Olá alunos,
o blog traz hoje uma postagem acerca de muito do que vamos estudar na matéria com um viés prático e aplicável. Autores como Marx e Keynes estarão contidos no texto. O texto tem autoria de Delfim Netto e foi publicado no site da Carta Capital. Espero que gostem e participem.
Yuri Antunes Moreira
Monitor da disciplina ''Economia Política e Direito'' da Universidade Federal Fluminense.
A dinâmica do desenvolvimento é produzida pelas inovações na criação
de bens, serviços e processos tecnológicos que estimulam a
diversificação do consumo e elevam o bem-estar da sociedade. Seu
indicador mais sintético é um aumento do Produto Interno Bruto per
capita. Pôr em prática uma “inovação” significa obter crédito para
financiá-la e correr os riscos do investimento.
Não há leis naturais em economia e não existe equilíbrio de longo
prazo que possa determinar a combinação ótima no relacionamento do
Estado e do mercado. O que a história tem mostrado é que um Estado
constitucionalmente controlado, suficientemente forte e determinado a
impor regulação aos mercados (particularmente o mercado financeiro)
parece ser uma combinação razoável que estimula os investimentos e
permite um aumento da quantidade de bens e serviços com os recursos
sempre escassos que as sociedades dispõem.
Marx mostrou, muito antes de Keynes, a quem inspirou
ainda que não expressamente reconhecido, que o “investimento”, isto é, o
aumento da capacidade produtiva derivado da inovação, é feito pelo
“investidor” na expectativa de obter lucro. O aumento do consumo é um
efeito paralelo e indispensável para a continuação do processo
capitalista, mas o seu motor é a tendência do investidor de maximizar a
acumulação.
O consumo é a parte maior da demanda global. Seu componente mais
instável e que produz as maiores variações na renda e no emprego é o
nível do investimento. Este depende, por sua vez, da expectativa da
demanda e da sua possível taxa de retorno (o lucro esperado).
Quando a expectativa de retorno desaparece, desaparece o
investimento. A demanda global entra em colapso e produz uma crise que,
em geral, começa no mercado financeiro e termina no mercado de trabalho.
Na organização social apoiada nos “mercados”, essas crises são ínsitas
ao ajuste entre a demanda e a oferta globais ao qual se soma a
ciclotimia normal do agente econômico. A demanda global tende a flutuar
com ciclos de períodos e amplitudes aleatórios impossíveis de ser
previstos ou controlados pela política econômica.
O fato empiricamente comprovado é que os mercados, apesar de suas
virtudes, têm aquele problema sério: eles são inerentemente instáveis. A
ilusão criada pelos defensores da teoria neoclássica, que os
economistas tinham descoberto políticas econômicas “que tornavam as
crises obsoletas”, foi enterrada à la lumière des flambeaux na crise de 2007…
Os economistas já deveriam ter perdido a inocência revelada pelo
Prêmio Nobel Robert Lucas, que sonhou ter destruído Keynes, quando
decretou, em artigo na American Economic Review, que “a
macroeconomia foi bem-sucedida: seu problema principal, a prevenção da
depressão, está, para todos os fins práticos, resolvido e, de fato,
resolvido por muitas décadas”.
A possibilidade que o mercado possa produzir um nível de desigualdade
disfuncional, juntamente com o fracasso da ideia de que o mundo tinha
entrado num período de “grande moderação” por causa das políticas
econômica, fiscal, monetária e cambial desenvolvidas nos últimos 30
anos, deixou claro que a economia é um conjunto de conhecimentos muito
complexo. Ele está longe de poder ser dominado pela inveja da Física,
que tanto encantou alguns economistas.
O papel fundamental de um Estado constitucionalmente
controlado transcende o de ser o garante das instituições que permitem
aos mercados ser instrumentos indispensáveis ao desenvolvimento
econômico e social. O Estado é, na verdade, o único ente capaz de
corrigir as flutuações do emprego e da produção, em condições especiais e
com medidas adequadas, quando os agentes sociais congelam diante da
incerteza absoluta.
A incerteza no mundo que impacta o investimento agora não é do tipo
que pode ser compensada atuarialmente, ao qual podemos aplicar, para nos
proteger, o cálculo de probabilidade de riscos. Trata-se da “incerteza
essencial”, produzida pelo fato de que o passado não tem qualquer
informação sobre o futuro. É bom que entendamos que só o investimento
público pode superá-la. E a forma mais eficiente de fazê-lo é cooptar o
“espírito animal” dos empresários, dando-lhes a expectativa de taxas de
retorno adequadas, garantia dos contratos e uma regulação inteligente,
como o governo está buscando em várias frentes.
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