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sábado, 8 de novembro de 2014

Para Leda Paulani, mídia e mercado fazem “terrorismo econômico”





Olá alunos,

A política econômica adotada pelo governo Dilma vem sofrendo fortes pressões pelo mercado financeiro. A postagem de hoje expõe uma entrevista concedida pela economista Leda Paulani, que busca analisar a real situação da economia nacional.

Esperamos que gostem e participem.

Fellype Fagundes e Carlos Araújo
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
 


Eleita sobre o discurso das “ideias novas”, a presidenta Dilma Rousseff terá que contrariar fortes pressões para man­ter uma política econômica progressis­ta. É o que acredita a professora da Fa­culdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA – USP) Leda Paulani.

Ela, que assinou o manifesto dos eco­nomistas em apoio à reeleição da presi­denta no segundo turno das eleições, é otimista e não acredita que Dilma recuará da guinada progressista que aconteceu na política econômica durante o seu pri­meiro mandato e que a fez ser “odiada pelo mercado financeiro”.

“Ela começou com uma mudança no Banco Central, baixou os juros, enfren­tou corajosamente o lobby financeiro usando os bancos públicos para reduzir os spreads dos bancos privados, deu for­ça para o PAC e para o Minha Casa Mi­nha Vida, que é um grande pacote de in­vestimentos e tem um fator multiplica­dor muito alto na economia”, analisa.

Brasil de Fato – O que significou a vitória da Dilma nessas eleições?

Leda Paulani – Não sei se pode falar de um projeto novo, mas a presidenta re­presenta um conjunto de políticas públi­cas que buscaram reduzir as desigualda­des de renda tanto pessoal quanto regio­nal, ao passo que a outra candidatura ti­nha mais dificuldades em afirmar o com­promisso com esse tipo de política.

O momento econômico do Brasil é ruim?

Logicamente, existem algumas ques­tões que têm que ser resolvidas. A prin­cipal delas é a retomada do crescimento. Porém, nem de longe a economia pas­sa por uma situação tão ruim quanto à imprensa divulga e quer fazer crer. Eu escrevi um artigo durante a campanha chamado “terrorismo econômico” onde tento mostrar justamente isso. Muitos falaram que o país tinha perdido a credi­bilidade no mundo, só que isso não bate com o dado da entrada de capitais exter­nos na economia brasileira. São R$ 65 bilhões esse ano, a média no período Dil­ma é de R$ 64 bilhões. Então como as­sim? Sem credibilidade pra quem? On­de? Como?

Outro exagero é dizer que a inflação está fora do controle. Esse ano, na pior das hipóteses, ela vai fechar em 0,25% acima da meta. Se você pegar a média de inflação do período Dilma, ela é 6,2% considerando 6,75% para este ano, su­biu um pouco em comparação com o segundo mandato do Lula (5,2%), mas caiu se formos comparar com o pri­meiro governo Lula, e com os governos FHC. Então estão tentando criar um ambiente que é como se a economia es­tivesse à beira do precipício e que está muito longe de estar.

Falam do déficit público, porque o re­sultado primário vai ser inferior ao que se esperava etc. tudo bem, ele vai ser um pouquinho inferior , só que a ortodoxia e a mídia gostam de olhar só para o re­sultado primário, porque é o que impor­ta pra eles, é esse resultado primário que vai ser usado para pagar os recursos da dívida, fazem a política dos credores, não importa o crescimento, a continui­dade das políticas públicas, a redução da desigualdade, nada disso, importa a ga­rantia de que os credores serão remune­rados. Mas quando você faz a conta com o resultado nominal e não com o resul­tado primário, ou seja, incluindo o que o governo gasta também com pagamentos de juros, esse resultado é muito melhor do que os resultados nos quadriênios an­teriores, e é melhor por uma razão muito simples: a queda dos juros que aconte­ceu em alguns períodos e reduziu o ser­viço da dívida e a necessidade de emis­são de novos títulos.

