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segunda-feira, 20 de maio de 2013

Europa vive maior êxodo em 50 anos


Olá alunos, 

As dificuldades econômicas enfrentadas pela Europa desde a crise de 2008 têm provocado o maior êxodo experimentado pelo continente nos últimos 50 anos. Em razão, principalmente, dos altos índices de desemprego e das medidas austeras tomadas pelos governos, deixar o país de origem em busca de melhores oportunidades tem sido a opção de mais de um milhão de europeus.
Esperamos que gostem e participem.

Lucas Dadalto e Silvana Gomes
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense


"Estou a arrumar as malas. Levo quase tudo. Já não sei se volto. Quem emigra quer voltar, mas muitos poucos voltam à base. Farto disto tudo, farto de estar desempregado, de nada servem estes canudos. Quando há trabalhos são sempre temporários, humilhantes, precários, os salários hilários. União Europeia a colapsar, Portugal a mergulhar nestes dias funerários. Vou-me embora, vou para Luanda. Já não há nada aqui pra mim. Isto já não anda nem desanda. Portugal, meu céu, meu lamaçal, assiste ao recital da minha fuga da tua varanda."
Os versos são do rap Meu País, composto pelo português Valete. Mas o texto acabou se transformando em símbolo de um movimento que ganha dimensões inéditas. Em uma Europa com desemprego recorde e, acima de tudo, diante da falta de perspectiva, 1 milhão de pessoas já deixaram seus países de origem em busca de trabalho desde o início da crise, em 2008, no que já está sendo considerado o maior êxodo do Velho Continente em meio século.
Os dados de desemprego na Europa surpreendem até mesmo os políticos mais convencidos de que o continente pode sair da crise. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a Europa tem hoje 10 milhões a mais de desempregados na comparação com 2007. Para muitos, o que mais preocupa é que as projeções deixam claro que a crise não terminará antes de meados da década e que não haverá uma recuperação dos postos de trabalho no curto prazo.
Os últimos dados da União Europeia indicam que 2013 será mais um ano de estagnação, enquanto governos continuam adotando políticas de austeridade e, na visão de críticos, asfixiando as próprias economias.
Diante desse cenário, 400 mil espanhóis já abandonaram o país, segundo dados oficiais do Escritório de Migração da Espanha, país que registra 27% de desemprego. Entre os jovens, a taxa chega a 57%. Muitos foram para Alemanha, Suíça, Brasil e outros países da América Latina em busca de trabalho.
Se em Madri o sentimento é de mal-estar, nem todos no governo admitem que a fuga ocorre pela falta de perspectiva. Na última semana, a presidente do Partido Popular de Madri, Esperanza Aguirre, causou revolta entre os jovens depois de afirmar que a saída dos trabalhadores para o exterior era "motivo de otimismo" para o país.
Mais realista é o presidente do Conselho da Europa, Herman van Rompuy. Na semana passada, em visita a Portugal, ele admitiu: "A paciência das pessoas com as políticas de austeridade está acabando".
Parte desses jovens está indo para a Alemanha, onde a taxa de desemprego é de apenas 5%. Pela primeira vez em mais de 30 anos, o inglês deixou de ser o curso de idiomas mais procurado na Espanha, superado pelo alemão.
Na Alemanha, a Agência Federal de Emprego aponta que o número de trabalhadores espanhóis aumentou 16% em apenas um ano, e 50,2 mil espanhóis imigraram para as cidades alemãs em busca de emprego. "Se a situação econômica na Espanha não melhorar, a tendência vai continuar", declarou Jason Marczak, diretor de políticas no Conselho das Américas.
A chegada dos novos estrangeiros foi notada na Alemanha. Apesar de o governo da chanceler Angela Merkel insistir que precisa de mão de obra, uma pesquisa de opinião feita pelo próprio governo apontou que, de cada 10 alemães, 4 classificaram os espanhóis como "ociosos e pouco trabalhadores".
Movimento generalizado. Em Portugal, os dados do governo apontam que o país encolheu e já perdeu 2% de sua população. Nos últimos dois anos, 240 mil portugueses abandonaram o país em busca de trabalho no exterior, diante de uma taxa de desemprego recorde de 17%. Só em 2012, 30 mil portugueses chegaram em Angola. Hoje, há mais portugueses vivendo em Angola que durante o período em que o país africano era uma colônia portuguesa.
O fluxo também mostra a fuga desses trabalhadores do Sul para o Norte da Europa. O vilarejo de Taesch acabou se transformando no símbolo da invasão portuguesa na Suíça. Dos 1,2 mil habitantes, 700 são portugueses e chegaram nos últimos 12 meses para trabalhar nos hotéis e restaurantes da região.
Na Irlanda, mais de 100 mil pessoas já deixaram o país desde o início da crise da dívida na Europa. Mas, em 2012, a taxa ganhou uma nova intensidade: 3 mil irlandeses deixaram o país por mês, representando o maior fluxo de migração desde a grande fome que atingiu a ilha entre 1845 e 1850.
Os gregos também já abandonaram em massa o país, que em 2013 atravessa o quinto ano de recessão. As estimativas do próprio governo são de que a Grécia tenha perdido 200 mil pessoas, grande parte jovens formados.
Os países do Leste Europeu, duramente afetados pela crise, também registraram uma fuga de seus cidadãos. A Hungria, que teve de ser resgatada, não via uma saída de pessoas em um número tão elevado desde os meses que se seguiram à intervenção da União Soviética em Budapeste, depois das revoltas de 1956.
Cerca de 10% da população da Letônia também deixou o país desde o início da crise. Entre os eslovacos, um a cada cem foi viver no Reino Unido. Diante desse movimento, os britânicos começaram uma campanha para frear a entrada de imigrantes, mesmo os europeus. Para espantar os que pensam em migrar para o país, a campanha mostra que o Reino Unido não é exatamente o que eles pensam: chove muito, não faz sol e o frio é intenso.

5 comentários:

  1. Interessante como o capitalismo sempre dá voltas (com frequentes crises econômicas) e muitas vezes inverte o jogo no cenário mundial.
    A Europa, que ate a 2ª GM era o ''centro do mundo'' em diferentes aspectos, mesmo depois de perder esse posto, continuou sendo atrativa para imigrantes de paises em desenvolvimento por apresentar taxas de IDH e economicas sempre elevadas.
    Com essa crise, a quantidade de pessoas saindo da Europa esa atingindo recordes. O Brasil, com sua recente explosão no cenário mundial, está atraindo cada vez mais imigrantes de várias nacionalidades e vários continentes (invertendo a ordem contraria que permenaceu ate os anos 90), e isso pode gerar muitos reflexos, positivos ou negativos. Porém, certamente o mais preocupante é a questão da xenofobia, que pode crescer em grande escala, se não tomadas as medidas nescessárias para a prevenção deste sentimento.
    É cada vez mais comum se ouvir relatos de espancamento ou atos preconceituosos, inclusive cometidos a pessoas do proprio Brasil(especialmente no ordem Nordeste-Sudeste)!
    Não só no Brasil, mas em qualquer país em momentos de crise, esse sentimento aflora, as pessoas tem a nescessidade de se agarrar a qualquer coisa em momentos dificeis, inclusive discursos nacionalistas exacerbados...
    A conscientização da população em relação ao estrangeiro é essencial, para tornar a situação dele mais facil e a nossa também.
    Ótimo texto, Gabriel!

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  2. Se as projeções dizem que até 2015 a crise provavelmente perdurará, e levando-se em conta que as projeções dificilmente se materializam idealmente, um dos únicos motivos que vejo para ainda não existirem notícias alarmantes sobre o futuro do sistema previdenciário é para não causar angústia em escala global.

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  3. Essa matéria levantou uma questão que acho relevante, o fato da Alemanha continuar crescendo sem se utilizar de medidas tão austeras como seus vizinhos, pesquisando os motivos achei essas duas matérias bem legais:

    http://revistaepoca.globo.com/ideias/noticia/2012/01/por-que-alemanha-e-diferente.html

    http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/118310_MINISTERIO+ALEMAO+DIZ+QUE+NAO+HA+VENCEDORES+NA+CRISE

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  4. Esse é o principal objetivo do blog, levantar debates sobre assuntos nem sempre tão recorrentes na mídia convencional. Obrigado pelas dicas de matérias, Tássia.

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