Olá
alunos,
Várias saídas estão
sendo apresentadas ao povo brasileiro visando minimizar os efeitos da crise.
Porém, o anúncio do corte no número de ministérios não teve o impacto esperado,
a que se deve isso, afinal? Em um cenário político-econômico tão complexo e
delicado para o país várias questões nos assolam constantemente. A postagem de
hoje vem nos mostrar como, em 10 (dez) anos, o número de servidores públicos
federais aumentou consideravelmente e como isso implica em uma verdadeira
reforma administrativa.
Esperamos que gostem e
participem.
Joyce Borgatti e
Palloma Borges
Monitoras da disciplina
“Economia Política e Direito” da Universidade Federa Fluminense.
Entre
2003 e 2013, o número de servidores públicos no governo federal subiu 28%, de
456 mil servidores para quase 600 mil. A quantidade de cadeiras de ministros
também aumentou — e hoje é recorde, fazendo do Brasil o país com mais pastas
num ranking das 50 nações com as maiores economias. Mas cortar ministérios não
vai fazer milagre: estudos e análises de economistas sobre a situação da
máquina pública federal mostram que o governo Dilma Rousseff vai precisar de
uma reforma administrativa que signifique mais do que mudança de status de
ministério e incorporação de órgãos, se quiser fazer as contas públicas
respirarem.
A
comparação da administração federal entre 2003 e 2013 é parte de levantamento
realizado pelo economista e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea) José Celso Cardoso, que em 2011 coordenou estudo sobre o perfil
da ocupação no setor público. Quando é vista a variação em cada órgão, um dos
maiores aumentos foi na Presidência da República (143%, de 3,7 mil para 9,1
mil), incluindo a Vice-Presidência e órgãos como a Anac, a Abin e as
secretarias ligadas à Presidência, como Portos, Assuntos Estratégicos e Aviação
Civil. Minas e Energia teve aumento de 69% (de 2 mil para 3,4 mil);
Transportes, de 62% (de 3,8 mil para 6,2 mil); e a Educação, alvo do lema
“Pátria Educadora” do segundo governo Dilma, de 50% (de 164 mil para 247 mil).
A conta não inclui as estatais.
—
Apesar desse aumento de 28%, o ritmo de crescimento do emprego público diminuiu
no 1º governo Dilma em relação aos governos Lula, por causa de fatores como a
crise internacional e a queda do próprio crescimento econômico brasileiro — diz
Cardoso, afirmando também que parte desse aumento vem de concursos feitos antes
do primeiro governo Dilma, mas que tiveram nomeação e posse dos novos
servidores a partir de 2011.
Comparação
entre países
Cardoso
também explica que, ao se examinar período maior — de 92 até o governo Dilma —,
o número atual de servidores federais é menor do que o que havia na 1ª metade
dos anos 90. Além disso, diz ele, o perfil do servidor federal também mudou,
pois “aumentou mais a contratação de servidores para atividades-fim, como
médicos, do que para atividades-meio, como motoristas”.
—
Há uma medida que poderia ser adotada nessa reforma, mas que está sendo deixada
de fora dessa discussão: a queda nos juros da dívida pública, que faria com que
o governo passasse a pagar menos a quem tem títulos da dívida pública. O
governo economizaria muito mais com isso do que incorporando ministérios ou
mudando status de pastas — sublinha Cardoso. — Um argumento para esses juros
altos é que isso ajudaria a combater a inflação; mas a inflação que estamos
tendo é inflação dos preços administrados pelo próprio governo, não é inflação
causada por alto consumo. Além de economizar por passar a pagar menos juros a
quem tem título da dívida pública, o governo veria a arrecadação subir se diminuísse
esses juros, porque juros baixos atraem investimento produtivo.
Em
outro estudo, do ex-diretor da Firjan e hoje consultor Augusto Franco, o Brasil
aparece como o país com maior número de ministérios num ranking com as 50
maiores economias do mundo. Franco diz que a situação brasileira melhora “muito
pouco” com o corte anunciado:
—
O país até sai do 1º lugar, mas vai apenas para a 6ª colocação, que passa a
dividir com a Nigéria.
