Olá
alunos,
A Petrobras já foi considerada uma das maiores petrolíferas do mundo. A postagem de hoje procura investigar porque o cenário, para empresa, já não é tão promissor.
Esperamos
que gostem e participem.
Fellype Fagundes e Carlos Araújo
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da
Universidade Federal Fluminense
Em 2007 e 2008, as descobertas do pré-sal fizeram a
Petrobras decolar como uma das principais vitrines do governo brasileiro
e se tornar uma das maiores petrolíferas do mundo. Passados seis anos,
porém, o cenário da empresa não inspira mais tanto otimismo.
O valor de mercado da estatal tem recuado
significativamente, e os problemas da empresa viraram uma dor de cabeça
para o governo Dilma Rousseff. O jornal britânico
Financial Times chamou a companhia de "um potencial não concretizado".
A crise mais recente envolve a compra, em 2006, de 50% de uma
refinaria de Pasadena (EUA), agora sob suspeita de superfaturamento. Na
época, Dilma era ministra da Casa Civil e presidente do Conselho de
Administração da estatal, que autorizou a compra.
Mas os obstáculos da empresa envolvem também os
preços dos combustíveis praticados no Brasil, seu alto grau de
endividamento e investigações sobre suposto recebimento de propina por
funcionários em negócios com a empresa holandesa SBM Offshore.
A BBC Brasil preparou uma lista explicando os principais problemas vividos pela estatal:
Controle do preço dos combustíveis
Analistas apontam que uma das principais causas
dos problemas econômicos da Petrobras é o controle no preço da gasolina e
no diesel, exercido pelo governo para evitar um aumento da inflação.
O Brasil consome mais petróleo do que produz.
Por isso, a Petrobras é obrigada a importar o produto, mas o valor que
paga pelo produto no mercado internacional não pode ser repassado
integralmente para os consumidores, pois isso geraria uma pressão
inflacionária. Isso, obviamente, afeta as contas da empresa.
"Os investidores veem o papel do governo como
uma interferência política na gestão da Petrobras", explica à BBC Brasil
Robert Wood, especialista em Brasil da consultoria Economist
Intelligence Unit.
Um reajuste nos preços dos combustíveis deu
fôlego aos resultados da estatal em 2013, ano em que lucrou 11% a mais
que no ano anterior.
Mas seu endividamento (veja abaixo) continua
alto, mantendo a desconfiança de acionistas. "Em parte, (a retomada da
empresa) depende do ajuste no preço da gasolina e de uma política que dê
mais previsibilidade à gestão da empresa", opina Wood.
O Ministério das Minas e Energia diz que a
política de reajuste dos preços dos combustíveis é estabelecida pela
Petrobras. Por outro lado, autoridades insistem que a prioridade do
governo é o combate à inflação.
Endividamento
No ano passado, a agência de classificação de
risco Moody's rebaixou a nota da Petrobras, após a estatal brasileira se
tornar a mais endividada entre as grandes empresas de petróleo e gás.
A dívida líquida da empresa subiu 50% em 2013 - de R$ 147,8 bilhões para R$ 221,6 bilhões.
Em relatório deste mês, a agência calcula que a
dívida total da estatal equivale a 3,8 vezes o seu Ebitda (medida que
representa o potencial de geração de caixa da empresa).
Isso tem a ver, segundo analistas, com a
política de controle dos preços dos combustíveis e com um "plano
ambicioso de investimentos", explica Wood.
Um exemplo disso é o fato de a Petrobras ter
vencido, como integrante de um consórcio com outras empresas, o leilão
do campo de Libra do pré-sal, a maior bacia petrolífera do país.
Libra deve exigir investimentos de cerca US$ 80 bilhões nos dez primeiros anos, segundo estimativas de mercado.
O relatório da Moody’s diz que a nota de crédito
da Petrobras tem perspectiva "negativa", já que o endividamento "deve
chegar a níveis altos em 2014, significativamente mais altos do que das
demais empresas do setor, e só deve declinar a partir de 2015".
Isso é algo que "coloca em xeque a capacidade de investimentos da empresa", diz Pires à BBC Brasil.
Em entrevista à GloboNews em outubro do ano
passado, a presidente da estatal, Graça Foster, disse que, no caso
específico de Libra, os investimentos de curto prazo são pequenos. E
ressaltou que suas dívidas estão sendo convertidas em investimento, que
resultarão em crescimento.
Mas recentemente, na divulgação dos resultados
da empresa, a presidente admitiu que a redução do endividamento será uma
missão difícil em 2014.
Casos Pasadena e SBM Offshore
Uma reportagem de O Estado de S. Paulo apontou,
na quarta-feira, que Dilma, como então presidente do Conselho de
Administração da estatal, em 2006, votou a favor da polêmica compra de
50% da refinaria americana de Pasadena, por US$ 360 milhões. Depois, uma
cláusula contratual obrigou a Petrobras a comprar o restante da
refinaria, por mais US$ 820 milhões.
No total, portanto, foi desembolsado US$ 1,18
bilhão. O problema é que a empresa que possuía a refinaria
anteriormente, a belga Astra Oil, havia adquirido a Pasadena por apenas
US$ 42,5 milhões em 2005.
O caso está sendo investigado pela Polícia
Federal e pelo Tribunal de Contas da União, e a oposição no Congresso
ameaça a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, em ano
eleitoral.
Em carta ao Estado, Dilma disse que aceitou a
compra com base em "informações incompletas" de um "parecer técnica e
juridicamente falho". Depois, agregou que "na época o negócio parecia
vantajoso".
Questionada a respeito, a Petrobras até o momento não
comentou o caso.
Outra crise envolve denúncias de suposto
pagamento de propina a funcionários da Petrobras, por parte da empresa
holandesa SBM Offshore. As denúncias envolvem cerca de US$ 139 milhões,
que teriam sido pagos entre 2005 e 2011.
Uma comissão parlamentar externa foi designada
para analisar o caso, também investigado por Ministério Público e
Polícia Federal.
Perda de valor de mercado
Todos esses fatores têm gerado uma percepção
negativa da estatal, levando investidores a venderem a suas ações. Isso
faz a empresa perder o seu valor de mercado, representado pelo preço de
suas ações vezes o número de ações existentes.
O valor das ações, que chegou a superar os R$ 30
em 2009, agora beira os R$ 13 – um dos níveis mais baixos desde 2005,
antes do período áureo do pré-sal.
O valor de mercado da empresa foi o que
apresentou a maior perda em valores absolutos entre as empresas
brasileiras listadas em Bolsa em 2013 – de US$ 124,7 bilhões no fim de
2012 para US$ 90,6 bilhões no fim de 2013 –, segundo levantamento da
consultoria Economática.
Para Adriano Pires, analista do Centro
Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), mais do que uma dor de cabeça
para o
governo, a Petrobras "virou uma dor de cabeça para seus acionistas".
Razões para otimismo
Mas, mesmo nesses cenários, analistas apontam pontos positivos importantes da Petrobras.
O relativo sucesso do leilão do campo de Libra,
no ano passado, despertou dúvidas sobre a geração de caixa da empresa,
mas é também uma de suas principais promessas de lucros.
"Os investidores estrangeiros ainda respeitam a
expertise da Petrobras na área de exploração profunda, mas a questão da
gestão vem à tona", argumenta Wood.
Em entrevistas recentes, Graça Foster afirmou
que a produção de petróleo pela empresa está em uma curva ascendente e
não descarta novos aumentos de combustível, que ajudem a recompor o
caixa da empresa.
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