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quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Convite!



Alunos, viemos convidá-los a participar do Seminário Perspectivas 2018: Economia e Política


"Com o fim da recessão, segundo a Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (CODACE), da Fundação Getúlio Vargas, quais as perspectivas de crescimento da economia brasileira para os próximos anos? Num ano eleitoral, com um quadro político bastante nebuloso, que propostas devem nortear as campanhas dos candidatos à Presidência?

O Seminário 2018: Perspectivas e Política reunirá especialistas no assunto para debater e fazer projeções para o próximo ano, tanto no campo econômico como no político."



Será no dia 11 de dezembro de 16h às 18h, no Centro Cultural FGV - Praia de Botafogo, 186, Botafogo, Rio de Janeiro/RJ.

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

FMI alerta para o fim dos Bancos


Olá alunos.

A notícia comenta brevemente a opinião da Diretora Geral do FMI, Christine Lagarde, sobre o impacto que as criptomoedas poderão ter no futuro.

Esperamos que gostem e participem,

Ramon Reis e Lauro Monteiro, monitores da disciplina “Economia Política e Direito” da Universidade Federal Fluminense.


Na semana passada, a Diretora Geral do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, deu uma declaração surpreendente, sobre o impacto que as criptomoedas poderão ter na economia nos próximos anos. Segundo Lagarde, Bitcoin e as criptomoedas em geral têm tanto futuro quanto a própria Internet. E poderão substituir Bancos Centrais e a atividade bancária como a conhecemos hoje, além de desafiar o monopólio das moedas nacionais.

Numa conferência organizada pelo Bank of England, a número 1 do FMI ressaltou que as limitações técnicas que as criptomoedas enfrentam hoje em breve serão coisa do passado. Usando o conceito de Tecnologias Exponenciais da Singularity University, eu diria que as criptomoedas estão na fase da Decepção, que é anterior ao ponto de inflexão da curva de adoção pelos usuários. Neste estágio, a tecnologia costuma enfrentar várias dificuldades, que tornam o seu uso limitante. Assim, as pessoas que a experimentam tendem a considerá-la tão ruim, que pensam ser incapaz de substituir o sistema atual. Não se dão conta, entretanto, de que sua evolução se dá de forma exponencial e não de forma linear, como estamos acostumados a pensar. Assim, em poucos meses, ela terá evoluído o que nossas mentes comumente projetariam para décadas. Assim foi com o celular, o smartphone, a energia solar, e está sendo com o carro autônomo e inúmeras outras tecnologias.

Lagarde, em sua palestra, lembrou que há não muito tempo atrás especialistas afirmavam que computadores pessoais nunca seriam adotados pelo grande público e os tablets serviriam como caras bandejas de cafés. Ela alertou para que não se faça o mesmo julgamento com as moedas virtuais.
Ela enxerga que as criptomoedas hoje não são vistas como uma ameaça real para a indústria financeira por enfrentarem quatro grandes desafios: (a) são muito voláteis; (b) são intensivas em energia; (c) as tecnologias subjacentes não são escaláveis; e (d) não são ainda totalmente transparentes para os reguladores. Mas todas estas limitações serão superadas com o tempo, segundo ela.

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Quais são as cidades mais frágeis do mundo?


Olá alunos.

A notícia de hoje busca discutir um pouco mais a questão do espaço urbano, destacando a importância das cidades para a economia global, e trabalhando o conceito de cidades "frágeis".

Esperamos que gostem e participem,

Ramon Reis e Lauro Monteiro, monitores da disciplina “Economia Política e Direito” da Universidade Federal Fluminense.


Cidades são facas de dois gumes. Por um lado, são abertas, dinâmicas e cosmopolitas: são os motores econômicos do mundo, gerando 80% do PIB global e mais de 90% de todas as patentes. Por outro, concentram desamparo e desigualdade: são verdadeiros desastres climáticos, consumindo 75% de toda a energia produzida e produzindo 80% das emissões de CO2. O que é certo é que nossa sobrevivência depende de como as cidades do futuro serão planejadas.

Vivemos em um século urbano. Quando os Estados nacionais começaram a se consolidar no século XVII, menos de 1% da população mundial morava em cidades: hoje, esse montante gira em torno de 54%. Em razão da urbanização desmedida, as cidades estão crescendo tanto em quantidade como em tamanho. Cerca de dois terços da população mundial viverá em cidades até 2030 – e três quartos, até 2050. Essa expansão é desigual: em torno de 90% do crescimento urbano futuro ocorrerá em cidades de baixa renda da África e da Ásia.

Uma proporção considerável desse crescimento passará despercebida. Parte do surto populacional ocorrerá em áreas formais e informais de grandes aglomerações urbanas como Lagos (Nigéria), Nova Déli (Índia) e Cantão (China). Porém, a maior parte dessa expansão urbana consistirá de uma mudança mais sutil – embora não menos impactante – da população rural para cidades pequenas e médias. Os 3 milhões de novos habitantes das cidades por semana não moram em reluzentes arranha-céus, mas em comunidades negligenciadas das periferias.

