Olá alunos,
Os BRICS tem ganhado cada vez mais importância no cenário internacional. A postagem de hoje expõe a relevância que as reuniões entre os membros do grupo possuem.
Os BRICS tem ganhado cada vez mais importância no cenário internacional. A postagem de hoje expõe a relevância que as reuniões entre os membros do grupo possuem.
Esperamos que gostem e participem.
Fellype Fagundes e Carlos Araújo
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
Fellype Fagundes e Carlos Araújo
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
Nos próximos dias a imprensa deverá veicular diversas
matérias sobre as decisões dos BRICS --sigla criada pelo economista Jim O’Neill
da Goldman Sachs, a respeito da reunião de cúpula realizada em Fortaleza. O
BRICS agrupa países emergentes promissores de grandes dimensões geográficas
como o Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, que pouco têm em comum além
destas características. Poder-se-ia questionar porque então elaborar mais este
artigo. Todos os autores podem entender que possuem alguns pontos de vista
diferenciados que acrescentariam aspectos novos neste debate.
Os meus decorrem da experiência pessoal das negociações com
o Banco Mundial e o acompanhamento das atuações do Fundo Monetário
Internacional por anos, ocupando cargos oficiais. Agora, pretende-se substituir
ou complementar parcialmente suas funções pelos criados pelos BRICS, o NDB -
New Development Bank e o CRA - Contingent Reserve Arrangement, que possuem
dimensões e importâncias menores. Mas que se constitui em desafios aos mecanismos
que existem até hoje, ainda que os discursos oficiais não sejam de confronto,
mas de complementação.
O encontro de Fortaleza mostra que as reuniões de cúpula são
importantes porque propiciam, paralelamente, as realizações de encontros
bilaterais dos países atualmente componentes do grupo, com oportunidades para
celebrar diversos acordos entre eles. Destaquem-se para os da China com o
Brasil, da Rússia com o Brasil, além de encontro de grande importância como da
China com a Índia, e somente este já justificaria todo evento.
Existem potenciais para o estabelecimento de muitos outros
intercâmbios em decorrência das diferenças entre estes países. Além das atuais
limitadas relações bilaterais como as do Brasil com a Índia e a África do Sul,
que podem ser elevadas. Mesmo que sejam somente no aumento do comércio
internacional, sempre ajudam no desenvolvimento destes países membros.
Lamentavelmente, apesar das mudanças que se processam no
atual mundo globalizado, com o aumento da importância econômica e política dos
países emergentes, muitos dos organismos oficiais internacionais existentes
continuam sob o comando dos Estados Unidos e países desenvolvidos como o Japão
e da Europa. Notadamente na gestão de muitas operações que possuem uma
importância fundamental. Apesar das promessas de mudanças políticas nos seus
comandos, decorrentes dos novos aportes de recursos pelos países emergentes,
elas se processam vagarosamente.
Tanto o Banco Mundial como o Fundo Monetário Internacional
dependem atualmente das captações de recursos nos mercados mundiais, a custos
relativamente elevados, pois as contribuições oficiais dos países membros
diminuíram somente para o aumento do capital ou fundos específicos e de forma
limitada. As reservas internacionais dos países emergentes se tornaram mais
relevantes e são aplicadas pelas regras de mercado, mesmo nas aquisições de
bonds com riscos soberanos.
Apesar destes organismos serem internacionais e oficiais,
como agências equivalentes das Nações Unidas, os que tiveram a oportunidade de
negociar com eles sabem que as interferências dos países desenvolvidos,
notadamente dos Estados Unidos, são inevitáveis. Há muitos casos contemplados
com a cooperação onde interesses políticos e comerciais acabam imiscuindo, no
mínimo nas pressões que ocorrem.
Para citar um exemplo concreto, na negociação dos
financiamentos do Banco Mundial para o projeto do Polo Nordeste, há décadas,
quando o INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária iniciaria
a utilização de altas tecnologias do mapeamento proporcionado por imagens de
satélites, consultores daquela organização pressionavam pela utilização de
determinadas tecnologias, provenientes de um dos fornecedores destes serviços.
Este tipo de procedimento acaba sendo usual em muitas operações de suporte para
grandes projetos.
Não podemos ser ingênuos, mas, sim, admitir realisticamente
que os que providenciam os recursos e se apropriam das gestões se tornam mais
influentes, mesmo procurando-se criar mecanismos para um equilíbrio razoável.
Tanto o banco criado como o fundo acabam refletindo a realidade da maior
importância da China atual neste conjunto de países membros do BRICS.
Mas, na medida em que se contam com alternativas, deve se
admitir que os países e os projetos que venham a ser contemplados terão
melhores condições de negociação, não se sabendo ainda quais condicionalidades
serão impostas em diversos casos específicos. Na medida em que países
emergentes estejam participando destas decisões, é de supor que também tenham
vozes mais influentes nestas decisões, mesmo que não se chegue ao ideal de
completa neutralidade.
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