Olá alunos,
No mesmo instante em que, na última sexta-feira, os líderes
do Banco Mundial, do Fundo Monetário Internacional (FMI) e de outras agências
multilaterais discutiam em seu tradicional encontro de primavera como revigorar
suas operações, a poucas quadras dali, num prestigiado centro de pesquisas de
Washington, o ministro chinês das Finanças, Zhu Guangyao, tentava tranquilizar
a plateia afirmando que Pequim não pretende substituir a ordem econômica global.
A postagem de hoje procura evidenciar na potência mundial que a China está se
tornando e nas consequências disso para todo o globo.
Agradecemos a sugestão dessa notícia que foi enviada pelos
alunos Carolina Byrro, Paula Ladeira, Larissa Vieira, Mariana Del Bello e
Andressa, da turma T1 do primeiro período, da Faculdade de Direito da
Universidade Federal Fluminense.
Esperamos que gostem e participem.
Joyce Borgatti e Palloma Borges.
Monitoras da disciplina “Economia
Política e Direito” da Universidade Federal Fluminense.
Não parecia coincidência. Na véspera do encontro das duas organizações,
fundadas sob a liderança dos Estados Unidos na metade do século passado e que
desde então ditam as regras das transações econômicas globais, a China festejou
a adesão de 56 países - entre as quais o Brasil - ao seu novo banco de
desenvolvimento.
O Banco
Asiático de Infraestrutura e Investimento (BAII), que deverá ser lançado ainda
neste ano e financiará obras no mundo todo, tem sido considerado a última
tacada de Pequim para se contrapor à influência americana no FMI e no Banco
Mundial.
Em outra
frente, os chineses se aliaram a seus parceiros nos Brics (Brasil, Rússia,
Índia e África do Sul) para criar o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), que
terá sede em Xangai e deverá ser inaugurado em 2016. Os Brics também preparam o
lançamento do Arranjo Contingente de Reservas, um fundo nos moldes do FMI para
socorrer membros do bloco em dificuldades.
Qual o
futuro?
As ações
chinesas levaram muitos a questionar na reunião de primavera do Banco Mundial e
do FMI o que ocorrerá com essas organizações e outros bancos multilaterais
quando as novas instituições amparadas por Pequim começarem a operar.
Em
público, tanto o Banco Mundial, quanto o FMI deram as boas vindas às
iniciativas chinesas. Mas os gestos de Pequim também reforçaram os apelos por
reformas nessas instituições, para que se tornem menos burocráticas e cedam
mais espaço para nações emergentes em seus círculos de decisão.
"É
uma ótima notícia que um país como a China, sentada em mais de US$ 4 trilhões
(R$ 12,1 trilhões) de reservas, ponha esses recursos a serviço do financiamento
de infraestrutura e desenvolvimento em vez de investir em fundos de países
ricos", diz à BBC Brasil Luis Alberto Moreno, presidente do Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID), outra organização multilateral sediada
em Washington.
Moreno
afirma, porém, que a entrada da China nessa arena "força uma conversa
sobre como nossas instituições, que têm muita experiência, podem ser mais ágeis
e eficientes, e como podemos corrigir nossos processos".
Nos
últimos anos, muitos países emergentes têm deixado de procurar bancos
multilaterais para financiar obras de infraestrutura por causa das rígidas
regras dessas organizações e de sua aversão a riscos.
Paralelamente,
bancos estatais da China passaram a conceder empréstimos bilionários a
operações chinesas no exterior. A estratégia é mais visível na África, onde
chineses têm financiado e realizado uma série de obras - entre as quais
estradas, ferrovias e conjuntos habitacionais - em troca de matérias-primas.
Para os governos africanos, a
parceria com os chineses se mostrou uma alternativa às lentas e complexas
negociações com bancos multilaterais e países desenvolvidos, que costumam fazer
uma série de exigências para liberar seus recursos.
Já críticos ao modelo chinês dizem
que os empréstimos de Pequim são mais sujeitos a desvios e ignoram boas
práticas trabalhistas e ambientais.
'Dos
bilhões aos trilhões'
Sob a presidência do
coreano-americano Jim Yong Kim, o Banco Mundial parece disposto a ampliar seu
quinhão no financiamento de grandes obras mundo afora. A organização aprovou em
2014 um financiamento para que a República Democrática do Congo conduza os
estudos para erguer oito hidrelétricas no país.
Estima-se que a obra custará ao menos
US$ 50 bilhões (R$ 152 bilhões), o que a tornaria um dos maiores projetos já
financiados pelo Banco Mundial.
Aumentar o volume dos empréstimos é
um dos maiores desafios da instituição. O Banco Mundial calcula que em 2014 os
financiamentos do órgão e de outras agências multilaterais somaram US$ 135
bilhões, enquanto todas as formas de investimentos entre países - como as que a
China realiza na África - atingiram US$ 1 trilhão.
O presidente do banco tem dito que é
preciso passar "dos bilhões aos trilhões", e para isso defende que as
organizações multilaterais se aproximem de bancos privados.
Reforma
atrasada
O avanço chinês também tem reforçado
as cobranças para que o FMI conclua a reforma do seu sistema de cotas para dar
mais poder a Pequim e outras potências emergentes.
O processo se iniciou em 2010, mas
para ser posto em prática ainda precisa ser ratificado pelo Congresso dos
Estados Unidos, maior acionista do fundo e onde muitos legisladores temem que a
reforma enfraqueça Washington perante os rivais russos e chineses.
Em entrevista durante o encontro em
Washington, a diretora-gerente do fundo, Christine Lagarde, cobrou os
legisladores americanos a acelerar a aprovação para que "a instituição
possa continuar a representar a comunidade inteira à medida que ela
evolui".
O Brasil é um dos principais
interessados na reforma. Em discurso à plenária do FMI no sábado, o ministro da
Fazenda, Joaquim Levy, afirmou que a demora em concluir o processo não só
frustra os membros do fundo, como ameaça sua a capacidade de operar.
Apagando o fogo
O surgimento do BAII, o novo banco
chinês de desenvolvimento, foi um dos principais temas discutidos nos
corredores do evento da última semana em Washington.
Os Estados Unidos tentaram até a
última hora enfraquecer a adesão de outros países ao banco, levantando dúvidas
sobre a disposição chinesa em seguir padrões internacionais sobre a concessão
de crédito.
Mesmo assim, até mesmo aliados
próximos dos americanos - como Grã Bretanha, Coreia do Sul e Alemanha -
decidiram integrar a organização, que deverá começar a operar até o fim deste
ano.
Em Washington, o ministro das
Finanças da China, Zhu Guangyao, tratou de acalmar os ânimos americanos.
Em evento no Atlantic Council, ele
afirmou que o BAII não substituirá o Banco Mundial, mas sim o complementará.
Ele disse ainda que a China está
empenhada em fortalecer o FMI e o Banco Mundial, mas que os órgãos precisam de
reformas para melhor assistir países em desenvolvimento.
Entre os bancos multilaterais em
Washington, o discurso também é conciliatório. Os líderes do BID, do FMI e do
Banco Mundial já disseram querer cooperar com as novas instituições chinesas.
O governo chinês também deverá buscar
a aproximação. Observadores avaliam que Pequim está interessada na vasta
expertise dessas instituições, o que tornaria a relação vantajosa para os dois
lados.
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