Olá
alunos,
Quando
a empresa mais poderosa de um país entra em crise, inúmeras propostas são
apresentadas para se achar uma saída e solução para o problema. O advogado Walfrido
Jorge Warde Júnior é um exemplo disso. Para o jurista, há meios de repor as perdas da Petrobras com a corrupção
sem quebrar as empreiteiras. A postagem de hoje vem nos apresentar, de maneira
mais detalhada, como isso seria possível.
Esperamos que gostem e
participem.
Joyce Borgatti e
Palloma Borges
Monitoras da disciplina
“Economia Política e Direito” da Universidade Federa Fluminense.
A interrupção
de projetos de investimentos de 420 bilhões de reais das empresas envolvidas na
Operação Lava Jato, pedidos de recuperação judicial e desemprego em massa na
cadeia produtiva da Petrobras caracterizam um desastre em marcha. Mas ainda é
possível limitar os danos e retomar o funcionamento do setor, defende o
advogado Walfrido Jorge Warde Júnior, doutor em Direito Comercial pela USP e
advogado especialista em Direito Societário e Mercado de Capitais. Em parceria
com Gilberto Bercovici, professor-titular de Direito Econômico da USP, e José
Francisco Siqueira Neto, professor-titular e diretor da Faculdade de Direito da
Universidade Mackenzie, Warde Júnior elaborou um plano para, sem prejuízo das
punições dos responsáveis, indenizar a Petrobras e o Erário a partir de uma
parcela das ações de controle das empreiteiras. Nesta entrevista, o advogado
explica o projeto.
CartaCapital: Como
funcionaria o plano?
Walfrido
Jorge Warde Júnior: Propomos um acordo público-privado
que leve a um leilão de ativos arrecadados pelo Estado, basicamente
participações societárias dos controladores das empreiteiras fornecedoras da
Petrobras, para aquisição posterior, em leilão, por fundos criados para esse
fim. Ajuizadas as ações de indenização previstas na legislação societária e
administrativa, as empreiteiras seriam chamadas a transacionar, dando em
pagamento essas participações à Petrobras e à União, sob mediação da
Advocacia-Geral da União. O acordo, ato consensual semelhante a um contrato,
reunirá, de um lado, as empreiteiras e, de outro, a Controladoria-Geral da
União, o Tribunal de Contas da União, a Advocacia-Geral da União, o Ministério
Público Federal e os representantes da Petrobras.
CC: Que
rumo tomariam as punições aos responsáveis pela corrupção?
WJ: O
nosso projeto não afeta em nada as repercussões penais, as investigações e os
processos seguem seu curso normal na Justiça Criminal.
CC: Quem
supervisionará a aplicação do plano?
WJ: Está
prevista a supervisão externa rigorosa das empreiteiras pela CGU quanto à
observância da lei anticorrupção e das melhores práticas administrativas, até
a realização do leilão das participações societárias. Aceitar essa supervisão é
condição do acordo, para que haja a tranquilidade de que velhas práticas não
serão retomadas.
CC: Como
será determinado o valor das participações societárias?
WJ: Uma
entidade de mercado especializada deverá, mediante licitação, avaliar as ações
e participações societárias dadas em pagamento, e o valor encontrado será
utilizado para indenização da Petrobras e da União, e também para determinar o
preço mínimo no leilão.
CC: Por
que não substituir as empreiteiras por outras empresas, nacionais ou
estrangeiras?
WJ: Não
se repõe de uma hora para outra a expertise e a memória de dados dessas
empresas, várias delas de classe mundial. O risco é enorme. A sua substituição
em grande escala por concorrentes estrangeiras acarretará provavelmente no
fechamento de dezenas de fornecedores locais das empreiteiras nacionais e a
ocupação do espaço por parceiros externos das recém-chegadas, com a perda de
milhares ou milhões de empregos diretos e indiretos.
CC: As
dívidas das empreiteiras não poderiam ser pagas com ativos das empresas?
WJ: Vender
maquinaria, equipamentos, sondas de prospecção de petróleo e outros ativos
operacionais para pagar dívidas significa fechar as empresas, impedi-las de se
financiar. É inimaginável a sua continuidade sem esses bens.
CC: Por
que interessaria ao controlador entregar as próprias ações para uso como meio
de pagamento de dívidas das suas empresas?
