díspare a maneira com que diferentes atores e grupos de interesse
abordam o papel dos Brics no cenário global.
Brasil,
Rússia, Índia, China e África do Sul querem mais Brics. Os mercados
financeiros, aparentemente, menos.
Tais
diferenças de perspectiva revelam uma curiosa combinação de, por um lado,
fantasias irrealizáveis com, por outro, análises “binárias”. Na maioria dos
casos, tais abordagens são bastante superficiais.
Num
extremo, a noção de que o grupo está revolucionando a ordem econômica
internacional por meio do estabelecimento de novas instituições, como o NBD
(Novo Banco de Desenvolvimento), com capital de US$ 100 bilhões, ou o Arranjo
Contingente de Reservas, de igual montante, que permite aos países assistência mútua
no advento de crises de liquidez.
A
partir dessa plataforma, outras obras conjuntas seriam erguidas – ou ações
táticas empreendidas – em palcos como as Nações Unidas.
A
abstenção por parte dos Brics em votação na ONU que visava à condenação da
Rússia por haver aproveitado o tumulto na Ucrânia para anexar a Crimeia seria
exemplo de tal força de coordenação dos Brics.
Os
cinco países-membros partiriam para coordenação macroeconômica mais
sofisticada, e até mesmo a conclusão de transações comerciais entre si em outra
moeda que não o dólar norte-americano. Ou seja, os Brics como polo, se não
antiocidental, ao menos “alternativo” ao Ocidente.
Noutro,
a decretação do “fim” dos Brics. O mau desempenho econômico de Brasil, Rússia e
África do Sul – e a redução dos percentuais de crescimento da China –
apontariam que a validade do conceito “expirou”.
O
último lance nessa tese declinista vem da interpretação, por parte do mercado
financeiro, de uma recente decisão do banco de investimento Goldman Sachs.
O
desalento de operadores financeiros com os Brics não é apenas questão de
modismo. Com exceção da Índia, todos subperformam – porque estão errando muito.
A
instituição há pouco anunciou que estava encerrando seu fundo específico sobre
Brics, realocando ativos para outros veículos de investimento rotulados sob o
conceito mais amplo de “mercados emergentes” (de que os Brics também fazem
parte).
Tal
decisão parece ainda mais simbólica, pois foi a partir de um estudo conduzido
por Jim O’ Neill no próprio banco que o termo “Brics” ganhou grande
notoriedade.
Quando,
há cinco anos, Christian Déséglise e eu fundamos o BRICLab (um centro para o
estudo dos Brics) na Universidade Columbia, em Nova York, nosso intuito não era
alardear um futuro da economia global dominado pelos Brics.
Tampouco
tratava-se de sugerir, pelas muitas diferenças internas que marcam o grupo, que
suas iniciativas conjuntas e mesmo seu potencial econômico rumavam
inexoravelmente para o fracasso.
Achamos
que a ideia de Brics era (e continuará) válida como fórmula para comparar as
estratégias (ou a falta delas) em projetos de poder, prosperidade e prestígio
de quatro (China, Índia, Rússia e Brasil) das sete maiores economias do mundo
(medidas pelo poder de paridade de compra) tanto pelos cálculos do FMI como do
Banco Mundial em 2014.
Além
de seu papel relativo na economia global, esses países são superlativos em
território, população e influência regional, além de acomodar importante
estoque do fluxo global de investimento estrangeiro direto (IED).
Obviamente,
o desalento de operadores financeiros com os Brics não é apenas questão de
modismo. Com exceção da Índia, todos subperformam – porque estão errando muito.
A
China superestimou a velocidade com que a mudança de seu modelo econômico
migraria da ênfase em poupança, investimento e exportações para o foco no
consumo interno.
A
Rússia pagou para ver na disposição do Ocidente em aceitar passivamente a
irradiação de seu vulto de poder sobre a vizinhança na Europa Oriental. Além do
que, economicamente fez pouco para diminuir sua dependência na exportação de
commodities. E as agruras brasileiras são bem conhecidas.
Ainda
assim, os Brics continuarão. Nos vários níveis de governo, academia e
empresariado a cooperação no âmbito dos Brics aumenta.
A
construção institucional vai se expandir e com isso aumentar o peso específico
dos Brics em áreas como o financiamento do desenvolvimento ou o comércio e
investimento intragrupo.
Não
vale, contudo, acreditar ingenuamente que esses movimentos redesenharão em
definitivo a ordem internacional.
Bem
como a notícia da morte de Mark Twain, rumores sobre o fim prematuro dos Brics
são “amplamente exagerados”. Não há nada de automático ou definitivo em torno
da potencial queda ou ascensão do grupo ou de seus membros.
Neste
momento, a melhor coisa que os Brics poderiam fazer para melhorar sua projeção
global seria colocar a casa econômica em ordem. E, claro, tal tarefa se impõe
na presente conjuntura menos a Índia e China –e muito mais a Rússia e Brasil.
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