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domingo, 27 de setembro de 2015

Sobrevivendo à crise



Olá alunos,

Em meio à turbulências de uma profunda crise e cobranças em excesso ao governo federal, a postagem de hoje pretende nos mostrar o outro lado da moeda, ou seja, como as empresas podem agir nesse cenário para minimizar as consequências de um momento tão delicado. 

Esperamos que gostem e participem.
Joyce Borgatti e Palloma Borges
Monitoras da disciplina “Economia Política e Direito” da Universidade Federa Fluminense.

A cada dia recebemos piores notícias sobre a magnitude e a duração da crise econômica no Brasil. Em diversos setores, cada vez mais se ouve falar em queda na demanda, postergação de investimentos e corte de pessoas. Como as empresas devem reagir a esse cenário de forma a minimizar o impacto da crise e garantir a sustentabilidade das suas operações no longo prazo?

Dois estudos acadêmicos recentes apresentam recomendações muito práticas para esta questão. O primeiro, de Javier Garcia-Sanchez, Luiz Mesquita e Roberto Vassolo, foi publicado em 2014 no Strategic Management Journal e tem um sugestivo título inspirado em Nietzsche: Aquilo que não te mata te torna mais forte (What doesn’t kill you makes you stronger). Os autores fizeram uma simulação computacional para examinar o comportamento de firmas em um setor sujeito a eventos recessivos.

O primeiro resultado da simulação é bem intuitivo: choques negativos aumentam ainda mais as vantagens de algumas firmas já estabelecidas no mercado. O resultado menos intuitivo é que, tendo essas vantagens, a crise pode gerar oportunidade para mais, e não menos, investimento. Tendo mais competências que outras, essas firmas podem se tornar relativamente mais fortes com a crise e sair com uma posição ainda melhor quando o setor retomar seu crescimento.

“Há toda uma agenda em nível micro que requer trabalho e esforço das próprias empresas”

Além disso, a simulação mostra que as oportunidades de crescimento durante a crise são mais acentuadas no caso de firmas com “flexibilidade financeira”. É o caso, por exemplo, de firmas que entram na crise com mais caixa ou que conseguem inteligentemente se desfazer de ativos de forma a liberar fundos para novos projetos. Como exemplo os autores citam o caso da Danone na crise argentina de 2002. Na contramão de outros competidores, a empresa decidiu investir no mercado de águas engarrafadas, saindo da crise com uma posição bastante superior. A Danone beneficiou-se de recursos advindos da sua matriz e de uma estratégia financeira flexível, que permitiu investir em crescimento mesmo no auge da crise.

Outro estudo, de Philippe Aghion, Nick Bloom, Raffaella Sadun e John Van Reenen, tem um título igualmente sugestivo: Nunca desperdice uma boa crise? (Never waste a good crisis?). Os autores iniciam o estudo confrontando duas possíveis orientações gerenciais, durante uma recessão. Enquanto algumas empresas podem centralizar suas decisões para definir uma saída estratégica para a crise, outras podem criar um senso geral de urgência e descentralizar as decisões para os próprios gestores buscarem oportunidades de ajuste e de crescimento. Utilizando dados de práticas gerenciais coletados em 2006, envolvendo 1.300 empresas em 10 países desenvolvidos, os pesquisadores acompanharam então o que aconteceu com essas firmas, quando foram submetidas à recessão de 2009.

Os autores encontraram evidências mais favoráveis à gestão descentralizada. Uma possível explicação é que, ao delegar, a empresa consegue se beneficiar do conhecimento local que cada gestor tem da sua área. É claro que, nesse processo, é preciso garantir que os gestores estejam efetivamente alinhados com o objetivo de sobreviver e se fortalecer com a crise. Adicionalmente, conectando com o trabalho anterior, os pesquisadores encontraram que a delegação é mais benéfica no caso de firmas mais alavancadas, com menor flexibilidade financeira. É justamente nesses casos que é preciso uma ação gerencial muito intensa, para buscar economias, renegociar fontes de capital e executar ações de melhoria.

Em resumo, é certo que há uma lição de casa em nível macro nas mãos do governo. Mas há toda uma agenda em nível micro que requer trabalho e esforço das próprias empresas. Embora muitas delas reajam à crise simplesmente postergando ações e aguardando o desenrolar dos acontecimentos, muito ainda pode ser feito para que a crise não somente seja passageira, como também nos traga setores empresariais melhores e mais produtivos.



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