web counter free

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Manifestações: Rio e São Paulo cedem e reduzem tarifa do transporte


Olá alunos, 

Diante da onda de manifestações clamando pela redução da tarifa do transporte, os prefeitos do Rio de Janeiro e de São Paulo, além de outros Brasil afora, viram-se obrigados a atender a demanda popular.
Esperamos que gostem e participem.

Lucas Dadalto e Silvana Gomes
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense 


Pressionados pelos maiores protestos em duas décadas no Brasil, as prefeituras de Rio de Janeiro e São Paulo cederam e anunciaram, nesta quarta-feira (19/06), a revogação do aumento das tarifas de transporte público nas cidades.

Em São Paulo, o prefeito Fernando Haddad e o governador Geraldo Alckmin comunicaram que as passagens de trem, metrô e ônibus passarão, a partir de segunda-feira, dos atuais 3,20 para 3 reais. No Rio, como anunciou o prefeito Eduardo Paes, a redução será nas tarifas de ônibus – de 2,95 para 2,75 reais. Em nota, o governo estadual do Rio informou que metrôs, trens e barcas também serão reduzidas.

“Vamos revogar o reajuste dado, voltando à tarifa antiga”, anunciou Alckmin, em entrevista coletiva. “Será um sacrifício grande. Temos que cortar investimentos já que as empresas não podem arcar com os custos. Mas entendo que é importante.”

O anúncio ocorre um dia após a sexta manifestação em São Paulo, uma das mais violentas. O ato reuniu milhares de pessoas e concentrou-se em frente ao prédio da prefeitura, que sofreu tentativa de invasão. Na manhã desta quarta, houve mais três novos protestos na cidade, mas de menores proporções.

No Rio de Janeiro, o maior protesto foi na segunda-feira passada. Na ocasião, policiais entraram em confronto com um grupo de cerca de 300 manifestantes, após a invasão da Assembleia Legislativa. Na entrevista coletiva desta quarta-feira, Paes criticou o episódio.
“São pessoas que não sabem viver em um ambiente democrático e de respeito”, afirmou o prefeito do Rio.

O maior protesto desta quarta-feira foi em Fortaleza, nos arredores do estádio Castelão, que recebeu a partida entre Brasil e México pela Copa das Confederações. Cerca de 30 mil pessoas tentaram marchar em direção ao estádio e furaram um bloqueio armado pela polícia, que respondeu com bombas de efeito moral. Alguns manifestantes revidaram com pedras.


segunda-feira, 24 de junho de 2013

Com menos de 1,5% do comércio global, Brasil tem 9% das disputas na OMC


Olá alunos,

A recente eleição do embaixador Roberto Azevêdo para a direção-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) jogou luz sobre a relação entre esta e o Brasil. Nesse sentido, salta aos olhos a discrepância entre a participação brasileira no comércio global e o número de disputas envolvendo o país na organização. 
Esperamos que gostem e participem.

Lucas Dadalto e Silvana Gomes
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense

A partir do dia 1º de setembro, o embaixador brasileiro Roberto Azevêdo ocupará a direção-geral da OMC. Tanto ele quanto o governo brasileiro afirmam, porém, que ele não usará sua posição para defender as posições brasileiras.
Segundo levantamento feito pela BBC Brasil com base nos dados da organização, o Brasil tem um total de 40 disputas na OMC, sexto maior número entre os países ou blocos membros, entre um total de 458 disputas.
Os países ou blocos com maior número de disputas são Estados Unidos (224), União Europeia (160), Canadá (50), Índia (43) e China (41). A Argentina tem o mesmo número de disputas que o Brasil.
Entretanto, quando analisadas as disputas nas quais o Brasil aparece como reclamante, o país tem o quarto maior número de disputas, com 26, atrás somente de Estados Unidos, União Europeia e Canadá, mas é alvo de 14 queixas, apenas o oitavo maior número.
Entre os países que são alvos de mais queixas que o Brasil estão a Argentina (22 queixas), a China (30) e a Índia (22).

Alvos brasileiros

Os Estados Unidos são o principal alvo das queixas feitas pelo Brasil à OMC, com dez disputas. Entre elas está a queixa brasileira sobre os subsídios americanos à produção de algodão, após a qual o Brasil ganhou o direito – até hoje não exercido, após um acordo entre os países – de adotar retaliações comerciais contra os Estados Unidos no valor de até US$ 829 milhões.
A disputa sobre o algodão, na qual Azevêdo teve participação como representante da missão permanente do Brasil na OMC, é considerada um dos casos mais importantes já mediados pela organização.
A União Europeia é alvo do segundo maior número de queixas feitas pelo Brasil, com sete disputas no total, em sua maioria relacionadas a produtos agrícolas.
O caso de maior repercussão com a União Europeia, no qual Azevêdo também teve participação importante, foi a contestação brasileira aos subsídios europeus à produção de açúcar, que violariam as regras internacionais de comércio e distorceriam o mercado internacional do produto.
A OMC deu ganho de causa em 2004 ao Brasil e a outros dois países coautores da queixa (Tailândia e Austrália).
Outro caso de destaque do Brasil na OMC foi a disputa com o Canadá envolvendo os subsídios à produção de aeronaves, alvos de três queixas do Brasil contra o Canadá e de uma do Canadá contra o Brasil.
Estados Unidos e União Europeia tiveram o maior número de queixas contra o Brasil, quatro cada um.


