Olá
alunos,
Cada vez mais as contas dos brasileiros chegam mais onerosas,
e, em meio a um cenário de crise, toda a população se pergunta sobre a eficácia
da maior arrecadação de tributos. A postagem de hoje visa problematizar, de
acordo com palavras do Ministro Afif Domingos, a questão.
Agradecemos a notícia fornecida pelos alunos Antônio Augusto,
Juliana Vasconcelos, Gabriel Moraes, Karoline Freitas,Vitor Oliveira da turma
T1 de Direito da Universidade Federal Fluminense.
Esperamos que gostem e aproveitem.
Joyce Borgatti e Palloma Borges.
Monitoras da disciplina “Economia Política e
Direito” da Universidade Federal Fluminense.
Na década de 1990, qualquer debate
político-econômico sempre envolvia uma "palavra mágica":
globalização.
O
termo define as políticas seguidas por países e empresas dentro de uma
realidade em que as multinacionais podiam mudar de país num piscar de olhos e o
dinheiro cruzava fronteiras com a velocidade da internet.
Hoje,
o cenário é outro. O comércio mundial e os investimentos internacionais sofrem
uma retração. Nas principais economias, florescem discursos e práticas
anti-imigração, e a Rodada de Doha, como são conhecidas as negociações
promovidas pela Organização Mundial do Comércio (OMC) em prol da liberalização
de negócios, já dura 13 anos, sem ser concluída.
Simon
Evenett, especialista em comércio mundial da Universidade de Saint Gallen, na
Suíça, defende que houve uma inegável mudança na tendência de globalização
desde a crise financeira global de 2008.
"Isso
afeta mais alguns setores do que outros, mas é evidente no comércio
internacional e no setor financeiro, um símbolo da globalização", afirma.
E
este novo momento já tem inclusive um nome: "desglobalização".
Portas
fechadas
Com
uma economia global abalada, o impacto sobre o comércio tem sido claro
Na
reunião dos países do G20 em 2009 em Londres, no Reino Unido, o grupo das
maiores economias do mundo se comprometeu a "evitar a repetição de erros
históricos", conscientes do perigo que a recessão mundial representava
para a globalização.
Foi
uma referência clara a outra grande crise econômico-financeira dos últimos 90
anos, vivida na década de 30, quando países lançaram mão de políticas
ultraprotecionistas, que, segundo seus críticos, agravaram ainda mais aqueles
tempos difíceis.
O
exemplo mais claro foi a lei Smoot-Hawley, nos Estados Unidos, que elevou
impostos de importação para mais de 20 mil tipos de produtos estrangeiros.
"Ainda
não foi adotada agora uma medida tão óbvia quanto esta, mas os governos vêm
aplicando de forma discreta toda sorte de mecanismos para proteger sua produção
nacional", destaca Evenett.
Com
a economia global abalada, o impacto sobre o comércio tem sido claro. Se nos
anos anteriores a 2008 cada aumento de 1% no PIB global era acompanhado por um
aumento de 2% no comércio mundial, hoje esta proporção é de um para um, nos
melhores casos.
Em
janeiro, o comércio mundial caiu 1,6% e em fevereiro, 0,9%.
"Isso
afeta os setores exportadores, que deixam de ser um motor de crescimento.
Impacta ainda a criação de emprego e o nível dos salários, porque é nestes
setores que estão os postos mais bem remunerados", explica Evenett.
Política
de imigração
Em
todo o mundo, cresce a polêmica em torno da imigração. As barreiras não são
comerciais. O mal estar econômico após 2008 tem alterado o cenário político. No
centro do debate de muitos países desenvolvidos, está o mundo multicultural
gerado pelos fluxos migratórios, outro símbolo da globalização.
Ao
mesmo tempo, movimentos anti-imigração, como a Frente Nacional, na França, e o
UKIP, no Reino Unido, vêm ganhando peso. Um ponto-chave do futuro referendo do
Reino Unido sobre sua permanência na União Europeia diz respeito a uma mudança
defendida pelo primeiro-ministro britânico, David Cameron, em um princípio
sagrado do bloco: a liberdade de circulação dos seus cidadãos entre os
países-membros.
