Olá alunos,
A história do
capitalismo foi retratada pelo autor Thomas Piketty em sua obra “O Capitalismo
do século XXI”, fazendo com que haja uma discussão, a partir do conhecimento
histórico, sobre o futuro. A postagem de hoje busca uma maior compreensão dos
desafios que encontramos hoje , de acordo com esse olhar diferenciado da
história.
Esperamos
que gostem e participem.
Joyce
Borgatti e Palloma Borges.
Monitoras
da disciplina “Economia Política e Direito” da Universidade Federal Fluminense.
“O
Capitalismo no século XXI”, de Thomas Piketty, é uma obra de impacto porque vai
às raízes do capitalismo, demonstra sua dinâmica histórica e indica desafios
para o futuro. Piketty se volta para a literatura clássica para olhar a
história e ver como era a vida naquele momento (que hoje faz parte da
história), buscando compreendê-la.
O
ano é 1683, quando, aos 70 anos, a senhora Moll Flanders narra sua vida. É a
história dessa mulher que Daniel Defoe (1660-1731), escritor e jornalista
inglês, conta em “As venturas e desventuras da Sra. Moll Flanders”, considerada
como prosa inglesa moderna do século XVIII, e que se trata de belíssima
literatura.
Retrato de época
Daniel
Defoe produziu uma obra literária que se tornou clássica com livros como
“Robinson Crusoé” e “Moll Flanders”, que foram publicados em um período de seis
anos (1719 a 1724). A história da senhora Moll é em parte autobiografia do
trabalho do próprio autor como comerciante/viajante, da pesquisa na cadeia
quando preso, e enfim, é o registro em prosa da leitura de uma vida, de um
tempo e de uma realidade.
Além
da narrativa de um momento histórico, e estamos falando de 350 anos atrás,
Defoe traz a questão da mulher para o centro da história, relatando, em
primeira pessoa, uma vida intensa, como afirmou Virginia Woolf em 1919, “...
desde o começo é posto sobre ela (Moll) o ônus de existir. Ela depende de sua
própria inteligência e raciocínio para enfrentar cada situação que surge, com
uma moralidade de ordem prática que ela mesma forjou para si”.
Mas,
estamos no nascedouro da revolução industrial, na base da transição da economia
de mercado para a forma capitalista. Moll sai da província e vai viver em
Londres, contando as peripécias engendradas para acumular capital para gerar
garantia de renda presente e futura, condição para não viver na pobreza, nem
submetida e ou subordinada. Acumular capital é condição para sua liberdade.
Com
a palavra Moll:
“Logo
aprendi, por experiência própria, que no tocante a matrimônio a situação
mudara, e eu não deveria esperar em Londres o que tivera na província; aqui os
casamentos resultavam de cálculos políticos para reunir interesses e fechar
negócios, e o amor tinha pouca ou nenhuma participação no assunto. Como
dissera minha cunhada de Colchester, beleza, inteligência, cortesia, bom senso,
conduta, educação, virtude, piedade ou qualquer outro atributo, físico ou
moral, não era recomendação para uma mulher, pois só o dinheiro a tornava
atraente; os homens escolhiam as amantes por afeto, e uma cortesã tinha que ser
bela, bem-feita, ter rosto gracioso e fino comportamento; com relação à esposa,
não havia deformidade que chocasse o gosto, nem defeito que alterasse a
escolha: era o dinheiro que contava, o dote nunca era disforme ou monstruoso, o
dinheiro era sempre agradável, não importava como fosse a esposa”.
Dinheiro
As
libras percorrem cada página, criando a moral correspondente, indicando o
cálculo econômico para a sobrevivência, para a poupança e para a formação do
capital, os investimentos e a forma de obter renda presente e acumular a
riqueza futura.
É
próprio para o capital obter taxas de retorno superior ao crescimento
econômico, produzindo e ampliando as desigualdades sociais. Defoe revela, na
história de vida contada por Moll, as fontes da origem daquilo que Piketty
analisa com grande acuidade, algumas das engrenagens do capitalismo. Leitura
para entender o passado, resignificar o presente e para lutar por outro futuro.
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