Crise econômica faz espanhóis rejeitarem heranças


Olá alunos, 

A severa crise econômica que tem abatido a Espanha nos últimos anos acarretou a ocorrência de um fenômeno curioso: o aumento do número de renúncia de heranças. Isso se explica, em grande parte, pelo fato de o herdeiro ter de arcar com todas as dívidas deixadas pela pessoa falecida, que, não raro, possuem valor superior ao do patrimônio.
Esperamos que gostem e participem. 

Lucas Dadalto e Silvana Gomes
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense

De acordo com um relatório do Conselho Geral de Tabeliões da Espanha, entre 2007 e 2012 as renúncias a heranças subiram mais de 110% no país. Apenas no ano de 2012, o aumento em renúncias a heranças chegou a 23%.
Na Espanha, ao aceitar uma herança, o beneficiário precisa arcar com todas as obrigações que os parentes arcaram durante a vida. De acordo com a lei espanhola, uma aceitação de herança (sem condições) implica na aceitação de suas dívidas.
Uma das pessoas que decidiu renunciar ao que tinha herdado em 2012 foi Maria N., de 42 anos, que prefere não divulgar seu sobrenome.
A doença repentina do marido e sua morte deixou Maria viúva com duas filhas pequenas, uma dívida de US$ 38 mil (quase R$ 78 mil) de cartões de crédito e um empréstimo pessoal feito para cobrir os gastos com o tratamento médico.
"Minha economia, que tinha uma certa estabilidade, passou a ser de risco. Isto significou uma mudança de uma casa para um apartamento pequeno, sem internet nem telefone fixo, para pagar advogados e todo o resto", afirmou Maria à BBC Mundo.
A única herança que o marido deixou foi um seguro de vida no valor de US$ 19.465 (quase R$ 40 mil), que seria dividido entre os filhos mais velhos dele com outra mulher, Maria e as duas filhas. Mas as dívidas eram maiores que este montante.
Os filhos mais velhos fizeram os cálculos e renunciaram a este dinheiro em favor das irmãs, filhas de Maria. Depois de um ano da morte de seu marido, ela resolveu aceitar sua parte do seguro de vida e usá-lo para pagar dívidas.

Problema comum

As dívidas familiares são as principais causas das renúncias às heranças, segundo o porta-voz do Conselho Geral de Tabeliões, Alfonso Cavallé. 
"Entre 1995 e 2007 houve um aumento enorme na concessão de empréstimos e, se levarmos em conta que o salário médio de uma família não teve um grande aumento, a consequência prática é que as famílias estão endividadas e é frequente que as dívidas superem os ativos", afirmou.
Cavallé disse que as dívidas de hipotecas são as mais comuns nos testamentos, mas também existem as dívidas como no caso de Maria N.
O tabelião afirma que entre os que renunciam estão os herdeiros de grandes patrimônios que se endividaram devido a maus investimentos e também trabalhadores de classe média que perderam o emprego e não puderam pagar os empréstimos.
Os altos impostos que os herdeiros precisam pagar pela herança também levam à renúncia. Os impostos variam de acordo com o patrimônio e podem chegar a 40% do valor a receber.
Quando os herdeiros não têm parentesco sanguíneo, o valor sobe. Em, em algumas regiões autônomas da Espanha como Galícia e Valência, os impostos podem superar os 90% do valor total da herança.
Mas, segundo o advogado José Peinado, outra prática também se popularizou nos últimos quatro anos devido à crise econômica: como há cada vez mais imóveis nas heranças em vez de dinheiro, os herdeiros escolhem esperar até aceitar oficialmente a herança.
O advogado explicou à BBC Mundo que aceitar este tipo de herança agora significaria ficar com uma casa que não se pode vender em um mercado imobiliário em recessão. E arcar com os gastos de tabelião e tributários.
O Código Civil espanhol não estabelece prazos para aceitar uma herança, e o Ministério da Fazenda dá um prazo de até um ano para pagar o imposto.
Mas, se não se registra a escritura do que se herdou, é como se a herança não existisse, afirmou o advogado. E, depois de quatro anos, o pagamento pendente prescreve.

Pague o que puder

 

Uma alternativa para aceitar uma herança de acordo com a lei espanhola é assumir as dívidas que o próprio patrimônio do falecido possa pagar.
Juana Vacas, uma idosa de uma família pobre de camponeses sem estudos, não sabia desta opção ao aceitar a herança de sua filha, Purificación.
A herança de sua filha incluía também uma dívida de hipoteca que se acumulou por cinco anos.
Depois da morte de Purificación, Juana foi ao tabelião do vilarejo de Torredelcampo, na província de Jaén (sul da Espanha). O encarregado disse que a filha tinha deixado para ela parte de um imóvel e 18 euros (cerca de R$ 47), mas não mencionou que ela também assumiria as dívidas.
"Como não sabia nada disso, minha mãe disse que sim e acabou aceitando uma herança pura. Não falaram nada para ela, não leram nada, não explicaram nada", afirmou Encarnación Armenteros, outra filha de Juana, à BBC Mundo.
Depois de 20 dias, ela foi avisada que seria executada uma dívida de hipoteca no valor de US$ 78 mil (cerca de R$ 160 mil). O único bem que Juana poderia usar para pagar era sua própria casa.
Encarnación Armenteros garante que sua irmã também não sabia desta dívida, pois quando era viva Purificación sofria de um problema psicológico e não verificava o que assinava.
Agora, ela levou o problema para a imprensa, e o banco anulou a dívida de Juana.
Encarnación pediu na Justiça a anulação da herança, pois existem outras dívidas relativas as serviços pendentes, impostos, previdência social etc. Estas dívidas ainda colocam a casa de Juana em risco.
O pedido de Encarnación conta com o apoio de milhares de assinaturas em um site na internet, e o tribunal deve dar sua decisão no dia 26 de junho.


