Olá
alunos,
Keynes foi um dos principais pensadores da Economia Contemporânea. A postagem de hoje visa entender um pouco melhor sobre seus escritos.
Agradecemos a notícia fornecida pelos alunos Guilherme
Bastos, Leonardo Ferreira, Richard Pombo Magalhães, Maria Silvia Silvestre da
turma T1 de Direito da Universidade Federal Fluminense.
Esperamos que gostem e aproveitem.
Joyce Borgatti e Palloma Borges.
Monitoras da disciplina “Economia Política e
Direito” da Universidade Federal Fluminense.
Em sua
edição de 6 de maio, a revista Vejaentregou a seus leitores uma
entrevista com o biógrafo e historiador inglês Richard Davenport-Hines.
Davenport é autor de várias biografias encastradas em episódios históricos
populares. Vale a pena a leitura das histórias de vida dos tripulantes e
passageiros do Titanic ou a narrativa, entre ácida e
sarcástica, sobre o caso Profumo, escândalo que explodiu em 1963. An English
Affair: Sex, Class and Power conta as travessuras sexuais e políticas de John
Profumo, ministro das Relações Exteriores de Sua Majestade. O affair Profumo
revela o espírito da Londres profunda, governada por um arranjo social peculiar
“entre espiões, especuladores imobiliários, garotas de programa, puritanismo
sexual e jornalistas mercenários de Fleet Street”.
Davenport
concedeu seus talentos de historiador e biógrafo a John Maynard Keynes. Publicou,
neste ano, The Universal Man, The Seven Lives of John Maynard Keynes.
O projeto de revelar em Keynes o
Homem Universal de seu tempo é realizado de forma brilhante: a formação e o
desenvolvimento de Keynes são analisados a partir da ação concreta do homem de
carne e osso inexoravelmente atormentado pelos conflitos e contradições de sua
época.
O
intelectual, o professor, o homem público, o financista, o amante
dos homens, das mulheres e das artes surge de corpo e alma em sua participação
na vida social, política e cultural da Inglaterra abalada por profundas e
traumáticas transformações ocorridas da era Eduardiana à Primeira Guerra
Mundial.
A Grande
Guerra foi um terremoto que abalou os fundamentos da economia, da sociedade e
sacudiu o ambiente cultural da Europa. O abalo foi devastador. Nas Consequências
Econômicas da Paz, as reflexões de Keynes derramadas nos capítulos que
cuidam da Europa antes e depois da guerra são uma tentativa de demonstrar a
insubsistência dos pressupostos que sustentaram a Ordem Liberal Burguesa da belle
époque.
O
entrevistador anônimo – não há crédito para a autoria da entrevista –
esmerou-se para enfiar o Homem Universal no espartilho do liberalismo
econômico, que, dizem, faz sucesso nas lideranças que organizam panelinhas,
paneleiros e panelaços. Davenport-Hines escapou com habilidade da estupidez
binária que opõe intervencionismo versus não intervencionismo
ou Estado versus mercado. Mas o entrevistado tropeça na bola
ao afirmar que “Keynes acreditava no individualismo, na liberdade e nas artes.
Não na burocracia, no comunismo e na regulação da vida”. Quem afirma ter
esquadrinhado toda a obra do pensador inglês não pode ignorar que sua rejeição
ao individualismo utilitarista dos liberais vitorianos era tão intensa quanto
sua aversão ao comunismo. Keynes prezava como poucos a liberdade política e
almejava o aperfeiçoamento do indivíduo. Era, no entanto, crítico feroz e
implacável do individualismo utilitarista e do “amor ao dinheiro”.
No famoso
escrito Minhas Primeiras Crenças, Keynes confessa que antes da
guerra “a (minha) visão... calçava a ética do autointeresse; à medida que o
autointeresse era racional, se supunha que os sistemas egoístas e altruístas
conduziriam, na prática, às mesmas conclusões... Não era apenas que
intelectualmente erámos pré-freudianos, mas nós tínhamos perdido algo que
nossos antecessores tinham sem substituí-lo”.
Keynes
sintetiza os efeitos do choque causado pela Grande Guerra sobre as consciências
da contraelite inglesa acantonada em Bloomsbury: “Existíamos no mundo dos Diálogos
de Platão; não tínhamos alcançado a República, muito menos As
Leis”.
Depois da
guerra e de Versalhes, Maynard acentuou sua rejeição do liberalismo vitoriano.
No seu célebre artigo de 1926, O Fim do Laissez-Faire, Keynes,
irreverente, ridicularizou a vulgarização do ideário liberal exposto nas Lições
Simples para o Uso dos Jovens, panfleto que a Sociedade para a Promoção do
Conhecimento Cristão do Arcebispo Whately “distribuía indiscriminadamente”.
As tais Lições predicavam
aos jovens ensinamentos inefáveis: “Provavelmente, deve causar mais dano do que
bem qualquer interferência do governo nas transações monetárias dos homens,
seja emprestando e tomando emprestado, ou comprando e vendendo qualquer coisa”.
Keynes fulminou: “Em suma, o dogma se apropriou da matriz educacional.
Tornou-se um receituário de manual. A filosofia política que os séculos XVII e
XVIII forjaram para derrubar reis e prelados se converteu em leite para bebês
e, literalmente, adentrou o quarto das crianças”. Ele vergastou a ideia de que
a busca do interesse privado levaria necessariamente ao bem-estar coletivo.
“Não é uma dedução correta dos princípios da teoria econômica afirmar que o
egoísmo esclarecido leva sempre ao interesse público. Nem é verdade que o
autointeresse é, em geral, esclarecido.”
As abstrações da racionalidade
desmancharam-se diante dos horrores da vida concreta revelados pela guerra e
pela Grande Depressão dos anos 30. Essa reviravolta espiritual persistirá como
fundamento filosófico e metodológico da obra econômica de Keynes: das fantasias
individualistas e racionalistas para os cruéis labirintos da história, da
temporalidade e da incerteza.
Em 1933, no nadir da Grande
Depressão, Keynes escreveu: “O capitalismo internacional decadente e
individualista, cujas mãos nos aprisionam desde a guerra, não é um sucesso. Não
é inteligente, não é bonito, não é justo, não é virtuoso − e não entrega o que
promete. Em suma, não gostamos dele e já começamos a desprezá-lo... Mas ficamos
extremamente perplexos quando imaginamos o que poderia ser posto em seu lugar”.
No último
capítulo da Teoria Geral, Keynes justifica suas opiniões a respeito
da imperiosa necessidade de prevenir as flutuações e a crise do capitalismo
individualista, mediante a socialização do investimento. “Creio que uma
socialização bastante completa do investimento será o único meio de se
aproximar do pleno emprego, ainda que isso não exclua qualquer forma de
cooperação entre a autoridade pública e a iniciativa privada.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário