Olá
alunos,
Às
dúvidas sobre a China se somam a queda do preço do petróleo e a desconfiança
com os emergentes. Depois da crise de 2008, muitas são nossas desconfianças e o
momento em que vivemos agora nos faz florescer ainda mais esse sentimento. A
postagem de hoje visa nos explicar melhor a temática.
Esperamos que gostem e participem.
Joyce Borgatti e Palloma Borges.
Monitoras da disciplina “Economia Política
e Direito” da Universidade Federal Fluminense.
O tom de chumbo que predominou nas reuniões desta edição do Fórum
Econômico Mundial tem uma explicação imediata: muitos dos participantes
perdiam bilhões na Bolsa enquanto estavam na reunião na Suíça. As dúvidas em
torno da China surgem como primeira explicação, mas não a única. As previsões
de crescimento são progressivamente reduzidas, a queda do
preço do petróleo ameaça provocar uma onda de quebras no setor, os
países emergentes têm que lidar com uma crescente desconfiança dos investidores,
e as moedas despontam como próximo ponto de conflito entre as economias.
“Não
é 2008... ainda. Mas os
Governos precisam agir rápido”, alertou num dos debates em Davos o
economista Nouriel Roubini, apelidado de Doutor Catástrofe. Roubini perdeu
parte de sua autoridade em razão de seu pessimismo empedernido, mas suas
palavras não caem nunca totalmente no vazio. Com uma queda do índice acionário
norte-americano S&P 500 de 6,7% neste ano, não é de estranhar que os
executivos de Davos passem por episódios de ansiedade. O Fundo Monetário
Internacional (FMI) publicou logo antes da reunião na Suíça uma redução das
previsões globais de crescimento, para 3,4% neste ano e 3,6% no
próximo, 0,2 ponto percentual abaixo do previsto em outubro e o terceiro corte
em menos de um ano. “Em 2016 o crescimento será modesto e desigual. Há um
otimismo moderado, mas os riscos são significativos”, disse no sábado a
diretora gerente do FMI, Christine Lagarde.
Os investidores estão desconfiados, e a prova disso
é que pedem juros mais altos para os empréstimos de curto prazo que no
horizonte de dez anos, fato que é chamado de curva invertida de taxas de juro e
é um dos indicadores que sinalizam uma recessão. Embora nem sempre, segundo o
presidente da empresa de investimentos Bridgewater, Ray Dalio, que considera
mais provável que a economia continue sofrendo com uma notável fraqueza. “Mas,
caso tenhamos uma recessão, ela será mais difícil de reverter. Este é o momento
de maior desafio desde a crise financeira”, explica, numa sala com lareira e
vista para a montanha que por estes dias é seu escritório temporário.
A bala
de prata que se acreditava estar nos bancos centrais e nas novas
medidas de estímulo monetário não consegue tirar da letargia a economia global.
“Apesar da enorme quantidade de dinheiro posta em circulação ao longo destes
anos, as pressões deflacionárias são constantes”, diz Dalio, que põe o dedo na
ferida de um dos temores mais profundos dos analistas: a falta de ferramentas
para responder a uma nova crise.
A
desaceleração provocada pelo caminho para uma nova normalidade chinesa provocou
um terremoto nos mercados de matérias-primas
Na
atual conjuntura, todas as estradas levam à China. A transição para um modelo
de maior demanda interna e os passos em direção a maior abertura financeira
estão se mostrando uma combinação difícil de manejar para Pequim –e difícil de
interpretar, para os investidores. As autoridades chinesas em Davos insistiram
que a segunda maior economia do mundo está se adaptando a uma nova normalidade,
de crescimento mais baixo, e que se trata de um problema somente na hora de
comunicar suas políticas. “O setor financeiro está mais desconectado que nunca
da economia real”, afirmou Shi Wenchao, presidente da Unionpay. Mas há uma
longa lista de tarefas ainda a resolver. “A China precisa reestruturar suas
dívidas e sua economia, que se está debilitando e exige um relaxamento da
política monetária, enquanto está sofrendo uma considerável saída de capitais”,
rebate Dalio.
A
desaceleração provocada por esse caminho para uma nova normalidade chinesa
provocou um terremoto nos mercados de matérias-primas, como mostra o colapso do
petróleo. “A baixa do preço do petróleo vai forçar muitas empresas a suspender
pagamentos, e isso vai trazer muita instabilidade”, disse Larry Fink,
presidente da maior gestora de ativos do mundo, a BlackRock. Após uma quebra de
empresas fica uma dívida sem pagar, e os balanços dos bancos não têm condição
de suportar maiores exigências de capital.
Fuga
de capitais na China
O
Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês) revelou que,
pela primeira vez na história recente, a China sofreu no ano passado uma saída
de capitais, de 676 bilhões de dólares, 90% de todos os fluxos que deixaram os
mercados emergentes (735 bilhões de dólares). A entidade prevê outro saldo
negativo para este ano, de 448 bilhões de dólares. “As perspectivas para esses
países ficam mais sombrias”, afirmou o presidente do IIF, Tim Adams. O futuro
escurece, e as moedas se desvalorizam, o que deixa em sérios apuros as
economias com elevada dívida em dólares, como Brasil, África do Sul e Turquia.
“A
situação na América Latina se parece cada vez mais com a crise da dívida dos
anos oitenta, embora ela não deva ser tão danosa”, afirma Dalio. Se houve algum
consenso em Davos é que as quatro reduções de taxas de juros esperadas do
Federal Reserve (banco central dos EUA) serão diminuídas para no máximo duas. A
combinação de dólar forte e pressões deflacionárias pode ser fatal para a
recuperação. “O dólar pode aguentar durante um tempo, acho que em torno de um
ano, como a moeda forte”, crava o financista.