Olá
alunos,
O
cientista social José Carlos Durand lançou recentemente o livro ‘Incômodos Best-Sellers’, onde trata da questão da
publicidade na vida em sociedade. Em tempos de contenção, como é o que estamos vivenciando,
a publicidade nos faz consumir produtos que, em sua maioria, não necessitamos,
levando-nos ao exagero e à acumulação. A postagem de hoje pretende fazer uma
análise de tal temática, visando uma reflexão mais abrangente sobre um consumo consciente.
Esperamos que gostem e
participem.
Joyce Borgatti e
Palloma Borges
Monitoras da disciplina
“Economia Política e Direito” da Universidade Federa Fluminense.
A história moderna da publicidade
tem origem no século XIX, tendo experimentado grande expansão com a
industrialização norte-americana no início do século XX. A indústria do
tabaco foi pioneira da produção e do consumo em massa, ajudando a desenvolver
técnicas para seduzir o contingente crescente de trabalhadores urbanos.
Na
primeira metade do século XX, as propagandas eram veiculadas, principalmente,
em jornais, revistas e nas paredes dos bondes. Na segunda metade do mesmo
século, o rádio e a tevê ganharam espaço. Nas últimas décadas, as ferramentas
de busca e as mídias sociais atingiram a primazia. Mudou a forma, permaneceu a
essência.
Na
superfície, alguns excessos foram aparados. As propagandas de cigarro foram
praticamente banidas e há crescente restrição à veiculação de publicidade
destinada a crianças. O anacronismo mantém-se: um setor criado há mais de cem
anos para dinamizar a industrialização continua operando com o
mesmo ideário e a mesma velocidade em um mundo que mostra sinais de esgotamento
de recursos. Bom momento para repensar hábitos de consumo e práticas
publicitárias.
Incômodos
Best-Sellers, USA, de José Carlos Durand, lançado
recentemente pela Edusp, traz uma profunda análise histórica da evolução do consumo e da publicidade, desde o fim do
século XIX. Durand, professor de Estudos Culturais na USP, realizou um percurso
original, identificou autores e obras de sucesso que examinaram a publicidade e
o consumo com lente crítica.
Sua
lista inclui sete influentes obras: A Teoria da Classe Ociosa (1899),
de Thorstein Veblen; A Tragédia do Desperdício (1925), de
Stuart Case; Os Persuasores Ocultos (1957), de Vance Packard; A
Sociedade Afluente (1958), de John Kenneth Galbraith; O Pacto
Rompido (1975), de Robert Bellah; As Contradições Culturais do
Capitalismo (1976), de Daniel Bell; e A Cultura do Narcisismo (1983),
de Christopher Lasch.
Experiente
cientista social, Durand foi rigoroso em sua missão. Cada época foi explorada
em suas características econômicas, sociais e culturais. Cada autor recebeu uma
minibiografia, que contextualiza ideias e livros. A trajetória tem início com
os “anos dourados”, período que vai do término da Guerra Civil até o fim do
século XIX, marcado pela acumulação de capital e pela concentração econômica.
Cruza períodos de depressão e prosperidade. O epílogo traz o leitor aos dilemas
e às grandes questões dos nossos dias: neoliberalismo, ordem corporativa,
religião, consumo e cidadania.
A
antropóloga Lívia Barbosa assina o sintético, porém notável prefácio e observa
que: “A publicidade/propaganda é uma das polêmicas instituições culturais da
sociedade de consumo, um dos inúmeros rótulos que utilizamos para denominar a
sociedade contemporânea em que vivemos. Ele sugere que entre nós o consumo
desempenha um papel que vai muito além daquele que tem ou teve nas demais
sociedades. Ele nos define”.
Segundo
alguns de seus detratores, a publicidade/propaganda nos induz a desejar e
adquirir bens e serviços que não necessitamos, iludem pelos símbolos e imagens,
leva ao materialismo e à busca insaciável do status, afasta-nos dos valores
humanos e deixa um vazio existencial. As obras exploradas por Durand permitem
identificar os contextos socioculturais nos quais brotaram essas e outras
concepções críticas.
De
Vance Packard o autor destaca o papel da publicidade de manter a audiência
atenta ao que se situa acima de seu nível de consumo: “Nos últimos anos, (os
publicitários) têm estado muito ocupados tratando de descobrir coisas
relacionadas com classe social e status, e aplicar suas descobertas para dar
forma a seus apelos de venda”.
De
Christopher Lasch, Durand ressalta um desabafo nostálgico contra o mundo do
consumo: “Os obstetras encarregam-se do nascimento; os pediatras são
responsáveis pelas enfermidades e curas de uma criança; o professor, por sua
inteligência; o supermercado e a indústria de alimentação, por seu alimento; a
televisão, por seus mitos”.
Incômodos Best-Sellers contém
múltiplas narrativas, sobre a sedução pela publicidade, sobre a corrupção dos
valores e, mais recentemente, sobre a apropriação do consumo pelo consumidor,
como ato de teor político. O poder que os primeiros críticos viam na
publicidade surge ao final da leitura contextualizado e relativizado.
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