A urbanização acelerada está criando tipos radicalmente novos de cidades que desafiam os padrões da geografia urbana. Modelos antigos e ocidentalizados de planejamento urbano não mais se aplicam. Considere a nova “supercidade” de 130 milhões de pessoas que une Pequim e Tianjin. Ou então a nova safra de “hipercidades” no mundo, como Jacarta ou Dongguan, que reúnem 20 milhões de residentes ou mais. E há ainda algo em torno de trinta “megacidades”, como Istambul, Paris, São Paulo ou Buenos Aires, com pelo menos 10 milhões de cidadãos. Um número crescente de cidades rivaliza com estados-nação em poder e influência.

As notícias não são muito positivas. Apenas uma minoria das cidades prospera e impulsiona o crescimento global. De acordo com a McKinsey, espera-se que 600 cidades gerem 60% de todo esse crescimento até 2025. Eis o problema: a vasta maioria das cidades está com dificuldades para acompanhar o ritmo – muitas ficam para trás, incapazes de atender às demandas de suas populações em expansão. Essas cidades não estão crescendo verticalmente, ficando mais “inteligentes” ou se beneficiando da nova economia digital. Muitas delas estão se urbanizando antes mesmo de se industrializar, fazendo com que os governos, infraestrutura e serviços tenham dificuldade em acompanhar o ritmo. O resultado é o surgimento de cidades mais desiguais, empobrecidas e frágeis.

Todas as cidades sofrem de fragilidade, mas algumas são mais frágeis que outras. Curiosamente, a despeito da importância das cidades à governança global, ao comércio e ao bem-estar socioeconômico, muito pouco é conhecido sobre elas. A maior parte das pesquisas foca nas cidades mais ricas da América do Norte, Europa Ocidental e do leste da Ásia. No afã de preencher essa lacuna de conhecimento, o Instituto Igarapé, junto com a Universidade das Nações Unidas, o Fórum Econômico Mundial e uma rede de parceiros que inclui o Create Lab da universidade americana Carnegie Mellon, criou ferramentas para mapear as fragilidades de todas as cidades ao redor do mundo.

A fragilidade se intensifica quando o pacto social da cidade – o acordo entre os líderes municipais e os residentes urbanos – é quebrado. De um ponto de vista prático, quando as cidades são incapazes de fornecer um mínimo de serviços públicos – lei e ordem, serviços básicos, segurança quanto a desastres naturais de curto e longo prazo – a fragilidade se aprofunda. Não é uma condição permanente – as cidades regularmente entram e saem da fragilidade – mas quando os riscos se acumulam, eles podem assoberbar as instituições da cidade. É claro que as cidades são ecossistemas complexos e diversos. Mesmo assim, é possível prever alguns parâmetros de fragilidade e os riscos de colapso das cidades.

A visualização de dados Cidades Frágeis mapeia a evolução da fragilidade de mais de 2.100 cidades com população de 250.000 habitantes ou mais. A plataforma se vale de 11 medidas da fragilidade urbana, incluindo o crescimento populacional, desigualdade de renda, desemprego, acesso a serviços, poluição, exposição a terrorismo, índices de homicídio e relatos de conflitos. A visualização mostra dados de 2000 a 2015, permitindo que os usuários explorem tendências recentes. Reconhecendo que análises preditivas devem sempre ser vistas com cautela, as pontuações de fragilidade também são previstas para todas as cidades (até o ano de 2030).
Essa visualização de dados revela que uma proporção surpreendentemente grande das cidades do mundo sofre de níveis de fragilidade acima da média. De acordo com o último ano registrado, 239 cidades exibiram pontuação de fragilidade “alta” ou “muito alta” (2,5 ou mais em uma escala de 5 pontos), mais ou menos 11% do total. Outras 346 cidades – 13% – registraram “fragilidade baixa” (0 a 2,4 em uma escala de 4 pontos). A maioria das cidades, 1.489 ou 71% do total – apresentou pontuação de “fragilidade média”.

O mais preocupante é que a fragilidade das cidades parece aumentar cada vez mais, especialmente em locais de renda baixa ou média. Essas tendências são mais evidentes na África do Norte e Central, no Oriente Médio e no centro, sul e sudeste asiático onde o número de cidades frágeis cresceu 26% entre 2000 e 2015. Mesmo assim, situações de média e alta renda também testemunharam uma intensificação da fragilidade – 7% e 14% respectivamente. É interessante notar que altos níveis de fragilidade não estão restritos a países afetados pela guerra, sendo mais abrangentes – incluindo países notadamente pacíficos.

