Olá alunos,
A produtividade é um importante fator para aceleração do crescimento econômico. A postagem de hoje expõe algumas experiências que podem ajudar no problema do ajuste das habilidades dos trabalhadores às necessidades das empresas.
A produtividade é um importante fator para aceleração do crescimento econômico. A postagem de hoje expõe algumas experiências que podem ajudar no problema do ajuste das habilidades dos trabalhadores às necessidades das empresas.
Esperamos que gostem e participem.
Fellype Fagundes e Carlos Araújo
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
Fellype Fagundes e Carlos Araújo
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
Nos anos 80, o Brasil e a Coreia do Sul tinham índices de produtividade semelhantes. Hoje, o que um coreano produz em um dia, um brasileiro produz em três, segundo dados da entidade americana de pesquisas Conference Board.
"O
Brasil e outros países da América Latina precisam olhar urgentemente para
experiências de países de fora da região se quiserem impulsionar seus índices
de produtividade”, disse à BBC Carmen Pagés, especialista em mercado de
trabalho do Banco Inter-Americano de Desenvolvimento (BID).
"Há
experiências muito valiosas em países como a Coreia e a Austrália que poderiam
ajudar os brasileiros principalmente a alinhar os conhecimentos e habilidades
desenvolvidos em seu sistema educacional ao que as empresas precisam para
produzir mais e melhor."
Em um
cenário de taxas de desemprego historicamente baixas, há certo consenso entre
economistas brasileiros de que para acelerar o crescimento será preciso
aumentar a produtividade dos trabalhadores no país.
"Pela
primeira vez na nossa história falta mão de obra - o que nos obriga a
aproveitar nossos trabalhadores de forma mais eficiente", diz Hélio
Zylberstajn, professor de economia da Universidade de São Paulo (USP).
É por isso
que a "produtividade" tornou-se um dos temas centrais do atual debate
econômico.
"Qualificar
melhor os trabalhadores brasileiros é hoje um dos nossos grandes desafios - e é
sempre importante conhecer a experiência dos outros países nessa área",
diz Silvani Pereira, secretário substituto de Políticas Públicas de Emprego do
Ministério do Trabalho e Emprego.
Pereira
explica que o ministério tem promovido visitas e parcerias com outros países
buscando se informar sobre seus sistemas públicos de emprego, qualificação
profissional e estratégias de treinamento dentro da empresa.
"Mas é
claro que é crucial fazer a ressalva de que nem tudo o que tem sucesso e ajuda
a ampliar a produtividade em um lugar pode ser automaticamente aplicado em
outro em função de especificidades econômicas, históricas e sociais."
Abaixo, a
BBC Brasil listou quatro estratégias sugeridas por especialistas em um evento
promovido pelo BID em São Paulo. Segundo eles, poderiam inspirar o Brasil e
outros países latino-americanos em sua busca por mais produtividade.
Eles
ressaltam que não se tratam de experiências que poderiam ser implantadas
automaticamente por aqui, mas soluções que podem ajudar o país e a região a
encontrarem respostas originais ao problema do ajuste das habilidades dos
trabalhadores às necessidades das empresas:
Valorização e
flexibilização do ensino técnico
Para Carmen
Pagés, do Banco Interamericano de Desenvolvimento, a falta de trabalhadores de
formação técnica é hoje um dos fatores que afeta a produtividade na América
Latina.
Segundo ela,
países como a Coreia do Sul, a Austrália, o Canadá, a Nova Zelandia, a Alemanha
e a Suíca, que integraram "perfeitamente" o ensino técnico em seu
sistema educativo estão entre os que melhor conseguiram alinhar a formação dos
trabalhadores às necessidades das empresas.
"Nesses
países o sistema é muito flexível", diz Pagés. "Você pode passar do
acadêmico ao técnico e do técnico ao acadêmico com facilidade e há mais
integração entre esses dois ramos - o que ajuda a evitar o estigma em relação
ao ensino técnico que existe no Brasil, além de reduzir o problema do
'isolamento' dos ambientes acadêmicos do mercado."
Pagés diz
que na Suíça algo em torno de 60% dos estudantes do ensino médio optam pelo
ramo técnico.
"Eles
sabem que se quiserem trabalhar, isso lhes dará mais possibilidade de inserção
no mercado, mas também sabem que se, depois disso, resolverem voltar para a
sala de aula para seguir o ramo das ciências humanas, ou debater aspectos
teóricos ligados a sua profissão, por exemplo, a transição será simples."
Na Austrália,
os estudantes podem transferir créditos dos cursos técnicos da chamada
Technical and Further Education Commission (Tafe) para os cursos de
universidades regulares, o que permite uma combinação entre os dois tipos de
ensino.
"As
pessoas nos procuram em qualquer etapa de sua vida profissional: temos cursos
para quem tem 18 anos e para quem tem 40 e quer ampliar suas possibilidades
profissionais", explicou à BBC o australiano Peter Holden, diretor da
Tafe.
