Olá alunos,
Os efeitos da crise mundial de 2008 ainda se fazem presentes. A postagem de hoje expõe a importância da solidez fiscal para a recuperação da economia.
Os efeitos da crise mundial de 2008 ainda se fazem presentes. A postagem de hoje expõe a importância da solidez fiscal para a recuperação da economia.
Esperamos que gostem e participem.
Fellype Fagundes e Carlos Araújo
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
Fellype Fagundes e Carlos Araújo
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
A ideia que muitos economistas e políticos insistem em
sustentar de que a instituição chamada “mercado” tem a capacidade de
autocorrigir-se e os resultados da distribuição de seus benefícios são “justos
ou merecidos”, dispensando por isso a interferência do Estado é tão absurda
quanto é falsa a afirmação de que os problemas dessa terrível crise na economia
mundial foram produzidos pelo mau comportamento dos “mercados” sem a
cumplicidade dos Estados “soberanos”.
A economia de “mercado” não foi inventada. Há claras
evidências que os “mercados” existem desde a velha Mesopotâmia, 500 anos antes
de Cristo. Ela foi sendo “descoberta” pelos próprios homens na sua atividade
prática de buscar instituições que lhes permitissem facilitar a sobrevivência
material e a possibilidade de combiná-la com sua eterna busca de liberdade de
iniciativa. Ela não é nem perfeita nem imortal. A grande esperança é que a ação
do Estado, garantidora da sua funcionalidade, possa minorar seus defeitos com
as políticas econômica (a flutuação) e social (a desigualdade).
Já passou da hora de os economistas se livrarem de algumas
ingenuidades. A primeira é de que Deus foi bom com eles deixando-lhes como
objeto de estudo um mundo cuja ordem poderia ser descoberta como é, por
exemplo, o movimento dos astros. A segunda é o reconhecimento que, por mais
importante que seja o papel do Estado, o poder incumbente está longe de ser
onisciente e, logo, não precisa ser onipresente e muito menos pretender a
onipotência! A história nos ensinou e a experiência atual confirma que o Estado
precisa ser fiscalmente responsável!
Não é preciso ser economista para entender que a despesa
pública não pode ser, permanentemente, maior do que a receita pública, não
importa a “qualidade” ou a “necessidade” do gasto. Se ele é imperioso e
permanente, só há três formas de atendê-lo: 1. Aumentando a eficiência do
governo. 2. Cortando despesa menos prioritária. 3. Aumentando os impostos. É
uma maldição aritmética desagradável que a relação Dívida Pública/PIB só pode
ser estabilizada num nível cujo financiamento possa ser feito, permanentemente,
com uma taxa de juros real menor do que a taxa de crescimento real do PIB.
Parece razoável concluir, portanto, que o que precisa ser
superado é a irresponsabilidade fiscal dos Estados e a sua incompetência
regulatória. Uma década (ou mais) antes de 2007-2008 a economia mundial viveu
subjugada ao comportamento de Estados pouco cuidadosos fiscalmente e impotentes
diante do poder econômico dos interesses financeiros. A crise que deflagrou a
Grande Recessão é a testemunha da tendência do setor financeiro de servir-se do
setor real e de sua capacidade de apropriar-se do poder incumbente. Os
“indignados” que ocuparam as praças públicas nos centros financeiros passaram a
sugerir a volta de ideias de cérebros peregrinos que “inventaram” outros mecanismos
de organização social. Os mesmos que rechearam de tragédias o século XX. É
preciso insistir que, pelos menos até agora, o “mercado” como instrumento
alocativo relativamente eficiente não encontrou nenhum substituto, como mostram
o fracasso soviético e o sucesso chinês.
A crise americana é menos grave, mas a recuperação tem sido
quase tão penosa quanto a dos países da Eurolândia. Os EUA tinham tudo para
sair mais depressa da crise, mas falta-lhes uma liderança que reconstrua a
confiança da sociedade.
Na Eurolândia, a questão é mais complicada por causa do
desalinhamento das moedas dentro do Euro que causa resultados assimétricos nos
balanços de pagamentos. O jogo dialético civilizatório (apoiado no sufrágio
universal) entre o “mercado” e a “urna” não é uma linha reta: pode sofrer
graves e custosos desvios. O fato fundamental é que ele não resiste à
irresponsabilidade fiscal. Quando esta leva as lideranças políticas à completa
predominância do curto prazo sobre o longo, aproveitando-se de situações econômicas
passageiras favoráveis para permanecer no poder, o “mercado” (isto é, a
realidade fática) acaba cobrando o seu preço.
O Brasil pagou tal preço no passado. Nunca a solidez fiscal
foi tão necessária para nos livrar dos efeitos dessa crise mundial que não dá
sinais de terminar.
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