Olá alunos,
A queda em 3,3% da receita real, frente a um
crescimento irrisório das despesas totais em 0,5%, com um saldo negativo de 1,6
bilhão de reais, resulta de política de austeridade radical. A postagem de
hoje, assim como as anteriores, de alguma forma, as consequências do rigoroso
ajuste fiscal que estamos vivendo.
Esperamos que gostem e participem.
Joyce Borgatti e Palloma Borges, monitoras da
disciplina “Economia Política e Direito” da Universidade Federal Fluminense.
Anunciado
como o primeiro déficit primário em um semestre desde 1997, o saldo negativo
das contas do governo de janeiro a junho divulgado na quinta-feira 30 é uma
evidência da gravidade do processo recessivo desencadeado pela aplicação,
também inédita, de um ajuste fiscal severo e de aumentos ininterruptos de juros
à uma economia estagnada.
A
queda em 3,3% da receita real do Tesouro entre janeiro a junho, frente a um
crescimento irrisório das despesas totais em 0,5%, com um saldo negativo de 1,6
bilhão de reais, resulta diretamente dessa política de austeridade radical
apresentada pelo governo como condição para encaminhar a retomada do
crescimento. Um objetivo destinado a ser tornar uma miragem, se a política
econômica atual for mantida.
O
rastro de destruição de empregos, salários e investimentos é, até o momento, o
resultado mais palpável da pressão definida no início do ano para se economizar
66,3 bilhões destinados ao pagamento dos juros da dívida pública, meta de
superávit drasticamente reduzida neste mês para 8,75 bilhões.
A
radicalidade da revisão evidencia o erro de cálculo do governo e ao mesmo tempo
fornece uma medida da inocuidade da medida. Atribuir, como fez o ministro da
Fazenda Joaquim Levy, o fracasso no atingimento do objetivo inicial à não
cooperação do Congresso sugere o descarte ou a minimização da variável política
na formulação do plano, um ponto negativo para a credibilidade da equipe.
O
grande volume de evidências do equívoco cometido não parece suscitar dúvida
nem, muito menos, esclarecimento aos responsáveis pela política econômica,
determinados a acentuar a recessão por meio de contração dos gastos públicos,
historicamente as únicas ferramentas anti-recessivas eficazes, e da
inviabilização do investimento privado com altas de juros, ineficientes contra
uma inflação com um componente de indexação expressivo.
Causadora,
simultaneamente, de redução da arrecadação fiscal e aumento da dívida pública,
a política de juros estratosféricos não encontra paralelo no mundo, nem em
países com inflação elevada, na atual conjuntura. No fim do processo, a
inflação deverá se render, mas, receia-se, a economia será derrotada antes,
mergulhada em uma recessão profunda.
É
o que parece indicar, por exemplo, a situação do crédito, o principal motor das
economias. Sob o fogo duplo das altas taxas de juros e da postergação de gastos
e de investimentos por consumidores e empresários apreensivos com o rumo da
economia, o crédito registrou expressiva queda em junho, registrou a
consultoria Rosenberg & Associados.
Em
junho, o saldo total de crédito caiu em relação ao mês anterior em
porcentagem do PIB, atingindo 54,4%, igual à de janeiro. Em números
deflacionados, destaca a consultoria, o saldo de crédito total cresceu
1,0% em relação a junho de 2015, em uma desaceleração (1,7% no mês anterior). É
a menor taxa de expansão desde abril de 2004.
O
desempenho ainda positivo foi estimulado pelo crédito direcionado, uma alta de
6,3%, contra 7,6% no mês anterior, pois o crédito com recursos livres recuou
3,5%, o pior resultado desde janeiro de 2004. “A trajetória de encolhimento do
crédito é cada vez mais estridente e é um dos fatores cruciais para a redução
do PIB em 2015.” Destacam ainda os analistas da Rosenberg & Associados que
a queda do saldo tem um efeito muito maior do que no período de 2003 a 2004,
quando o crédito correspondia a 25% do PIB, e hoje equivale a mais de 50%.
Brasília
deveria levar em conta esta conclusão deles: “O desmoronamento do crédito tem,
portanto, um efeito muito maior que o já visto em qualquer período da história
brasileira, o que deve ser um dos motivos pelos quais o Copom optou por
encerrar o ciclo de alta da Selic. Como um dos principais canais de transmissão
da política monetária, o mercado de crédito já dá sinais contundentes de
esgarçamento.”
Mais
do que fazer as contas do estrago da política econômica e pensar alternativas
unicamente nos marcos da obtenção de superávit, o que tende a ser inescapável,
seria necessário considerar o tema a partir de uma perspectiva mais abrangente,
a do orçamento público.
“Sabemos,
e esquecemos, que a dívida pública não tem origem fiscal, e sim financeira.
Aceitamos passivamente que o pagamento dos encargos financeiros da dívida, seja
ela interna ou externa, torne-se prioritário. E que os recursos para isso sejam
subtraídos da receita de contribuições sociais criadas para expandir os gastos
universais e redistributivos da seguridade social”, observou a economista
Sulamis Dain em uma análise de 2001, a cada dia mais atual.
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