Olá alunos,
Com a proximidade da Copa de 2014 nada mais justo que uma notícia relacionada aos impactos econômicos que a mesma trará ao país. Muitos criticam a Copa do Mundo, positiva e negativamente, mas alguma vez você parou para analisar os dados concretos ? Não perca essa oportunidade. Notícia publicada no site da Istoé e, embora seja um pouco antiga (de 2010), vale a pena dar uma conferida.
Yuri Antunes Moreira
Monitor da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense.
Desde que o Brasil foi anunciado como sede da Copa do Mundo de 2014, muito se especulou a respeito do impacto que o evento vai gerar na economia brasileira. Na sexta-feira 23, durante o 9º Fórum de Líderes Empresariais (Lide), que ocorreu no Hotel Transamérica, na Ilha de Comandatuba, foi apresentado o primeiro estudo sobre os reais efeitos do torneio para o desenvolvimento do País.
De acordo com o levantamento, ele terá força para atrair uma torrente de recursos. O estudo, encomendado pelo ministro do Esporte, Orlando Silva, e executado pelo Consórcio Copa 2014, concluiu que o Mundial tem potencial para gerar investimentos de R$ 185 bilhões (leia tabelas com as principais conclusões do trabalho).
Para efeito de comparação, o montante equivale ao valor de mercado, somado, de Bradesco e do Banco do Brasil. “A Copa do Mundo representa uma oportunidade histórica para o País”, disse o ministro à DINHEIRO. “As pessoas acham que apenas alguns setores serão beneficiados, mas a pesquisa deixou claro que o evento vai repercutir em diversas áreas.”
Apenas em projetos de infraestrutura civil, que incluiu principalmente construção de estádios, melhoria dos aeroportos e adequação urbana, o Brasil receberá R$ 33 bilhões, valor que corresponde ao dobro dos investimentos feitos na África para a Copa de 2010. O levantamento também revelou que 78% dos investimentos deste setor serão provenientes dos cofres públicos.
Segundo o ministro, parte do dinheiro será revertida para os governos, na forma da captação de impostos. Apenas a esfera federal, mostra o levantamento, terá um retorno tributário da ordem de R$ 3,2 bilhões. Um dado curioso da pesquisa diz respeito aos Estados que receberão o maior volume de investimentos. Embora a partida final da Copa esteja marcada para o Rio de Janeiro, que também vai sediar os jogos mais importantes, é São Paulo que ficará com a maior bolada, seguido pelo próprio Rio e por Brasília. “Isso é resultado dos investimentos que serão feitos especialmente nos aeroportos paulistas”, afirma o ministro.
O potencial de geração de receitas indiretas foi estimado pelo estudo em R$ 136 bilhões. A conta foi feita tomando como base o estímulo a toda e qualquer atividade econômica. “Imagine uma pessoa que é uma das mais de 700 mil que serão contratadas para o evento”, diz o ministro. “Ela vai ter um aumento de renda e, como consequência, acabará gastando mais.” Resultado: a Copa vai elevar o consumo das famílias brasileiras em mais de R$ 5 bilhões.
Blog associado ao Grupo de Pesquisa "Estado, Instituições e Análise Econômica do Direito" - GPEIA - cadastrado junto ao Diretório Grupos de Pesquisa do CNPq desde 2012.
quarta-feira, 27 de março de 2013
segunda-feira, 25 de março de 2013
Indústria atrasada, economia enigmática
Olá alunos,
Post de hoje trata dos problemas acarretados por uma indústria até certo ponto "sucateada" no Brasil. Foi publicada no site da Carta Capital e é de autoria de Mario Osava. Espero que gostem e participem.
Yuri Antunes Moreira
Monitor da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense.
A indústria é o órgão enfermo da economia do Brasil. A produção do setor caiu 2,7% em 2012, apesar dos estímulos recebidos do governo, contrariando indicadores relacionados, como a forte expansão do comércio varejista e o desemprego em seu nível mínimo histórico. O enigma de uma economia paralisada, mas com sintomas de crescimento excessivo para as potencialidades do país, incluindo escassez da mão de obra e inflação em alta, parece ter sido revelado segundo várias explicações apresentadas.