Ann
Pettifor, da consultoria Prime Economics, avalia que o surgimento do partido
Syriza, na Grécia, e dos nacionalistas do SNP, na Escócia, também são
simbólicos deste questionamento da globalização.
"Também
vimos isso na crise de 1930. As pessoas buscam refúgio em diferentes grupos
políticos diante da instabilidade dos mercados e da incapacidade do governo de
reagir", destaca Pettifor.
Fluxo
financeiro
A
globalização do sistema bancário também desacelerou. Outro ícone do mundo
globalizado é o livre fluxo financeiro.
Com
milhões de transações sendo processadas por segundo pela internet nos dias de
hoje, é fácil se esquecer de que, até o fim dos anos 1970, havia um forte
controle sobre a movimentação de capital. Os britânicos tinham, por exemplo, um
limite de 50 libras (R$ 240) para levarem em viagens ao exterior.
Tanto
a direita quanto a esquerda costumam não se lembrar que o pilar desta política
foram os acordos de Bretton Woods, promovidos pelos Estados Unidos e o Reino
Unido e que criaram o Fundo Monetário Internacional (FMI), como o organismo que
supervisionaria o mundo criado no pós-guerra.
Hoje,
não se vê um retorno àquele controle rígido, mas um comunicado do Banco Central
britânico destaca que os bancos estão evitando realizar empréstimos
internacionais.
'Desglobalização'
Em
um recente discurso, Kristin Forbes, integrante do Comitê de Política Monetária
da entidade, afirmou que há uma "contração massiva dos fluxos financeiros
globais", que qualificou como "desglobalização bancária".
Entre
os exemplos deste fenômeno, estão o encerramento de operações bancárias em mais
de 20 países da terceira maior instituição do tipo no mundo, o HSBC.
Muitos
de seus empregados viveram em primeira-mão os efeitos desta retração da
globalização de grandes bancos: entre 2011 e 2013, foram fechados mais de 30
mil postos de trabalho.
Este
caminho também foi percorrido por outro gigante do setor, o Citi, que reduziu
sua presença global para quase a metade de antes, passando a operar apenas em
24 países.
"Mesmo
com a redução de empréstimos internacionais por bancos, para aumentar suas
reservas, a arquitetura financeira mundial não se estabilizou, como mostra o
aumento de US$ 57 bilhões na dívida global desde a crise", diz Pettifor.
O
banco HSBC reduziu presença global, com milhares de demissões.
Pausa
ou retração?
A
pergunta é se estas tendências comerciais, financeiras e políticas marcam uma
nova era ou se são um fenômeno transitório.
Nos
últimos 25 anos, a unificação mundial gerada pela globalização desenhou um novo
planeta.
A
incorporação plena da China e da Índia - que, juntas, têm cerca de 40% da
população do mundo -, bem como do Leste Europeu, são claros sinais do avanço da
globalização.
Enquanto
a Rodada de Doha pela liberalização segue paralisada, os acordos comerciais têm
se multiplicado, com dois destaques: entre os EUA e a União Europeia, que
representam 40% da economia mundial, e entre 15 países do Pacífico na Ásia e
nas Américas.
A
tecnologia também está do lado da globalização, levando mais à ruptura de
fronteiras do que a criação de obstáculos. Em um comunicado recente, o chefe de
pesquisas de comércio internacional do banco holandês ING, Raoul Leering,
apontou fenômenos econômicos, como a crise na Europa, como a causa da atual
desaceleração, mas destacou que a globalização seguirá em frente.
"Não
veremos se repetir o 'boom' dos anos 1990 e do princípio deste século, mas a
integração econômica prosseguirá. Ainda falta uma integração entre países
emergentes, como China, Índia e Filipinas, que têm baixos níveis de
investimentos estrangeiros em comparação com os países desenvolvidos",
avalia.
"A
fragilidade da economia europeia foi um fator desta desaceleração
transitória." Segundo Pettifor, é importante diferenciar a globalização
comercial e financeira. "Não se pode subestimar o poder das forças que têm
contribuído para a globalização. Mas é preciso distinguir a globalização
comercial, que traz benefícios, da financeira, que gera instabilidade e uma
forte reação social e política, que seguirá presente se não for controlada sua
volatilidade."
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