Olá alunos,
Tendências econômicas e tecnológicas sugerem
o declínio crescente dos empregos estáveis, de tempo integral. A postagem de
hoje pretende abordar um estudo, e, pelo visto, uma já quase realidade, de como
o trabalho será executado num futuro nada distante.
Esperamos que gostem e participem.
Joyce Borgatti e Palloma Borges, monitoras da
disciplina “Economia Política e Direito” da Universidade Federal Fluminense.
O trabalho é ideia milenar nem
sempre muito apreciada. A Grécia antiga não o tinha em grande conta e o
considerava um inimigo da virtude, a cercear os homens de suas mais nobres
aptidões, as quais deveriam ser desenvolvidas na filosofia e na política. As
sociedades industrializadas modernas, contrariamente aos gregos, celebram o
trabalho como valor central, algo capaz de gerar riqueza e bem-estar,
beneficiando o indivíduo e a sociedade.
Algumas tendências em curso sinalizam, entretanto, o
declínio dos empregos estáveis, de
tempo integral. Esse é o tema da matéria de capa da revista The Atlanticde julho/agosto de
2015, assinada por Derek Thompson. A matéria é ilustrada com imagens que
simulam um museu do futuro. Na página 50, traz um executivo
com pasta e celular (legenda: “Trabalhador de tempo integral, circa 2016”). Na página 52, mostra um operário
com capacete e planilha de controle (legenda: “Homem de fábrica do início do
século XXI, extinto”). A pergunta subjacente ao texto é crua: e se o trabalho
desaparecer?
A crise econômica do fim dos anos 2000 e a
presente recessão brasileira nos levam a relembrar o drama do desemprego.
Quando cortam quadros ou encerram atividades, as empresas projetam uma sombra
sobre as comunidades. A arrecadação diminui, o consumo cai, os serviços básicos
são afetados, a coesão cultural é enfraquecida e multiplicam-se patologias
sociais e os dramas pessoais.
Os últimos séculos foram marcados por
reinvenções sucessivas do trabalho, da agricultura para a indústria e desta
para os serviços. As transições foram traumáticas, mas cada estado final
representou uma evolução em relação ao seu ponto de partida, com mais empregos
e mais riqueza. As tendências atuais apontam, entretanto, para a criação de uma
massa paralela de destituídos, sem emprego ou competências para subsistir em um
mundo intensivo em tecnologia.
Thompson identifica três grandes tendências.
A primeira delas é a superação do trabalho pelo capital. Desde os anos 1980, as
empresas investiram em reestruturações e em automação industrial, na busca de
formas eficientes para organizar o trabalho e automatizar seus processos. O
resultado foi o enxugamento dos quadros e uma perda progressiva do poder de
barganha do trabalho diante do capital. A segunda tendência é o desaparecimento
progressivo do trabalhador. Estatísticas norte-americanas indicam um aumento
inexorável do porcentual de homens que não estão trabalhando ou procurando por
trabalho. A terceira tendência relaciona-se ao avanço das tecnologias de
informação e comunicação. Os impactos de mudanças tecnológicas podem demorar
anos para se manifestar, mas quando ocorrem são contundentes. Vendedores,
caixas, atendentes e funcionários de escritórios são os primeiros na linha de
fogo.
O trabalho preenche três funções sociais: é
uma forma pela qual a economia produz bens, um meio de as pessoas garantirem
seu sustento e uma atividade que provê sentido e propósito à vida das pessoas.
O que ocorrerá se as tendências acima mencionadas se aprofundarem? A primeira
função social parece cada vez menos dependente de trabalhadores. A economia
poderá continuar produzindo bens, com menor número de empregos. Mas sem
salários, quem irá consumi-los? A terceira função social poderá ser
substituída, uma vez que há outras atividades passíveis de prover sentido e
propósito para os indivíduos. Mas o que ocorrerá com a segunda função social?
Como continuar a garantir o sustento sem uma oferta condizente de empregos.
Muitas pessoas detestam
sua profissão, seu emprego ou ambos. Porém, perder o ganha-pão pode ser
trágico. Nos países desenvolvidos, a infraestrutura madura e as redes de
proteção social, aliadas a certa criatividade individual e doses crescentes de
empreendedorismo, poderão tornar a vida na informalidade laboral passável, até
recompensadora. Nos países em desenvolvimento, a transição poderá ser mais dura
e trágica.
Entretanto, o pessimismo necessário deve ser temperado com
doses homeopáticas de otimismo. Trabalhos estáveis e de tempo integral talvez
sejam vistos no futuro como peculiaridade de uma época. Os nostálgicos talvez
lamentem seu desaparecimento. Outros talvez celebrem seu declínio, como uma
porta aberta para o cultivo das virtudes, como desejavam os antigos gregos.
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