Olá alunos,
A postagem de hoje tem como objetivo auxiliar na compreensão do fenômeno inflacionário que o Brasil está enfrentando atualmente. A partir de cinco perguntas e suas respectivas respostas, são esclarecidos alguns pontos que dizem respeito à inflação e aos seus desdobramentos para a economia brasileira.
Esperamos que gostem e participem.
Lucas Dadalto e Silvana Gomes
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
Para especialistas ouvidos pela BBC Brasil, o país vive,
atualmente, o "pior dos mundos", com crescimento baixo e inflação em
alta.
Eles avaliam que, para eliminar os dois problemas, o Brasil
precisará de um "forte ajuste".
Para explicar por que a inflação voltou a ser o centro das
atenções na agenda econômica brasileira, a BBC Brasil preparou uma lista de
perguntas e respostas.
Por quê a inflação voltou a
preocupar?
A inflação
é um velho inimigo da economia brasileira. Depois de anos de hiperinflação,
após a adoção do Plano Real, em 1994, a taxa anual caiu de forma significativa.
Em junho
daquele ano, quando a nova moeda foi lançada, a taxa mensal foi de 47,43%. No
mês seguinte, caiu para 6,84%, posteriormente, em setembro, para 1,53%.
Hoje em
dia, o Brasil trabalha com um sistema de metas de inflação anual. O centro da
meta para 2013, estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional, é de 4,5% , mas
o BC admite, ainda dentro da meta, uma variação de dois pontos percentuais para
cima e para baixo.
Nos últimos
12 meses encerrados em março, segundo os dados divulgados pelo IBGE nesta
quarta-feira, a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA) acumulou alta de 6,59%, estourando o teto da meta.
Foi a
primeira vez que isso ocorreu desde novembro de 2011, quando o aumento em igual
período foi de 6,64%.
A alta do
índice em março já era prevista por analistas, mas contribuiu para aumentar os
temores de que a estratégia adotada pelo governo para combater a inflação
esteja sendo ineficiente e as autoridades estejam evitando tomar medidas
"mais duras" nesse sentido, como uma eventual subida dos juros.
O aumento
também torna mais distante o objetivo de manter a inflação em 2013 mais próxima
do centro da meta.
Em 2010, a
taxa foi de 6,5% e, no ano passado, de 5,84%.
O BC
prevê, no entanto, segundo seu último relatório trimestral, que a inflação deva
encerrar este ano em 5,7%.
"A
alta da inflação é extremamente prejudicial ao país. O aumento dos preços mina
o poder de compra da população, especialmente das classes mais baixas que, com
menos dinheiro no bolso, corre mais riscos de ficar endividada e
inadimplente", afirma à BBC Brasil Samy Dana, professor de economia da
FGV-SP.
"Além
disso, cria um cenário de incertezas para o investidor, que, desconfiado dos
rumos da economia do país, tende a suspender ou adiar investimentos,
prejudicando o crescimento", acrescenta.
O que explica a alta da
inflação?
Inúmeros
fatores explicam a escalada inflacionária no Brasil. De maneira geral, a origem
está no desequilíbrio entre a oferta e a demanda.
Segundo o
governo, foi o que aconteceu com os alimentos, já considerados os principais
vilões para o aumento da inflação.
O tomate,
por exemplo, dobrou de preço nos últimos doze meses, com alta de 122,13%. No
mesmo período, a farinha de mandioca registrou alta de 151,39%, segundo dados
do IBGE.
Existe um
consenso de que parte da culpa é das condições climáticas. Nos Estados Unidos,
a seca elevou o preços dos grãos, ao passo que, no Brasil, a seca no Nordeste e
as chuvas na Região Sul também afetaram o valor cobrado pelos alimentos no
mercado doméstico.
Porém,
para especialistas, o aumento dos preços também é explicado pelos rumos mais
recentes da economia brasileira, bem como problemas estruturais do passado.
"Nos
últimos anos, o mercado de trabalho passou por uma melhora importante, e a taxa
de desemprego vem caindo. Paralelamente, devido ao déficit de mão de obra, os
salários subiram, e esse aumento de renda também contribuiu para acelerar o
consumo", explica a economista Alessandra Ribeiro, da consultoria
Tendências, especialista em inflação.
"O
problema é que, ao passo que a demanda cresceu, a produção vem caindo e o nível
de investimento (para ampliar a capacidade produtiva), também. Com mais pessoas
consumindo e menos produtos disponíveis, o desequilíbrio é inevitável e se
reflete nos preços", acrescenta.
"A
pressão por maiores salários também elevou, por sua vez, o repasse de
custos", conclui.
Por fim, o
Banco Central diminuiu os juros, incentivando a expansão do crédito e,
consequentemente, o consumo das famílias.
Como o mercado tem reagido?
Para
especialistas, os rumos recentes da economia brasileira vêm criando um cenário
de incertezas que afasta o investidor.
"Há
um aumento do nível de desconfiança em relação ao Brasil, tanto do ponto de
vista macroeconômico quanto microeconômico. De um lado, existe uma sensação de
que o BC tem perdido autonomia sobre a condução da política monetária. De
outro, há um crescente enfrentamento por parte do governo com o setor
privado", afirma Ribeiro.
"Prova
disso é que o nível de investimentos no Brasil tem caído na comparação com
outros países emergentes. O problema é que, sem novos aportes financeiros,
nossa produção fica comprometida, o que trava o crescimento e gera
desemprego", acrescenta ela.
O que o governo tem feito?
A
principal aposta do governo para a redução dos preços tem ocorrido por meio de
desonerações tributárias.
Recentemente,
por exemplo, o governo prorrogou a alíquota reduzida do Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI) sobre carros até dezembro deste ano.
Além
disso, desonerou a cesta básica, a energia elétrica e a folha de pagamento de
inúmeros setores, entre outras medidas.
A mais
recente foi a decisão de zerar o PIS/Cofins de smartphones de até R$ 1,5 mil
fabricados no Brasil.
Por essa
lógica, o governo espera que as empresas repassem ao consumidor a redução do
custo com os tributos.
A medida,
entretanto, é criticada por especialistas.
Para Dana,
da FGV-SP, a política é "arbitrária" ao privilegiar determinados
setores da economia.
Já para
Ribeiro, da Tendências, o efeito das desonerações não passa de um "alívio
temporário", porque "o preço, ainda que caia a curto prazo, se
desenvolve de acordo com as condições de mercado".
Além de
fazer reduções de impostos, a equipe econômica já negociou com os governos
estaduais o adiamento dos reajustes em transportes coletivos. Já o Banco
Central não descarta um possível aumento dos juros.
Quais medidas devem ser
tomadas?
Para Dana,
da FGV-SP, o governo deveria estimular a concorrência, o que puxaria os preços
para baixo.
"As
margens de lucro praticadas no Brasil ainda são bem maiores do que as de outros
países, como os Estados Unidos, onde o próprio mercado elimina os
ineficientes", afirma.
Segundo
Ribeiro, da Tendências, já passou da hora de o Banco Central subir a taxa de
juros.
"Na
minha avaliação, o BC cometeu um erro grave em 2011, quando decidiu reduzir os
juros na marra apesar de os primeiros sinais do aumento da inflação. Agora,
precisa recuperar o tempo perdido."
Há um
consenso, entretanto, de que o governo deveria corrigir os gargalos estruturais
da economia brasileira, o chamado "Custo Brasil", o que contribuiria
para aliviar a pressão sobre os preços.
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