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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Capitalismo em Choque

Olá alunos,

Pra encerrar o mês de outubro e o período de vocês, vai ai um texto interessantíssimo a respeito do capitalismo e seus corolários. O texto é de autoria de Luiz Gonzaga Beluzzo (sim, ex-presidente do Palmeiras) e foi publicado na Carta Capital. Espero que gostem.


Yuri Antunes Moreira

Monitor da disciplina ''Economia Política e Direito'' da Universidade Federal Fluminense.

O anúncio do conjunto de projetos de infraestrutura envolvendo a participação do governo e do setor privado ensejou mais um debate de grande envergadura intelectual. Estamos nós, o povo brasileiro, diante de uma nova rodada de privatizações ou observamos apenas o prosaico desenvolvimento e aperfeiçoamento dos modelos de concessões e parcerias?
Entre os protagonistas do contencioso semântico não faltaram os recursos retóricos dignos dos animadores de reality shows. “O Choque de Capitalismo de Dilma”, proclama a prestigiosa revista Veja na edição que foi às bancas no sábado 11 de agosto. A reportagem de capa é encerrada com um desafio: “Quem tem medo do mercado?
Mercado? Falam de uma enteléquia congelada em seu imobilismo. Em A Riqueza das Nações, Adam Smith mostrou como o desenvolvimento da economia industrial capitalista promoveu a generalização do mercado. Em outros tempos existiam mercados. O Mercado, com M ­maiúsculo, é uma criação histórica do capitalismo industrial.
No Manifesto Comunista, Marx e Engels celebraram as transformações produzidas pelo capitalismo. “A burguesia não pode existir sem revolucionar constantemente os meios de produção e, portanto, as relações de produção e com elas o conjunto das relações da sociedade… Revolução permanente nas condições de produção, distúrbios ininterruptos de todas as condições sociais, permanente incerteza e agitação, é o que distingue a era burguesa de todas as demais.” As transformações na divisão social do trabalho suscitaram a diferenciação de funções e impulsionaram novas formas de convivência, criaram outros modos de informação e de percepção dos indivíduos, alteraram profundamente os padrões de ocupação do espaço e de utilização do tempo.
A organização e a dinâmica impostas pela generalização dos mercados às sociedades urbano-industriais determinaram à maioria dos trabalhadores a separação entre o local da residência e o de trabalho, e a distinção entre o tempo do labor e o do lazer. As transformações econômicas produzidas pelo mercado expulsaram, dolorosamente, o “novo” indivíduo de seu hábitat “originário”.
Os mercados libertaram, sim, os subalternos das misérias da dependência pessoal e de isolamento espacial, típicas da “economia natural”. Mas as condições da liberdade são as mesmas que aprisionaram suas vidas nas engrenagens da acumulação da riqueza abstrata, do dinheiro.
Marx e Engels escreveram o Manifesto em 1848, antes das escaladas industriais dos Estados Unidos, da Alemanha e do Japão. Extasiados diante da potência revolucionária e “progressista” do capitalismo em seu ímpeto de mercantilização universal, Marx e Engels não anteciparam o papel crucial dos Estados Nacionais na “deformação” dos mercados e das condições da concorrência que determinou o declínio da Inglaterra.
Desde meados do século XIX, as economias retardatárias se desenvolveram, primeiro, sob o livre-comércio patrocinado pelos interesses da haute finance abrigados na City. Depois, nas três últimas décadas dos Oitocentos, sobretudo a partir da Grande Depressão iniciada nos anos 70, os latecomers cresceram à sombra do protecionismo e das regras monetárias liberais do padrão-­ouro. Contradições? Sim, estas são as condições de autotransformação do capitalismo na batalha pela reafirmação de sua “natureza”.
A vulgata liberaloide bate a cabeça contra as realidades que o capitalismo construiu. Em seu frenesi expansivo, ele realiza o seu conceito como forma social de produção nos marcos da propriedade privada. Os critérios privados de apropriação da renda e de valorização da riqueza são executados no âmbito de um sistema econômico cada vez mais integrado e, por isso mesmo, mais “politizado”. As reformas liberalizantes, empreendidas desde o crepúsculo dos anos 70 do século passado, trataram de mobilizar os recursos políticos e financeiros dos Estados Nacionais para fortalecer os respectivos sistemas empresariais envolvidos na concorrência global.
A abertura dos mercados impôs o acirramento da concorrência global e tornou inevitável o fortalecimento das grandes empresas nacionais. Assim a concorrência engendra o monopólio e convida o Estado a “escolher os vencedores”. As fusões e aquisições e a intervenção dos Estados Nacionais desataram a liça por um maior controle dos ­mercados globais.
A intensificação da concorrência entre as empresas no espaço global foi acompanhada de um maior controle da finança desregulada sobre as decisões de consumo e de investimento. A gestão empresarial foi, assim, submetida aos ditames dos ganhos patrimoniais de curto prazo. A ­acumulação financeira acrescentou novos fatores às instabilidades das economias de mercado.
Por isso, os neorreformistas também cuidaram de buscar o Estado e sua força coletiva para limitar as perdas provocadas pelos sucessivos episódios de desvalorização da riqueza.