Algumas causas com as quais lidam os economistas seriam uma queda na quantidade de jovens que se incorporam ao mercado de trabalho e o excesso de estoques acumulados. A redução da atividade manufatureira é o que mais preocupa o governo de Dilma Rousseff e os operadores econômicos, porque acentua uma tendência e coloca em xeque o futuro do país. A desindustrialização, há anos reconhecida por empresários do setor e poucos economistas, agora está difícil de ser negada.
As expectativas repousam nas projeções de melhorias para este ano. Mas os baixos investimentos refletidos no retrocesso de 11,8% na produção de bens de capital em 2012 e o auge inflacionário, que pode provocar medidas do Banco Central para conter a demanda, não permitem esperar que a recuperação tenha o vigor pretendido.
Os resultados no fechamento de 2012 foram “uma ducha fria”, frustrando esperanças de retomar o crescimento e indicando que na indústria brasileira “a crise é mais profunda”, não apenas um efeito conjuntural devido aos graves problemas da economia global, afirmou Julio de Almeida, consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
O Brasil “não acompanhou a evolução industrial do mundo” nos últimos 20 anos, como fizeram China, Coreia do Sul e Índia. Assim, sem desenvolver setores mais dinâmicos, como o eletrônico e o farmacêutico, tampouco avançou suficientemente em inovações tecnológicas, disse Almeida à IPS. Além disso, há cerca de 15 anos, a indústria e alguns “serviços organizados” sofrem um acúmulo de custos, sejam logísticos, financeiros ou energéticos, que reduzem sua competitividade.
Agravando tudo, os salários aumentaram nos últimos cinco anos muito acima da produtividade. Somente no ano passado, cresceram, em média, 5,8%, enquanto o rendimento caiu 0,8%, segundo o Iedi.
É possível sobreviver sendo pouco competitivo se a economia mundial crescer em um bom ritmo, mas os problemas apareceram com a crise iniciada em 2008 nos Estados Unidos e que depois se espalhou especialmente para a Europa, que “estreitou o mercado industrial” no mundo e colocou o mercado interno brasileiro sob intensa disputa, observou Almeida.
Apesar de tudo, este economista acredita que este ano pode haver uma recuperação, graças às medidas governamentais que baratearam a eletricidade e reduziram tributos para alguns setores industriais, além de baixar juros, estabilizar a taxa de câmbio e anunciar fortes investimentos em infraestrutura de transporte. Porém, será necessário aumentar a produtividade com fortes investimentos em inovações tecnológicas, especialmente porque o Brasil tem “uma indústria avantajada”, ressaltou.
De fato, a indústria da velha geração metal-mecânica, especialmente a automobilística, é predominante no país, com um peso crescente. Com uma longa cadeia produtiva, incluindo peças de automóveis e máquinas agrícolas, o segmento de veículos representava 21% do produto industrial em 2011, segundo a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
Essa participação duplicou nos últimos 20 anos, enquanto a indústria de transformação, em seu conjunto, transitou o caminho inverso em sua contribuição para o produto interno do país, caindo para 14,6% em 2011. Ou seja, a importância do automóvel para a economia brasileira continua crescendo.
Por isso, a principal medida do governo para atenuar os efeitos recessivos da crise financeira internacional de 2008 foi reduzir impostos sobre os veículos a partir de dezembro daquele ano, após três meses de abrupta queda nas vendas. É uma fórmula repetida em outras crises. O petróleo e o aço também continuam sendo elementos fundamentais do esforço brasileiro para reverter a desindustrialização.
Agora se busca recuperar a indústria naval, aproveitando o petróleo descoberto debaixo da camada de sal no leito do Oceano Atlântico, perto da costa brasileira. Para impulsionar a produção nacional foi criada uma legislação que exige componentes variáveis e crescentes de origem nacional, que podem chegar a até 70% do total da construção de cada navio, plataforma, sonda e demais equipamentos destinados à atividade petroleira.