WJ: Ele
preferirá perder parte das suas ações a abrir mão da sua empresa ou vê-la
inviabilizada em consequência de uma declaração de inidoneidade. Sem os recursos
advindos dos contratos com o setor público, dos quais a maior parte depende,
essas empresas não têm faturamento. Sem faturamento deixarão de existir.
CC: Ao
receber essas ações, o Estado deterá a respectiva parte do controle?
WJ: O
Estado receberá as ações e se comprometerá a ofertá-las no mercado dentro de
determinado prazo, necessário para organizar o leilão de venda dessas
participações societárias. Com o resultado dessa venda, a Petrobras e o Erário
serão ressarcidos. Isso pressupõe a transação prévia à qual eu me referi,
uma para cada empresa. As ações seriam avaliadas e recebidas em pagamento. Na
sequência, o Estado faria um leilão dessas participações societárias.
Estimularia a criação de fundos de mercado e as ofertaria a esses fundos. Algo
bem diferente, portanto, de uma estatização de empreiteiras, como se diz por
aí.
CC: Quem
formaria e administraria esses fundos?
WJ: Qualquer
fundo obedece a regras gerais da Comissão de Valores Mobiliários, referentes a
patrimônio e cotas, entre outras. Eles são administrados por instituições
financeiras. As cotas de fundos podem ser ofertadas pública ou privadamente.
Neste caso, a oferta seria necessariamente pública e amplamente divulgada.
CC: Quem
poderia adquirir cotas dos fundos?
WJ: Qualquer
pessoa física ou jurídica, nacional ou estrangeira. O plano prevê a criação de
regras de funcionamento desses fundos, para manter graus de proporcionalidade
que interessem e sejam convenientes para o País e as empresas.
CC: Inclusive
os controladores das empreiteiras?
WJ: Observadas
as regras de proporcionalidade e sem qualquer direito de preferência, eles
poderão adquirir cotas.
CC: Qual
será o destino do dinheiro obtido com a venda das cotas dos fundos?
WJ: Será
utilizado na compra daquelas participações societárias das empreiteiras,
recebidas pelo Estado e pela Petrobras, depois oferecidas por meio dos leilões.
CC: Quantos
fundos estão previstos?
WJ: Essa
definição deve ser analisada por banqueiros e outros especialistas do mercado
de capitais. É importante esse cuidado, para que tanto a oferta de quotas dos
fundos quanto os leilões sejam bem-sucedidos.
CC: Qual
seria o interesse de o mercado se engajar no plano?
WJ: Representará
uma oportunidade de negócios para bancos, corretoras, distribuidoras, Bolsa de
Valores, empresas de avaliação e classificação de risco. O volume do
ressarcimento com o uso das ações dos blocos de controle das empreiteiras injetaria
nos cofres da União e da Petrobras muitos bilhões de reais, a julgar pelos
números divulgados pelo noticiário. Isso sem falar no volume de recursos que
gravitaria no entorno de uma operação com essa magnitude.
CC: Qual
será o resultado dessas transações?
WJ: Com
o ressarcimento do Erário e da Petrobras, as empreiteiras serão consideradas
idôneas para fins de contratação pela administração pública. Voltarão a receber
desta os créditos devidos pelos contratos celebrados, terão receita novamente e
sairão da crise empresarial profunda em que se encontram.
CC: No
fim, quem pagará a conta?
WJ: Aquele
que, se não houvesse o plano, perderia todo o valor das suas participações,
isto é, o controlador das empreiteiras.
CC: Os
atuais donos perderão o controle?
WJ: Na
maior parte dos casos isso não ocorrerá, pois o valor das suas ações supera com
folga o das indenizações. Isso hoje, porque rapidamente as empresas podem
quebrar por falta de negócios e essas participações virarão pó, com danos para
todas as partes. Elas têm ativos, mas estes só valem se a empresa funcionar.
CC: Como
o processo termina?
WJ: A
Petrobras e a União são ressarcidas na forma da lei. A empresa terá
revalorização das ações e ADRs, os recibos de ações negociados na Bolsa de
Valores de Nova York. As ações movidas contra a companhia, em grande parte,
perderão objeto. As empreiteiras, suas obras, serviços e empregados serão
preservados, evitando-se um choque adicional à infraestrutura deficitária do
País.
CC: O
plano foi apresentado às autoridades?
WJ: Nós
o enviamos a alguns ministérios, a partir dos nossos contatos, mas não houve
uma apresentação oficial.
Nenhum comentário:
Postar um comentário