Olá alunos,
No mercado formal de trabalho do Brasil, milhões de vínculos de emprego são rompidos anualmente e novos são estabelecidos. Há uma década, o desemprego vem se reduzindo, a formalização aumentando, os salários crescendo e, mesmo assim, o fluxo de demissão e contratação continua em ampliação. A postagem de hoje busca analisar os possíveis fatores causadores desse fenômeno.
No mercado formal de trabalho do Brasil, milhões de vínculos de emprego são rompidos anualmente e novos são estabelecidos. Há uma década, o desemprego vem se reduzindo, a formalização aumentando, os salários crescendo e, mesmo assim, o fluxo de demissão e contratação continua em ampliação. A postagem de hoje busca analisar os possíveis fatores causadores desse fenômeno.
Esperamos que gostem e participem.
Fellype Fagundes e Carlos Araújo
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
Fellype Fagundes e Carlos Araújo
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
Rotatividade no
mercado de trabalho é a substituição de um empregado por outro no mesmo
posto de trabalho. No Brasil, as empresas têm total liberdade para
contratar e demitir a qualquer momento, sem precisar apresentar nenhuma
explicação ao trabalhador. Basta pagar os custos da rescisão do contrato
de trabalho.
No
mercado formal de trabalho do país, milhões de vínculos de emprego são
rompidos anualmente e novos são estabelecidos. Nos anos 1990, este
fenômeno ocorria em um cenário de alto desemprego, precarização das
condições de trabalho e redução dos salários pagos aos novos contratados
em relação aos pagos aos demitidos. Contudo, há uma década, o
desemprego vem se reduzindo, a formalização aumentando, os salários
crescendo e, mesmo assim, o fluxo de demissão e contratação continua em
ampliação.
Há
alguns anos, o DIEESE, em cooperação com o Ministério do Trabalho e
Emprego e entidades sindicais, investe no estudo da rotatividade no
mercado de trabalho, procurando inclusive formas de intervenção que
ajudem a reduzir o problema. Há publicações que tratam dessa temática no
site da entidade (www.dieese.org.br). O último trabalho foi recentemente divulgado, com dados de 2013.
Com
base nos registros administrativos da Rais (Relação Anual de
Informações Sociais), o fluxo geral de demissões e contratações no
mercado formal é analisado, sem observar especificamente o posto de
trabalho, como uma maneira de aproximação da mensuração da taxa de
rotatividade.
Os
registros da Rais indicam que houve crescimento do mercado formal de
trabalho no Brasil na última década, que passou de um estoque de 29
milhões de vínculos em 31/12/2002 para quase 49 milhões em 31/12/2013.
Portanto, foram 20 milhões de novos empregos com carteira de trabalho.
Entretanto, o estoque de postos de trabalho no final do ano não revela o
grande fluxo de admissões e demissões que ocorre ao longo do ano. Por
exemplo, em 2013, foram mais de 75 milhões de vínculos ativos ao longo
do ano, dos quais mais de 26 milhões foram rompidos no mesmo período.
Qual é a lógica dessa dinâmica que se repete anualmente?
A
taxa de rotatividade do conjunto do mercado formal de trabalho
(celetistas estatutários), em 2013, foi de 54,9%, levemente inferior à
taxa de 2012 (55,2%), contudo superior à de 2003 (42,7%). Considerando
que os servidores públicos estatutários têm estabilidade no emprego,
procedeu-se ao cálculo da rotatividade somente dos trabalhadores
contratados no regime celetista (emprego com carteira de trabalho) e
submetidos à demissão por iniciativa do empregador. Com este recorte, a
taxa fica em 63,7% em 2013, estável diante dos 64,0% de 2012, mas bem
superior aos 52,4% de 2003. O crescimento do contingente de ocupados
ampliou o ritmo frenético de contratações e demissões dos trabalhadores
celetistas.
As
demissões ocorrem predominantemente para os trabalhadores com menos de 1
ano de vínculo e representam 66% dos desligamentos. Quase metade (31%)
dos desligados tinha até três meses de vínculo, ou seja, estava no
período caracterizado pela legislação como contrato de experiência. As
ocupações em que mais rodam trabalhadores são aquelas vinculadas ao
apoio na produção e nos serviços: assistentes, auxiliares, serventes e
ajudantes.
A demissão, rompimento do vínculo que decorre de iniciativa patronal, representou 68% dos desligamentos em 2013 (era 78% em 2003). Com o mercado de trabalho aquecido e queda no desemprego, observa-se o aumento do desligamento a pedido do trabalhador, de 16%, em 2003, para 25%, em 2013. Transferências representaram 6,5%, falecimentos, 0,3%, e aposentadorias, 0,1% (2013) dos rompimentos dos vínculos de emprego.
Ao subtrair da taxa de rotatividade total (63,7%) os desligamentos a pedido do trabalhador, as transferências, as mortes e aposentadorias, chega-se à taxa de rotatividade decorrente da demissão por iniciativa patronal, que atingiu 43,4%, em 2013, e ficou levemente superior aos 40,9% de 2003. Portanto, mesmo em um mercado de trabalho mais competitivo, no qual as empresas reclamam da falta de mão de obra, o ritmo de demissão por inciativa patronal cresce.
Há muita diferença na taxa de rotatividade entre os setores, conforme indica o Quadro 1.
Em 2013, o número de estabelecimentos foi estimado em 3,9 milhões, dos quais 6% foram responsáveis por mais de 63% das demissões. É importante esclarecer que uma empresa pode ter vários estabelecimentos - por exemplo: um banco tem uma rede de agências e cada agência bancária é considerada um estabelecimento.
Em torno de 58% dos estabelecimentos do país operam com taxa de rotatividade acima da média. Ao mesmo tempo, 18,6 mil estabelecimentos, o que representa 0,5%, são responsáveis por 34% dos desligamentos.
Qual é mesmo a funcionalidade econômica da rotatividade? Um trabalhador normalmente pede demissão porque o posto de trabalho é ruim (salário, condições de trabalho etc.) ou porque teve uma oportunidade melhor e isso ocorre quando o mercado de trabalho está aquecido. De outro lado, as empresas demitem para contratar um trabalhador com salário menor, quando há muito desemprego. Contudo, quando as empresas precisam de mais força de trabalho e disputam trabalhadores no mercado de trabalho, qual a funcionalidade de demitir e contratar?
A verdade é que há grande flexibilidade para contratar e demitir trabalhadores e esse fenômeno é uma prática permanente dos empresários na economia brasileira. Há que se compreender melhor esse fenômeno, que é característico de uma economia que opera com baixa eficiência, o que é um desastre para o trabalhador e um drama para a sociedade.
*Clemente Ganz Lúcio, sociólogo, diretor técnico do DIEESE, membro do CDES – Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
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