quinta-feira, 20 de junho de 2013

Como a China gasta suas reservas bilionárias?


Olá alunos, 

O presente texto elucida de que forma o país que possui a maior reserva de moeda estrangeira e a segunda maior economia do mundo - além de ser grande detentor de títulos da dívida pública de países europeus e dos Estados Unidos - lida com tamanho capital.
Esperamos que gostem e participem.

Lucas Dadalto e Silvana Gomes
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense


É possível ter uma coisa boa em excesso?
A pergunta vem do fato de que, enquanto muitos governos ocidentais têm de se preocupar com seus crescentes deficit comerciais, a China tem o problema oposto.
Graças ao seu sucesso como país exportador, a China tem as maiores reservas de moeda estrangeira do mundo. E essas reservas não param de crescer - chegaram a um recorde de US$ 3,44 trilhões.
Com todos os zeros, essa soma é US$ 3.440.000.000.000, equivalente ao tamanho da poderosa economia alemã.
O conteúdo das reservas é um segredo de Estado, mas um relatório divulgado anos atrás no periódico China Securities Journal revelou que 65% delas consistem em dólares, 26% em euros, 5% em libras e 3% em ienes.
A China é a maior detentora de títulos da dívida do governo americano, depois do Fed (banco central americano). Também tem títulos da dívida de governos europeus, mas não tantos títulos de países periféricos endividados - pelo menos não tantos quanto a zona do euro gostaria.
No pico da crise do euro, a moeda comum europeia subia a cada sinal de que a China planejava comprar títulos europeus.
Você pode achar que ter um superavit comercial como o chinês seja uma boa notícia. Mas, segundo autoridades do banco central da China, a situação acabou causando um problema, por causa do câmbio fixo chinês.

Desafios
As reservas internacionais ajudam a proteger a moeda de um país de ataques, já que a venda de moedas estrangeiras ajuda a sustentar o valor da moeda local. Os bancos centrais aprenderam essa lição após a crise financeira da Ásia, em 1997.
A China permite que o yuan flutue até 1% para mais ou menos, e as reservas ajudam nisso. Mas não está claro qual a quantidade de reservas que um país realmente precisa.
Não se trata apenas do temor de que o dólar ou o euro se depreciem. A preocupação é também de que as reservas contribuam para um excesso de dinheiro na economia. Isso tem levado ao aumento de preços, inclusive de habitação.
Quando um banco central acumula reservas, ele imprime dinheiro (yuan) para comprar os dólares, euros, libras e ienes que acrescenta a essas reservas. Para impedir que isso gere inflação (imagine o que aconteceria se a China imprimisse US$ 3,4 trilhões à sua economia, que movimenta US$ 8 trilhões), o BC "esteriliza" suas ações tirando a quantidade de dinheiro equivalente da economia.
A China faz isso pagando juros ao dinheiro que bancos comerciais depositam no Banco Central, para incentivar os bancos a deixar seu dinheiro ali.
A esterilização tende a ser incompleta, já que os bancos buscam taxas de remuneração maiores em outros investimentos, em vez de deixar todo seu dinheiro no BC.
Além disso, há a preocupação de que o BC não esteja obtendo um grande retorno nessas reservas, já que os yields (taxas de juros) de títulos das dívidas europeias e americanas são baixos.
Então, a China usa essas reservas para financiar investimentos no exterior. Pequim quer comprar ativos reais - como portos, recursos naturais, tecnologia e companhias financeiras.
Isso contribui para seu objetivo de criar multinacionais chinesas.

Política de expansão

Ter empresas competitivas globalmente poderia ajudar a China a aumentar sua capacidade tecnológica e sua produtividade, algo crucial para sustentar seu crescimento. A China gostaria de seguir o exemplo de outros que enriqueceram - como a Coreia do Sul ou Taiwan - e desenvolver marcas internacionais, como Samsung e HTC.
Essa era a meta quando Pequim lançou sua política global, em 2000. O primeiro investimento comercial no exterior foi em 2003-04, na Europa, quando a empresa chinesa TCL comprou a marca francesa Thomson.
Desde então, seus investimentos estrangeiros aumentaram exponencialmente e atingiram níveis recordes, superando os internos - dado que geralmente indica que um país está chegando ao nível de desenvolvimento econômico.
A maioria desses investimentos chineses tem ido para outras partes da Ásia, para a América Latina e a Europa.
Para investir no exterior, as empresas chinesas necessitam de autorização oficial, já que o governo do país é o controlador de movimentos de capitais. Sendo assim, os investimentos chineses vão para onde a China tem interesse em crescer - não apenas recursos naturais, mas também tecnologia e serviços com valor agregado. É por isso que os países que mais recebem esses investimentos (com exceção de Hong Kong e Ilhas Cayman) são Austrália, Cingapura e EUA.