Existem diversos motivadores da fragilidade das cidades que variam de região a região. Por exemplo, crescimento populacional acelerado, terrorismo, rede elétrica reduzida e poluição são riscos chave para fragilizar cidades do Oriente Médio e Ásia Central. Em contraste, nas cidades da África Central e Ocidental, desemprego crônico, cobertura elétrica falha e os conflitos são os fatores mais determinantes. Enquanto isso, na América Central e no Caribe, grandes índices de desigualdade, de desemprego, de homicídios e a grande exposição a desastres naturais fazem a diferença quanto à pontuação de suas cidades serem maiores ou menores.

Neste momento delicado quando instituições multilaterais e sistemas nacionais estão paralisados, as cidades e seus líderes são os novos visionários do século XXI. Eles têm direito a um lugar na mesa onde as decisões são tomadas. Felizmente, uma crescente rede de colaboração intercidades – há atualmente mais de 200 delas pelo mundo – estão redobrando seus esforços para facilitar o empoderamento das cidades. Enquanto isso, ferramentas que usam dados para registrar o pulso das cidades podem revelar a saúde das nações, ao mesmo tempo que fomentam o planejamento municipal.

Para enfrentar os grandes perigos deste século, prefeitos e planejadores urbanísticos precisam estar mais bem informados do que nunca. Melhorar a coleta e visualização de dados ajudará, mas são apenas o começo. As cidades não sobreviverão apenas ao se apoiar em estratégias preventivas. Elas precisam se tornar mais proativas, investindo em estratégias de adaptação e mitigação. Elas também precisarão de maior poder discricionário e da autoridade que lhes permita tomar medidas que reforcem sua resiliência. As autoridades urbanas também vão precisar trabalhar em coalizões intercidades para navegar pelas vindouras tempestades. Ao trabalharem juntos, as cidades podem amplificar suas vozes nos palcos nacional e global.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Caixa: abertura de capital afeta políticas públicas e afronta Congresso

Caixa Econômica Federal
Olá alunos. 
A notícia discute, do ponto de vista dos opositores, a questão de abertura de capital da Caixa Econômica Federal, com a principal alegação de descaracterizar a natureza da estatal.
Gostaríamos de agradecer a colaboração do Grupo 6 Noturno – Matheus Ribeiro, Marielle, Josiane, Nicole, Amanda Abreu, Gabriel Costa – pela contribuição da notícia. 
Esperamos que gostem e participem, 
Ramon Reis e Lauro Monteiro, monitores da disciplina “Economia Política e Direito” da Universidade Federal Fluminense.ip

São Paulo – A abertura de capital da Caixa Econômica Federal, proposta que está sendo abertamente discutida pelo banco, tem impedimentos jurídicos e políticos, além de representar uma descaracterização das finalidades da instituição, observa a representante dos trabalhadores no Conselho de Administração, Maria Rita Serrano. "Do ponto de vista da governança, a Caixa já está adequada. Esse argumento é uma falácia", diz Rita, que também coordena o Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas.
Ela recorda do movimento amplo no ano passado, no Congresso, contra o Projeto de Lei 555, o chamado "estatuto das estatais", que virou lei (13.303, sancionada em junho de 2016), mas com exclusão de alguns itens importantes, como aquele que previa transformação de todas as empresas em sociedades anônimas. A lei dava prazo de dois anos para que todas adequassem seus estatutos, e recentemente a presidenta do Conselho de Administração da Caixa, Ana Paula Vescovi, apresentou uma proposta "ressuscitando", como observa Rita, a questão sobre abertura de capital, não prevista na lei, que por outras "discrepâncias" é objeto de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), a 5.624, a pedido da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae). O relator é o ministro Ricardo Lewandowski.
Além de a lei não exigir, observa a representante dos trabalhadores, uma mudança dessa natureza teria de passar pelo Congresso, por uma questão não só jurídica, mas política, já que o Parlamento decidiu pela exclusão desse tema que o Conselho de Administração quer discutir, provavelmente no mês que vem. "Logicamente, essa posição do Executivo contraria a do Legislativo", diz Rita, que também refuta a argumentação repetida pelo governo sobre governança. "Os bancos são extremamente controlados."
Ela ressalta o caráter estratégico do banco. "A Caixa só é a maior operadora de programas sociais do governo porque é pública. Obviamente, ela tem de ter lucro, mas esse resultado tem de ser revertido no desenvolvimento do país", pondera. "O compromisso do Temer é com o capital privado. O que ele e o (Henrique) Meirelles, o ministro-candidato, fazem, é favorecer o mercado."
A abertura de capital implicaria em mudança imediata do perfil do banco, observa Rita. "Você vai ter outros atores dentro da empresa disputando somente os resultados, o lucro. A partir do momento que você tiver uma visão pública e uma visão privada partilhadas, o contexto será outro. Já temos bancos privados suficientes. Temos de discutir também por que os bancos privados não investem no país", argumenta.

