Olá alunos,
A Copa do Mundo no Brasil foi anunciada como um prelúdio para o crescimento econômico. A postagem de hoje procura indagar quais foram os reais impactos desse evento sobre a economia do país, e quais setores saíram ganhando ou perdendo.
A Copa do Mundo no Brasil foi anunciada como um prelúdio para o crescimento econômico. A postagem de hoje procura indagar quais foram os reais impactos desse evento sobre a economia do país, e quais setores saíram ganhando ou perdendo.
Esperamos que gostem e participem.
Fellype Fagundes e Carlos Araújo
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
Fellype Fagundes e Carlos Araújo
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
Quando a última bola rolar em campo, neste domingo, a Copa
do Mundo terá deixado vencedores e perdedores também na economia.
Apesar das promessas do governo de que o evento geraria
milhares de empregos e ajudaria a impulsionar a economia, ainda não está claro
qual será seu impacto geral nesta área.
Consultorias sondadas pela BBC Brasil, como a Tendência e a
Capital Economics, preveem um efeito nulo ou insignificante sobre o PIB.
Mas se o saldo total do torneio ainda é incerto, está cada
vez mais evidente que alguns setores devem comemorar a "taça" das
vendas, enquanto outros amargarão resultados mais fracos.
Entre os mais beneficiados, segundo o economista Juan
Jensen, da Tendências, estão negócios ligados a segmentos de lazer e turismo,
como bares e os hotéis das cidades-sede.
Produtores de cerveja e fabricantes de televisores também
saíram ganhando.
E ainda na fase de preparação para os Jogos, grandes
empreiteiras lucraram com as obras ligadas ao Mundial.
Do lado dos perdedores parecem estar a indústria em geral e
o varejo não ligado ao torneio - que sofreram com os feriados e paralisações
provocados pelos Jogos.
Os restaurantes também reclamam da falta de movimento no mês
da Copa e do perfil dos turistas que vieram para ver as partidas.
Abaixo, confira o levantamento da BBC Brasil sobre os
campeões e os lanterninhas do Mundial no campo econômico:
Bares
Entre os segmentos que lucraram com o evento, os bares se
destacam.
"Antes da Copa, estávamos preocupados: pela mídia, a
impressão que se tinha era que os estádios podiam cair e correria sangue nas
ruas", diz Percival Maricato, da Associação Brasileira de Bares e
Restaurantes (Abrasel).
"Ainda bem que esse pessimismo não afastou os turistas
e a atmosfera de festa tomou conta do país. Como resultado, tivemos um aumento
do movimento nos bares de até 30%, comparável ao das festas de fim de
ano."
Nos dias de jogos do Brasil, teria havido uma alta de até
70% no movimento segundo a Abrasel.
Como resultado, o segmento deve faturar R$ 12 bilhões no mês
do Mundial, contra R$9 bilhões do mesmo mês do ano passado.
Hotéis
O setor de hotéis também está entre os que saíram ganhando
com o torneio.
Segundo dados do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil
(FOHB) na primeira semana da Copa, os hotéis das cidades-sedes registraram uma
ocupação média de 80% em vésperas e datas de jogos.
Para o presidente do Fohb, Roberto Rotter, há muito a ser
comemorado.
"Em Manaus, por exemplo, os turistas ficaram muito além
do que apenas nos dias de jogos", ele diz.
"Talvez São Paulo, por ter o maior parque hoteleiro do
Brasil e ser voltada para o turismo de negócios, (a ocupação) tenha ficado
abaixo da média das outras cidades-sede, mas também surpreendeu", defende
ele.
Em fevereiro, só 27% dos apartamentos estavam vendidos na
capital paulista. Em junho, o índice chegou a 69% em dias de jogos e vésperas –
valor próximo à média para o período.
"E deve-se considerar que as tarifas estavam mais altas
do que normalmente, então o saldo deve ser positivo mesmo para os hotéis
paulistas", diz o ministro do Turismo, Vinícius Lages.
Televisores
Entre os brasileiros que preferiram assistir aos jogos em
casa, com família e amigos, muitos resolveram garantir uma imagem de qualidade.