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quarta-feira, 10 de outubro de 2012

II e III Jornadas Comemorativas de 25 anos de Pós-Graduação da Faculdade de Economia

Olá alunos,

Venho hoje divulgar as II e III Jornadas Comemorativas de 25 anos de Pós-Graduação da Faculdade de Economia serão nos dias 10 de outubro ( hoje), com o tema ''Crise Econômica e Crise da Teoria Econômica'', e 17 de outubro, com o tema ''Política Social''.


Maiores informações:  http://www.proppi.uff.br/novo/ii-e-iii-jornadas-comemorativas-de-25-anos-de-pos-graduacao-da-faculdade-de-economia


Aproveitem e participem,


Yuri Antunes Moreira

Monitor da Disciplina ''Economia Política e Direito'' da Universidade Federal Fluminense.

sábado, 6 de outubro de 2012

OPINIÃO: Latifúndios improdutivos serão transformados em reserva legal.

Olá alunos,

O Blog traz hoje uma excelente notícia publicada no Valor Econômico, de autoria de Gerson Teixeira, um notável engenheiro agrônomo e presidente da Associação Brasileira de Reforma Agrária, a respeito da tão falada concentração fundiária e soluções para o combate a mesma. Tema bastante corriqueiro nos dias de hoje, seja em telejornais, programas de rádio...e etc. Espero que gostem e participem.

Att,

Yuri



De um modo geral, os setores de esquerda ''passaram batido'' com a armadilha fundiária e territorial contida no novo Código Florestal aprovado pelo Congresso, fruto das articulações de alguns setores ambientalistas e do capital financeiro, com a reverência da bancada ruralista.

Trata-se dos desdobramentos sobre a estrutura agrária, da institucionalização do comércio de florestas para fins de compensação dos passivos de reserva legal até 2008, e da utilização de áreas protegidas - área de preservação permanente (APP) e reserva legal (RL) - no mercado de carbono, conforme os arts. 4° e 9°, da Lei de Mudanças Climáticas combinados com o art 41. §4°, do novo Código. Em ambos os casos visam-se os mercados interno e internacional.

A partir da Lei, bolsas de mercadorias e futuros, bolsas de valores e entidade de balcão organizado estão habilitadas a operar no mercado mobiliário títulos de carbono e cotas de reservas ambientas (CRAs) que colocam principalmente a floresta amazônica brasileira com as suas terras e biodiversidade, no circuito da globalização financeira.

Essa opção de política ambiental via o concurso de instrumentos de mercado tem sido denunciada por entidades da sociedade civil por institucionalizar a possibilidade de mercantilização e financeirização do patrimônio natural do país. Bens comuns do povo brasileiro poderão ser oferecidos como alternativa rentista para o capital especulativo internacional.

Além disso, a efetividade desses instrumentos repercutirá no agravamento das gigantescas anomalias da estrutura fundiária do país. E essa derivação do novo Código foi ignorada nos debates sobre a matéria até a presente data.

A demonstração dessa hipótese requer, antes, breve esclarecimento sobre esses novos ''negócios verdes'' que caíram como luva nas idéias da ''economia verde'', defendida pelos países ricos na Rio + 20.

Será possível, neste florescente comércio, eufemisticamente caracterizado como de prestação de serviços ecossistêmicos ou ambientais, ganhos financeiros cumulativos com operações com os dois títulos de crédito sobre uma mesma base física de negócio, isto é, sobre um mesmo imóvel rural. E parte correspondente dos títulos de carbono poderá estar sob o controle de uma empresa em Londres, e parte equivalente das cotas de reservas ambientais sob o controle de outra empresa na Ásia.

Estão elegíveis para o mercado de carbono as atividades de manutenção das APP, de Reserva Legal e de uso restrito, as quais, nos termos da nova legislação, configuram ''adicionalidade'' para fins do mercado de reduções de emissões certificadas de gases de efeito estufa.

As cotas de reservas ambientais serão lastreadas por área em regime de servidão ambiental; áreas excedentes às reservas legais; áreas de reserva particulas do patrimônio natural; e áreas particulares localizadas no interior de unidade de conservação. Ademais, para compensar a agricultura familiar pelo recuo na dispensa reserva legal, prevista no primeiro relatório do Código, a Lei autoriza a utilização dessas reservas no mercado de cotas ambientais. Significa que perto de 4,9 milhões de hectares de matas nativas da agricultura familiar poderão justificar a manuntenção de área devastada de igual até 2008, pelas grandes propriedades.

Sem dúvidas, haveria formas mais aceitáveis para o legítimo estímulo de práticas sustentáveis pela agricultura familiar.

O fato é que essas novas possibilidades de negócios tendem a blindar o latifúndio improdutivo da desapropriação para fins sociais pela subversão, subjacente, do princípio constitucional da função social da propriedade exigido dos imóveis rurais, no caso.

Com efeito, latifúndios improdutivos serão transformados em fábricas de carbono e em repositórios de reserva legal, o que lher assegurará função produtiva e virtuosismo ambiental. Suponha-se um latifúndio improdutivo na Amazônia de 50 mil hectares, com toda a floresta originária preservada. O seu titular, proprietário ou posseiro, poderá fazer excelentes negócios no mercado de carbono em cima de 40 mil hectares, e os outros 10 mil hectares serão transformados em 10 mil cotas de reserva ambiental para compensar os passivos de reservas de outros imóveis.

Pergunta-se: esse latifúndio poderá ser desapropriado? Obviamente não, pois, a área como um todo, ainda que sem gerar um emprego ou sem produzir 1 grama de alimento ou de qualquer outro bem tangível estará prestando ''relevantes serviços ambientais''; portanto, cumprindo a função social. O seu titular, talvez um grileiro, terá um upgrade moral: guardião ambiental! Observe-se que o art. 50 da Lei dispõe sobre as hipóteses de cancelamento das cotas de reserva ambiental, entre as quais, não figura a desapropriação.

Enfim, nem mesmo as mais atentas lideranças da bancada ruralista contavam com 'presentinho' de tal ordem, batalhado pelos chamados ambientalistas de mercado. Considere-se, ainda, o efeito na desorganização do mercado de terras. Os títulos em consideração, com direito reconhecido, terão na floresta lastro material. Como ficarão esses direitos caso os titulares desses imóveis resolvam vendê-los? Ou não poderão fazê-lo ?

Como vimos, por incluir a categoria ''posseiros'', os intrumentos em apreço poderão servir para o ''esquentamento da grilagem de terras'' na Amazônia. Assim, é provável que num futuro próximo o IBGE finalmente informe sobre a posse e o uso dos milhões de hectares no Brasil, atualmente não registrados pelo nosso órgão de pesquisas geográficas.

Em sua, esse tema, de dimensão estratégica para o Brasil, tem sido ignorado nos debates do novo Código Florestal.