Olá alunos,
Desde os anos 1960, o Congresso
norte-americano aprovou a Lei Helms-Burton, que impôs pesadas sanções
econômicas ao regime comunista instalado em Cuba. As restrições econômicas e
comerciais não trouxeram nenhum dos resultados políticos desejados pelo EUA e
afetaram profundamente o povo cubano. A postagem de hoje busca analisar os
efeitos desse bloqueio e as previsões de que ele possa chegar ao fim.
Esperamos que gostem e participem.
Fellype Fagundes e Carlos Araújo
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
Fellype Fagundes e Carlos Araújo
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
O anúncio pelo governo dos EUA de que a Doutrina
Monroe – criada por George Washington em 1823 para defender os interesses
norte-americanos no Hemisfério contra pretensões europeias – deixou de existir poderia servir como
primeiro passo para uma revisão de fundo da política externa da Casa Branca
para a região. Dentre as políticas passiveis de reavaliação sobressai a questão
do embargo contra Cuba.
Desde os anos 1960, como reflexo do clima de guerra
fria e da pressão dos imigrantes cubanos instalados em Miami, o Congresso
norte-americano aprovou a Lei Helms-Burton, que impôs pesadas sanções
econômicas ao regime comunista instalado na ilha. Passados mais de 50 anos, as
restrições econômicas e comerciais não trouxeram nenhum dos resultados
políticos desejados pelo EUA, afetaram profundamente o povo cubano e deu poderosos
argumentos para os irmãos Castro se manterem no poder, acenando com a “agressão
imperialista de Washington e da máfia terrorista de Miami”.
Durante todo esse tempo a política externa dos EUA
ficou refém da maioria cubana, sobretudo na Flórida, sem conseguir pôr fim ao
embargo comercial nem devolver a Cuba a base de Guantánamo. Nos últimos 20
anos, contra a opinião de todos os países da região, os presidentes norte-americanos evitaram discutir esses dois temas.
As circunstâncias internas e externas em Cuba e nos
EUA, contudo, estão se alterando mais rápido do que se imagina.
Raúl Castro, com apoio de uma nova geração de membros
do Partido Comunista, vem introduzindo mudanças graduais e controladas na
economia cubana, como a legislação recente de empresas privadas. A frágil
economia da ilha tem-se apoiado mais recentemente no petróleo subsidiado na
Venezuela. Diante da rápida deterioração venezuelana, esta poderá agravar-se
com a redução ou suspensão do fornecimento de petróleo, que, em parte, é
reexportado para geração de divisas.
Do ponto de vista externo, Cuba foi recentemente
readmitida na Organização dos Estados Americanos (OEA) e os EUA começaram a
eliminar algumas restrições de comércio e de movimentação de pessoas, com o
rápido aumento das remessas de dólares de Miami para os parentes na ilha. Com
esses pequenos passos e algumas brechas na legislação, interesses comerciais
dos dois lados elevaram as exportações americanas para mais de US$ 350 milhões
em 2013. Por outro lado, investimentos importantes da Espanha e do México na
área de turismo e do Brasil em infraestrutura, além de conversações iniciais visando
a um acordo comercial entre Cuba e União Europeia, não passam despercebidas dos
interesses das empresas, sobretudo as baseadas na Flórida.
Desde o inicio de seu governo Barack Obama tem
buscado “um novo começo” com Cuba, ressaltando a necessidade de as políticas em
relação a Havana serem criativas e permanentemente atualizadas. Cuba, contudo,
continua sendo um tema sensível de política interna dos EUA e por isso toda ação
positiva vem acompanhada de restrições quanto à falta de uma agenda de reforma
democrática e de preservação dos direitos humanos.
Essa política gradualmente menos restritiva está
sendo respaldada por pesquisas de opinião que apontam que a maioria dos norte
americanos defende mais diálogo, a retirada de Cuba da lista de “nações que
patrocinam o terrorismo” e a possibilidade de um enviado especial para negociar
com o regime castrista. Cerca de 56% dos americanos defendem a normalização das
relações com Cuba, numero que sobe a 63% entre os habitantes da Flórida,
segundo o centro de estudos Atlantic Council. Obama, na sua reeleição, por
sinal, venceu na Flórida, bastião pró-embargo, onde exilados cubanos se
instalaram depois de terem seus bens expropriados pela revolução de 1959. É perceptível
a evolução da opinião pública, a ponto de cubanos exilados e seus dependentes
estarem visitando a ilha pela primeira vez. Impensável a pouco tempo, hoje
cubanos americanos começam a se reunir para discutir como normalizar as
relações entre os dois países e pôr fim ao embargo econômico.
Nota-se mesmo uma discreta aproximação entro os dois
países, apesar de persistirem questões espinhosas como a do cidadão norte-americano
preso por acusação de espionagem e da ação clandestina da Agência dos Estados
Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), mantida de 2009 a 2012 via
Twitter, em Cuba para promover campanhas antigoverno, identificar potenciais
líderes oposicionistas e ampliar setores dissidentes. A ironia é que para alimentar
esse canal firma de fachada financiada pela Usaid fazia pagamentos a empresa
estatal cubana contra o objeto do embargo, que é o de privar o regime castrista
de receitas...
Se os EUA iniciaram o processo de revisão da
política de sanções contra o Irã, não há mais razão para manter o embargo econômica
contra a ilha, apesar da oposição política de um grupo cada vez menos expressivo
do lobby anti-Cuba em Miami. Obama, antes do fim de seu mandato, poderia
finalmente eliminar o último resquício da guerra fria no Continente.
O Brasil, nas últimas décadas, colocou-se contra o
embargo e a favor da plena reintegração de Cuba à comunidade hemisférica. Os
gestos recentes no tocante ao financiamento da construção do porto de Mariel e
a cooperação, via Opas, no programa Mais Médicos aproximaram ainda mais os dois
países.
Quando as relações com os EUA s normalizarem e o
Brasil voltar a ter uma política externa que projete o País e faça sua voz se
resolvida mais forte, deveríamos, com credibilidade, estimular a gradual
aproximação EUA-Cuba por meio de uma discreta ação junto ao governo e ao
Congresso norte-americano para que seja posto um fim ao embargo econômico à
ilha.
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