Política

No entanto, o capital chinês nem sempre é bem recebido. Investimentos de origem estatal podem gerar desavenças políticas, como já ocorreu nos EUA e na Austrália.
E empresas privadas chinesas têm dificuldades em operar, por conta da falta de transparência quanto ao que é privado e o que é ordenado pelo Estado. Isso indica uma necessidade de reformas na China, para deixar claras as fontes de financiamento em seus negócios internacionais e a real posse de empresas chinesas.
Ao mesmo tempo, a China não deve continuar tendo os grandes superavit comerciais do passado.
Em 2012, o superavit caiu para menos de 3% do PIB - chegara a 10% antes da crise de 2008. Os chineses não estão exportando tanto por conta da menor demanda externa, então é improvável que acumulem tantas reservas quanto antes.
Isso também significa que será mais importante que os investimentos chineses no exterior sejam bem vistos, já que a China dependerá mais de multinacionais produtivas e competitivas para continuar crescendo. E essas empresas precisarão cada vez mais se financiar de maneira competitiva.
Certamente veremos mais empresas chinesas disputando terreno global. Seu sucesso será importante não apenas para as próprias empresas, mas para o próprio futuro da China.

Uma utopia ao alcance das mãos



Olá alunos,

A postagem de hoje proporciona uma reflexão acerca da necessidade de repensarmos a estrutura social na qual estamos inseridos - pautada pela associação entre trabalho e renda. No texto, são abordadas as principais discussões sobre a ideia de renda mínima incondicional. 
Esperamos que gostem e participem.

Lucas Dadalto e Silvana Gomes
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense 

Trabalhamos e, graças ao trabalho, recebemos dinheiro. Essa lógica está tão arraigada na mente das pessoas que sugerir uma inversão da ordem das coisas inevitavelmente levanta dúvidas sobre a saúde mental de quem o fez. A perspectiva de instaurar uma renda incondicional, ou seja, prover cada um com uma quantia mensal suficiente para lhe permitir viver, independentemente de sua atividade assalariada, aparece como uma aberração. Ainda estamos convencidos de ter de arrancar de uma natureza árida e ingrata os meios de nossa subsistência individual; mas a realidade é bem diferente.

Bolsas de estudo, licença-maternidade, pensões, bolsa família, indenizações por demissão: muitos benefícios que têm em comum o fato de dissociar renda e trabalho. Por mais insuficientes que sejam e por mais atacados que possam se revelar todos esses dispositivos, eles mostram que, se a renda mínima incondicional é uma utopia, trata-se de uma utopia que “já existe”. Na França, em 2005, a renda da população dependia 30% da redistribuição: “Apesar de todos os discursos ideológicos e da liquidação do Estado social, vilipendiado pelos neoliberais, a parcela da transferência de renda aumentou inexoravelmente sob os presidentes Mitterrand, Chirac e Sarkozy”. E não seria muito difícil mover novamente o cursor para garantir que todos estejam ao abrigo da necessidade.

Tendo em mente que a primeira consequência de uma renda básica é eliminar o desemprego como um problema – tanto como questão social quanto como fonte de ansiedade do indivíduo –, seria possível economizar, de início, as somas envolvidas na busca do objetivo oficial do pleno emprego. Nada mais justificaria os presentes dados às empresas para incentivá-las a contratar. Além disso, por ser a renda garantida universal e incondicional – ela é concedida a todos, pobres e ricos, estes últimos a recebendo como reembolso por meio do imposto –, as economias seriam realizadas eliminando todo o trabalho administrativo relacionado ao acompanhamento de beneficiários da assistência social, questionável por seu caráter humilhante, intrusivo e moralizador.

Mas antes de prosseguir, e já que começamos, é importante definir bem do que exatamente estamos falando. Uma medida defendida nos anos 1960 por economistas tão diferentes como James Tobin – também por trás da proposta de taxação das transações financeiras – e o liberal Milton Friedman tem de fato motivos para inspirar perplexidade. Essa grande lacuna permanece até hoje: na França, a renda garantida defendida por Christine Boutin (Partido Cristão-Democrata) não é a mesma que a apoiada por Yves Cochet (Verdes) ou pelo Movimento Utopia, transversal aos Verdes e ao Partido de Esquerda.

Com um montante muito inexpressivo para que se possa dispensar o emprego, a renda básica propagada pelos liberais funciona como um subsídio para as empresas e se inscreve em uma lógica de desmantelamento da proteção social: é a perspectiva do imposto negativo de Friedman. Em suas versões de esquerda, ao contrário, ela deve ser suficiente para viver – mesmo que a definição de “suficiente”, suspeitamos, dê margem a perguntas espinhosas. E não a concebemos sem uma defesa conjunta dos serviços públicos e dos seguros sociais (pensões, auxílio-desemprego ou doença), bem como alguns benefícios sociais. Há também acordo sobre algumas outras características: ela deveria ser paga mensalmente a cada indivíduo, do nascimento até a morte (os menores recebendo uma quantia mais reduzida que a dos adultos), e não a cada lar; nenhuma condição ou contrapartida seria exigida; e seria acumulável com os rendimentos do trabalho.

