Olá alunos,
Em 2007, quando o governo brasileiro anunciou a descoberta das reservas do pré-sal, os preços do petróleo viviam um processo de ascensão surpreendente que teria seu ápice no patamar de US$ 140 o barril, no ano seguinte. A postagem de hoje pretende abordar melhor essa temática tão complexa.
Em 2007, quando o governo brasileiro anunciou a descoberta das reservas do pré-sal, os preços do petróleo viviam um processo de ascensão surpreendente que teria seu ápice no patamar de US$ 140 o barril, no ano seguinte. A postagem de hoje pretende abordar melhor essa temática tão complexa.
Agradecemos a coleta da
notícia aos alunos da Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense,
do turno integral, Guilherme Ferreira, Thalita Reis, Gabriela Bonfim, João
Gabriel Magalhães, Ana Beatriz Silva, João Pedro Boechat e Isabela Cardoso Bahé.
Esperamos que gostem a
participem.
Joyce Borgati e Palloma
Borges.
Monitoras da disciplina
"Economia Política e Direito" da Universidade Federal
Fluminense.
Entusiasmado, o então presidente Luiz Inácio Lula
da Silva defendeu que o Brasil havia ganhado um "bilhete premiado".
"É nosso passaporte para o futuro", disse.
A ideia do governo, na época, era usar essas
reservas para impulsionar um projeto de desenvolvimento: parte dos recursos
provenientes da exploração do petróleo seria direcionada a um fundo para a
educação; além disso, regras de conteúdo local garantiriam o avanço, no país,
de diversos setores - da indústria naval ao fornecimento de peças e serviços para
a construção de plataformas.
Nove anos depois, a indústria petrolífera
brasileira vive uma ressaca desse entusiasmo.
E não apenas em função da operação Lava Jato, que
paralisou parte das operações da Petrobras. Ou da alta do dólar, que apertou as
finanças da estatal, bastante endividada na moeda americana.
Para completar o que parece ser uma
"tempestade perfeita", no início da semana o barril tipo Brent,
negociado em Londres, atingiu US$ 30,43 dólares, valor mais baixo desde 2004.
Em Nova York, o barril de West Texas Intermediate
(WTI) caiu para baixo da casa dos US$ 30 pela primeira vez desde dezembro de
2003.
E analistas de instituições financeiras como o
banco Goldman Sachs não descartam que o produto chegue ao patamar de US$ 20
ainda neste ano, embora muitos também esperem uma gradual recuperação dos
preços no médio prazo.
"É um patamar de preços que lança dúvidas
sobre as margens de lucro que podem ser obtidas com a exploração do pré-sal e
reservas não convencionais mundo afora", opina David Zylbersztajn,
ex-diretor geral da Agência Nacional de Petróleo.
"O que fica claro é que o pré-sal nunca foi um
passaporte para o futuro nem um bilhete premiado. Foi um erro apostar tantas
fichas em um setor que, apesar de extremamente importante e relevante, também é
volátil."
A Petrobras diz que conseguiu alcançar um custo de
extração no pré-sal da ordem de US$ 8 o barril, o que mantém a extração como
vantajosa. Segundo a empresa, a extração dessas reservas estaria, inclusive,
superando as expectativas.
"A constatação da melhor produtividade dos
poços do pré-sal em relação ao previsto na época da descoberta, associada aos
ganhos de eficiência que obtivemos na construção de poços, tem permitido
reduzir significativamente os investimentos previstos", diz a Petrobras em
comunicado à BBC Brasil, citando a "diminuição do número de poços a serem
construídos e o menor tempo gasto para construí-los" e alegando que isso
tem dado competitividade à exploração, mesmo com os preços baixos.
"A produção média por poço no pré-sal tem se
mostrado bem superior à média mundial e, ao mesmo tempo, o tempo necessário
para a construção dos poços foi reduzido em mais de 50% nos últimos cinco
anos", agrega a empresa. "Paralelamente, o atual cenário de baixos
preços do petróleo no mercado mundial tem levado a uma redução dos custos, por
parte dos fornecedores, de diversos bens e serviços utilizados."
Walter de Vitto, analista de energia da Consultoria
Tendências, porém, afirma que para viabilizar novos investimentos o custo se
torna maior - algo em torno de US$ 40 e US$ 50.
