Olá alunos,
O termo “ajuste fiscal” vem permeando e assombrando muitas conversas
nos dias de hoje. No momento em que estamos vivendo, entender a real aplicação
desse ajuste se faz muito necessário! A postagem de hoje prentende demonstrar
qual seria uma saída para que houvesse êxito no programa.
Esperamos que gostem e participem.
Joyce Borgatti e Palloma Borges,
Monitoras da disciplina “Economia Política e Direito” da Universidade
Federal Fluminense.
Não será surpresa para
quem tem alguma familiaridade com a história econômica mundial reconhecer que
todos os países (todos!) enfrentam, de tempo em tempo, a necessidade de fazer “ajustes” fiscais, ou seja, compatibilizar a
receita do Estado com as suas despesas. A razão disso é simples. À medida que
diminui a lembrança da “crise” anterior, as sociedades vão esquecendo a verdade
elementar de que o Estado não cria recursos. Ao contrário, consome uma parte
deles. O lado otimista desse processo é que ele se repete. Logo, não é
terminal, as economias em geral voltam à ordem fiscal e ao crescimento, depois
do sacrifício.
No caso concreto do Brasil,
que, obviamente, não haveria de ser uma exceção, a periódica necessidade de
“ajuste fiscal” devido ao excesso de gastos vem de muito longe. Pedro II, ao receber a maioridade (24 de julho de 1840) jurou, na sua ingenuidade juvenil:
“Procurarei corresponder à vossa solicitude, fazendo com que a despeza pública
seja administrada, em todos os seus ramos, com a mais severa economia”. Há 175
anos nosso problema já era a “despeza”!
Depois da solene promessa real, autoridades menores
juraram dezenas de vezes na mesma direção. Juras nunca honradas. Aos primeiros
sinais de alívio, em geral produzidos por eventos aleatórios, não resistimos à
tentação de esquecê-las.
O fato é que no longo
interregno de 1840-2015, de crise fiscal em crise fiscal chegamos a ser a sexta
economia do mundo e resolvemos dois problemas que pareciam impossíveis:
estabilizamos o valor da moeda (com Itamar-FHC) e liquidamos a dívida externa
do Estado (com Lula). Infelizmente, ao longo do 2011-2014 crescemos apenas 2,1%
ao ano, ante um crescimento mundial de 3,4%. Em 2014 produzimos,
conscientemente, um desequilíbrio fiscal, cuja correção não pode ser adiada sob
pena de suas consequências serem dramáticas. Ela é condição necessária, ainda
que não suficiente, para a volta do crescimento econômico e do bem-estar do
brasileiro.
O que a Economia pode nos ensinar sobre a qualidade dos ajustes
fiscais? Em primeiro lugar, é preciso entender que é pura “lenda urbana” o tal
“ajuste” profundo e “crível” nas despesas que produz a volta instantânea da
confiança de trabalhadores e empresários e leva ao crescimento. Trata-se de uma
“petição de princípio”. Supõe o que se deseja provar. Há coisas menos prosaicas
e que aprendemos na implantação do Plano Real. Ele conseguiu capturar a confiança
da sociedade com a transparência absoluta dos caminhos que seguiria. Ao
contrário dos velhos “pacotes” não antecipados, com medidas escondidas que
seriam reveladas ao longo de sua aplicação, apresentou-se a estrutura geral do
programa e descreveram-se as medidas futuras. Quando vimos os
consumidores comprando berinjelas em URVs, aprendemos que a “transparência” e a
“clareza do futuro” são condições essenciais para o sucesso de qualquer
programa econômico. Nesse sentido o atual “ajuste” ainda está incompleto. Não
sabemos até agora (a despeito do apoio firme de Dilma e da vontade férrea de
Levy) como atingiremos a “métrica” de sucesso que ele mesmo construiu: um
superávit primário de 1,2% do PIB. Mesmo que aritmeticamente insuficiente, ele
terá um poder de contágio enorme na ampliação da confiança nacional.
Os estudos empíricos de dezenas de programas de
“ajuste fiscal” mostram que: 1. Eles tendem a ser mais bem-sucedidos quando a
ênfase é maior no corte das despesas do que no aumento da receita, principalmente
no que se refere à confiança dos consumidores. 2. O mesmo ocorre com a
recuperação da confiança dos empresários, mas esta aparentemente lhes responde
com menor intensidade. 3. A “qualidade” do corte das despesas e, mais ainda, a
do aumento dos impostos, é muito importante. 4. A expectativa do controle da
relação Dívida Bruta/PIB tem um efeito positivo na redução da taxa de juros
real da economia, e é importante ingrediente.
Tudo que se sabe empiricamente recomenda que, quanto
mais cedo for possível especificar claramente o que faremos com a receita e com
a despesa públicas, mais rápida será a recuperação da confiança dos
consumidores e investidores e maior a probabilidade de sucesso. O tempo
econômico está a exigir uma aceleração do tempo político, mas não estamos perto
do fim do mundo.
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