O ensino
técnico começou a se expandir na Austrália nos anos 70. Nos anos 90, foram
feitos ajustes para garantir que os conteúdos dos cursos atendiam a demanda das
indústrias locais (até então o foco do sistema era seu papel social).
"Nós
passamos a conversar mais com as empresas e, como alguns de nossos professores
foram trazidos da indústria, eles também se encarregaram de nos manter
informados sobre quais conhecimentos e habilidades são requisitados."
Sistema de
certificados
Para tirar
uma carteira de motorista, em geral o candidato faz um teste de direção. Se
mostrar que sabe dirigir, recebe o documento, se cometer muitos erros, não
recebe. Não interessa se ele aprendeu a dirigir com o avô e estudou sozinho as
leis de trânsito ou se fez 30 aulas em uma auto-escola.
Na Coreia do
Sul, um sistema de certificados nacionais para o ensino técnico parece
funcionar de uma maneira semelhante, como explicou Joon-Chul Eom, do Ministério
do Emprego e Trabalho da Coreia do Sul, em evento promovido pelo BID em São
Paulo.
Os
candidatos fazem uma série de provas orais e escritas após comprovar que têm
experiência prática ou estudaram determinada área. Se passarem, recebem
certificados nacionais que atestam suas habilidades e conhecimentos
específicos.
Um
trabalhador pode ser certificado em gastronomia coreana, por exemplo. Outro, em
serviços de engenharia elétrica ou mecatrônica. As provas são rígidas, e os
índices de aprovação podem chegar a 10% em alguns casos.
No caso do
ensino técnico, a certificação fica a encargo do Ministério do Trabalho, mas
também há certificados para as profissões de nível superior, que são em geral
administrados por outros ministérios.
O sistema é
uma forma de garantir e padronizar a qualidade dos profissionais formados no
país, facilitar a busca e a colocação no mercado de trabalhadores com
habilidades específicas e ao mesmo tempo estimular os coreanos aprimorarem suas
habilidades - uma vez que elas podem ser formalmente "reconhecidas".
É claro que
há críticas. Um estudo da OCDE de 2012, por exemplo, defendia que as
certificações de ensino superior seriam uma "duplicação
desnecessária", uma vez que os alunos já seriam avaliados em sua
instituição de ensino.
"Trata-se
de um sistema interessante e que mereceria ser estudado mais a fundo, embora no
Brasil acho que seria impensável implantar algo nessa escala", diz Hélio
Zylberstajn, da USP. "Quem ficaria encarregado dos certificados?"
Educação nas
empresas
O
australiano Peter Holden, da entidade governamental Tafe, diz que em seu país
uma das experiências mais bem sucedidas na área de formação do trabalhador são
as parcerias com empresas para o fornecimento de cursos dentro do ambiente de
trabalho.
"Há
cursos em áreas específicas ou de formação mais básica. Algumas empresas nos
indicaram um grupo de funcionários que gostariam que recebessem noções de
aritmética, por exemplo", diz Holden.
Segundo
Holden, o esquema é financiado conjuntamente pelo governo e as empresas.
"Muitos
trabalhadores viram seus trabalhos mudarem completamente em função da adoção de
novas tecnologias - e esses esquemas não só aumentam a produtividade das
empresas, mas também evitam que sejam demitidos e aumentam suas chances de uma
promoção."
Para
Zylberstajn, da USP, os esquemas de treinamento dentro das empresas estão entre
as experiências que mais poderiam ser aproveitadas no Brasil.
"Um dos
problemas do nosso ensino técnico é que as instituições de ensino e o setor
privado conversam pouco, então o que os alunos aprendem na sala de aula nem
sempre é válido para o mercado", diz o economista.
Silvani
Pereira, secretário substituto de Políticas Públicas de Emprego do Ministério
do Trabalho e Emprego, concorda que é preciso fazer avanços nessa área.
"O
treinamento do trabalhador dentro da empresa contribui para promover ganhos de
produtividade já que o alinhamento entre o que é ensinado e o que as empresas
precisam é perfeito. Além disso, tal sistema contribui para uma redução da
rotatividade dos trabalhadores", diz.
Esquemas de
aprendizagem
Nessa área,
a Alemanha parece ser, de longe, o grande modelo. Lá os jovens têm a
possibilidade de aprender um trabalho dentro de um programa de aprendizagem
conforme cursam o ensino fundamental.
Os alunos
dividem seu tempo entre as escolas e as empresas, onde são orientados por um
profissional mais experiente para aprender um entre os 344 ofícios oferecidos
pelo programa. Eles recebem um salário e, ao finalizar o curso, têm a opção de
seguir a carreira na área.
Segundo
Geoff Fieldsend, do British Council, esse é um dos muitos esquemas adotados
para melhorar a questão da empregabilidade dos jovens, mas seus resultados
ainda precisam ser avaliados.