Olá
alunos,
Em
meio à turbulências de uma profunda crise e cobranças em excesso ao governo
federal, a postagem de hoje pretende nos mostrar o outro lado da moeda, ou
seja, como as empresas podem agir nesse cenário para minimizar as consequências
de um momento tão delicado.
Esperamos que gostem e
participem.
Joyce Borgatti e
Palloma Borges
Monitoras da disciplina
“Economia Política e Direito” da Universidade Federa Fluminense.
A
cada dia recebemos piores notícias sobre a magnitude e a duração da crise
econômica no Brasil. Em diversos setores, cada vez mais se ouve falar em queda
na demanda, postergação de investimentos e corte de pessoas. Como as empresas
devem reagir a esse cenário de forma a minimizar o impacto da crise e garantir
a sustentabilidade das suas operações no longo prazo?
Dois
estudos acadêmicos recentes apresentam recomendações muito práticas para esta
questão. O primeiro, de Javier Garcia-Sanchez, Luiz Mesquita e Roberto Vassolo,
foi publicado em 2014 no Strategic Management Journal e tem um sugestivo título
inspirado em Nietzsche: Aquilo que não te mata te torna mais forte (What
doesn’t kill you makes you stronger). Os autores fizeram uma simulação
computacional para examinar o comportamento de firmas em um setor sujeito a
eventos recessivos.
O
primeiro resultado da simulação é bem intuitivo: choques negativos aumentam
ainda mais as vantagens de algumas firmas já estabelecidas no mercado. O
resultado menos intuitivo é que, tendo essas vantagens, a crise pode gerar
oportunidade para mais, e não menos, investimento. Tendo mais competências que
outras, essas firmas podem se tornar relativamente mais fortes com a crise e
sair com uma posição ainda melhor quando o setor retomar seu crescimento.
“Há
toda uma agenda em nível micro que requer trabalho e esforço das próprias empresas”
Além
disso, a simulação mostra que as oportunidades de crescimento durante a crise
são mais acentuadas no caso de firmas com “flexibilidade financeira”. É o caso,
por exemplo, de firmas que entram na crise com mais caixa ou que conseguem
inteligentemente se desfazer de ativos de forma a liberar fundos para novos
projetos. Como exemplo os autores citam o caso da Danone na crise argentina de
2002. Na contramão de outros competidores, a empresa decidiu investir no
mercado de águas engarrafadas, saindo da crise com uma posição bastante
superior. A Danone beneficiou-se de recursos advindos da sua matriz e de uma
estratégia financeira flexível, que permitiu investir em crescimento mesmo no
auge da crise.
Outro
estudo, de Philippe Aghion, Nick Bloom, Raffaella Sadun e John Van Reenen, tem
um título igualmente sugestivo: Nunca desperdice uma boa crise? (Never waste a
good crisis?). Os autores iniciam o estudo confrontando duas possíveis
orientações gerenciais, durante uma recessão. Enquanto algumas empresas podem
centralizar suas decisões para definir uma saída estratégica para a crise,
outras podem criar um senso geral de urgência e descentralizar as decisões para
os próprios gestores buscarem oportunidades de ajuste e de crescimento.
Utilizando dados de práticas gerenciais coletados em 2006, envolvendo 1.300
empresas em 10 países desenvolvidos, os pesquisadores acompanharam então o que
aconteceu com essas firmas, quando foram submetidas à recessão de 2009.
Os
autores encontraram evidências mais favoráveis à gestão descentralizada. Uma
possível explicação é que, ao delegar, a empresa consegue se beneficiar do
conhecimento local que cada gestor tem da sua área. É claro que, nesse
processo, é preciso garantir que os gestores estejam efetivamente alinhados com
o objetivo de sobreviver e se fortalecer com a crise. Adicionalmente,
conectando com o trabalho anterior, os pesquisadores encontraram que a
delegação é mais benéfica no caso de firmas mais alavancadas, com menor
flexibilidade financeira. É justamente nesses casos que é preciso uma ação
gerencial muito intensa, para buscar economias, renegociar fontes de capital e
executar ações de melhoria.
Em
resumo, é certo que há uma lição de casa em nível macro nas mãos do governo.
Mas há toda uma agenda em nível micro que requer trabalho e esforço das
próprias empresas. Embora muitas delas reajam à crise simplesmente postergando
ações e aguardando o desenrolar dos acontecimentos, muito ainda pode ser feito
para que a crise não somente seja passageira, como também nos traga setores
empresariais melhores e mais produtivos.
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