Olá alunos,
A política econômica adotada pelo governo Dilma vem sofrendo fortes pressões pelo mercado financeiro. A postagem de hoje expõe uma entrevista concedida pela economista Leda Paulani, que busca analisar a real situação da economia nacional.
A política econômica adotada pelo governo Dilma vem sofrendo fortes pressões pelo mercado financeiro. A postagem de hoje expõe uma entrevista concedida pela economista Leda Paulani, que busca analisar a real situação da economia nacional.
Esperamos que gostem e participem.
Fellype Fagundes e Carlos Araújo
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
Fellype Fagundes e Carlos Araújo
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
Eleita sobre o discurso das “ideias novas”, a
presidenta Dilma Rousseff terá que contrariar fortes pressões para manter uma
política econômica progressista. É o que acredita a professora da Faculdade
de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA –
USP) Leda Paulani.
Ela, que assinou o manifesto dos economistas em
apoio à reeleição da presidenta no segundo turno das eleições, é otimista e
não acredita que Dilma recuará da guinada progressista que aconteceu na
política econômica durante o seu primeiro mandato e que a fez ser “odiada pelo
mercado financeiro”.
“Ela começou com uma mudança no Banco Central,
baixou os juros, enfrentou corajosamente o lobby financeiro usando os bancos
públicos para reduzir os spreads dos bancos privados, deu força para o PAC e
para o Minha Casa Minha Vida, que é um grande pacote de investimentos e tem
um fator multiplicador muito alto na economia”, analisa.
Brasil
de Fato – O que significou a vitória da Dilma nessas eleições?
Leda Paulani – Não sei se pode falar de um projeto
novo, mas a presidenta representa um conjunto de políticas públicas que
buscaram reduzir as desigualdades de renda tanto pessoal quanto regional, ao
passo que a outra candidatura tinha mais dificuldades em afirmar o compromisso
com esse tipo de política.
O
momento econômico do Brasil é ruim?
Logicamente, existem algumas questões que têm que
ser resolvidas. A principal delas é a retomada do crescimento. Porém, nem de
longe a economia passa por uma situação tão ruim quanto à imprensa divulga e
quer fazer crer. Eu escrevi um artigo durante a campanha chamado “terrorismo
econômico” onde tento mostrar justamente isso. Muitos falaram que o país tinha
perdido a credibilidade no mundo, só que isso não bate com o dado da entrada
de capitais externos na economia brasileira. São R$ 65 bilhões esse ano, a
média no período Dilma é de R$ 64 bilhões. Então como assim? Sem
credibilidade pra quem? Onde? Como?
Outro exagero é dizer que a inflação está fora do
controle. Esse ano, na pior das hipóteses, ela vai fechar em 0,25% acima da
meta. Se você pegar a média de inflação do período Dilma, ela é 6,2%
considerando 6,75% para este ano, subiu um pouco em comparação com o segundo
mandato do Lula (5,2%), mas caiu se formos comparar com o primeiro governo
Lula, e com os governos FHC. Então estão tentando criar um ambiente que é como
se a economia estivesse à beira do precipício e que está muito longe de estar.
Falam do déficit público, porque o resultado
primário vai ser inferior ao que se esperava etc. tudo bem, ele vai ser um
pouquinho inferior , só que a ortodoxia e a mídia gostam de olhar só para o resultado
primário, porque é o que importa pra eles, é esse resultado primário que vai
ser usado para pagar os recursos da dívida, fazem a política dos credores, não
importa o crescimento, a continuidade das políticas públicas, a redução da
desigualdade, nada disso, importa a garantia de que os credores serão remunerados.
Mas quando você faz a conta com o resultado nominal e não com o resultado
primário, ou seja, incluindo o que o governo gasta também com pagamentos de
juros, esse resultado é muito melhor do que os resultados nos quadriênios anteriores,
e é melhor por uma razão muito simples: a queda dos juros que aconteceu em
alguns períodos e reduziu o serviço da dívida e a necessidade de emissão de
novos títulos.
Vamos falar então da proporção da dívida pública em
relação ao PIB. A nossa deve estar em volta de uns 30% a 40%. No Japão é 213%,
alguém fala alguma coisa? Se a gente for pegar o período de 2010 a 2013, o
nosso déficit foi de 2,7% do PIB, exatamente no mesmo período o déficit nominal
dos países da zona do Euro foi de 4%, dos Estados Unidos foi 9,2%, o do Reino
Unido foi de 8%, do Japão foi 9,4% e ninguém fala nesses países como tendo
descontrole dos gastos públicos.
Então se cria uma narrativa para os leigos e se
monta uma imagem que nem de longe corresponde à realidade. Eu acho que o
principal problema da economia hoje é que ela não cresce. Porque o nível de
emprego continua muito bom, o salário médio real continuou crescendo, o salário
mínimo também cresceu, não há descontrole da inflação, não há perda de
credibilidade, não há descontrole dos gastos, não há nada disso. Isso tudo é
uma orquestração mesmo para fazer ver que tem um problema, porque a política
econômica que a presidenta seguiu é baseada em alguns princípios que não são
aceitos pelo mercado, principalmente a questão da política monetária. Eles
fazem esse terrorismo pra tentar forçar a mudança da política.