Vamos falar então da proporção da dí­vida pública em relação ao PIB. A nossa deve estar em volta de uns 30% a 40%. No Japão é 213%, alguém fala alguma coisa? Se a gente for pegar o período de 2010 a 2013, o nosso déficit foi de 2,7% do PIB, exatamente no mesmo período o déficit nominal dos países da zona do Euro foi de 4%, dos Estados Unidos foi 9,2%, o do Reino Unido foi de 8%, do Japão foi 9,4% e ninguém fala nesses países como tendo descontrole dos gas­tos públicos.

Então se cria uma narrativa para os lei­gos e se monta uma imagem que nem de longe corresponde à realidade. Eu acho que o principal problema da economia hoje é que ela não cresce. Porque o ní­vel de emprego continua muito bom, o salário médio real continuou crescendo, o salário mínimo também cresceu, não há descontrole da inflação, não há per­da de credibilidade, não há descontrole dos gastos, não há nada disso. Isso tudo é uma orquestração mesmo para fazer ver que tem um problema, porque a po­lítica econômica que a presidenta seguiu é baseada em alguns princípios que não são aceitos pelo mercado, principalmen­te a questão da política monetária. Eles fazem esse terrorismo pra tentar forçar a mudança da política.

Desde o primeiro turno, o mercado se mostrou hostil à reeleição de Dilma Rousseff. Na primeira entrevista da presidenta ela disse que estava aberta à discussão com setores da sociedade, inclusive o mercado. Você teme que exista um retrocesso conservador pra acalmar os ânimos?

Espero que não corramos esse risco e tendo a achar que não. Até pelo seu es­tilo, a presidenta gosta de enfrentar as boas brigas. Se você pegar os 12 anos de PT no governo, você vai ver que os dois mandatos de Lula tiveram diferenças. O primeiro mandato foi bastante ortodo­xo, o que me fez fazer muitas críticas e até escrever um livro por conta da mi­nha decepção. No segundo mandato de­le, a coisa mudou um pouco. 
Não na po­lítica monetária onde as taxas de juros continuaram muito elevadas, o Henri­que Meirelles continuou no Banco Cen­tral e os colegiados do Copom eram ab­solutamente conservadores. O que se alterou – por conta do cenário de crise mundial – foi a presença mais forte do Estado na economia.

Agora, no mandato da Dilma, essa prioridade começou a mudar. Ela foi se aproximando mais de uma política he­terodoxa, por exemplo, começou com a mudança no Banco Central e baixou os juros, enfrentou corajosamente o lo­bby financeiro usando os bancos públi­cos para reduzir os spreads dos bancos privados, deu força para o PAC, para o Minha Casa Minha Vida, que é um gran­de pacote de investimentos que tem um fator multiplicador muito alto na econo­mia. Isso fez com que ela fosse odiada pelo mercado financeiro.

Concluindo, até agora pelo que ela mostrou, acho que ela será mais resis­tente e não cederá completamente aos reclamos do mercado, que vai continu­ar fazendo o que fez no primeiro man­dato. Existe um mecanismo de chanta­gem muito pesado com eles em parce­ria com a mídia que aumenta esse tipo de discussão espúria. 
Mas espero since­ramente que ela não ceda, por exemplo, pondo o presidente do Bradesco no Mi­nistério da Fazenda.

Sobre essas especulações em cima do nome do futuro ministro da Fazenda, já apareceram nomes do mercado como Luis Carlos Trabuco e o Henrique Meirelles e nomes da academia como o Nelson Barbosa. O que você acha que isso pode significar?

Seria uma decepção a nomeação de fi­guras como Trabuco ou Henrique Mei­relles. Agora você tem nomes bons, o próprio professor Nelson Barbosa, que é heterodoxo, conhece muito o governo fe­deral, foi secretário de política econômi­ca e é um nome respeitado inclusive pe­lo mercado.