Tamanho menor

A direção da Caixa já tem feito ações para reduzir o tamanho do banco. A mão de obra vem diminuindo. Fechou 2015, por exemplo, com aproximadamente 97.500 empregados, e no segundo semestre deste ano, segundo relatório do banco, estava com 90.200. 
Os trabalhadores têm feito diversas manifestações e atividades para chamar a atenção do processo de "desmonte" da Caixa e dos bancos públicos. No próximo dia 7, por exemplo, haverá audiência pública na Assembleia Legislativa de São Paulo. 
Nesta segunda-feira (23), a partir das 10h, será realizado um ato no Jardim Camargo Novo, zona leste de São Paulo. Segundo o Sindicato dos Bancários, é a única agência naquele bairro, e com previsão de fechar ainda este ano. "Faremos um ato em frente a uma das 100 agências previstas para fechar ainda este ano somente no município de São Paulo. O desmonte dos bancos públicos já é uma realidade", diz a presidenta do sindicato, Ivone Silva.
"No país, em um ano, o Banco do Brasil fechou mais de 10 mil postos de trabalho, o que representa aumento de 269% em relação ao mesmo período do ano anterior. A Caixa reduziu em 5.486 o número de postos de trabalho no mesmo período, com aumento de 145% em relação ao ano passado. O governo quer tornar a Caixa uma empresa S/A e depois abrir o capital do banco, com a consequência imediata de perda do papel de gestor dos mais importantes programas sociais do País."
De acordo com Dionísio Reis, diretor do sindicato e funcionário da Caixa, apenas a agência do Jardim Camargo realizou neste mês R$ 30,6 milhões em operações de crédito. "No crédito habitacional foram investidos R$ 23,4 milhões e na poupança R$ 16,6 milhões, uma amostra da importância de um banco público para o desenvolvimento do país."
Em 2016, o saldo da carteira de crédito da Caixa somou R$ 709,3 bilhões, crescimento de 4,4%. Na execução dos programas governamentais, foram pagos R$ 28,3 bilhões em benefícios sociais e R$ 242,1 bilhões em benefícios aos trabalhadores. Os dados são do relatório de administração. O principal programa de transferência de renda, o Bolsa Família, pagou R$ 27,4 bilhões.
Apenas a carteira de crédito imobiliário cresceu 5,6%, somando R$ 406,1 bilhões, sendo R$ 203,4 bilhões com recursos do FGTS. A Caixa lidera esse mercado com 67% de participação.
"A Caixa é um banco extremamente importante, centenário, e tem uma função nobre na sociedade", diz Rita Serrano, funcionária desde 1989. Uma mudança como a pretendida pelo governo, acrescenta, não pode ser limitada a sete pessoas – número de integrantes do Conselho de Administração.

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Por que 20 anos não foram suficientes para que Mercosul e UE concluíssem tratado comercial

Bandeira do Mercosul

Olá alunos.

A notícia analisa as implicações econômicas e sociais por trás da morosidade das tratativas para um acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul, tomando de pano-de-fundo as tentativas do novo presidente francês Emmanuel Macron de atualizar os mandatos concedidos pelos governantes europeus à Comissão Europeia para negociar com o Mercosul. Atualização que, segundo a matéria, poderia levar a um novo atraso e a um novo prolongamento das tratativas com o Mercosul.

Gostaríamos de agradecer a colaboração do Grupo 5 Noturno – Anna Carolina, Maria Beatriz, Renata L., Maria Clara, Pedro Henrique, Lincon – pela contribuição da notícia.

Esperamos que gostem e participem,

Ramon Reis e Lauro Monteiro, monitores da disciplina “Economia Política e Direito” da Universidade Federal Fluminense.


A dois meses da data estimada por Mercosul e União Europeia para concluir as negociações de um tratado de livre-comércio, o processo, iniciado há quase vinte anos, corre novamente o risco de ser paralisado.

O problema desta vez é o desejo do presidente francês, Emmanuel Macron, de atualizar o mandato concedido pelos governantes europeus à Comissão Europeia (braço Executivo do bloco) para negociar com o bloco sul-americano, uma ideia que ele defenderá nesta quinta-feira, em uma cúpula em Bruxelas.

Se os líderes europeus concordarem com a ideia, as negociações deverão ser suspensas até que o novo mandato seja emitido, um processo que poderá demorar mais de dois anos.

"Levará alguns anos só para negociar (entre os países europeus) o que será esse novo mandato e apresentar à outra parte (Mercosul), que também precisa aceitar os termos. Depois (o novo mandato) tem que ser aprovado pelos governos dos 28 (membros). E quando tudo isso for feito, teremos que recomeçar (as negociações) do zero", explicou Edita Hrdá, diretora para América Latina no Serviço Europeu de Ação Exterior, quem lidera as negociações, à BBC Brasil.

