Grupo
tão mencionado e motivo de orgulho para nós brasileiros, os BRICS vêm passando
por transformações que fazem gerar, pelo menos, duas formas de enxergar o grupo
dos países. A postagem de hoje pretende esclarecer melhor cada abordagem e suas
diferenciações.
Esperamos que gostem e
participem.
Joyce Borgatti e Palloma Borges.
Monitoras da disciplina “Economia
Política e Direito” da Universidade Federal Fluminense.
Numa conversa com banqueiros de
investimento, analistas internacionais ou diplomatas, percebe-se que o
significado de “Brics” muda em função do interlocutor. Há ao menos duas formas
de enxergar o grupo.
A primeira avalia o momento dos
quatro gigantes (sem África do Sul), como “mercados em crescimento” e destino
de investimentos de portifólio. É o que classificamos de “Brics 1.0”.
A segunda concentra-se no impacto
da construção institucional dos Brics (com África do Sul) nas relações
internacionais. Tal enfoque mede sua articulação em organizações multilaterais,
no surgimento de instrumentos plurilaterais e portanto em novas alianças de
poder. É o “Brics 2.0”.
A ideia de Brics como aliança de
poder encontra-se em expansão
Há desapontamento com a primeira.
Nenhum dos Brics, salvo a Índia, ostenta expansão do PIB como na década
passada. Todos veem-se confrontados com urgente agenda reformadora.
Nesse contexto, não estranha a
recente manobra do banco Goldman Sachs de encerrar seu fundo específico sobre
Brics, realocando ativos para outros veículos de investimento rotulados mais
amplamente de “mercados emergentes” (de que os Brics também fazem parte). No
entanto, o impacto dessa decisão financeira não deve ser superestimado.
A ideia de Brics como aliança de
poder encontra-se em expansão. Estabeleceram um fundo de US$ 100 bilhões à
disposição de qualquer membro do grupo no advento de crises de liquidez. E o
Novo Banco de Desenvolvimento criado pelos Brics é o mais importante
instrumento para financiar do desenvolvimento desde as instituições de Bretton
Woods.
Os Brics 2.0 não representam
pouca coisa. Uma comparação com o antigo G7 mostra que os Brics irão mais
longe. O G7 jamais foi além de encontros protocolares.
Se bem gerido, o banco se tornará
importante fonte de recursos para projetos, ideias e melhores práticas nos
Brics e em outros países nas áreas de infraestrutura e inovação. Também será
catalisador de reformas da governança global.
Fala-se das diferenças de cada um
dos Brics. Entre eles há membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU
(Rússia e China); detentores de armas nucleares (Rússia, Índia e China);
enormes democracias representativas (Índia e Brasil); potências na exportação
de commodities (Rússia e Brasil) e uma economia (China) 26 vezes maior do que a
outra (África do Sul).
A História mostra, contudo, que
plena harmonia de interesses não é indispensável a projetos cooperativos. É bem
o caso da União Europeia. Apesar dos sólidos avanços desde o Tratado de Roma,
seus membros divergem em inúmeros temas políticos e econômicos dentro e fora da
dinâmica de Bruxelas.
Além disso, a ideia de Brics
continua válida para comparar as estratégias (ou a falta delas) em projetos de
poder, prosperidade e prestígio de quatro (China, Índia, Rússia e Brasil) das
sete maiores economias do mundo medidas pelo poder de paridade de compra).
Ademais de seu papel relativo na
economia mundial, esses países são superlativos em território, população e
influência regional, além de acomodar importante estoque do fluxo global de
investimento estrangeiro direto (IED).
Para os Brics, além de colocar
sua casa economicamente em ordem, o essencial é que pontos onde há
coincidência, como o financiamento do desenvolvimento e novos instrumentos de
governança, coexistam pragmaticamente com diferenças em peso econômico, agenda
política e visão de mundo.
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