Esse tipo de discussão é complicada porque quando você contesta a ques­tão da inflação, imediatamente te acu­sam de ser irresponsável. É uma distân­cia tão abissal, tão cavalar, entre você ter uma inflação de 20%, 30%, 40% ao mês e ter uma que não é 6% mas é 6,75% ao ano. A questão da inflação, obviamen­te, é fundamental, ninguém está dizendo que você pode descuidar desse controle. Essa respeitabilidade e esse compromis­so com a estabilidade monetária o pró­prio mercado enxerga no Nelson Barbo­sa, não precisa pegar e colocar o presi­dente do Bradesco.

A presidenta se reelegeu com um discurso de mudança e praticamente demitiu o ministro Guido Mantega durante a campanha. Quais os tipos de mudança que vai precisar ocorrer na economia a partir do ano que vem para que o país volte a crescer?

Precisamos retomar um patamar de investimento público, porque a variável mais importante da demanda agregada é o investimento, se ele não é robusto, toda a economia acaba também tendo um desempenho ruim. No Brasil, é his­tórico que se o investimento público não marchar à frente o investimento privado não vem atrás. Todos os momentos em que o Brasil cresceu muito por um gran­de período de tempo foi porque o inves­timento público foi muito forte. Ele ser­ve como uma locomotiva, você abre ca­minhos para o investimento privado chegar depois.

Agora, achar que você vai desonerar a folha e que isso vai reproduzir uma reto­mada do investimento privado é uma to­lice! O que acaba acontecendo é que isso vira margem e eles acabam embolsando essa desoneração e não retomam o in­vestimento para o país. Essa desonera­ção pode ter tido algum impacto positi­vo na manutenção do emprego, mas es­perar a retomada dos investimentos so­mente com esse tipo de política é uma bobagem, isso não acontece, a história mostra o contrário.

Temos uma série de setores que de­pendem do Estado para puxar o proces­so, áreas ligadas à infraestrutura e habi­tação são exemplos. Temos um déficit enorme de habitações no país e que se o Estado não entrar forte subsidiando, es­se problema durará para sempre. Fora que a construção civil é dos setores mais dinâmicos porque tem um efeito multi­plicador muito alto na economia.

A presidenta chegou a baixar a Selic durante vários meses consecutivos em seu primeiro governo, mas esse ciclo acabou se encerrando sem que resultados muito positivos tenham saído dele. Onde você acha que o governo errou?

Apesar de o governo ser, em princípio, de esquerda e com posições progressis­tas, existe uma guerra ideológica dentro dele e você acaba tendo espaço para po­sições mais conservadoras. Isso fez com que lá na decisão de se reduzir os juros, quase que como uma compensação se dissesse: “bem, nós vamos liberar mais a política monetária, mas vamos arrochar a política de gastos”. Com isso você teve uma desaceleração de programas como o PAC e o Minha Casa Minha Vida, so­mado à continuidade da crise no plano internacional, redução de preço de com­modities e redução do crescimento da China, acabou produzindo esse resulta­do ruim no plano do crescimento econô­mico. Junto com isso, tivemos a infelici­dade de ter alguns choques de oferta de alimentos, então você fica numa situação que a economia cresceu 7,5% em 2010 e menos de 2% em 2011. Esses elementos acabaram significando uma pressão pra um retorno de uma política mais arro­chada, e o governo acabou elevando no­vamente a taxa.

Outro fator é que a expectativa de in­flação do mercado é uma das variáveis que eles olham na hora de decidir se vai manter, reduzir ou subir a Selic. Então se ele quer que a taxa de juros suba, co­meça a dizer que a inflação está fora de controle e essa expectativa sobe e obriga o Banco Central aumentar a taxa de ju­ros. Trata-se de um processo de autorre­ferência e que dá ao mercado uma arma muito poderosa. Esse conjunto de fato­res foi o que acabou impendido que a po­lítica de redução de juros prevalecesse.
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