20 anos de desencontros

Os representantes europeus não questionam a necessidade de atualizar um mandato concedido há vinte anos, quando comércio digital, transferência de dados, desenvolvimento sustentável, aquecimento global e cibercrime ainda não eram temas relevantes nas relações bilaterais.

No entanto, devido à pressão do tempo, preferem usar "maneiras criativas" para introduzi-los nas negociações sem que seja necessário mudar oficialmente o atual mandato, afirmou outro executivo que participa do processo, que pediu anonimato porque não está autorizado a se pronunciar sobre o assunto.

Emmanuel Macron

Durante os quase vinte anos em que as negociações com o Mercosul avançaram, recuaram, foram suspensas (em 2012) e relançadas (em 2016), a UE foi capaz de concluir tratados comerciais com Japão, Canadá, Colômbia, Peru, América Central e está a ponto de finalizar a modernização de seu acordo com México.

No caso do Mercosul, os europeus lidaram durante anos com um bloco internamente dividido, lembra Eleonora Catella, conselheira comercial da associação empresarial europeia Business Europe.

"No passado, o Mercosul teve problemas políticos e havia diferenças entre o nível de abertura que queria cada país. Hoje vemos que esses países, pela primeira vez, estão na mesma página com alto nível de ambição."

Segundo o executivo europeu que participa das negociações, o bloco sul-americano "não é mais difícil que outros" países com os quais a União Europeia concluiu acordos recentemente.

O Mercosul está disposto a fazer concessões em matéria de serviços, indústria e licitação pública, os setores mais importantes para a UE, assegura a fonte.

Catella concorda: "O problema agora é o contexto interno em países europeus: a Alemanha ainda não formou governo e na França há um novo presidente".

Estratégia

A representante dos empresários europeus não descarta que a manobra de Macron na cúpula desta semana seja uma estratégia para ganhar tempo frente à pressão dos agricultores franceses, descontentes com a oferta de abertura para carnes e etanol sul-americanos apresentada pela UE na última rodada de negociação com o Mercosul, no início do mês, em Brasília.

"A agricultura sempre foi um ponto sensível nessas negociações. Tem havido muitos protestos. Os agricultores temem o impacto de uma maior concorrência. Macron foi eleito recentemente, está tentando acalmar a situação", afirma também Pieter Cleppe, diretor do centro de reflexão Center for Open Europe em Bruxelas.

Campo

Ele acredita que a pressão do lobby agrícola europeu, mais forte na França e na Irlanda, mas apoiado por outros nove países, é um problema recorrente nas negociações entre europeus e sul-americanos.

"Em qualquer negociação comercial, o tipo de exportação determina que tipo de lobby sairá ao ataque. No caso do Mercosul, temos o maior exportador de carne e maior produtor de etanol e de commodities (o Brasil). Não é surpresa que os agricultores peçam protecionismo", diz Cleppe.

Agricultura como vilã

Associações europeias de agricultores, como a poderosa Copa-Cogeca, afirmam que o acordo com o Mercosul causaria perdas de até 7,8 bilhões de euros para o setor agrícola da UE.

Na França, primeiro produtor agrícola europeu e segunda potência da zona euro, o setor enfrenta uma grave crise. Sua participação na economia nacional caiu pela metade desde 1980 e representa hoje 1,5 por cento do PIB, uma porcentagem que sobe para 3,6 por cento incluindo a indústria agroalimentar.

"O lobby agrícola é muito forte em qualquer parte do mundo. É de sua natureza. A alimentação é um setor estratégico. Na Europa esse lobby é muito bem organizado e usa argumentos fortes", observa o analista do Center for Open Europe.

Se a agricultura europeia desaparecer em consequência da concorrência do Mercosul, o bloco passaria a depender de importações, afirmam os produtores europeus.

"Mas o exemplo da Nova Zelândia mostra que a abertura do mercado agrícola pode, ao contrário, levar a um aumento na produção local", observa Cleppe.

Os agricultores europeus também argumentam que seus competidores sul-americanos não estão submetidos às mesmas regras e padrões sanitários e de qualidade impostos na UE e mencionam fraudes como as denunciadas no Brasil pela operação Carne Fraca, no ano passado.

Essa tese é refutada pela Comissão Europeia, que destaca que um eventual tratado comercial harmonizará regras e sistemas de controle.

Para Cleppe, o interesse do lobby agrícola europeu prevalece porque falta organização dos lobbies dos setores mais interessados no acordo, não só industrial ou de serviços, mas também de consumidores.


"O lobby de consumidores deveria pressionar pela abertura comercial, porque o interesse dos consumidores deve estar em primeiro lugar - e para os consumidores é bom ter mais opções", defende o analista.