Assim, cada um poderia escolher o que deseja fazer da vida: continuar a trabalhar, ou seguir desfrutando seu tempo contentando-se com um nível de consumo modesto, ou, ainda, alternar entre os dois. Os períodos fora do emprego não seriam mais suspeitos, uma vez que o trabalho remunerado deixaria de ser a única forma reconhecida de atividade. Aqueles que escolhessem viver da renda garantida poderiam se dedicar inteiramente às tarefas pelas quais são apaixonados e/ou que lhes pareçam socialmente úteis, sozinhos ou com outros, pois o projeto se baseia fortemente nas possibilidades de livre associação que abriria.

Em 2004, dois pesquisadores da Universidade Católica de Louvain tentaram adivinhar os efeitos produzidos pela renda básica, enfocando os vencedores do jogo televisivo Win for life, que oferece uma renda mensal para seus ganhadores. Entre as notáveis diferenças entre as duas situações, que obrigam a relativizar suas conclusões, Baptiste Mylondo destaca uma que eles negligenciaram: “Enquanto o beneficiário da renda incondicional está cercado por outros beneficiários, o vencedor do sorteio está totalmente isolado. Ora, o valor do tempo livre aumenta com o número de pessoas com quem é possível compartilhá-lo”. Portanto, para um grande número de pessoas a renda garantida mudaria consideravelmente ao mesmo tempo a relação com o trabalho, a relação com o tempo, a relação com o consumo e a relação com os outros – aí incluídos, por contágio, aqueles que optassem pelo emprego assalariado. No entanto, é verdade que ela imporia a criação de novos modos de socialização, sem o que poderia também favorecer o recolhimento, especialmente entre as mulheres, que correriam o risco de ser confinadas ao lar.

Na França, a reivindicação de uma renda garantida se cristalizou durante a revolta estudantil contra o projeto de contrato de inserção profissional (CIP) do governo de Édouard Balladur, em 1994, com a criação, em Paris, do Coletivo de Agitação por uma Renda Garantida Ideal (Cargo), logo integrado ao movimento Agir em Conjunto contra o Desemprego (AC!). Ela ressurgiu durante o movimento de desempregados, na virada de 1997 para 1998. Na mesma época, o filósofo ambientalista André Gorz se uniu à ideia,que encontrou eco no movimento antiglobalização que estava sendo formado. Alain Caillé, fundador do movimento antiutilitarista nas ciências sociais (Mauss), também foi partidário da proposta.

Finalmente, em resposta aos ataques de que seu regime de indenização foi objeto a partir de 2003, certos militantes defenderam não somente a manutenção do dispositivo, mas sua extensão ao conjunto da população, de modo a normalizar a alternância de períodos de folga e de períodos trabalhados, sabendo que estes últimos se alimentam dos primeiros e não poderiam existir sem eles. Sua proximidade com essa luta levaria Christophe Girard, prefeito socialista do quarto distrito de Paris, a pleitear na véspera do congresso de seu partido, em outubro de 2012, o estabelecimento gradual de uma renda universal.

Antes, e mesmo que não tenha restado muita coisa da medida finalmente votada, a ideia de que a sociedade deve a seus membros os meios de sua subsistência tinha assombrado os debates parlamentares em torno da criação da renda mínima de inserção (RMI) pelo governo de Michel Rocard, em 1988. À esquerda, alguns, a começar pelo relator do texto, Jean-Michel Belorgey, contestavam o condicionamento da RMI a “esforços de inclusão”. E eles se perguntaram: podemos falar de um “direito” a uma renda cuja obtenção é suspensa a partir de uma passagem por uma comissão e para a qual uma contrapartida é exigida?. Esse é também o significado do slogan sem floreios das manifestações de desempregados, “Dinheiro para viver!”: em uma sociedade que não é ameaçada por nenhuma penúria, todos deveriam ter direito a uma vida digna, sem para isso ter de se esforçar.

A renda básica visa de início fornecer a todos o mínimo vital, seja no Norte ou no Sul, onde também tem seus defensores. Acredita-se em geral que teria como efeito estimular a atividade econômica nos países em desenvolvimento e reduzi-la ligeiramente em outros lugares – razão pela qual ela interessa aos ecologistas. Nas sociedades ocidentais, ela ofereceria a oportunidade de escapar do desemprego, da precariedade, das más condições de habitação e pobreza, ou, para alguns assalariados, do sofrimento físico e mental experimentado durante o trabalho. Mas ela não colocaria por terra o capitalismo, e, ainda que alguns a associem a um projeto de renda máxima, não eliminaria as desigualdades. E é isso que muitos não deixam de censurar nela. Assim, o comunista libertário Claude Guillon, por considerar o programa muito tímido, satirizou em um livro aquilo que chama de “garantismo”. Ele admite, no entanto, que se fala melhor de política com a barriga cheia...