Desde
o primeiro turno, o mercado se mostrou hostil à reeleição de Dilma Rousseff. Na
primeira entrevista da presidenta ela disse que estava aberta à discussão com
setores da sociedade, inclusive o mercado. Você teme que exista um retrocesso
conservador pra acalmar os ânimos?
Espero que não corramos esse risco e tendo a achar
que não. Até pelo seu estilo, a presidenta gosta de enfrentar as boas brigas.
Se você pegar os 12 anos de PT no governo, você vai ver que os dois mandatos de
Lula tiveram diferenças. O primeiro mandato foi bastante ortodoxo, o que me
fez fazer muitas críticas e até escrever um livro por conta da minha decepção.
No segundo mandato dele, a coisa mudou um pouco.
Não na política monetária
onde as taxas de juros continuaram muito elevadas, o Henrique Meirelles
continuou no Banco Central e os colegiados do Copom eram absolutamente
conservadores. O que se alterou – por conta do cenário de crise mundial – foi a
presença mais forte do Estado na economia.
Agora, no mandato da Dilma, essa prioridade começou
a mudar. Ela foi se aproximando mais de uma política heterodoxa, por exemplo,
começou com a mudança no Banco Central e baixou os juros, enfrentou
corajosamente o lobby financeiro usando os bancos públicos para reduzir os spreads
dos bancos privados, deu força para o PAC, para o Minha Casa Minha Vida, que é
um grande pacote de investimentos que tem um fator multiplicador muito alto na
economia. Isso fez com que ela fosse odiada pelo mercado financeiro.
Concluindo, até agora pelo que ela mostrou, acho que
ela será mais resistente e não cederá completamente aos reclamos do mercado,
que vai continuar fazendo o que fez no primeiro mandato. Existe um mecanismo
de chantagem muito pesado com eles em parceria com a mídia que aumenta esse
tipo de discussão espúria.
Mas espero sinceramente que ela não ceda, por
exemplo, pondo o presidente do Bradesco no Ministério da Fazenda.
Sobre
essas especulações em cima do nome do futuro ministro da Fazenda, já apareceram
nomes do mercado como Luis Carlos Trabuco e o Henrique Meirelles e nomes da
academia como o Nelson Barbosa. O que você acha que isso pode significar?
Seria uma decepção a nomeação de figuras como
Trabuco ou Henrique Meirelles. Agora você tem nomes bons, o próprio professor
Nelson Barbosa, que é heterodoxo, conhece muito o governo federal, foi
secretário de política econômica e é um nome respeitado inclusive pelo
mercado.
Esse tipo de discussão é complicada porque quando
você contesta a questão da inflação, imediatamente te acusam de ser
irresponsável. É uma distância tão abissal, tão cavalar, entre você ter uma
inflação de 20%, 30%, 40% ao mês e ter uma que não é 6% mas é 6,75% ao ano. A
questão da inflação, obviamente, é fundamental, ninguém está dizendo que você
pode descuidar desse controle. Essa respeitabilidade e esse compromisso com a
estabilidade monetária o próprio mercado enxerga no Nelson Barbosa, não
precisa pegar e colocar o presidente do Bradesco.
A
presidenta se reelegeu com um discurso de mudança e praticamente demitiu o
ministro Guido Mantega durante a campanha. Quais os tipos de mudança que vai
precisar ocorrer na economia a partir do ano que vem para que o país volte a
crescer?
Precisamos retomar um patamar de investimento
público, porque a variável mais importante da demanda agregada é o
investimento, se ele não é robusto, toda a economia acaba também tendo um
desempenho ruim. No Brasil, é histórico que se o investimento público não
marchar à frente o investimento privado não vem atrás. Todos os momentos em que
o Brasil cresceu muito por um grande período de tempo foi porque o investimento
público foi muito forte. Ele serve como uma locomotiva, você abre caminhos
para o investimento privado chegar depois.
Temos uma série de setores que dependem do Estado
para puxar o processo, áreas ligadas à infraestrutura e habitação são
exemplos. Temos um déficit enorme de habitações no país e que se o Estado não
entrar forte subsidiando, esse problema durará para sempre. Fora que a
construção civil é dos setores mais dinâmicos porque tem um efeito multiplicador
muito alto na economia.
A
presidenta chegou a baixar a Selic durante vários meses consecutivos em seu
primeiro governo, mas esse ciclo acabou se encerrando sem que resultados muito
positivos tenham saído dele. Onde você acha que o governo errou?
Apesar de o governo ser, em princípio, de esquerda e
com posições progressistas, existe uma guerra ideológica dentro dele e você
acaba tendo espaço para posições mais conservadoras. Isso fez com que lá na
decisão de se reduzir os juros, quase que como uma compensação se dissesse:
“bem, nós vamos liberar mais a política monetária, mas vamos arrochar a
política de gastos”. Com isso você teve uma desaceleração de programas como o
PAC e o Minha Casa Minha Vida, somado à continuidade da crise no plano
internacional, redução de preço de commodities e redução do crescimento da
China, acabou produzindo esse resultado ruim no plano do crescimento econômico.
Junto com isso, tivemos a infelicidade de ter alguns choques de oferta de
alimentos, então você fica numa situação que a economia cresceu 7,5% em 2010 e
menos de 2% em 2011. Esses elementos acabaram significando uma pressão pra um
retorno de uma política mais arrochada, e o governo acabou elevando novamente
a taxa.
Link Original
Nenhum comentário:
Postar um comentário