Todo esse esforço, baseado em intervenções do Estado, como estímulos tributários ou financeiros a setores escolhidos e medidas consideradas protecionistas, incluindo barreiras aduaneiras e a imposição de muito conteúdo nacional em produtos como automóveis, além dos navios petroleiros, provoca a rejeição por parte de muitos analistas de correntes liberais, com forte audiência entre os operadores e os meios de comunicação especializados em economia.
A desindustrialização não é necessariamente uma “doença”, já que “a indústria vai mal, mas o Brasil vai muito bem”, com muito emprego e salários elevados, resumiu o economista Edmar Bacha, em entrevistas realizadas no ano passado ao anunciar o livro coletivo que organizou sob o título O futuro da indústria no Brasil, publicado este mês.
Em sua análise, o setor manufatureiro brasileiro perdeu competitividade principalmente pela explosão salarial que elevou custos. A média salarial no Brasil, em dólares, cresceu 14,4% ao ano entre 2006 e 2011, um recorde mundial longe de ser ameaçado por Austrália, que aparece em segundo lugar com 9%, segundo os coautores do livro, Beny Parnes e Gabriel Hartung.
Bacha, que participou de governos anteriores que implantaram políticas econômicas mais liberais, afirmou que a competitividade não se constrói com protecionismos, mas com maior abertura comercial, que permita a integração com as cadeias produtivas internacionais. O México é apresentado como um exemplo disso.
Ampliando o olhar dos especialistas, a única coincidência sobre as causas da perda de capacidade industrial é a falta de competitividade. Há divisões tanto na interpretação de suas origens como em seu significado e remédios, segundo o lugar onde se detém cada observador. Os analistas vinculados ao setor primário, por exemplo, questionam a primazia atribuída à indústria como promotora do progresso e da inovação.
Argumentam que a agricultura agrega hoje muita tecnologia e muito conhecimento, incorporando pesquisa científica e mecanização.
Mas no governo brasileiro se destacam os “desenvolvimentistas”, começando pela presidente Dilma Rousseff. Por isso é irônico que a queda da indústria se acentue enquanto o país é administrado por dirigentes que priorizam o setor e que, para recuperar sua competitividade, adotaram medidas acusadas de serem extremamente intervencionistas pelos partidários de soluções de mercado.
Post de hoje trata dos problemas acarretados por uma indústria até certo ponto "sucateada" no Brasil. Foi publicada no site da Carta Capital e é de autoria de Mario Osava. Espero que gostem e participem.
Yuri Antunes Moreira
Monitor da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense.
A indústria é o órgão enfermo da economia do Brasil. A produção do setor caiu 2,7% em 2012, apesar dos estímulos recebidos do governo, contrariando indicadores relacionados, como a forte expansão do comércio varejista e o desemprego em seu nível mínimo histórico. O enigma de uma economia paralisada, mas com sintomas de crescimento excessivo para as potencialidades do país, incluindo escassez da mão de obra e inflação em alta, parece ter sido revelado segundo várias explicações apresentadas.
Algumas causas com as quais lidam os economistas seriam uma queda na quantidade de jovens que se incorporam ao mercado de trabalho e o excesso de estoques acumulados. A redução da atividade manufatureira é o que mais preocupa o governo de Dilma Rousseff e os operadores econômicos, porque acentua uma tendência e coloca em xeque o futuro do país. A desindustrialização, há anos reconhecida por empresários do setor e poucos economistas, agora está difícil de ser negada.
As expectativas repousam nas projeções de melhorias para este ano. Mas os baixos investimentos refletidos no retrocesso de 11,8% na produção de bens de capital em 2012 e o auge inflacionário, que pode provocar medidas do Banco Central para conter a demanda, não permitem esperar que a recuperação tenha o vigor pretendido.
