Olá alunos,
A notícia de hoje aclara a relação de similitude que há entre os Estados Unidos à época da crise de 2008 e o Brasil hodierno. Considerando os pontos em comum, e também as diferenças existentes entre os dois contextos, o autor atenta para as consequências decorrentes dessa situação.
Esperamos que gostem, reflitam e participem.
Lucas Dadalto e Silvana Gomes
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
Mais importante jornalista econômico do planeta, Martin Wolf, do Financial Times, lançou um
capítulo especial ao seu "A Reconstrução do Sistema Financeiro
Global", no qual agrega os ensinamentos pós-crise de 2008.
Seu
raio-x da crise norte-americana é um bom caminho para se entender para onde
caminha a economia brasileira, desde que ressalvados os seguintes pontos: a
dinâmica é a mesma que levou à grande crise nos EUA; mas a dimensão, por aqui,
é infinitamente menor e há condições de se reverter essa caminhada.
O ponto
em comum, entre EUA e Brasil, é o déficit nas contas correntes com o câmbio
apreciado. E a necessidade dos respectivos governos de buscar o pleno emprego,
estando atrofiada uma das penas do crescimento - a da oferta interna de
produtos.
O déficit
surge quando a demanda interna cresce mais do que o PIB (Produto Interno Bruto)
e a oferta interna não acompanha. O aumento da demanda é suprido pelas
importações, resultando daí o déficit.
A
estagnação do PIB reduz o potencial de crescimento das receitas fiscais e dos
salários. A saída, então, é recorrer ao endividamento puxado pelo setor privado
ou pelo setor público.
Nos dois
casos, Brasil e EUA, apesar dos alaridos reiterados em relação às contas públicas,
o endividamento foi puxado pelos gastos das famílias, graças ao desenvolvimento
de novos instrumentos financeiros.
E aí se
entra em uma espiral conhecida. Há um aumento do endividamento, que leva
preferencialmente à compra de imóveis, promovendo sua valorização e
consequentemente, a ampliação dos limites de crédito, por conta da melhoria do
valor das garantias.
No caso
norte-americano, recorreu-se a uma miríade de produtos financeiros tóxicos, nos
quais a concessão de crédito estava descasada do risco. A instituição gerava um
financiamento, passava os créditos para frente.
No caso
brasileiro, houve dois instrumentos tradicionais para incrementar o crédito, a
revitalização dos financiamentos habitacionais e o crédito consignado,
permitindo ao Banco Central manter a inadimplência sob controle.
Nos EUA,
o crédito vazou por instituições não-financeiras, impedindo a fiscalização do
FED. Por aqui, o BC manteve a fiscalização e o controle do mercado de crédito.
A segunda
diferença é que, no caso norte-americano, esse modelo ganhou uma enorme
sobrevida pelo fato dos EUA ser a pátria do dólar, portanto imune a crises
cambiais.
No caso
brasileiro, a sobrevida é garantida pela acumulação de reservas cambiais. E
também pela extraordinária liquidez internacional empoçada: os Bancos Centrais
emitiram para salvar os bancos; o dinheiro não era carreado para a atividade
real; ficando empoçado, os bancos saíam atrás de melhores oportunidades de
investimento.
Nos
próximos dois anos, esse modelo será submetido a dois testes de stress.
O
primeiro - que já começou - a queda nas cotações de commodities,
reduzindo ainda mais as exportações brasileiras.
O
segundo, a própria situação dos ativos brasileiros. A queda dos juros
internacionais promoveu um fluxo de recursos para os emergentes, levando à
valorização dos ativos internos. Esse fluxo prosseguirá até o ponto em que se
perceber que as cotações bateram no pico.
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