Olá alunos,
O Ipea - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - sinalizou que o modelo de financiamento de passagens ora adotado é insustentável. No mesmo estudo no qual é feita tal constatação, são fornecidas alternativas para a configuração vigente, as quais são expostas na notícia de hoje.
Esperamos que gostem e participem.
Lucas Dadalto e Silvana Gomes
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
As mais de
50 milhões de pessoas que usam ônibus, trens, metrôs e barcas diariamente no
Brasil são as responsáveis pelo custeio do serviço de transporte público
urbano. O modelo de arrecadação por meio das tarifas cobradas ao passageiro –
adotado em quase 100% das cidades brasileiras – não é sustentável e não há
margem para investimentos em expansão e melhoria. Além disso, entre 2000 e
2012, a tarifa de ônibus subiu em torno de 65% acima da inflação, enquanto o
transporte privado vem ficando mais barato.
A posição é do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão estatal que lançou nesta quinta-feira
(04/07) a nota técnica Tarifação e financiamento do transporte
público urbano, assinada por nove pesquisadores. Motivado pelas
manifestações que tomara as ruas nas últimas semanas – e que começaram por
causa do aumento das passagens de ônibus – o Ipea pretende, com o documento,
apresentar à sociedade modelos alternativos de financiamento.
“Novos seguimentos da sociedade
devem participar do financiamento do transporte público”, afirma o pesquisador
Carlos Henrique de Carvalho, um dos responsáveis pelo estudo. De acordo com o
levantamento, a insatisfação com o alto custo e a péssima qualidade do
transporte chegou a um ponto crítico – comprovado pela adesão às manifestações
nas ruas – como uma consequência de sucessivas políticas de incentivo ao
transporte individual, como redução de impostos para a aquisição de veículos e
o congelamento do preço da gasolina.
Apesar das especificidades de cada
região ou cidade, o estudo do Ipea conclui, em termos gerais, que o aumento nos
custos de mão de obra, do diesel e dos impostos e taxas influenciaram o aumento
das tarifas. O diesel, por exemplo, subiu 129% acima da inflação nos últimos 12
anos, principalmente em decorrência de uma "política federal de redução
gradativa dos subsídios" no preço do combustível, que, hoje, representa
entre 22% e 30% da composição da tarifa, segundo o documento.
Medidas anunciadas recentemente
pelo governo – como desoneração da folha de pagamento para empresas do setor e
o corte de impostos sobre o faturamento dessas companhias – são visas com bons
olhos pelos pesquisadores do Ipea, mas eles defendem um modelo mais rigoroso de
regulação.
"O que ocorre no país são
regulações frágeis que muitas vezes permitem certa ineficiência do sistema e
lucro maior do setor privado", avalia Carlos Henrique, que defende a
garantia de que o dinheiro gerado por essas medidas vá diretamente para o
investimento no transporte público.
Usuário de automóvel
O que há hoje no mercado
brasileiro, segundo o estudo, é um "círculo vicioso" em que,
aumentando os insumos, o custo fica mais alto. Quando sobe a tarifa, há uma
perda de mercado, já que o transporte público fica mais caro que o transporte
privado. "Esse modelo tem distorções", conclui Carlos Henrique, que
alerta para a falta de margem, nesse modelo ancorado apenas nas tarifas, para
investimentos em expansão e melhorias.
Uma das soluções apresentadas pelo
instituto é a participação do usuário de veículo particular no financiamento do
transporte público. Entre as estratégias estão taxa sobre combustíveis; taxa
sobre uso da via sujeita a congestionamento (uma espécie de pedágio urbano
adotado em Londres, por exemplo); cobrança de estacionamentos em via pública (a
chamada zona azul) ou cobrança de estacionamentos de uso privado (como shopping
centers).
Outra
saída poderia ser o aumento da carga tributaria (IPI, ICMS, IPVA) para os
proprietários. Apesar disso, os pesquisadores reconhecem que taxar a aquisição
representará um impacto grande na economia nacional. Uma saída seria focar no
uso contínuo do automóvel, que hoje causa um impacto de cerca de 20% no custo
do transporte público nacional.
"A partir do momento que você
taxa o transporte individual, você tem que garantir que esses recursos
arrecadados com essa nova tributação sobre o transporte individual vão para
financiar o transporte público", alerta o pesquisador.
Outros modelos
As alternativas apresentadas no
estudo foram classificadas a partir da origem dos investimentos. Partindo da
sociedade, há a utilização do orçamento geral (modelo adotado por São Paulo e
outras cidades na Europa) ou de fundos vinculados a outras políticas públicas
(como educação).
A partir do setor produtivo, há o
vale transporte (no qual empregador participa dos gastos) e a incidência de
impostos extras na folha de pagamento. Há, também, a alternativa de taxar os
proprietários dos imóveis beneficiados pelos investimentos em transporte,
através da captura de parte da valorização imobiliária decorrente da criação de
novas rotas. Outro modelo teria origem nas receitas de atividades geradoras de
renda associadas ao transporte (serviços, comércio, publicidade, por exemplo),
o que faria retornar essa renda em forma de investimento.
O Ipea defende que as alternativas
apresentadas precisam ser discutidas pela sociedade e podem ser adotadas de
maneira combinada.
Sobre a tarifa zero, proposta do
Movimento Passe Livre, que iniciou os protestos, Carlos Henrique acredita que
não há necessidade de chegar a um modelo tão radical, no qual todo o custo do
transporte cairia totalmente sobre a sociedade. Na visão dele, o ideal seria
chegar a um modelo intermediário.
"A tarifa é um elemento
importante de gestão urbana, estimulando ou desestimulando a ocupação de áreas,
[...] além disso, é um elemento de gestão de demanda do transporte",
afirma. Ele cita como exemplo o metrô de São Paulo, que, com tarifa zero, não
haveria como aumentar a capacidade num curto prazo: "Seria um grande
contingente de pessoas que a capacidade não suporta".
Paíque Duques, um dos
representantes, em Brasília, do Movimento Passe Livre, diz que há uma
necessidade urgente de deixar de considerar o transporte público como
mercadoria e passar a tratá-lo, de fato, como serviço público. "Para ele ser
serviço público, ele precisa de financiamento pela circulação do veículo, não
pela circulação do usuário", afirmou.
http://www.youtube.com/watch?v=GjRU4yMD2Lc
ResponderExcluirVídeo essencial para compreender o manifesto do MPL, grupo que há anos puxa a luta por transporte público decente, e que puxou a luta pela redução da tarifa em junho, em São Paulo.