Os resultados no fechamento de 2012 foram “uma ducha fria”, frustrando esperanças de retomar o crescimento e indicando que na indústria brasileira “a crise é mais profunda”, não apenas um efeito conjuntural devido aos graves problemas da economia global, afirmou Julio de Almeida, consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
O Brasil “não acompanhou a evolução industrial do mundo” nos últimos 20 anos, como fizeram China, Coreia do Sul e Índia. Assim, sem desenvolver setores mais dinâmicos, como o eletrônico e o farmacêutico, tampouco avançou suficientemente em inovações tecnológicas, disse Almeida à IPS. Além disso, há cerca de 15 anos, a indústria e alguns “serviços organizados” sofrem um acúmulo de custos, sejam logísticos, financeiros ou energéticos, que reduzem sua competitividade.
Agravando tudo, os salários aumentaram nos últimos cinco anos muito acima da produtividade. Somente no ano passado, cresceram, em média, 5,8%, enquanto o rendimento caiu 0,8%, segundo o Iedi.
É possível sobreviver sendo pouco competitivo se a economia mundial crescer em um bom ritmo, mas os problemas apareceram com a crise iniciada em 2008 nos Estados Unidos e que depois se espalhou especialmente para a Europa, que “estreitou o mercado industrial” no mundo e colocou o mercado interno brasileiro sob intensa disputa, observou Almeida.
Apesar de tudo, este economista acredita que este ano pode haver uma recuperação, graças às medidas governamentais que baratearam a eletricidade e reduziram tributos para alguns setores industriais, além de baixar juros, estabilizar a taxa de câmbio e anunciar fortes investimentos em infraestrutura de transporte. Porém, será necessário aumentar a produtividade com fortes investimentos em inovações tecnológicas, especialmente porque o Brasil tem “uma indústria avantajada”, ressaltou.
De fato, a indústria da velha geração metal-mecânica, especialmente a automobilística, é predominante no país, com um peso crescente. Com uma longa cadeia produtiva, incluindo peças de automóveis e máquinas agrícolas, o segmento de veículos representava 21% do produto industrial em 2011, segundo a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
Essa participação duplicou nos últimos 20 anos, enquanto a indústria de transformação, em seu conjunto, transitou o caminho inverso em sua contribuição para o produto interno do país, caindo para 14,6% em 2011. Ou seja, a importância do automóvel para a economia brasileira continua crescendo.
Por isso, a principal medida do governo para atenuar os efeitos recessivos da crise financeira internacional de 2008 foi reduzir impostos sobre os veículos a partir de dezembro daquele ano, após três meses de abrupta queda nas vendas. É uma fórmula repetida em outras crises. O petróleo e o aço também continuam sendo elementos fundamentais do esforço brasileiro para reverter a desindustrialização.
Agora se busca recuperar a indústria naval, aproveitando o petróleo descoberto debaixo da camada de sal no leito do Oceano Atlântico, perto da costa brasileira. Para impulsionar a produção nacional foi criada uma legislação que exige componentes variáveis e crescentes de origem nacional, que podem chegar a até 70% do total da construção de cada navio, plataforma, sonda e demais equipamentos destinados à atividade petroleira.
Todo esse esforço, baseado em intervenções do Estado, como estímulos tributários ou financeiros a setores escolhidos e medidas consideradas protecionistas, incluindo barreiras aduaneiras e a imposição de muito conteúdo nacional em produtos como automóveis, além dos navios petroleiros, provoca a rejeição por parte de muitos analistas de correntes liberais, com forte audiência entre os operadores e os meios de comunicação especializados em economia.
A desindustrialização não é necessariamente uma “doença”, já que “a indústria vai mal, mas o Brasil vai muito bem”, com muito emprego e salários elevados, resumiu o economista Edmar Bacha, em entrevistas realizadas no ano passado ao anunciar o livro coletivo que organizou sob o título O futuro da indústria no Brasil, publicado este mês.
Em sua análise, o setor manufatureiro brasileiro perdeu competitividade principalmente pela explosão salarial que elevou custos. A média salarial no Brasil, em dólares, cresceu 14,4% ao ano entre 2006 e 2011, um recorde mundial longe de ser ameaçado por Austrália, que aparece em segundo lugar com 9%, segundo os coautores do livro, Beny Parnes e Gabriel Hartung.