"O pré-sal sem dúvida é uma benesse, algo
positivo para o Brasil, mas talvez seja a hora de repensar a estratégia para
explorar essa riqueza, levando em conta a volatilidade desse mercado",
opina Vitto.
"Parece que foi um erro, por exemplo, ter
atrasado a exploração em quase dois anos em um momento em que os preços estavam
nas alturas para se conseguir definir um novo marco regulatório."
Causas
Analistas atribuem a recente queda do petróleo a
três fatores.
"Para começar, como o produto é cotado em
dólar, no geral seus preços tendem a cair quando a moeda americana se valoriza,
como agora", diz de Vitto.
Um segundo fator de pressão sobre os preços seria o
excesso de oferta.
"A questão é que quando os preços do petróleo
estavam altos foram feitos muitos investimentos e abertas novas áreas de
exploração", explica Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura
(CBIE).
Como resultado, a produção se expandiu em um
momento em que a economia global não cresce muito e, portanto, a demanda não
está grande.
"Por isso, o que temos é basicamente um
problema de oferta", diz Pires.
Image
copyrightGetty
Para completar, houve uma mudança na estratégia dos
grandes produtores da commodity, como a Arábia Saudita.
No passado, esses países costumavam fazer cortes em
sua produção para manter os preços relativamente estáveis, sempre que havia uma
queda significativa.
Hoje, porém, com a abertura de novas áreas de
exploração, esses países hesitam em adotar essa estratégia com medo de perder
mercado.
"Os preços podem continuar caindo até maio e
poderiam chegar a US$ 20. Mas a grande questão para a indústria petrolífera não
é tanto até onde podem cair, mas por quanto tempo devem se manter nesse patamar
mais baixo", diz de Vitto.
"E, felizmente para as empresas e países
produtores, acho que há certo consenso de que no segundo semestre já deve haver
uma recomposição de preços para a casa dos US$ 40 ou US$ 50, que seria até
maior não fosse a perspectiva de o Irã voltar a esse mercado com o fim das
sanções ao país."
Pires, do CBIE, concorda que no médio prazo a
tendência é de alta.
"Com o principal problema é o excesso de
produção, conforme as empresas ajustem seus planos de negócios a essa nova
realidade teremos uma recuperação gradual dos preços", opina.
Revisões
Com a queda nas expectativas de receita, muitas
empresas do setor de fato já estão anunciando uma revisão de seus planos de
negócios e investimento mundo afora. Principalmente nas áreas de exploração
mais caras.
A britânica BP, por exemplo, anunciou que irá
cortar 4 mil empregos em suas atividades de produção e exploração em diversos
países.
A própria Petrobras nesta terça-feira anunciou uma
redução de quase 25% em sua previsão de investimento para o período 2015-2019
em um comunicado no qual citou a mudança de patamar dos preços do petróleo e do
câmbio.
No novo plano de negócios, a empresa projeta o
petróleo a US$ 45 na média para 2016 e prevê que um corte de investimentos de
US$ 32 bilhões do que era previsto inicialmente.
"São mais de US$ 30 bilhões que deixarão de
ser investidos na economia e isso evidentemente terá um efeito relevante em
toda a cadeia produtiva do setor, na geração de empregos e etc.", diz
Zylbersztajn. "Por isso, o país perde no médio e longo prazo."
No curto prazo, como ressaltam de Vitto e Pires, é
difícil dizer se o Brasil ganha ou perde com a queda do petróleo.
O país ainda é um importador de derivados dessa
commodity e uma baixa dos preços tende a reduzir os custos dessas compras,
aliviando a pressão sobre a balança comercial brasileira.
Além disso, como os preços dos combustíveis não
foram reduzidos internamente, a Petrobras tem ganhado com a diferença de preços
entre os mercados interno e externo.
"Mas essa é uma situação que, cedo ou tarde, a
empresa será pressionada a mudar”, diz de Vitto.
“Trata-se de uma peculiaridade do mercado
brasileiro, mas acho que dá para dizer que, do ponto de vista da estatal
petrolífera, uma queda do preço do petróleo é sempre uma má notícia. E ao
afetar os investimentos no setor, o Brasil também perde", opina De Vitto.
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