Segundo a Associação Nacional de Fabricantes de Produtos
Eletroeletrônicos (Eletros) as vendas de TVs de janeiro a abril aumentaram
quase 45% em relação ao mesmo período do ano passado.
Um dos motores desse crescimento parece ter sido a queda no
preço do produto – que estava 40% mais barato que na Copa de 2010.
Fabricantes e varejistas, porém, parecem ter projetado uma
alta das vendas ainda maior.
Na Zona Franca de Manaus, por exemplo, a produção de TVs de
LED de janeiro a abril foi 65% maior que no ano passado.
Isso explica por que algumas redes já estão fazendo
promoções com a proximidade do fim do Mundial para acabar com os estoques.
Cerveja
No setor de alimentos e bebidas um dos destaques foi o
segmento de cervejas.
Para atender à demanda da Copa, até junho a produção cresceu
11,2% na comparação com o mesmo período do ano passado segundo a CervBrasil, a
Associação Brasileira da Indústria da Cerveja.
A entidade não tem dados relativos a vendas, mas o grande
movimento nos bares parece indicar que esse esforço de produção foi compensado.
Em Porto Alegre, por exemplo, o consumo de cerveja nos dias
de jogos superou o da Oktoberfest – maior celebração da bebida no país -,
segundo um levantamento do jornal Zero
Hora.
Em 18 dias de jogos, teriam sido consumidos nos bares da
cidade 700 mil litros de cerveja, 100 mil a mais que nos 18 dias da Oktoberfest
de 2014.
Construtoras
Segundo estimativas do Sindicato de Arquitetura e Engenharia
(Sinaeco), as obras ligadas à Copa teriam movimentado no setor de construção
civil mais de R$ 35 bilhões desde 2007.
Só os investimentos da chamada Matriz de Responsabilidade,
documento que reúne os projetos a cargo do governo federal, governos estaduais
e cidades-sede, somaram R$ 26 bilhões – e boa parte desse montante acabou no
setor de construção civil.
A Odebrecht, por exemplo, esteve envolvida na construção ou
reforma de quatro estádios.
João Augusto de Castro Neves, analista da consultoria
Eurasia Group, diz porém que o impacto setorial do Mundial poderia ter sido
maior se todas as obras de mobilidade e infraestrutura urbana prometidos para
2014 tivessem saído do papel.
"No final as construtoras que ganharam mais com o
evento foram aquelas envolvidas nas obras dos estádios e seu entorno. Mas o
efeito cascata desses investimentos acabou sendo mais limitado que o
esperado", opina Castro Neves.
Varejo
Se os ganhos parecem ter sido segmentados, Marcel Solimeo,
economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), diz que as perdas foram
mais generalizadas, atingindo boa parte de comércio não ligado a Copa.
"É verdade que estamos em um cenário de desaceleração
econômica e nem todas as perdas podem ser atribuídas ao Mundial", diz ele.
"Mas essas paralisações provocadas pelos jogos –
feriados, semi-feriados, congestionamentos e rodízio ampliado – certamente não
ajudaram a melhorar as vendas."
A Confederação Nacional do Comércio (CNC) estima em R$ 600
milhões as perdas diárias com os feriados.
Em São Paulo, as vendas no varejo registraram queda de 12,9%
em junho ante maio e de 0,75% em relação a junho de 2013.
"O bolso é um só: então se as pessoas compraram mais
televisores devem ter deixado de comprar fogão ou outros itens de
eletroeletrônicos", diz Solimeo.
Indústria
A indústria também sofreu com as paralisações e feriados, em
um cenário já desfavorável, marcado pela queda da produção e investimentos.
O economista da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro
(Firjan), Guilherme Mercês, calcula que só a indústria carioca deixou de ganhar
mais de R$ 320 milhões em função dessas paralisações.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) não tem dados
fechados sobre as perdas dos feriados, mas é de se esperar um impacto
semelhante em outros estados.
"O problema é que haverá um custo para se recuperar
essa queda na produção com horas extras", diz Mercês.
"Além disso, também é preciso considerar as perdas por
conta da queda das vendas em setores não ligados ao torneio."