Bacha, que participou de governos anteriores que implantaram políticas econômicas mais liberais, afirmou que a competitividade não se constrói com protecionismos, mas com maior abertura comercial, que permita a integração com as cadeias produtivas internacionais. O México é apresentado como um exemplo disso.
Ampliando o olhar dos especialistas, a única coincidência sobre as causas da perda de capacidade industrial é a falta de competitividade. Há divisões tanto na interpretação de suas origens como em seu significado e remédios, segundo o lugar onde se detém cada observador. Os analistas vinculados ao setor primário, por exemplo, questionam a primazia atribuída à indústria como promotora do progresso e da inovação.
Argumentam que a agricultura agrega hoje muita tecnologia e muito conhecimento, incorporando pesquisa científica e mecanização.
Mas no governo brasileiro se destacam os “desenvolvimentistas”, começando pela presidente Dilma Rousseff. Por isso é irônico que a queda da indústria se acentue enquanto o país é administrado por dirigentes que priorizam o setor e que, para recuperar sua competitividade, adotaram medidas acusadas de serem extremamente intervencionistas pelos partidários de soluções de mercado.
quinta-feira, 21 de março de 2013
Quem são os novos consumidores dez anos depois
Olá alunos,
a notícia de hoje traz à tona os efeitos da elevação do salário mínimo e seus impactos tanto microeconômicos como macroeconômicos. Até que ponto a elevação do salário mínimo é positiva ? Qual o limite desse teto ? Essas perguntas possuem suas respostas na texto muito interessante de autoria de João Sicsú e publicada no site da Carta Capital. Espero que gostem e participem.
Yuri Antunes Moreira
Monitor da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense.
a notícia de hoje traz à tona os efeitos da elevação do salário mínimo e seus impactos tanto microeconômicos como macroeconômicos. Até que ponto a elevação do salário mínimo é positiva ? Qual o limite desse teto ? Essas perguntas possuem suas respostas na texto muito interessante de autoria de João Sicsú e publicada no site da Carta Capital. Espero que gostem e participem.
Yuri Antunes Moreira
Monitor da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense.
Possuir um grande mercado doméstico de consumo é o desejo de qualquer país. Se, por um lado, a ampliação do mercado aumenta o acesso da população a bens de consumo, por outro, torna a produção nacional menos dependente de humores internacionais. É estratégico para um país possuir milhões de consumidores que vão aos mercados domésticos adquirir bens e serviços. Uma economia é menos afetada por crises econômicas internacionais quando tem o seu próprio espaço de vendas e compras.
Em termos econômicos e sociais, uma das mais importantes mudanças estruturais do Brasil nos últimos anos foi a constituição de um enorme mercado de consumo. Vários vetores impulsionaram essa transformação: a valorização do salário mínimo, a ampliação do crédito, a queda das taxas de juros, a ampliação do programa Bolsa-Família, a queda da taxa de desemprego, o aumento do emprego com carteira assinada e a elevação do rendimento dos trabalhadores.
O IBGE por meio da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) mostrou que o volume de vendas do comércio varejista dobrou nos últimos dez anos. A PMC com abrangência nacional teve início no ano de 2000. Além desse crescimento extraordinário, o segmento gera mais de 8,5 milhões de empregos formais, segundo o Ministério do Trabalho.
Os novos consumidores do mercado doméstico são trabalhadores. Houve nos últimos anos, uma enorme expansão da classe trabalhadora, aquela que “sua a camisa”, que sofre dia-a-dia nos transportes urbanos. Não é correto afirmar que a base que explica a expansão do mercado doméstico de consumo é uma nova classe média. A classe média é formada por médicos, advogados, administradores, psicólogos… profissionais liberais que não são capitalistas e nem despendem dia a dia a sua força física na produção de bens e na geração de serviços.
O alargamento do mercado doméstico tem como base milhões de indivíduos, homens e mulheres, que vendem a sua força de trabalho e recebem salário. Em sua maioria, ganham menos que três salários mínimos. São operários da construção civil, comerciários, motoristas, garis, empregadas domésticas, moto-boys etc. Eles são os novos consumidores brasileiros. É gente que imigrou para o sudeste de ônibus e hoje volta ao nordeste para visitar seus parentes de avião.
