Olá alunos,
A postagem de hoje mostra como medidas que estimulam o empreendedorismo na população carcerária podem se tornar um importante fator de ressocialização dos presidiários, contribuindo, inclusive, para a redução da reincidência.
Esperamos que gostem e participem.
Lucas Dadalto e Silvana Gomes
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense
Duas
entidades, uma na Grã-Bretanha o outra nos Estados Unidos, vêm colhendo os
frutos de uma iniciativa cujo objetivo é dar esperança a homens e mulheres
ainda presos, em liberdade condicional ou recém-libertados. A
proposta é transformá-los em empreendedores.
No Reino Unido, uma ONG chamada Startup ajuda
mulheres que estão atrás das grades a iniciar e administrar seu próprio
negócio.
"Sem nosso trabalho, essas mulheres acabam
marginalizadas ao voltarem para suas comunidades", afirmou sua fundadora e
CEO Juliet Hope à BBC.
"Elas não acham trabalho e correm o risco de
até perder seus filhos. E tampouco vão conseguir empréstimos de nenhum banco
para dar o pontapé em seus negócios", acrescentou Hope.
De cocaína a cosméticos
Uma das muitas ex-prisoneiras que deve seu recomeço
à ONG é a britânica Roslyn Callender, de 57 anos.
Viciada em cocaína, ela foi presa por tráfico de
drogas.
"Eu estava em uma missão suicida. Só queria
morrer", afirmou ela.
"Estava fora de controle; era viciada de
drogas pesadas", acrescentou.
Pelo crime, foi condenada a quatro anos e meio de
prisão.
A reviravolta em sua vida aconteceu quando Roslyn
conheceu a Startup ainda na cadeia.
Libertada em 2009 após cumprir dois anos da pena e
livre das drogas, Roslyn vende, desde então, outro tipo de produto: cosméticos.
Ela comercializa as mercadorias em mercados de ruas
no sul de Londres e agora planeja expandir seu negócio.
Roslyn pensa em vender cosméticos fabricados por
ela mesma em casa e não apenas produtos de marcas conhecidas.
Reincidência
As mulheres são escolhidas pela ONG enquanto ainda
estão presas, ou indicadas pelo serviço de liberdade vigiada da prisão ou
organizações humanitárias.
O critério de escolha não se baseia no crime que
elas cometeram, mas, sim, em seus planos de negócio.
A entidade diz gastar cerca de 8 mil libras (R$ 27
mil) por cada quatro mulheres. Todas elas têm participar de workshops semanais
durante um ano, enquanto duas delas receberam ajuda para escrever um plano de
negócios detalhado.
Uma delas conseguiu uma doação de 2,5 mil libras
(R$ 8,3 mil) para colocar de pé o seu projeto.
A taxa de sucesso foi expressiva. "Até agora,
as 700 mulheres que participaram de nosso programa, apenas uma cometeu um crime
novamente durante um ano", afirmou Hope.
Na Grã-Bretanha, a taxa média de reincidência para
ex-presidiárias é de 51% em 12 meses. Ou seja, uma a cada duas ex-prisioneiras
volta a cometer um crime.
A Startup é financiada por um fundo cujos recursos
vêm de cada aposta feita na loteria federal britânica (uma espécie de Mega
Sena).
Sonho americano
Do outro lado do Atlântico, uma
iniciativa similar vem contribuindo para a ressocialização de ex-prisoneiros no
Texas.
Sediado
em Houston, o Prison Entrepreneurship Program (PEP) (Programa de
Empreendedorismo na Prisão, em tradução livre) já ajudou a mais de 1,2 mil
presidiários desde que foi fundado em 2004.
Um dos
diretores da PEP, Jeremy Gregg, disse: "Nós não estamos pedindo às pessoas
que perdoem esses homens. Mas 95% de todas as pessoas na prisão nos Estados
Unidos vão ser libertadas em algum momento, e metade delas acabam voltando para
a prisão."
"O
desafio é mantê-los distantes da violência, e nós oferecemos meio para atingir
isso, ajudando esses homens a começar seu próprio negócio, ou aumentarem suas
chances de ser contratado em algum tipo de emprego".
O PEP é
aberto a presidiários que tem um diploma de Ensino Médio. Os únicos que não
podem se candidatar ao programa são estupradores.
Jeremy
descreve o processo de candidatura como "muito rigoroso".
Todos
os anos, mais de 6 mil candidatos submetem-se a provas escritas e entrevistas
para até 300 vagas.
Os
candidatos aprovados são transferidos para a prisão de Houston, no Texas, onde
o PEP opera. No local, participam de aulas intensivas em vários tópicos da área
de negócios, todas gratuitas.
No
final dos 12 meses, eles ganham um certificado em empreendedorismo da Baylor
University, sediada em Waco, no Texas.
"Cerca
de 120 negócios que a PEP ajudou a formar vão muito bem. Dois deles já faturam
cerca de US$ 1 milhão (R$ 2,2 milhões)", afirmou Jeremy.
"E
mais importante: a taxa de reincidência é de 5%", acrescentou.
Jeremy
acrescenta que a PEP não recebe financiamento do governo e só é subsidiada por
doações. O custo por presidiário é de cerca de US$ 8.750 (R$ 19 mil), o que
inclui a continuidade do apoio da ONG ao fim do curso.
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