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segunda-feira, 8 de julho de 2013

A simplificação da discussão econômica


Olá alunos, 

No texto de hoje, o autor faz um exercício reflexivo acerca da discussão econômica e a forma com a qual esta tem sido simplificada pela mídia. Esse reducionismo pode propiciar análises equivocadas de problemas complexos.
Esperamos que gostem e participem.

Lucas Dadalto e Silvana Gomes
Monitores da disciplina "Economia Política e Direito" da Universidade Federal Fluminense

Esta semana estive na Faculdade de Economia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e na Faculdade de Jornalismo da Fundação Casper Líbero. Nos dois eventos, discutindo a mesma questão: os rumos do jornalismo econômico e das discussões econômicas pela mídia.
Um dos pontos que chama a questão é a maneira como se desenvolve uma teoria econômica. Primeiro, alguns princípios, novas formas de articular as diversas prioridades. Depois esses princípios se transformam quase em slogans, em objetivos únicos que passam a ser brandidos por jornalistas ou economistas de papel.
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A economia é uma ciência humana, que se baseia em alguns princípios, sim, posto que ciência, mas que permite uma variedade de caminhos alternativos para se atingir o que se pretende seja seu objetivo: o de proporcionar o desenvolvimento sustentável do país, com geração de bem estar para seu povo.
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Em muitos aspectos o organismo econômico é similar ao humano. Um médico jamais poderá analisar uma infecção sem levar em conta o equilíbrio do organismo como um todo. Caso contrário, ministrará altas doses de antibiótico que até poderão conter a infecção, mas comprometerão outros órgãos do paciente.
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O grande desafio da política econômica consiste em administrar questões simultâneas, muitas vezes conflitantes,  Há que se permitir o desenvolvimento da economia, mas sem pressionar a inflação. Há que se controlar a inflação, mas sem comprometer drasticamente o emprego e o crescimento.
E ainda tem que administrar conflitos temporais.  Há que se garantir o bem estar presente, mas sem comprometer a estabilidade futura. Tudo isso exigindo escolhas, gradações. Em geral, a maior ou menor ênfase em determinadas prioridades reflete questões objetivas de interesses de setores influentes.
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É isso que explica análises que enatizam exclusivamente um problema, em detrimento dos demais. Imagina-se sempre a economia com um único problema, que precisa ser atacada com a bala de prata, pouco importando as consequências sobre os demais fatores.
Por exemplo, dia desses, o colunista de um jornal econômico mencionava o grande “equívoco” do Banco Central, ao combater a inflação. O “equívoco” consistia em ter promovido uma desvalorização do real, que passou de R$ 1,70 a R$ 2,00 no ano.
Nas cotações atuais, a produção interna está sendo arrasada pela China. Os últimos indicadores apontam para um crescimento do faturamento da indústria de máquinas, e uma redução da produção. Em outras palavras, cada vez mais o industrial importa equipamentos e revende, em lugar de produzir internamente. Faz isso por não conseguir competir com o importado. Ao mesmo tempo, há uma dinâmica de crescimento do déficit em contas correntes que já induz analistas a prever a próximo crise cambial dentro de dois ou três anos.
O que estaria ocorrendo se o dólar tivesse permanecido em R$ 1,70? O Pibinho de 2012 teria sido negativo. O rombo das contas externas teria sido mais agudo. Provavelmente a esta altura do campeonato, todo o mercado já estaria pressionando o câmbio e, em lugar desse carnaval sobre o tomate, a mídia estaria deblaterando sobre problemas concretos, de perspectivas de crise cambial.
E o que o país teria ganhado com o câmbio em R$ 1,70. Segundo o trabalho mencionado pelo jornalista, a inflação anual teria sido 0,6 ponto menor.
O que assusta é que esse tipo de simplificação permeia toda a discussão jornalística.

4 comentários:

  1. "Há que se controlar a inflação, mas sem comprometer drasticamente o emprego e o crescimento."

    Discordo dessa afirmação.

    A inflação deve ser controlada. Custe o que custar.

    As pessoas trabalham para ganhar dinheiro.

    Porém, não adianta ter dinheiro se o dinheiro não poder de compra.

    DAVID LEONARDO ALVES DA SILVA
    Estudante do 1º período - Direito - UFF

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  2. "O que assusta é que esse tipo de simplificação permeia toda a discussão jornalística."

    Daí a suspeita e a desconfiança de que a mídia seja manipuladora.

    Ao invés de contribuir para a educação da população, a mídia faz exatamente o contrário.

    A mídia manipula, omite e distorce informações, atendendo aos interesses de grupos específicos, em detrimento da população.

    DAVID LEONARDO ALVES DA SILVA
    Estudante do 1º período - Direito - UFF

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  3. Sou jornalista (inclusive egresso da Faculdade Cásper Libero citada na reportagem acima) e tive alguma experiência em alguns grandes veículos de comunicação, como a Band e o UOL, além de ter amigos em diversos outros meios. Isso me dá uma noção real de como a realidade acontece no dia a dia dentro dessas grandes corporações que nos fornecem a agenda setting (a escolha de determinados assuntos) de acordo com seus interesses e limitações.
    Concordo que a mídia muitas vezes trata questões complexas com simplismo e que, premeditadamente, dá determinados enfoques em detrimento de uma análise objetiva e, na medida do possível, neutra.
    Mas dois pontos - cada um numa ponta do problema - são importantes para o debate não se esvair nessa ingenuidade aparente do jornalista que escreve a reportagem:
    1) aqueles que detêm a função de comunicar e informar à população sobre os assuntos mais importantes são empregados de empresas que, como as outras, buscam maximizar os lucros. Resultado: péssimas condições de trabalho aos jornalistas, ameaças constantes de demições, assédios morais constantes, pouco tempo para a realizaçao de boas reportagens etc etc etc e etc.
    2) a população - telespectadores, leitores, ouvintes, internautas - precisam discernir o bom trabalho jornalístico da avalanche de informações incompletas e superficiais que recebemos diariamente. É uma peneira da peneira, um trabalho muito difícil que envolve tempo, disposição e espírito crítico.

    A questão se alonga, e a simplificação da discussão econômica, como da política, é de conhecimento de todos (e não é de hoje). Uma coisa importante a se indagar, que o jornalista não faz na reportagem acima, é: "Por quem, afinal, isso ocorre?".
    Com certeza a resposta demandaria uma reportagem muito mais profunda do que esta.

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  4. Alexandre, muito interessante a colocação do ponto de vinda de um jornalista. Realmente, a questão se alonga muito mais do que a reportagem abrange, pois a mesma não objetiva tratar das razões ou explicações deste fato. Quanto ao David, também não adianta termos uma inflação próxima do 0 , com uma grande parte da população desempregada e sem poder de compra. Tem que existir uma balanço.

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