Em 2003, o mercado de consumo brasileiro era sustentado por 45,2% da sua população, que representavam as classes de renda A, B e C (eram 79,2 milhões de pessoas). As classes de renda D e E possuem baixa capacidade de compra que, ademais, é irregular. A partir de 2011, o percentual da população que passou a sustentar o mercado de consumo aumentou para 63,7% (o que equivale a mais de 122 milhões de brasileiros).
Mais de 42 milhões ingressaram, portanto, nas classes de renda A+B+C no período 2003-11. Majoritariamente não ingressaram na classe média, ingressaram tão somente nas classes de renda que podem consumir de forma regular. Este movimento reflete a expansão da classe trabalhadora. Em 2003, o Brasil possuía 29,5 milhões de trabalhadores formalizados. Em 2012, este número aumentou para quase 48 milhões. Além da quantidade de trabalhadores formais, também cresceu o número de empregados informais e de trabalhadores por conta própria.
Foi esse imenso mercado de milhões de consumidores que auxiliou o enfrentamento da crise financeira internacional de 2009. Naquele ano, esse conjunto de trabalhadores e suas famílias atenderam o apelo do presidente Lula para que não adiassem o sonho de trocar de geladeira ou de comprar um carro popular zero quilômetro.
Esse mercado de consumo também é um canal de desenvolvimento econômico. O Brasil possui consumidores que podem gerar compras, produção, investimento e milhões de empregos. É também um canal de desenvolvimento social na medida em que os milhões de empregos que é capaz de gerar são um importante instrumento de redução de desigualdades.
sábado, 16 de março de 2013
A Venezuela depois de Chávez
Olá alunos,
a postagem de hoje traz como temática a morte de Hugo Chávez. Apesar de todas as opiniões contrárias à sua forma de governo, não há dúvidas de que ele será lembrado como um dos grandes líderes dessa geração e por isso uma postagem acerca dos impactos de sua morte merece destaque aqui no blog. Espero que vocês gostem e participem.
Yuri Antunes Moreira
Monitor da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense.
a postagem de hoje traz como temática a morte de Hugo Chávez. Apesar de todas as opiniões contrárias à sua forma de governo, não há dúvidas de que ele será lembrado como um dos grandes líderes dessa geração e por isso uma postagem acerca dos impactos de sua morte merece destaque aqui no blog. Espero que vocês gostem e participem.
Yuri Antunes Moreira
Monitor da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense.
Com a morte do presidente carismático, seu sucessor terá de recolocar nos trilhos uma economia em dificuldade, que padece com a inflação alta e uma dívida pública em expansão.
Os venezuelanos intuíam que o pior estava para vir, desde que o presidente Hugo Chávez anunciou, no dia 9 de dezembro do ano passado, que se afastaria do posto, apenas dois meses após sua terceira reeleição, para tratar de um câncer reincidente na região abdominal. Ao lado de seu vice, Nicolás Maduro, Chávez explicou, em cadeia nacional, que voltaria a Cuba, para mais uma operação, a quarta desde que a doença fora descoberta, há 20 meses. “Se algo acontecer, Maduro deve concluir o período de transição”, disse, na ocasião. “E, se ele for obrigado a convocar novas eleições, elejam Maduro como presidente.” Seus eleitores guardavam uma pontinha de esperança de que um milagre poderia salvar o presidente e não teriam de encarar o fim de uma era, que começou 14 anos atrás.
as o destino seguiu seu curso, e Chávez perdeu a batalha contra o câncer. Na terça-feira 5, Maduro teve a ingrata missão de anunciar que o pior havia chegado. Aos 58 anos, o ex-militar, nascido em Sabaneta, noroeste da Venezuela, que tentou implantar o “socialismo do século 21” em seu país, saiu de cena. “Recebemos a informação mais dura e trágica que podemos transmitir ao nosso povo. Às 16h45 (18h15 em Brasília) do dia 5 de março faleceu nosso comandante Chávez”, disse, emocionado, em cadeia nacional, seu herdeiro político. “Este é um momento de profunda dor.” O impressionante cortejo de milhares de pessoas que saíram às ruas, na sequência, confirmava a dor nacional.