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Bitcoin movimenta negócios na economia real

Resultado de imagem para bitcoin

Olá alunos.

A notícia analisa o impacto das criptomoedas (“moedas digitais”) podem ter na economia real e explicando como funciona a lógica da bitcoin, a principal criptomoeda em circulação no mercado.

Gostaríamos de agradecer a colaboração do Grupo 6 Integral – Bruna Lebre, Julia Martins, Breno Aud, Luísa Motta, Laryssa Guimarães – pela contribuição da notícia.

Esperamos que gostem e participem,

Ramon Reis e Lauro Monteiro, monitores da disciplina “Economia Política e Direito” da Universidade Federal Fluminense.


Na Expointer de 2017, tradicional evento do agronegócio no Sul do Brasil, um produtor comprou uma vaca e usou bitcoins (BTC) para pagar a conta. Quem chamou a atenção para o que pode ser uma das primeiras vendas de animais usando a moeda digital mais popular na atualidade foi o mestre em Informática Aplicada e consultor em modelo de negócios Fausto Vanin, para mostrar quanto o mundo das criptomoedas invade cada vez mais a economia real, mas mais ainda começa a mexer nas referências das transações.

Este foi o tom de Vanin e do economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE) Guilherme Stein no painel no Jornal do Comércio que focou o impacto das criptomoedas e a livre geração de valor. O evento foi uma parceria do JC e Conselho Regional de Economia do Rio Grande do Sul (Corecon-RS), que fez pela primeira vez seu Economia em Pauta em uma redação de jornal. O público lotou o salão de eventos do jornal na noite dessa terça-feira (24), indicando que está de olho e muito interessado em saber como funcionam essas moedas e a tecnologia que sustenta o modelo.

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Vanin destacou a inovação que está na tecnologia do blockchain.

Mas voltando à vaca. Para poder realizar o pagamento, o comprador teve de acionar, possivelmente, uma operadora (exchange) que faz a transferência do dinheiro aplicado em bitcoin para a conta do vendedor que recebeu em reais. O BTC e outras similares que movimentam esse novo mercado não são um meio de pagamento oficial. No caso do Brasil, o real. Real, dólar, euro etc são as chamadas moedas fiat, que são o dinheiro oficial em cada país. "Mas o 'cara' embaixo do BTC é o blockchain, é a tecnologia que está atrás", advertiu o consultor, referindo-se à arquitetura da programação que segue lógica de uma cadeia de blocos (tradução ao pé da letra do inglês).

Esta cadeia de blocos é responsável por garantir a segurança, a confiança e o processo característico das criptomoedas - que é a interligação de blocos que dificulta tentativas de alteração. "Por isso, diz-se que os dados no blockchain são imutáveis", define Vanin, explicando que quanto mais antiga a operação mais seguro está que foi validada pela cadeia anterior. O que o consultor procurou destacar é a relação de ganho individual e coletivo.

"Tem de criar um círculo virtuoso, se não não vai dar certo", previne o especialista. Vanin buscou mostrar as novas possibilidades de negócios que o blockchain está proporcionando, e que usam um dos trunfos do bitcoin em sua origem, a ideia de fazer transações sem intermediação ou centralização, que caracteriza os sistemas convencionais de bancos e outras modalidades do mercado financeiro regulados por governos e autoridades como bancos centrais. Há muitos exemplos, segundo o consultor. Mesmo em um campo recente como o dos aplicativos de transporte também surgem concorrentes de Uber e Cabify que eliminam a necessidade das empresas. "O Arcade foi criado por ex-motoristas do Uber nos Estados Unidos e utiliza a base do blockchain, sem intermediação", exemplifica Vanin. No Brasil, surgem iniciativas em seguros como o Mutual Life.

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Stein comparou o blockchain e as transações antes de surgirem as moedas físicas.

Guilherme Stein fez uma associação entre a modernidade das novas tecnologias com o passado, antes mesmo de surgirem as moedas como conhecemos hoje - aquelas que usamos fisicamente para comprar bens e pagar serviços. O economista explica que nas comunidades eram feitos registros de trocas de favores, por exemplo, em que as pessoas indicavam o que iam entregar e registravam no livro razão - o mesmo usado em contabilidade. "Essa nova tecnologia (blockchain) permite que se possa fazer um livro razão público (planilha pública) e, a partir daí, consegue-se fazer a geração livre de valor. É como se fosse um livro razão virtual", ilustra Stein. Os dois painelistas ressaltaram que a inovação ainda vai passar por mudanças, mas que a provocação é sobre os novos tipos de relações e empreendimentos. Muitos ainda estão por ser descobertos.

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Convite!

