Olá alunos,
Alguns
especialistas defendem que, assim como o Brasil criou seu próprio 'estilo' no
futebol, desde o início dos anos 2000 tentou forjar um modelo de capitalismo
próprio, que até poucos anos atrás parecia ser bem-sucedido. A referida
postagem pretende adentrar sobre tais questões para que haja uma melhor análise
sobre o assunto.
Agradecemos a sugestão dessa notícia que foi
enviada pelos alunos Joyce
Bittencourt, Cainan Andrade, Durval Bercelos, Rafael Esteves
Ventura e Beatriz Franco da turma P1 do primeiro período,
da Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense.
Esperamos que gostem e participem. Joyce Borgatti e
Palloma Borges. Monitoras da disciplina “Economia Política e Direito” da
Universidade Federal Fluminense.
O sistema
econômico capitalista "à brasileira" teria o Estado como forte
protagonista. O governo controlaria ou procuraria influenciar empresas em
setores-chave – como eletricidade e petróleo.
Além
disso, levaria adiante uma política de investimentos indiretos em determinadas
companhias privadas - das quais o Estado se tornaria acionista minoritário. Em
2012, ao analisar este fenômeno, a revista britânica The Economist classificou o Brasil como um exemplo
do modelo que classificou como "capitalismo de Estado", que também
seria predominante em países como China e Rússia.
Na
ocasião, a revista chamou atenção para o fato de as estatais representarem 38%
do valor de mercado das empresas brasileiras e concluiu que, assim como Brasil,
China e Rússia cresciam em um ritmo mais acelerado que os países desenvolvidos.
O "capitalismo de Estado" parecia estar em "ascensão" no
mundo.
Desde
então, houve uma reviravolta no cenário econômico global e no Brasil em
particular. A economia brasileira estancou e a Petrobras mergulhou na pior
crise de sua história, na esteira do caso de corrupção revelado pela Operação
Lava Jato.
O modelo
de "capitalismo de Estado", que teria avançado sob os governos de
Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, passou a ser fortemente
questionado. Em um primeiro momento, por opositores. Logo, por integrantes do
próprio governo.
"O
capitalismo de Estado não funciona muito bem em uma democracia", disse o
ministro da Fazenda Joaquim Levy em março, diante de uma plateia de empresários
em São Paulo. Isso quer dizer que esse capitalismo 'à brasileira' fracassou?
'Campeões nacionais'
Para
alguns especialistas, o "capitalismo de Estado" brasileiro teria
começado a se delinear nos anos 1990, paradoxalmente, quando o país e a região
viviam uma onda de privatizações.
Até
então, o Estado detinha o controle direto de muitas empresas. Após as
privatizações, trocou sua participação majoritária em algumas companhias por
uma presença minoritária em várias outras.
O Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e os fundos estatais de
pensão passaram a investir pesado em empresas de diversos setores, desde
mineração até produção de alimentos.
Além
disso, o BNDES estimulou e financiou fusões em áreas como telecomunicações e
produção de celulose, em uma política que visaria criar o que alguns chamam de
"campeões nacionais" e que teria se acentuado no governo Lula.
"O primeiro excesso foi no uso
do capital estatal para (o financiamento de) várias empresas, muitas das quais
foram selecionadas por critérios pouco claros ou não precisavam desses
recursos", diz Sergio Lazzarini, economista do Insper e coautor de um
livro sobre o capitalismo de Estado.
Para Lazzarini, esse processo se
acentuou a partir do governo Dilma, em 2011, quando empresas com controle
majoritário estatal passaram a intervir ativamente no mercado, por meio do
controle de preços ou negociação de contratos.
"Deslocamos o 'pêndulo' em
direção à intervenção estatal quando poderíamos ter buscado uma atuação mais
equilibrada, privilegiando um pouco mais o capital privado e deixando o capital
estatal mais seletivo", opina Lazzarini.
Fator
Petrobras
Para muitos, a Petrobras teria se
tornado um dos símbolos desse "capitalismo de Estado" brasileiro na
última década.
A petroleira estatal foi obrigada
por lei a participar com ao menos 30% dos projetos do pré-sal.
Além disso, buscando gerar
empregos, estabeleceram-se porcentagens de produtos brasileiros que ela teria
de adquirir - como barcos ou sondas de perfuração.
Dilma parece ainda defender essas
regras, argumentando que o que está em jogo é quem vai ficar com a maioria das
riquezas petrolíferas do país. Mas, em seu próprio governo, já
estão surgindo opiniões diferentes.
O ministro de Minas e Energia,
Eduardo Braga, por exemplo, disse no mês passado que iria "revisar ou
debater" a exigência de que a Petrobras tenha um mínimo de 30% dos
consórcios para explorar o pré-sal.
E segundo o jornal Valor
Econômico, que cita uma fonte do governo, essa mudança também seria apoiada
por Levy e pelo presidente da Petrobras, Aldemir Bendine. Para muitos, o tamanho da dívida
da Petrobras, estimada em US$ 135 bilhões, criaria incertezas sobre a
capacidade financeira da empresa de arcar com os investimentos necessários para
garantir esses 30%.
No balanço auditado de 2014
figuram perdas líquidas de US$ 7,2 bilhões, dos quais US$ 2 bilhões estão
vinculados diretamente ao caso de corrupção investigado pela Lava Jato.
Mudança ideológica?
Alguns acreditam que essa crise
estaria afetando a confiança geral em empresas onde o Estado brasileiro tem
participações majoritárias ou minoritárias. "O capitalismo de Estado se
mostrou falido nas empresas de economia mista", disse à BBC Adriano Pires,
diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
"O governo usou a Petrobras
e a Eletrobrás para fazer o que queria, sem respeitar os acionistas (dessas
empresas)." Para ele, a situação se estende
de modo "mais sutil" à Vale, já que o governo ainda exerce influência
em decisões da empresa por meio de fundos de pensão de estatais e do BNDES, que
são seus acionistas. Agora, o Brasil parece mais
concentrado em atrair investimento privado.
O governo Dilma prepara um novo
programa de concessões de obras de infraestrutura que, segundo Levy, terá maior
participação de bancos privados e menos do BNDES, que este ano deixou de
receber transferências diretas do Tesouro.
No entanto, alguns acreditam que
o motor da mudança seria a necessidade de promover um ajuste fiscal para
colocar as contas públicas em dia - e não uma mudança ideológica do governo. "Eu não diria que (o que
estamos assistindo) é um fracasso do capitalismo de Estado, mas sim o fruto de
uma condução equivocada da política econômica que, nos últimos anos, debilitou
as contas públicas", opina Carlos Antonio Luque, professor de Economia da
Universidade de São Paulo.
Para Luque, em países como o
Brasil, com alta concentração de renda e problemas sociais, há muito apoio para
a manutenção de um Estado relativamente forte. "Tenho a impressão de que,
superada esta crise, a presença do Estado continuará sendo importante (na
economia brasileira)."
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