Mais do que isso, a multidão reunida na praça Simón Bolívar, em Caracas, desde o anúncio da morte de Chávez, mostra que as sementes plantadas pela sua revolução bolivariana, em 1999 – que fortaleceu a renda dos menos favorecidos, melhorando diversos indicadores sociais, como a redução do analfabetismo e o aumento da expectativa de vida da população (leia quadro ao final da reportagem) – geraram uma lealdade religiosa ao ex-chefe de Estado. “Ele era grande demais para ser mortal”, desabafou o comerciante Pedro Contreras, entrevistado pela BBC, a estatal britânica de televisão, numa síntese do sentimento de perda dos milhões de seguidores de Chávez.
No Brasil, a presidenta Dilma Rousseff cancelou a viagem que faria à
Argentina, para acompanhar o velório de Chávez. “Essa morte deve encher
de tristeza todos os latino-americanos”, disse a presidenta, na
terça-feira 5, em Brasília. No dia seguinte, além das longas filas no
velório da Academia Militar, para se despedir do chefe de Estado, outras
filas se formaram, nas primeiras horas da manhã da quarta-feira 6, em
caixas de supermercados da capital do país, Caracas. Muitos moradores
encheram seus carrinhos de arroz, farinha de milho, massas e outros
alimentos não perecíveis, “no caso de alguma coisa acontecer”, relataram
precavidos caraquenhos, ao jornal venezuelano Universal.
Era a imagem do paradoxo que Chávez deixa como legado a quem
sucedê-lo. Ao longo de três mandatos consecutivos, Chávez ganhou o
coração da maioria dos venezuelanos, reduzindo a pobreza pela metade num
país que conquistou uma agenda social permanente. O encantamento
popular, porém, tem atenuado o impacto de algumas decisões indigestas.
Em fevereiro, por exemplo, Maduro, o presidente em exercício, promoveu
uma desvalorização de 46,5% do bolívar, a moeda nacional, para aliviar
as contas do setor público, cujo endividamento vem registrando um
crescimento exponencial, passando de 37% do PIB em 1999, para 51% no ano
passado. Dona de uma das maiores reservas petrolíferas do mundo, de
quase 300 bilhões de barris, a Venezuela acomodou sua economia sobre a
extração de petróleo.
Os royalties do ouro negro beneficiaram os programas sociais para a
população de baixa renda. Chávez estatizou, também, setores
estratégicos, como siderurgia e telecomunicações, deixando de lado o
desenvolvimento de uma indústria local. Atualmente, a Venezuela é
dependente das importações, inclusive de alimentos essenciais, como óleo
comestível e café. Dessa forma, o sucessor de Chávez assumirá o poder
com dois desafios monumentais: superar o sentimento de orfandade de uma
população que se embevecia com o carisma de seu líder e colocar a
economia nos trilhos, antes que o fim do luto deixe nítidas algumas
mazelas: altos índices de violência, a inflação superior a 20%, e a
falta de produtos nos supermercados.
Garantir a estabilidade é fundamental, ainda, para as empresas brasileiras, como Braskem, Gerdau, Eisa e Ultrapar, que operam na Venezuela, e para o Brasil, que mantém um intercâmbio comercial de US$ 6 bilhões com o país. Para José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), as relações comerciais devem mudar – não em função da morte de Chávez, mas da desvalorização cambial, que apertou ainda mais os controles do dólar. “No momento, ninguém está conseguindo exportar, a não ser para o governo, que compra alimentos e outros itens de primeira necessidade”, afirma Castro. Com a falta de divisas no país, explica o executivo, o governo venezuelano não está autorizando as empresas a comprar a moeda estrangeira para pagar as importações, o que paralisa o comércio exterior.