TECNOLOGIA_DISRUPTIVA

Alunos, viemos convidá-los a participar do Seminário Tecnologias Disruptivas


"A Universidade Católica Portuguesa e o Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getulio Vargas no Rio de Janeiro convidam para o Seminário Tecnologias Disruptivas: Desafios de Direito e Tecnologia no Século XXI. Durante o evento, serão debatidos temas como Fake News, Estado de Direito e Uberização, Big Data e o Direito à Privacidade e implicações das novas tecnologias nas investigações criminais."

Será nos dias 09 e 10 de novembro de 09h às 18h, na Sede FGV - Praia de Botafogo, 190, Botafogo, Rio de Janeiro/RJ

Desigualdade atrapalha crescimento e corrói a coesão social, diz FMI

Desigualdade
Olá alunos.      
A notícia de discute o crescimento da desigualdade a partir de relatórios do FMI, e como esse crescimento afeta a coesão social e o próprio crescimento econômico, além de fazer uma crítica a questão do Fundo ter, em mais de uma situação, reconhecido a problemática de seu receituário fiscal para os países em crise, mas não ter passado disso, ou seja, faz uma autocrítica que, no fundo, é vazia.
Gostaríamos de agradecer a colaboração do Grupo 5 Integral - Carolina Portella, João Felipe Viguier, Beatriz Portella, Beatriz Ligiero, Eleine Beatriz - pela contribuição da notícia.    
Esperamos que gostem e participem,      
Ramon Reis e Lauro Monteiro, monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense.