Restaurantes
No setor de serviços, entre os segmentos que se
surpreenderam com a queda nas vendas está o dos restaurantes.
"Embora ainda não tenhamos dados gerais para o setor,
tivemos uma redução significativa do movimento que não será recuperada depois
da Copa - afinal, ninguém vai almoçar duas vezes para compensar", diz
Sérgio Kuczynski, vice-presidente da Associação Nacional de Restaurantes.
Dono do Arábia, em São Paulo, Kuczynski conta que em seu
restaurante o número de clientes caiu de 20% a 30% durante o torneio.
"Só os serviços delivery tiveram um pequeno aumento, porque muita gente que
ficou em casa para ver os jogos acabou pedindo comida."
Para Kuczynski, o setor saiu perdendo em função do perfil de
turista que veio para o Mundial.
"O turista de Copa em geral viaja sozinho, sem a
família, e vai pouco a restaurante - prefere bar."
Impacto geral
O governo brasileiro sempre exaltou o potencial da
Copa para movimentar a economia e gerar empregos.
"O Mundial é uma oportunidade histórica para
promovermos desenvolvimento socioeconômico no âmbito local e nacional",
disse em maio à BBC Brasil Joel Benin, assessor para Grandes Eventos do
Ministério dos Esportes.
A promessa, feita com base em um estudo de 2010 da
Fundação Getúlio Vargas e da Ernst & Young, era que o Mundial geraria 3,6
milhões de empregos e movimentaria R$ 142 bilhões até 2014.
"A Copa vai produzir um efeito cascata
surpreendente nos investimentos no país", dizia o estudo. "A economia
deslanchará como uma bola de neve, sendo capaz de quintuplicar o total de
aportes aplicados diretamente no evento e impactar diversos setores."
Desde o início do torneio, porém, analistas têm
advertido que a competição pode decepcionar quem espera um efeito econômico
amplo significativo, embora alguns setores específicos devam de fato ser
beneficiados.
Eles apontam que a essa altura os efeitos dos
investimentos em infraestrutura já deveriam ter sido sentidos.
Alguns estudos também sustentam que essas previsões
iniciais estavam superestimadas. Um trabalho do professor da Unicamp Marcelo
Proni, por exemplo, diz que os cenários iniciais não consideraram o
desaquecimento econômico e seus efeitos sobre os investimentos.
Além disso, a agência Moody's e consultorias como a
Capital Economics e a Tendências têm enfatizado o pequeno peso em relação ao
PIB dos gastos dos turistas e investimentos ligados ao evento.
"Como sai caro sediar eventos esportivos como
Copa e Olimpíadas, antes que eles ocorram sempre temos estimativas oficiais
infladas sobre seu possível impacto econômico que mais tarde têm de ser
revisadas", diz Jensen, da Tendências.
"O Brasil está vivendo um momento de
enfraquecimento da atividade econômica em função principalmente da queda dos
investimentos, problemas de competitividade na indústria e incertezas ligadas
às eleições. Nesse contexto, a Copa pode até ajudar alguns setores mas não deve
fazer muita diferença para a economia como um todo."
Longo prazo
O ministro do turismo, Vinícius Lages, admite que o
Mundial não vai salvar a economia, mas exalta o potencial do evento para atrair
turistas e investimentos no longo prazo.
Salvador teria atraído turistas europeus, de mais poder
aquisitivo.
Segundo o ministro, o Brasil projetou uma imagem positiva
durante os jogos e o torneio foi um sucesso do ponto de vista organizacional.
"Nossa tarefa agora é trabalhar para capitalizar essa
boa imagem para atrair mais turistas para destinos variados no país", diz
ele.
João Augusto de Castro Neves, do Eurasia Group, é mais
cético sobre essa possibilidade.
"É verdade que agora está havendo uma leitura positiva
do torneio e ele parece ter sido bem-sucedido do ponto de vista
organizacional", ele avalia.
"Mas no médio e longo prazo essa percepção pode acabar
sendo afetada em duas situações: se os estádios construídos para a Copa virarem
'elefantes brancos' ou se as obras de mobilidade urbana que não ficaram prontas
para o Mundial não forem retomadas."
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