Olá alunos,
A formação adequada dos quadros do governo pode garantir um mínimo de eficácia ao Estado. A postagem de hoje expõe o que seria necessário para a formação desses profissionais.
A formação adequada dos quadros do governo pode garantir um mínimo de eficácia ao Estado. A postagem de hoje expõe o que seria necessário para a formação desses profissionais.
Esperamos que gostem
e participem.
Fellype Fagundes e Carlos Araújo
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
Fellype Fagundes e Carlos Araújo
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
Apesar dos exemplos pelo mundo sobre a necessidade de formação
adequada das equipes de governo, muitos brasileiros ainda preferem apostar na
criatividade e no improviso. Talvez o exemplo mais eloquentes foi instituído na
China, onde os mandarins selecionados por seus méritos eram preparados para
servir a administração dos imperadores – inclusive com a exigência de que
fossem eunucos em alguns períodos históricos.
Mesmo com a implantação do comunismo observa-se que o
Partido Comunista Chinês tira proveito desta tradição para o preparo de sua
elite promovida pela meritocracia ao longo de sua carreira. Os japoneses,
procurando absorver parte deste sistema, desde a Era Meiji no século XIX
criaram as Universidades Imperiais como a de Tokyo e de Kyoto para, entre
outras finalidades, preparar seus funcionários de Estado de carreira. Essas
instituições formam também dirigentes de grandes empresas, das quais se
consagraram alguns líderes políticos.
Também no Ocidente existem exemplos como o da Alemanha, da
qual o Brasil procurou aprender criando a Escola de Administração Fazendária,
boicotado por Ernesto Geisel - que a via como ameaça civil de concorrência à
elite militar, que tem estrutura semelhante mas conta com o princípio da
disciplina. Na França, a ENAP – École Nationale d’Administration Publique –
prepara o grosso dos seus mais altos funcionários de carreira, como os famosos
Inspetores de Finanças, dos mais variados matizes ideológicos como liberais ou
socialistas, dos quais saíram seus principais líderes políticos, como Giscard
D’Estaing e François Mitterrand.
Também na Universidade de São Paulo acabou-se formando uma
elite de diplomados e professores que se prepararam para o exercício de funções
públicas. Mas, como a atividade acadêmica não era suficiente, muitos
integrantes das equipes tiveram períodos de suas carreiras em instituições
públicas e privadas, que se dedicavam aos preparados adequados, inclusive com a
criação de cursos e seminários para estabelecer os relacionamentos
indispensáveis com profissionais preparados em outras regiões brasileiras,
reconhecendo a diversidade dos problemas que precisam ser enfrentados por uma
administração federal.
A preparação destes quadros exige um longo período com uma
formação humanística ampla, pois necessitam contar com uma visão geral que
apresentaria vantagem se fosse sistêmica. As forças que interferem nos
problemas nacionais são muitas.
Ainda que este mecanismo de acesso à elite da administração
pública não seja necessariamente exclusivo, há que se admitir que a seleção
possível de se obter pelo talento de um só líder carismático apresenta riscos
como pelos quais o Brasil já passou.
Experiências acumuladas por longos períodos de carreira,
inclusive nas atividades sindicais ou políticas, acabam exigindo a humildade
para se contar com a colaboração de quadros tecnicamente qualificados, que
ajudam a completar as insuficiências de qualquer líder ou grupo. O desejável é
que contasse sempre com a intuição sobre a complexidade dos problemas a serem
enfrentados.
Um risco que necessita ser adequadamente coberto é o da
experiência na administração regional, de natureza diferente da nacional.
Enquanto na local muitos dados são os decorrentes de decisões nacionais, no
âmbito federal eles costumam ser variáveis a serem manipuladas com arte pela
política, sendo totalmente diversos dos recebidos como definidos.
Nenhuma equipe governamental conta com todas as
qualificações indispensáveis, mas parece que o mínimo indispensável deveria
constituir a sua base, para permitir um comando definido. Em muitos países a
administração pública é predominantemente de quadros estáveis e de carreira. No
Brasil, ainda que estas conquistas já existam em diversos organismos, há um
exagero de nomeações de confiança, dentro de um sistema político
lamentavelmente desorganizado.
É evidente também a existência dos interesses corporativos
de quadro e grupos organizados entre os funcionários de carreira, notadamente
em organizações com muito poder. Parece conveniente que fique claro que o
comando das decisões é de caráter político, daqueles que foram consagrados pelas
urnas, definindo-se o que é uma decisão política e o que seria de contribuição
técnico-burocrático. Já existem boas experiências setoriais acumuladas, nas
quais esta convivência vem sendo eficiente. Sabendo-se que muitas vezes se faz
o que é possível e não o que se quer, o preparo adequado de um equipe de
governo pode garantir um mínimo de eficiência, ainda que não seja a garantia do
sucesso.
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