Olá alunos,
O presente texto elucida de que forma o país que possui a maior reserva de moeda estrangeira e a segunda maior economia do mundo - além de ser grande detentor de títulos da dívida pública de países europeus e dos Estados Unidos - lida com tamanho capital.
Esperamos que gostem e participem.
Lucas Dadalto e Silvana Gomes
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
É possível ter uma coisa boa em excesso?
A pergunta
vem do fato de que, enquanto muitos governos ocidentais têm de se preocupar com
seus crescentes deficit comerciais, a China tem o problema oposto.
Graças ao seu sucesso como país
exportador, a China tem as maiores reservas de moeda estrangeira do mundo. E
essas reservas não param de crescer - chegaram a um recorde de US$ 3,44
trilhões.
Com
todos os zeros, essa soma é US$ 3.440.000.000.000, equivalente ao tamanho da
poderosa economia alemã.
O
conteúdo das reservas é um segredo de Estado, mas um relatório divulgado anos
atrás no periódico China Securities Journal revelou que 65% delas consistem em
dólares, 26% em euros, 5% em libras e 3% em ienes.
A China
é a maior detentora de títulos da dívida do governo americano, depois do Fed
(banco central americano). Também tem títulos da dívida de governos europeus,
mas não tantos títulos de países periféricos endividados - pelo menos não
tantos quanto a zona do euro gostaria.
No pico
da crise do euro, a moeda comum europeia subia a cada sinal de que a China
planejava comprar títulos europeus.
Você
pode achar que ter um superavit comercial como o chinês seja uma boa notícia.
Mas, segundo autoridades do banco central da China, a situação acabou causando
um problema, por causa do câmbio fixo chinês.
Desafios
As reservas
internacionais ajudam a proteger a moeda de um país de ataques, já que a venda
de moedas estrangeiras ajuda a sustentar o valor da moeda local. Os bancos
centrais aprenderam essa lição após a crise financeira da Ásia, em 1997.
A China permite que
o yuan flutue até 1% para mais ou menos, e as reservas ajudam nisso. Mas não
está claro qual a quantidade de reservas que um país realmente precisa.
Não se trata apenas
do temor de que o dólar ou o euro se depreciem. A preocupação é também de que
as reservas contribuam para um excesso de dinheiro na economia. Isso tem levado
ao aumento de preços, inclusive de habitação.
Quando um banco central acumula
reservas, ele imprime dinheiro (yuan) para comprar os dólares, euros, libras e
ienes que acrescenta a essas reservas. Para impedir que isso gere inflação
(imagine o que aconteceria se a China imprimisse US$ 3,4 trilhões à sua
economia, que movimenta US$ 8 trilhões), o BC "esteriliza" suas ações
tirando a quantidade de dinheiro equivalente da economia.
A China
faz isso pagando juros ao dinheiro que bancos comerciais depositam no Banco
Central, para incentivar os bancos a deixar seu dinheiro ali.
A
esterilização tende a ser incompleta, já que os bancos buscam taxas de
remuneração maiores em outros investimentos, em vez de deixar todo seu dinheiro
no BC.
Além
disso, há a preocupação de que o BC não esteja obtendo um grande retorno nessas
reservas, já que os yields (taxas de juros) de títulos das dívidas europeias e
americanas são baixos.
Então,
a China usa essas reservas para financiar investimentos no exterior. Pequim
quer comprar ativos reais - como portos, recursos naturais, tecnologia e
companhias financeiras.
Isso
contribui para seu objetivo de criar multinacionais chinesas.
Política
de expansão
Ter
empresas competitivas globalmente poderia ajudar a China a aumentar sua
capacidade tecnológica e sua produtividade, algo crucial para sustentar seu
crescimento. A China gostaria de seguir o exemplo de outros que enriqueceram -
como a Coreia do Sul ou Taiwan - e desenvolver marcas internacionais, como
Samsung e HTC.
Essa
era a meta quando Pequim lançou sua política global, em 2000. O primeiro
investimento comercial no exterior foi em 2003-04, na Europa, quando a empresa
chinesa TCL comprou a marca francesa Thomson.
Desde
então, seus investimentos estrangeiros aumentaram exponencialmente e atingiram
níveis recordes, superando os internos - dado que geralmente indica que um país
está chegando ao nível de desenvolvimento econômico.
A maioria desses investimentos
chineses tem ido para outras partes da Ásia, para a América Latina e a Europa.
Para
investir no exterior, as empresas chinesas necessitam de autorização oficial,
já que o governo do país é o controlador de movimentos de capitais. Sendo
assim, os investimentos chineses vão para onde a China tem interesse em crescer
- não apenas recursos naturais, mas também tecnologia e serviços com valor
agregado. É por isso que os países que mais recebem esses investimentos (com
exceção de Hong Kong e Ilhas Cayman) são Austrália, Cingapura e EUA.
Política
No
entanto, o capital chinês nem sempre é bem recebido. Investimentos de origem
estatal podem gerar desavenças políticas, como já ocorreu nos EUA e na
Austrália.
E
empresas privadas chinesas têm dificuldades em operar, por conta da falta de
transparência quanto ao que é privado e o que é ordenado pelo Estado. Isso
indica uma necessidade de reformas na China, para deixar claras as fontes de
financiamento em seus negócios internacionais e a real posse de empresas
chinesas.
Ao
mesmo tempo, a China não deve continuar tendo os grandes superavit comerciais do
passado.
Em
2012, o superavit caiu para menos de 3% do PIB - chegara a 10% antes da crise
de 2008. Os chineses não estão exportando tanto por conta da menor demanda
externa, então é improvável que acumulem tantas reservas quanto antes.
Isso
também significa que será mais importante que os investimentos chineses no
exterior sejam bem vistos, já que a China dependerá mais de multinacionais
produtivas e competitivas para continuar crescendo. E essas empresas precisarão
cada vez mais se financiar de maneira competitiva.
Certamente
veremos mais empresas chinesas disputando terreno global. Seu sucesso será
importante não apenas para as próprias empresas, mas para o próprio futuro da
China.
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