Nesse
grupo de 50 economias mais importantes, os países têm, em média, 20
ministérios. É o caso, por exemplo, de Japão (20), Reino Unido (22), Itália
(18), México (17), Argentina (17), Chile (21) e França (17). Entre os Brics
(Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), a China, com 21 pastas, e a
Rússia, com 25, ficam perto da média, enquanto a África do Sul tem 35 e a
Índia, 27. O recorde brasileiro em número de ministérios foi publicado no
último dia 16 na coluna de Ancelmo Gois.
O
2º governo FH terminou com 24 pastas. O ex-presidente Lula acabou seu 2º
mandato com 37 ministérios. Dilma passou a ter 39. Segundo Franco, apesar de o
corte de ministérios anunciado agora pela petista estar no caminho certo do
ponto de vista econômico, do ponto de vista político ele deveria ser
acompanhado de reforma política:
—
Foi a pressão dos partidos aliados que fez com que o país chegasse a ter 39
ministérios. Essa pressão só vai diminuir com reforma política.
Comparar
número de ministérios não é, porém, a melhor maneira de avaliar reformas
administrativas, diz José Celso Cardoso, do Ipea:
—
Em comparações entre países, importa menos o número de ministérios e mais o
plano estratégico de cada governo. Depende do contexto socioeconômico e do
plano de cada governo, se é viabilizar exportação, se é atender população
pobre… Depende de quais necessidades cada país tem e de quais ele quer atender.
Para
Cardoso, a eficácia e a efetividade dos programas estratégicos do governo
federal aumentariam se o Planejamento fosse desmembrado:
—
Hoje, esse ministério atua em duas dimensões: uma é o acompanhamento do
Orçamento; a outra, a formulação estratégica dos programas, que o ministério
não consegue fazer justamente porque é consumido pela outra dimensão. Essa
parte estratégica poderia ser fortalecida se saísse do ministério e fosse para
a estrutura da própria Presidência.
Aumento
de cargos comissionados
Além
de aumento do total de servidores federais, ao longo dos anos 2000 e até o fim
do 1º governo Dilma também houve aumento no número de cargos comissionados,
aponta levantamento de Felix Garcia Lopez, também pesquisador do Ipea. Lopez
mostra que, de 1999 a 2013, o número de comissionados foi de 16,6 mil para
cerca de 23 mil, um aumento de 38%.
O
que mais cresceu foram as faixas superiores dos cargos DAS (Direção e
Assessoramento Superiores, conhecidos como comissionados ou de confiança): nos
DAS 4 a 6, a ampliação foi de 85%, enquanto nos 1 a 3, de 29%. O crescimento
maior ao longo de todas as faixas foi, porém, dos cargos comissionados ocupados
por servidores.
Outro
ponto visto pelo estudo é que a rotatividade dos cargos comissionados é menor
nas áreas econômicas, e maior nas áreas sociais.
—
A rotatividade tem momentos de pico, que são os primeiros anos de governo dos
presidentes. A média de rotatividade dos DAS é 30%: ou seja, a cada ano, 3 de
cada 10 nomeados (para cargos comissionados) são substituídos — diz Lopez,
destacando o peso dos cargos de confiança regionais.
— Cargos regionais são
muito disputados e cruciais para entender o apoio parlamentar ao presidente da
República. É um erro falarmos que o presidente tem 23 mil cargos. Não tem. Pode
ter alguma interferência nos cargos 5 e 6, que são 5%, ou 1.300 cargos.
Para
Lopez, corte de ministérios e cargos “muda pouco em termos de racionalidade do
gasto”:
—
A maior parte dos órgãos executa políticas, e quase todas são relevantes.
Provavelmente, o que haverá são cargos DAS redistribuídos ou DAS menores
fundidos em DAS maiores. O problema não é o cargo, mas termos, por exemplo,
falta de critérios para aferir desempenho dos servidores. Se houvesse critérios
claros nisso, o fato de ser servidor ou não (a ocupar o cargo de confiança)
seria pouco relevante. Só é relevante agora porque é um remendo em que se busca
ter maior segurança de que a pessoa domina a função que deve desempenhar.
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