Confiar nos indivíduos

Em vez de derrubar uma ordem injusta para substituí-la por uma ordem justa, a renda básica daria “um impulso cultural”. Ela traria ao mesmo tempo reconhecimento e incentivo para as atividades fora do mercado, de maneira a começar uma transição que ninguém pode prever aonde levaria. É precisamente o abandono dessa lógica que seduziu o ativista suíço Oliver Seeger, coautor da versão francesa do filme A renda básica.Antigo membro da Longo Maï, cooperativa agrícola comunitária estabelecida após 1968 nos Alpes da Haute-Provence, ele rejeita, em retrospectiva, “esse pressuposto implícito de que éramos uma vanguarda revolucionária, uma pequena elite que estava se preparando para o dia D”. A renda garantida, ao contrário, permite “deixar as pessoas livres. Não pensar por elas, não lhes passar uma ideologia já mastigada que seriam condenadas a seguir”. Essa mudança de paradigma seria tudo menos fácil: “Eu espero que as pessoas tenham dor de cabeça, de coração, de estômago, que todo o seu metabolismo seja desarranjado, se elas tiverem de pensar sobre o que realmente sentem vontade de fazer! Como poderia ser de outra forma, quando, durante anos, fomos trabalhar sem fazer perguntas? Mas eu realmente gostaria de ter a chance de ver o que isso poderia proporcionar”.

Outra importante crítica dirigida à renda garantida tem a ver com seu questionamento da norma de emprego assalariado. Historicamente, o movimento dos trabalhadores se organizou entre os assalariados. Ali ele forjou todas as suas ferramentas de resistência à exploração e obteve todas as suas conquistas, dos feriados e fins de semana remunerados à proteção social, a ponto de às vezes esquecer que o “desaparecimento do emprego assalariado” era uma das metas estabelecidas pela Confederação Geral do Trabalho (CGT) na Carta de Amiens, em 1906... Para o mundo sindical e as correntes políticas que lhe são próximas, dissociar trabalho e renda soa, portanto, como um passo perigoso ou herético. Economista membro da Associação para a Taxação das Transações Financeiras para Ajuda aos Cidadãos (Attac), Jean-Marie Harribey escreve que o trabalho constitui, “quer gostemos ou não”, um “vetor essencial de integração social”, porque confere ao indivíduo “sua qualidade de homem completo, produtor e cidadão”.

Em contrapartida, promotores da ideia da renda garantida formulam uma crítica do trabalho assalariado. A maioria dos empregos, argumentam, não traz aos que os desempenham a autoestima nem o sentimento de servir ao interesse público – isso quando não lhes proporcionam um sentimento totalmente oposto. E, mesmo que fosse esse o caso, os ganhos de produtividade ligados ao progresso técnico de qualquer maneira não permitiriam garantir trabalho para todos. Favorável a um salário vitalício incondicional financiado pela extensão do sistema de cotização, Bernard Friot compartilha essa análise: “É melhor não fazer nada do que ser um trabalhador que produz sementes estéreis para a Monsanto”.

Já a corrente inspirada na autonomia operária italiana sustenta sua crítica do salário no conceito de general intellect, emprestado de Karl Marx. NosGrundrisse, Marx previa que chegaria um momento em que o conhecimento acumulado ao longo da história pelo conjunto da sociedade seria o cerne da criação de valor. Com o advento da economia do intangível, chegamos a isso, afirmam seus leitores. E, portanto, o capitalismo só pode se tornar cada vez mais parasita. O essencial da produção de riqueza se desenharia, portanto, fora do emprego. Entre as figuras da cigarra despreocupada e da formiga trabalhadora, [Yann] Moulier-Boutang interpõe uma terceira, a da abelha: seu trabalho de polinização não cria valor direto, mas nenhuma produção poderia existir sem ele. Da mesma forma, cada pessoa, com as mais simples atividades diárias, participa indiretamente da economia.
O argumento tem a vantagem de combater as alegações, agitadas pelos demagogos, de “assistidos” inúteis e preguiçosos vivendo do trabalho dos outros. Mas fazer disso a justificativa da renda garantida é uma armadilha que André Gorz percebeu muito bem: “Permanecemos assim no plano do valor do trabalho e da produtividade”. Ora, “a renda de existência só faz sentido se não exige nem remunera nada”: ela deve, pelo contrário, permitir a criação “de riquezas não negociáveis”.

Não há necessidade, de qualquer maneira, de passar pelo general intellectpara fundamentar na teoria a instauração de uma renda garantida. Em La justice agraire[A justiça agrária], de 1796, um dos primeiros promotores da ideia, o revolucionário anglo-americano Thomas Paine, viu nisso uma justa indenização para a apropriação da terra por parte de alguns, ainda que supostamente pertencente a todos...


domingo, 16 de junho de 2013

As semelhanças do Brasil com os EUA de 2008


Olá alunos,

A notícia de hoje aclara a relação de similitude que há entre os Estados Unidos à época da crise de 2008 e o Brasil hodierno. Considerando os pontos em comum, e também as diferenças existentes entre os dois contextos, o autor atenta para as consequências decorrentes dessa situação.
Esperamos que gostem, reflitam e participem.

Lucas Dadalto e Silvana Gomes
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense

Mais importante jornalista econômico do planeta, Martin Wolf, do Financial Times, lançou um capítulo especial ao seu "A Reconstrução do Sistema Financeiro Global", no qual agrega os ensinamentos pós-crise de 2008.

