Olá
alunos,
No Fórum Econômico Mundial, que ocorreu em Davos,
os representantes de diversos países foram com o intuito de discutir a situação
que vivemos no presente, mostrando propostas para o futuro. O Brasil deve estar
atento às discussões que ocorrem em Davos, sobretudo neste momento de grave
crise econômica, social e política. A notícia de hoje pretende trazer maiores
esclarecimentos sobre o assunto.
Esperamos que gostem e participem.
Joyce Borgatti e Palloma Borges.
Monitoras da disciplina “Economia Política
e Direito” da Universidade Federal Fluminense.
Entre os dias 20 e 23 de janeiro, chefes de governo
e ministros, bem como representantes de empresas, bancos e diferentes grupos
sociais subirão os Alpes suíços em direção à pequena cidade de Davos para
participar do encontro anual organizado pelo Fórum Econômico Mundial, com o
intuito de discutir o presente e propor caminhos para o futuro. Trata-se de um
grupo pequeno, mas muito influente no processo de concepção e implementação de
políticas públicas em diversos países.
O mundo discutirá em Davos a “Quarta Revolução
Industrial” em um momento em que ainda não foram superados os efeitos adversos
daquelas que a precederam, tais como os elevados níveis de miséria, pobreza e
desigualdades, os frequentes conflitos intranacionais e internacionais de
grande capacidade destrutiva e a rápida degradação dos recursos do planeta,
gerados, em última instância, pela busca incessante pela acumulação da riqueza
em um contexto de acirramento da concorrência intercapitalista em escala
global.
O encontro deste ano ocorre em um momento em que os
efeitos da crise econômica, política e social iniciada em 2008 ainda não foram
superados, além de graves questões humanitárias, com destaque ao aumento do
número de refugiados que deixam o Oriente Médio em
convulsão em busca de paz, e ambientais, como a ocorrência cada vez mais frequente
de fenômenos naturais extremos e cada vez mais destrutivos.
Essas questões serão consideradas à luz do tema
proposto pela organização do evento liderada por Klaus Schwab, qual seja, “O
que esperar da Quarta Revolução Industrial”, também chamada de “Indústria 4.0”
– que, para muitos, já está em curso, ainda que de forma sobreposta à terceira
revolução industrial.
A “Indústria 4.0” representa uma descontinuidade do
modelo de produção até então vigente. Ela se concentra nos novos produtos e
processos derivados dos avanços ocorridos na fronteira da ciência, como a
convergência entre info, nano, bio e neuro-cogno tecnologias, que possuem
aplicação em praticamente todas as áreas do conhecimento, como a química, a
física, a biologia, a medicina, a engenharia, a computação etc.
Esse processo tem ocorrido em escala e velocidade
substantivos, afetando de forma avassaladora todas as dimensões da vida dos
indivíduos e da forma como eles se relacionam entre si. Com efeito, a
denominada “Quarta Revolução Industrial” abre um mundo de possibilidades e,
inevitavelmente, também de riscos.
Trata-se, pois, de uma oportunidade para se rever a
relação entre os homens e as tecnologias que ele criou. Isso porque os homens
devem dominá-las, ao invés de serem dominados por elas. As novas tecnologias
devem ser utilizadas para assegurar a todos a possibilidade de contribuir e
partilhar da riqueza criada, propiciando condições dignas de vida para as
pessoas, sejam elas quem forem e estejam elas onde estiverem.
Elas devem garantir a promoção da dignidade humana
ao assegurar a todos as condições materiais para o atendimento de suas
necessidades fundamentais e, assim, para o desenvolvimento de suas
potencialidades independentemente de distinções de qualquer natureza.
Ao contrário do que sugere a visão majoritariamente
aceita, a liberalização dos fluxos de comércio e investimento, assim como a
desregulamentação dos mercados, de forma alguma são condições fundamentais para
que os benefícios e custos da “Quarta Revolução Industrial” se distribuam de
forma menos assimétrica entre os diferentes países e, dentro deles, entre os
diferentes grupos sociais.
No âmbito internacional, eles tenderão a produzir
uma nova divisão do trabalho, em que alguns países serão mais capazes do que
outros no tocante ao desenvolvimento de setores intensivos em tecnologia de
ponta, capazes de gerar mais renda e melhores empregos e de reduzir a sua
vulnerabilidade externa. Já no âmbito nacional, aqueles de maior qualificação
encontrarão oportunidades de maiores salários e maior estabilidade enquanto os
demais não encontrarão trabalho ou se restringirão às ocupações de menor
remuneração e maior flexibilidade, como os empregos temporários e em tempo
parcial.
Essas assimetrias entre países e entre grupos
sociais tendem a se reproduzir indefinidamente. Se o sistema for abandonado à
sua própria sorte, os ricos se tornarão mais ricos e os pobres se tornarão mais
pobres em um processo de causação circular cumulativa.
Dessa forma, mais do que nunca, devem ser criados
novos mecanismos de intervenção no sistema e fortalecidos aqueles eficazes e já
existentes. Contudo, uma vez que o tamanho do esforço necessário para que os
países mais pobres e/ou de renda média alcancem os países desenvolvidos, essa
construção deve ser coletiva e orquestrada internacionalmente.
Ou seja, ela deve ser o resultado de mais cooperação
e menos competição entre os países, da união de recursos humanos e financeiros
em favor de uma civilização que partilha de um mesmo destino. Nobres valores, é
verdade, mas que infelizmente ainda estão muito longe de constituir um consenso
capaz de criar sinergias e viabilizar um sistema efetivo e eficaz de cooperação
internacional, diante da relutância dos homens em aprender com as lições da
história e com o poder também destrutivo de suas ações.
Nesse contexto, o Brasil deve manter-se atento às
discussões que ocorrerão em Davos, sobretudo neste momento de grave crise
econômica, social e política que ameaça reverter avanços perpetrados desde a
Constituição Federal de 1988 – a chamada “Constituição cidadã”. Dispensável
afirmar que uma inserção ativa na Quarta Revolução Industrial requer avanços
substanciais em frentes diversas, a partir de reformas necessárias para a
superação das estruturas que caracterizam o subdesenvolvimento.
De fundamental importância nesse processo é o
desenvolvimento de setores de alta intensidade tecnológica, capazes de
desenvolver e de difundir inovações que beneficiem a economia e elevem as
condições de vida dos brasileiros, o que inclui a melhora dos padrões de
educação, saúde, alimentação e habitação, sobretudo. Um desafio e tanto, diante
das graves dificuldades pelas quais a economia brasileira tem passado em sua
história recente.
Por fim, o que se espera do encontro a ser realizado
no topo do mundo nos próximos dias é a atenção à realidade próxima e concreta
das pessoas comuns em tempos adversos. A Quarta Revolução Industrial deve ser
funcional ao crescimento econômico, à coesão social, à proteção do meio
ambiente e à manutenção da paz em todos os cantos do planeta, o que, no
capitalismo contemporâneo, não será possível se essa transformação não for bem
conduzida pelos governos nacionais e pelas relações entre os países, a partir
de um sistema articulado de cooperação internacional. Uma utopia, talvez. Mas
ainda há tempo para mudar.
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