Olá alunos,
Apesar de uma alta recente, o preço do petróleo sofreu a queda mais duradoura em 20 anos, caindo quase 50% desde meados do ano passado. A postagem de hoje busca analisar os motivo dessa desvalorização e traçar um prognóstico para os próximos meses.
Apesar de uma alta recente, o preço do petróleo sofreu a queda mais duradoura em 20 anos, caindo quase 50% desde meados do ano passado. A postagem de hoje busca analisar os motivo dessa desvalorização e traçar um prognóstico para os próximos meses.
Esperamos que gostem e participem.
Fellype Fagundes e Carlos Araújo
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
Fellype Fagundes e Carlos Araújo
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
Prever os preços do petróleo é um jogo de adivinhação: há variáveis demais envolvidas.
Isso foi resultado do aumento da produção do combustível de xisto americano e, em menor grau, da volta ao mercado do petróleo líbio, que elevaram a oferta no momento em que grandes compradores, como a China, reduziram sua demanda.
Soma-se a isso a alta do dólar, tornando o combustível mais caro em termos reais.
Mas o que acontece a seguir é mais difícil de prever. Para analistas, com a indústria do gás de xisto nos EUA a todo vapor, e a economia global ainda dando sinais de debilidade, há motivos para suspeitar que a atual baixa do preço do petróleo continue por algum tempo.
Efeitos profundos
A maioria dos especialistas prevê que o barril fiquei situado em um intervalo de US$ 40 a US$ 80 nos próximos anos. Já os mercados futuros sugerem que o preço vai se recuperar lentamente ao nível de US$ 70 até 2019.Mas até que isso ocorra, os efeitos do atual patamar de preços serão amplos e profundos.
O barril mais baixo tira a atratividade econômica de projetos de exploração de reservas profundas e de difícil acesso - o que desperta dúvidas, por exemplo, sobre o potencial econômico das reservas do pré-sal brasileiro na atual circunstância.
A exploração de reservas não comprovadas em locais como o sul e o oeste da África também pode ser afetada.
As consequências também existem para as alternativas de fornecimento energético para o mundo.
No caso do xisto, por exemplo, uma pesquisa do banco Scotiabank sugere que o patamar mínimo para que os produtores não saiam no prejuízo é de cerca de US$ 60 o barril. As estimativas variam muito.
Empresas exploradoras fizeram empréstimos de US$ 160 bilhões nos últimos cinco anos, todas esperando um preço do combustível mais alto do que hoje.
Prestadoras de serviço do setor petrolífero são outras que têm tido prejuízos acentuados. No mês passado, a gigante americana Schlumberger anunciou o corte de 9 mil empregos, cerca de 8% de sua força de trabalho.
Curiosamente, os preços baixos também afetam o setor de energia renovável. Eles destroem um argumento econômico básico que levou muitos governos a estimular energias alternativas: o de que combustíveis fósseis são caros.
No Oriente Médio e em partes das Américas do Sul e Central, o petróleo compete diretamente com fontes renováveis para gerar eletricidade, então empresas de energia solar, por exemplo, provavelmente enfrentem dificuldades com o petróleo barato.
As ações da Vestas, maior fabricante mundial de turbinas de vento, caíram 15% desde o ano passado, por exemplo.
A venda de carros híbridos nos EUA também estão em queda, enquanto aumentou a de utilitários que consomem muito combustível.
Em outros lugares, os preços mais baixos têm ajudado a reduzir os preços do gás, rival direto da energia renovável. Subsídios, portanto, podem ter de crescer para compensar as perdas.
'Novo capítulo'
Em momentos como este, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), cartel que reúne os maiores produtores globais de petróleo, normalmente agiria para reduzir a produção e, com isso, fazer os preços subirem. Isso ocorreu diversas vezes na história.Mas o cartel não agiu desta vez. Em uma decisão histórica, a organização disse no final do ano passado que não pretendia reduzir a produção do patamar de 30 milhões de barris/dia, nem mesmo se o preço cair para US$ 20/barril (menos da metade da faixa de preço atual).
Apesar da oposição furiosa de Venezuela, Irã e Argélia (que dependem fortemente da renda obtida com a exportação de petróleo), a líder Arábia Saudita se recusou a ajudar os membros mais vulneráveis da Opep, já que o país tem reservas suficientes para simplesmente esperar.
A Arábia Saudita não quer sacrificar ainda mais a sua fatia de mercado num momento em que seus concorrentes, entre eles os produtores de xisto, prosperam.
A Opep provê atualmente pouco mais de 30% do petróleo mundial, uma queda em relação aos 50% dos anos 1970, em parte pelo fato de os produtores americanos de óleo de xisto terem inundado o mercado com seu produto.
"Diante desse cenário, quem poderia cortar a produção para criar um piso de preços?", argumentou a Opep no mês passado.
Sabendo que pode suportar a atual queda dos preços por quase uma década, o país prefere esperar e "deixar a economia fazer seu trabalho", nas palavras de Philip Whittaker, da consultoria Boston Consulting Group.
"Entramos em um novo capítulo na história do mercado do petróleo, que agora começa a operar como um mercado de commodity não cartelizado", diz o especialista em energia Stuart Elliot.
Energia renovável
Sem a Opep segurando o preço artificialmente, e com uma demanda potencialmente menor por conta do baixo crescimento global, o valor do barril deve continuar abaixo de US$ 100 nos próximos anos.No longo prazo, o equilíbrio é mais difícil de calcular. Afinal, sem a interferência da Opep, o mecanismo para autodeterminar o preço do petróleo continua o mesmo: preços caem, produção cai; oferta cai, preços sobem. No futuro, a oferta deve cair e os preços devem subir.
Mas mudanças mais reais estão a caminho. Há uma percepção crescente de que os combustíveis fósseis precisam ficar no subsolo se o mundo quiser cumprir as metas para conter as mudanças climáticas e evitar níveis perigosos de aquecimento global.
Nesse cenário, é apenas uma questão de tempo até que um preço significativo do carbono - que afete poluidores por emitirem CO2 - seja implementado, algo que teria um impacto profundo no mercado internacional de petróleo.
Igualmente, pela primeira vez o petróleo enfrenta um concorrente real no setor de transportes, que atualmente responde por mais da metade de todo o consumo de petróleo.
Veículos elétricos podem estar no momento restritos apenas a um nicho de mercado, mas, à medida que avança a tecnologia das baterias, eles devem se popularizar e, consequentemente, reduzir a demanda por petróleo.
O mercado petrolífero vive, portanto, transformações profundas, mas mudanças ainda mais intensas devem estar a caminho.
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