Olá alunos,
Post de hoje trata dos problemas acarretados por uma indústria até certo ponto "sucateada" no Brasil. Foi publicada no site da Carta Capital e é de autoria de Mario Osava. Espero que gostem e participem.
Yuri Antunes Moreira
Monitor da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense.
A indústria é o órgão enfermo da economia do Brasil. A produção do
setor caiu 2,7% em 2012, apesar dos estímulos recebidos do governo,
contrariando indicadores relacionados, como a forte expansão do comércio
varejista e o desemprego em seu nível mínimo histórico. O enigma de uma
economia paralisada, mas com sintomas de crescimento excessivo para as
potencialidades do país, incluindo escassez da mão de obra e inflação em
alta, parece ter sido revelado segundo várias explicações apresentadas.
Algumas causas com as quais lidam os economistas seriam uma queda na
quantidade de jovens que se incorporam ao mercado de trabalho e o
excesso de estoques acumulados. A redução da atividade manufatureira é o
que mais preocupa o governo de Dilma Rousseff e os operadores
econômicos, porque acentua uma tendência e coloca em xeque o futuro do
país. A desindustrialização, há anos reconhecida por empresários do
setor e poucos economistas, agora está difícil de ser negada.
As expectativas repousam nas projeções de melhorias para este ano.
Mas os baixos investimentos refletidos no retrocesso de 11,8% na
produção de bens de capital em 2012 e o auge inflacionário, que pode
provocar medidas do Banco Central para conter a demanda, não permitem
esperar que a recuperação tenha o vigor pretendido.
Os resultados no fechamento de 2012 foram “uma ducha fria”, frustrando
esperanças de retomar o crescimento e indicando que na indústria
brasileira “a crise é mais profunda”, não apenas um efeito conjuntural
devido aos graves problemas da economia global, afirmou Julio de
Almeida, consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento
Industrial (Iedi).
O Brasil “não acompanhou a evolução industrial do mundo” nos últimos
20 anos, como fizeram China, Coreia do Sul e Índia. Assim, sem
desenvolver setores mais dinâmicos, como o eletrônico e o farmacêutico,
tampouco avançou suficientemente em inovações tecnológicas, disse
Almeida à IPS. Além disso, há cerca de 15 anos, a indústria e alguns
“serviços organizados” sofrem um acúmulo de custos, sejam logísticos,
financeiros ou energéticos, que reduzem sua competitividade.
Agravando tudo, os salários aumentaram nos últimos cinco anos muito
acima da produtividade. Somente no ano passado, cresceram, em média,
5,8%, enquanto o rendimento caiu 0,8%, segundo o Iedi.
É possível sobreviver sendo pouco competitivo se a economia mundial
crescer em um bom ritmo, mas os problemas apareceram com a crise
iniciada em 2008 nos Estados Unidos e que depois se espalhou
especialmente para a Europa, que “estreitou o mercado industrial” no
mundo e colocou o mercado interno brasileiro sob intensa disputa,
observou Almeida.
Apesar de tudo, este economista acredita que este ano pode haver uma
recuperação, graças às medidas governamentais que baratearam a
eletricidade e reduziram tributos para alguns setores industriais, além
de baixar juros, estabilizar a taxa de câmbio e anunciar fortes
investimentos em infraestrutura de transporte. Porém, será necessário
aumentar a produtividade com fortes investimentos em inovações
tecnológicas, especialmente porque o Brasil tem “uma indústria
avantajada”, ressaltou.
De fato, a indústria da velha geração metal-mecânica, especialmente a
automobilística, é predominante no país, com um peso crescente. Com uma
longa cadeia produtiva, incluindo peças de automóveis e máquinas
agrícolas, o segmento de veículos representava 21% do produto industrial
em 2011, segundo a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos
Automotores (Anfavea).
Essa participação duplicou nos últimos 20 anos, enquanto a indústria
de transformação, em seu conjunto, transitou o caminho inverso em sua
contribuição para o produto interno do país, caindo para 14,6% em 2011.
Ou seja, a importância do automóvel para a economia brasileira continua
crescendo.
Por isso, a principal medida do governo para atenuar os efeitos
recessivos da crise financeira internacional de 2008 foi reduzir
impostos sobre os veículos a partir de dezembro daquele ano, após três
meses de abrupta queda nas vendas. É uma fórmula repetida em outras
crises. O petróleo e o aço também continuam sendo elementos fundamentais
do esforço brasileiro para reverter a desindustrialização.
Agora se busca recuperar a indústria naval, aproveitando o petróleo
descoberto debaixo da camada de sal no leito do Oceano Atlântico, perto
da costa brasileira. Para impulsionar a produção nacional foi criada uma
legislação que exige componentes variáveis e crescentes de origem
nacional, que podem chegar a até 70% do total da construção de cada
navio, plataforma, sonda e demais equipamentos destinados à atividade
petroleira.
Todo esse esforço, baseado em intervenções do Estado, como estímulos
tributários ou financeiros a setores escolhidos e medidas consideradas
protecionistas, incluindo barreiras aduaneiras e a imposição de muito
conteúdo nacional em produtos como automóveis, além dos navios
petroleiros, provoca a rejeição por parte de muitos analistas de
correntes liberais, com forte audiência entre os operadores e os meios
de comunicação especializados em economia.
A desindustrialização não é necessariamente uma “doença”, já que “a
indústria vai mal, mas o Brasil vai muito bem”, com muito emprego e
salários elevados, resumiu o economista Edmar Bacha, em entrevistas
realizadas no ano passado ao anunciar o livro coletivo que organizou sob
o título O futuro da indústria no Brasil, publicado este mês.
Em sua análise, o setor manufatureiro brasileiro perdeu
competitividade principalmente pela explosão salarial que elevou custos.
A média salarial no Brasil, em dólares, cresceu 14,4% ao ano entre 2006
e 2011, um recorde mundial longe de ser ameaçado por Austrália, que
aparece em segundo lugar com 9%, segundo os coautores do livro, Beny
Parnes e Gabriel Hartung.
Bacha, que participou de governos anteriores que implantaram
políticas econômicas mais liberais, afirmou que a competitividade não se
constrói com protecionismos, mas com maior abertura comercial, que
permita a integração com as cadeias produtivas internacionais. O México é
apresentado como um exemplo disso.
Ampliando o olhar dos especialistas, a única coincidência sobre as
causas da perda de capacidade industrial é a falta de competitividade.
Há divisões tanto na interpretação de suas origens como em seu
significado e remédios, segundo o lugar onde se detém cada observador.
Os analistas vinculados ao setor primário, por exemplo, questionam a
primazia atribuída à indústria como promotora do progresso e da
inovação.
Argumentam que a agricultura agrega hoje muita tecnologia e
muito conhecimento, incorporando pesquisa científica e mecanização.
Mas no governo brasileiro se destacam os “desenvolvimentistas”,
começando pela presidente Dilma Rousseff. Por isso é irônico que a queda
da indústria se acentue enquanto o país é administrado por dirigentes
que priorizam o setor e que, para recuperar sua competitividade,
adotaram medidas acusadas de serem extremamente intervencionistas pelos
partidários de soluções de mercado.
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