Em duas manifestações diferentes realizadas nos últimos dias, o Fundo Monetário Internacional (FMI) destacou que a crescente desigualdade social é um fator desestabilizador para a coesão social e política dos países e também atrapalha o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) das nações.
Uma das indicações desta ideia pelo FMI está no texto Growth That Reaches Everyone: Facts, Factors, Tools ("Crescimento que atinge a todos: fatos, fatores e ferramentas", em tradução livre), publicado no blog do fundo em 20 de setembro. O documento é assinado por Rupa Duttagupta, vice-diretora do Departamento de Estudos Econômicos Mundiais do FMI, Stefania Fabrizio, segunda no comando do Departamento de Estratégia, Políticas Públicas e Revisão, e Davide Furceri e Sweta Saxena, economistas seniores do fundo.
No texto, o quarteto lembra que, nas últimas décadas, o crescimento da economia mundial elevou os padrões de vida e criou inúmeras oportunidades de emprego, tirando milhões da pobreza, mas destacam que a "desigualdade aumentou em diversas economias avançadas e permanece teimosamente alta em muitas que ainda estão se desenvolvendo". Isso é preocupante, lembram os economistas, pois pesquisas deixam claro que a persistente falta de inclusão social "pode afetar a coesão social e prejudicar a sustentabilidade do próprio crescimento".
O estudo destaca que a desigualdade salarial cresceu "fortemente" em muitos lugares e que no mundo desenvolvido isso se deu entre os anos 1990 e a metade dos anos 2000. Nas economias emergentes, a desigualdade salarial caiu em muitos países, mas ainda é muito alta. O Brasil é um exemplo evidente disso. Na segunda-feira 25, a ONG Oxfam Brasil mostrou que os seis brasileiros mais ricos detêm a mesma fatia da riqueza nacional que os 100 milhões mais pobres.
Além da desigualdade salarial, lembra o FMI, a falta de inclusão se manifesta por meio de acesso desigual a empregos e serviços básicos, como educação e saúde; por altas taxas de mortalidade em segmentos específicos da população (caso de jovens e negros no Brasil); pela falta de acesso ao sistema bancário e financeiro; e pela desigualdade de gênero, que "levou a diferenças persistentes em [níveis] de saúde, educação e renda entre homens e mulheres em grandes partes do mundo". Este também é o caso do Brasil, onde as mulheres trabalham em média 5 horas a mais que os homens e recebem 76% do salário.
O FMI lembra também que a tecnologia e a integração econômica trouxeram muitos benefícios a diversas economias, como aumento de produtividade e redução de preços, o que beneficiou os mais pobres, mas lembra que a tecnologia "aumentou a demanda quase que exclusivamente por trabalho qualificado, enquanto o comércio em algumas oportunidades deslocou os trabalhadores menos qualificados".
Os economistas afirmam que a resposta a esses problemas não é parar reformas que aumentem a produtividade e o crescimento, mas "focar em políticas que oferecem oportunidades para todos".
Entre os exemplos estão gastos em infraestrutura, como estradas, aeroportos, a malha energética e educação; a ampliação de acesso a serviços financeiros, o que facilita o consumo e o investimento; auxílio na busca por empregos; uma política fiscal que garanta crescimento inclusivo, reduzindo as desigualdades educacionais e de saúde entre diversos grupos, e que promova benefícios sociais, como transferências de renda para proteger os mais vulneráveis. Este último caso existe no Brasil, sob o nome de Bolsa Família.
Obstáculo para o crescimento
Cinco dias depois da publicação do artigos dos economistas, Tao Zhang, vice-diretor-gerente do FMI, destacou que a redução da classe média em economias avançadas, como os Estados Unidos, em meio ao aumento da desigualdade, está prejudicando o crescimento global. Ele fez as afirmações à agência AFP.
A previsão do fundo é que a economia mundial avance 3,5% em 2017, um patamar baixo em termos históricos. Para os EUA, a previsão é de 2,1%, mas Zhang lembrou que mais da metade das famílias norte-americanas têm rendimentos mais baixos do que tinham no ano 2000. Essa desigualdade de renda, afirmou Zhang, está pesando sobre o consumo global, reduzindo-o em cerca de 3,5% nos últimos 15 anos, disse ele. "Isso representa um importante obstáculo ao aumento da demanda", afirmou. "Todos nós estamos conscientes das ramificações sociais e políticas que acompanharam essas mudanças na distribuição da renda familiar", afirmou. 
Pobreza Filipinas
Assim como os quatro economistas do fundo, Zhang pediu programas específicos de assistência social, aumento da educação e formação profissional, salário mínimo mais elevado, apoio à assistência à infância, bem como maior assistência previdenciária aos pobres como formas de combater a desigualdade.
Mudança de postura?
O fato de o FMI destacar o papel deletério da desigualdade é significativo pois a instituição teve papel decisivo para desenhar as diretrizes da economia atual, como o foco prioritário no crescimento e a integração comercial.
Ao lado do Banco Mundial e do Tesouro dos EUA, o FMI é uma das instituições que compôs o chamado consenso de Washington que impôs um receituário único a diversos países que envolviam estabilização macroeconômica, abertura das economias ao comércio e aos fluxos de investimento e a expansão das forças de mercado na economia doméstica, por meio, por exemplo, de privatizações.
Este receituário, como o próprio FMI reconhece agora, produziu desigualdade e instabilidade política, um cenário para o qual diversos grupos políticos alertaram quando essas políticas começaram a ser aplicadas e seus efeitos, sentidos. Mais recentemente, muitos analistas colocam a crescente desigualdade como um dos fatores para o fortalecimento de alternativas políticas populistas, como Donald Trump nos Estados Unidos e o Brexit, no Reino Unido.
Em 2015, o FMI já havia alertado para os danos que a desigualdade trazia, com a publicação do documento Causas e consequências da desigualdade de renda em uma perspectiva global, assinado por cinco economistas. No relatório, o grupo contestava a ideia de que o enriquecimento dos mais ricos contagiaria o resto da sociedade, a chamada trickle down economics, base conceitual das políticas neoliberais que tomaram o mundo a partir das eleições de Margaret Thatcher e Ronald Reagan justamente por meio do FMI e do Banco Mundial.
No documento, os economistas defendiam políticas de distribuição de renda para retomar crescimento, como programas assistenciais e impostos sobre grandes fortunas.
Em 2016, o mesmo FMI trouxe novamente a questão à tona, com a publicação do artigo Neoliberalism: Oversold?, em sua revista trimestral Finance & Development. O texto aborda especificamente os efeitos de duas políticas neoliberais, a remoção das restrições ao movimento de capitais (liberalização das contas de capital) e a consolidação fiscal (“austeridade” para reduzir déficits fiscais e o nível da dívida) e reconhece que seu receituário tem efeitos nocivos no longo prazo, acentuando a desigualdade.
O fato de o FMI reconhecer o desastre das políticas que ajudou a implantar não significa, no entanto, que elas vão retroceder. Após a publicação do artigo Neoliberalism: Oversold?CartaCapital entrevistou o sociólogo alemão Wolfgang Streeck, autor do livro Tempo Comprado: A Crise Adiada do Capitalismo Democrático, no qual discute as causas e efeitos da crise de 2008.
Streeck destacou que o artigo era uma "expressão da impotência" do fundo diante da crise econômica. "Não há nada ali que possa ser uma sugestão para substituir o neoliberalismo como regime de acumulação de capital – e acumulação de capital é do que se trata o capitalismo", afirmou. Para Streeck, estamos em um mundo "no qual as velhas receitas não estão funcionando mais, embora, ao mesmo tempo, não tenhamos novas receitas plausíveis ou viáveis".
"O FMI sempre insiste na ideia de que os países devem honrar suas obrigações com os credores e não seria possível ser de outra maneira. Mas isso pode ser feito de duas formas: cortando gastos com os cidadão (austeridade!) ou estimulando o crescimento econômico", afirmou. "Na ausência de crescimento econômico, o FMI sempre irá pregar o caminho da austeridade. E uma vez que ninguém sabe como restaurar o crescimento econômico em condições socialmente aceitáveis, artigos como este, que parecem fascinantes, não passarão de artigos de pesquisa", disse.