Olá alunos,
As discussões sobre os efeitos que a Copa do Mundo teria sobre a economia do Brasil eram controversas, mesmo após a sua realização ainda não há um consenso sobre sua repercussão econômica. A postagem de hoje expõe algumas análises sobre o cenário Pós-Copa.
As discussões sobre os efeitos que a Copa do Mundo teria sobre a economia do Brasil eram controversas, mesmo após a sua realização ainda não há um consenso sobre sua repercussão econômica. A postagem de hoje expõe algumas análises sobre o cenário Pós-Copa.
Esperamos que gostem e participem.
Fellype Fagundes e Carlos Araújo
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
Fellype Fagundes e Carlos Araújo
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
Nos últimos quatro anos, o governo se esforçou em convencer
os brasileiros que a Copa do Mundo ajudaria a impulsionar a economia, criando
empregos, multiplicando os investimentos e atraindo um grande contingente de
turistas para o país.
"O Mundial é uma oportunidade histórica para
promovermos desenvolvimento socioeconômico no âmbito local e nacional",
disse, por exemplo, Joel Benin, assessor para Grandes Eventos do Ministério dos
Esportes, no início do ano. "Ele gerará 3,6 milhões de empregos,
movimentará bilhões e deixará um legado importante na área econômica."
Passado o evento, porém, consultorias econômicas, como a
Tendências e a Capital Economics, fizeram seus cálculos e concluíram que o seu
efeito geral sobre o PIB foi nulo ou insignificante. Mas poucas esperavam um
impacto negativo.
A divulgação dos resultados para o PIB confirmou que, como
os analistas esperavam, o Brasil entrou em "recessão técnica" no
primeiro semestre de 2014 - situação caracterizada por dois trimestres seguidos
de crescimento negativo.
Segundo dados do IBGE, o PIB do último trimestre recuou
-0,6% na comparação com o trimestre anterior e -0,9% em relação ao mesmo
período do ano passado.
Também houve uma revisão para baixo do resultado do primeiro
trimestre, de um crescimento de 0,2% para uma queda de 0,2%.
Entre os fatores que puxaram o PIB para baixo estão a queda
de 5,4% nos investimentos neste trimestre e a redução de 1,5% na produção da
indústria. Também houve uma queda de 0,5% nos serviços e 0,7% nos gastos do
governo.
Nesta sexta-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega,
voltou a culpar a Copa do Mundo – e redução de dias úteis por causa do torneio
– pelo baixo desempenho da economia. Mantega também citou o cenário
internacional adverso e a seca como motivos para a redução do PIB no 2º
trimestre.
Ele, entretanto, negou que o Brasil tenha entrada em
recessão.
"Não dá para dizer [que o país esteja em recessão]
(...) Não se deve falar em recessão no Brasil pois, para mim, recessão é quando
se tem uma parada prolongada, de vários meses. Aqui estamos falando de um, no
máximo dois [trimestres]. E recessão é quando se tem desemprego. O emprego
continua crescendo e a massa salarial também. Não dá para dizer que a economia
está parada. O mercado consumidor não está encolhendo", afirmou Mantega.
Mantega também atribuiu a desaceleração da atividade
econômica ao aumento dos juros pelo Banco Central.
Mas a Copa foi a culpada pela queda do PIB no período? Se há
consenso de que temos um problema no que diz respeito ao crescimento, o
diagnóstico de suas causas está longe de ser uma unanimidade.
Além do Mundial, o governo também culpa o cenário externo
desfavorável pela recessão.
Para analistas consultados pela BBC Brasil, as causas do
desaquecimento são internas e a Copa até pode ter contribuído um pouco para a
queda do PIB no primeiro trimestre ao paralisar alguns setores do comércio e
serviços e ajudar a frear a indústria, mas definitivamente não está entre as
principais causas da recessão.
'Cereja'
"O Mundial foi apenas a cereja do bolo", diz
Alessandra Ribeiro, da Consultoria Tendências.
"A indústria, por exemplo, já vinha reduzindo suas
atividades em função de uma série de fatores ligados a más políticas, queda no
consumo, expectativas negativas e problemas de competitividade. Quando
começaram os jogos seu ritmo caiu de vez, mas o cenário não seria muito mais
favorável sem o Mundial."
O economista Cláudio Considera, responsável pelo Monitor do
PIB do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV) e
Neil Shearing, da consultoria Capital Economics concordam.
"O impacto da Copa na economia como um todo – seja ele
positivo ou negativo – deve ter sido pequeno.", diz Shearing. "É
preciso lembrar que o torneio só ocorreu no final do segundo trimestre – e em abril
e maio a performance da economia também foi fraca."
Para os analistas, há pelo menos três razões por trás do
desaquecimento.
A principal delas seria o cenário de incertezas das
eleições, que teria inibido ainda mais os investimentos em um momento em que
eles já estavam fracos.
"O Brasil não está crescendo porque não está
investindo", diz Considera.
"E nesse segundo trimestre houve uma queda ainda maior
no nível dos investimentos em função das incertezas provocadas pelas eleições:
os empresários tendem a não se arriscar e estão esperando para ver quais rumos
a política econômica deve tomar."
Ribeiro, da Tendências, concorda.
"Há um descontentamento entre investidores e
empresários sobre a política econômica do atual governo, uma percepção de que
ela está desequilibrada", diz ela.
Entre os alvos das reclamações nessa área estariam o uso de
artifícios como a represa de preços administrados para controlar a inflação, a
suposta falta de controle sobre os gastos do Estado, e o que é visto pelos
empresários como um excesso de intervencionismo estatal na economia.
"Na dúvida, os empresários estão esperando para
investir. Querem ver que governo sairá das urnas antes de tomar qualquer
decisão", opina Ribeiro.
Indústria
Uma segundo causa do desaquecimento seriam problemas
experimentados pela indústria, que teriam derrubado sua competitividade.
A economista da Tendências cita, por exemplo, o fato de o
custo médio dos salários ter aumentado 12,7% desde 2011, enquanto a
produtividade do trabalho na indústria cresceu pouco mais de 2,6%.
"Com o tempo isso ajudou a minar sua capacidade de
competir com importados e no exterior. Além disso, a indústria automobilística
em especial está sendo prejudicada pela queda das exportações para a
Argentina", diz.
Shearing menciona como um terceiro fator para o
desaquecimento a queda geral dos níveis de consumo, que sustentaram o
crescimento nos últimos anos.
"Esse é um dado recente: o consumo começou a cair,
talvez em resposta ao aumento dos juros, após um período de boom no crédito e
aumento no endividamento das famílias", afirma.
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