Seu raio-x da crise norte-americana é um bom caminho para se entender para onde caminha a economia brasileira, desde que ressalvados os seguintes pontos: a dinâmica é a mesma que levou à grande crise nos EUA; mas a dimensão, por aqui, é infinitamente menor e há condições de se reverter essa caminhada.
O ponto em comum, entre EUA e Brasil, é o déficit nas contas correntes com o câmbio apreciado. E a necessidade dos respectivos governos de buscar o pleno emprego, estando atrofiada uma das penas do crescimento - a da oferta interna de produtos.
O déficit surge quando a demanda interna cresce mais do que o PIB (Produto Interno Bruto) e a oferta interna não acompanha. O aumento da demanda é suprido pelas importações, resultando daí o déficit.
A estagnação do PIB reduz o potencial de crescimento das receitas fiscais e dos salários. A saída, então, é recorrer ao endividamento puxado pelo setor privado ou pelo setor público.
Nos dois casos, Brasil e EUA, apesar dos alaridos reiterados em relação às contas públicas, o endividamento foi puxado pelos gastos das famílias, graças ao desenvolvimento de novos instrumentos financeiros.
E aí se entra em uma espiral conhecida. Há um aumento do endividamento, que leva preferencialmente à compra de imóveis, promovendo sua valorização e consequentemente, a ampliação dos limites de crédito, por conta da melhoria do valor das garantias.
No caso norte-americano, recorreu-se a uma miríade de produtos financeiros tóxicos, nos quais a concessão de crédito estava descasada do risco. A instituição gerava um financiamento, passava os créditos para frente.
No caso brasileiro, houve dois instrumentos tradicionais para incrementar o crédito, a revitalização dos financiamentos habitacionais e o crédito consignado, permitindo ao Banco Central manter a inadimplência sob controle.
Nos EUA, o crédito vazou por instituições não-financeiras, impedindo a fiscalização do FED. Por aqui, o BC manteve a fiscalização e o controle do mercado de crédito.
A segunda diferença é que, no caso norte-americano, esse modelo ganhou uma enorme sobrevida pelo fato dos EUA ser a pátria do dólar, portanto imune a crises cambiais.
No caso brasileiro, a sobrevida é garantida pela acumulação de reservas cambiais. E também pela extraordinária liquidez internacional empoçada: os Bancos Centrais emitiram para salvar os bancos; o dinheiro não era carreado para a atividade real; ficando empoçado, os bancos saíam atrás de melhores oportunidades de investimento.
Nos próximos dois anos, esse modelo será submetido a dois testes de stress.
O primeiro  - que já começou - a queda nas cotações de commodities, reduzindo ainda mais as exportações brasileiras.
O segundo, a própria situação dos ativos brasileiros. A queda dos juros internacionais promoveu um fluxo de recursos para os emergentes, levando à valorização dos ativos internos. Esse fluxo prosseguirá até o ponto em que se perceber que as cotações bateram no pico. 

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Como tornar a cobrança de impostos mais justa?



Olá alunos,

A problemática concernente à cobrança de impostos no Brasil é de conhecimento geral, porém, um projeto do Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal (Sindifisco) pretende alterar esse panorama, visando à promoção da chamada "justiça tributária".
Esperamos que gostem e participem.

Lucas Dadalto e Silvana Gomes
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense

Com um Congresso dominado por políticos ricos e de origem empresarial e um governo que não ousa comprar briga com seus (teóricos) aliados, que são a grande maioria dos parlamentares, a proposta de tornar um pouco mais justa a cobrança de impostos ganhará as ruas em busca de apoio. O objetivo é coletar 1,5 milhão de assinaturas para carimbar um projeto de mudança no imposto de renda como sendo “de iniciativa popular”, para tentar constranger deputados e senadores a votá-lo.
O projeto corrige a tabela do imposto de renda da pessoa física, que acumula perdas de 50% desde 1996, cria dispositivos para evitar defasagens por dez anos, aumenta de 3 mil para 12 mil reais o que pode ser deduzido de gasto com educação e ressuscita deduções com aluguel e juros da casa própria, abandonadas em 1988. Também propõe que os sócios de uma empresa paguem, como pessoas físicas, IR sobre o que recebem de dividendo (estão isentos desde 1996) e retoma a taxação de 15% sobre as remessas de lucros ao exterior, igualmente isentas há 17 anos.
O projeto é obra do Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal (Sindifisco), que na terça-feira 21 lançou a campanha de coleta de assinaturas em ato na Câmara dos Deputados. Pela legislação, é preciso reunir ao menos 1,5 milhão de assinaturas para que um projeto seja protocolado na Câmara com o rótulo “de iniciativa popular”.
Segundo o Sindifisco, se todas as mudanças propostas fossem aprovadas, o Brasil promoveria 180 bilhões de reais em justiça tributária ao longo de dez anos. Ou seja, até 2024, os mais pobres deixariam de pagar 180 bilhões de reais em tributos, enquanto os mais ricos seriam taxados adicionalmente naquela mesma quantia.
O sistema tributário nacional caracteriza-se pela regressividade. A maior parte da taxação recai sobre o consumo - pior para os mais pobres, sem condições de poupar, ao contrário dos mais ricos. Um estudo de janeiro do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) feito por três econômistas brasileiros, entre eles José Roberto Afonso, ex-colaborador do governo Fernando Henrique, diz que o consumo representa 45% da arrecadação no Brasil e a renda, apenas 19%. No mundo rico, essas proporções são 29% e 38%, respectivamente. Veja a íntegra do estudo: http://idbdocs.iadb.org/wsdocs/getdocument.aspx?docnum=37434330

O presidente do Sindifisco, Pedro Delarue, disse a CartaCapital que acredita ser muito complicado mudar esse quadro por causa dos “interesses envolvidos” e do predomínio “poder econômico” dentro do Congresso, aonde dificilmente se chega sem financiamento empresarial nas eleições. Segundo ele, também “não dá para contar com o governo”, que depende do Legislativo para tocar o dia a dia. Eis a razão da tentativa de emplcar um projeto de iniciativa popular.

Nesta campanha, o Sindifisco vai distribuir à população uma cartilha explicando como o a tributação no País é injusta e fazer circular na internet um vídeo sobre a situação.


domingo, 9 de junho de 2013

Pagar de imposto mais do que se ganha? Na França é possível


Olá alunos, 

Na França, uma situação inusitada é passível de acontecer: pagar mais de impostos do que efetivamente se ganha. No país em questão, isso pode ocorrer quando o valor do patrimônio possuído excede a renda auferida, fato que acometeu mais de 8 mil famílias no ano de 2012.
Esperamos que gostem e participem.

Lucas Dadalto e Silvana Gomes
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense

A França é um dos países onde mais se paga imposto do mundo. Cerca de 45% da renda dos franceses vai direto para os cofres públicos, contra 36% da renda dos brasileiros. No país europeu, quem ganha pouco ou nada pode contar com diversas ajudas sociais, inclusive uma espécie de bolsa-família, com a diferença de ser um valor razoável (cerca de 400 euros por mês, aproximadamente mil reais). O inverso também acontece e quem ganha muito é obrigado a pagar mais imposto. Quanto maior a renda, maior é a contribuição fiscal. E mesmo assim, através da evasão, os mais afortunados acabam pagando bem menos do que deveriam.
Um projeto de lei do presidente François Hollande que taxa temporariamente em 75% os mais ricos do país (a porcentagem não é sobre toda a renda, mas sobre a parcela que ultrapassa a barreira do milhão de euro) foi rejeitado pelo Conselho Constitucional por um problema técnico, mas deve ser retomado. A medida foi uma promessa de campanha em resposta às iniciativas na contra-mão da distribuição de renda adotada pelos últimos governos de direita, que haviam diminuído progressivamente o peso fiscal sobre fortunas.
A administração Sarkozy chegou a baixar o “escudo fiscal” dos milionários para 50% e causou grande divergência de opinião entre a população. De um lado os que achavam justo a elite econômica dividir a fortuna, do outro quem argumentava que taxas tão altas fariam os ricos fugir para outros países.
Hollande, o sucessor de esquerda, prometeu inverter a situação. Chegou ao poder logo depois do escudo fiscal ter sido retirado e estabeleceu uma taxa extra para quem ganhasse mais de 1,3 milhão de euros, para tentar compensar a evasão fiscal dos anos anteriores. O resultado foram quase 12 mil famílias ricas pagando mais de 75% de imposto no ano passado. Mais impressionante ainda, 8.010 delas pagaram mais de 100%, ou seja, mais do que ganharam no ano fiscal, como publicou o jornal Les Echos.
Isso acontece muitas vezes porque o patrimônio de algumas famílias é maior que sua renda. Por isso, mesmo antes do governo Hollande o imposto destas famílias já ultrapassava os 100%. No ano de 2011 foram mais de cinco mil pessoas neste caso. A diferença é que antes, com a lei do escudo fiscal de 50%, elas poderiam pedir a redução e agora terão que pagar a integralidade.
A batalha fiscal dos milionários está longe de terminar. O Conselho Constitucional rejeitou a proposição dos 75% alegando uma “quebra da igualdade perante os encargos públicos”. Na verdade, a lei foi mal formulada. Por exemplo, a regra poderia não ser aplicada em uma família onde duas pessoas ganhassem 900 mil euros anuais cada uma, mas seria obrigatória em outra cuja uma parte do casal ganhasse 1,2 milhão e a outra parte não tivesse renda.
As más línguas dizem que foi um erro técnico proposital da administração Hollande para conseguir sair da saia justa de uma promessa de campanha difícil de ser cumprida. Desagradar poderosos é complicado, mesmo sendo um presidente de esquerda. Por outro lado ele não pode enfurecer seu eleitorado, pois pesquisas apontam que 60% dos franceses é a favor da alta taxação dos mais ricos.
Enquanto isso alguns milionários dão chilique, como o ator Gerard Depardieu, que recebeu um passaporte russo depois de reclamar dos altos impostos franceses e se tornou um personagem ridicularizado pelos próprios conterrâneos. Além da nacionalidade, o ator ganhou um imóvel na cidade de Mordóvia e deve abrir um restaurante em breve por lá. Mas mudar de país que é bom, nada. Depardieu continua morando em Néchin, vilarejo belga a cinco minutos de carro da França. Abrir mão dos impostos tudo bem, mas da qualidade de vida já é outra história. Quando será que ele vai notar que as duas coisas estão relacionadas?