O presidente da AEB espera uma redução significativa no volume de
exportações deste ano, para US$ 4 bilhões, contra os US$ 5 bilhões de
2012. Para o embaixador Rubens Ricupero, o momento atual é delicado, mas
não será eterno. “Teremos um período instável, mas não nos afetará
tanto”, diz Ricupero, para quem a proximidade com a Venezuela sempre foi
um grande negócio para o governo brasileiro. “Chávez era o grande
fiador da abertura ao Brasil, o que nos possibilitou exportar produtos
de maior valor agregado para lá.” Castro, da AEB, lembra, ainda, que
várias empresas de engenharia e construção, como a Odebrecht, Camargo
Corrêa e Andrade Gutierrez, estão executando obras públicas no país, o
que deve ampliar a exportação de máquinas e equipamentos, que são
financiados pelo BNDES.
Há, ainda, projetos binacionais, como o da Braskem com a PDVSA, que
pretendem construir duas unidades petroquímicas. Segundo a empresa, a
morte de Chávez não altera os seus planos, uma vez que grandes projetos
levam cerca de cinco anos para ser construídos, e consideram um cenário
de, no mínimo, 20 a 30 anos. “O compromisso da empresa é com países e
não com governos”, informou a Braskem. O momento é de compasso de
espera, uma vez que a Constituição do país prevê que novas eleições
devem ser realizadas dentro de algumas semanas. A comoção nacional tende
a favorecer o vice Nicolás Maduro, que já procura mimetizar o seu
mentor. Vestido com as cores da bandeira venezuelana, o virtual
candidato à Presidência caminhou com a multidão, durante o cortejo que
acompanhou o caixão de Chávez.
Um pouco antes do anúncio oficial da morte de Chávez, Maduro havia
insinuado que “inimigos externos” tinham estimulado o câncer do
presidente, num recado aos Estados Unidos. Bater publicamente no governo
americano era um dos exercícios prediletos do presidente morto, que
estabeleceu vínculos estreitos com inimigos figadais dos americanos, a
exemplo do cubano Fidel Castro e do presidente do Irã, Mahmoud
Ahmadinejad. Se Maduro for eleito, sua política externa deve seguir a
linha desenhada por Chávez, ou seja, um jogo de cena que encanta parte
dos venezuelanos, embora haja enorme dependência do comércio com os
Estados Unidos, que consumiram 50% das exportações do país em 2012,
totalizando US$ 38,7 bilhões.
O petróleo é quase 100% desse total. A Venezuela, por sua vez,
comprou US$ 17,6 bilhões em produtos dos Estados Unidos, seu principal
provedor de importados. Na terça-feira, o presidente Barack
Obama emitiu um comunicado deixando as portas abertas para o próximo
ocupante do Palácio Miraflores, a sede do governo da Venezuela.
“Neste momento desafiador, os Estados Unidos reafirmam seu apoio ao
povo venezuelano e seu interesse em desenvolver uma relação
construtiva”, disse Obama. Se o vencedor do próximo pleito viesse a ser o
candidato da oposição, o atual governador do Estado de Miranda,
Henrique Capriles, a proposta de Obama teria repercussão. Mas as chances
de Capriles, que obteve 44% dos votos quando disputou a Presidência com
Chávez em 2012, são pequenas e ele sabe disso, porque as manifestações
dos últimos dias aumentam o sentimento pró-chavista.
Mesmo assim, a vida de Maduro no poder, caso a preferência pelo seu
nome se confirme, não será tão fácil. Isso porque o manto do chavismo,
na verdade, cobre diversos partidos de posições distintas, explica o
sociólogo Flávio Mendes, autor do livro Hugo Chávez em seu Labirinto: o
Movimento Bolivariano e a Política na Venezuela. “Maduro tentará manter
esse meio de campo entre organizações divergentes”, diz Mendes. “Mas é
difícil saber se conseguirá.” Ministro das Relações Exteriores, desde
2006, o presidente em exercício vai colocar seu lado diplomata à prova
para governar o país. Mas precisará de muito mais do que isso para unir a
Venezuela e corrigir a rota da economia.
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