Caros Leitores,
A gestão da jornada de trabalho tem sido objeto de pesquisas, com o fim de compreender um formato que proporcione maior produtividade possível, bem como contemple o bem-estar dos trabalhadores.
Para discutir esse tema, trazemos, esta semana, uma notícia acerca de uma modalidade que vem sendo implementada no Reino Unido, no qual os funcionários trabalham apenas 4 dias da semana. Como resultado desta experiência, observou-se que 91% das empresas participantes possuem a intenção de manter o modelo de jornada de trabalho.
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Fernanda Lima é membro do Grupo de Pesquisa em Estado, Instituições e Análise Econômica do Direito
O teste da proposta de redução da jornada de trabalho para quatro dias semanais sem diminuição nos salários foi um sucesso no Reino Unido. 91% das empresas que participaram da experiência de seis meses quer manter o modelo. Outros 4% estão inclinados a manter, e apenas 4% das empresas descartaram a continuidade da semana de quatro dias.
O programa piloto no Reino Unido envolveu 61 empresas de diversos setores e quase 3 mil trabalhadores entre julho e dezembro de 2022 O teste foi conduzido pela organização sem fins lucrativos 4 Day Week Global (Semana de Quatro Dias Global, em tradução livre), junto com a campanha 4 Day Week Reino Unido e a organização de pesquisa Autonomy. Além de mais bem estar e tempo livre para os trabalhadores, a proposta pode ajudar a reduzir o desemprego e proteger o meio ambiente.
As empresas adotam uma jornada de 32 horas semanais, que é o equivalente a quatro dias de 8 horas. Os empregadores que aderiram recebem apoio, na forma de oficinas e seminários on-line com especialistas e mentoria direta com organizações que já implementaram a semana de 4 dias de forma bem sucedida.
Em média, as empresas atribuíram uma nota de 8,5 à experiência como um todo, em uma escala de 0 a 10. Produtividade e performance dos negócios receberam nota de 7,5. As receitas cresceram 35% nos meses do teste, quando comparada com período similar do ano anterior. Houve mais contratações e o absenteísmo de funcionários diminuiu.
A pesquisadora responsável pelo teste, Juliete Schor, professora do Boston College, comemora a pouca variação dos dados entre as empresas. "Os resultados são em geral consistentes em locais de trabalho de vários tamanhos, demonstrando que essa é uma inovação que funciona para muitos tipos de organização", afirma.
"Mas há também algumas diferenças interessantes. Percebemos que trabalhadores de organizações sem fins lucrativos e prestadores de serviços especializados tiveram um aumento maior no tempo gasto com exercícios físicos, enquanto aqueles que trabalham no setor de construção ou indústria tiveram as maiores reduções em casos de burnout (esgotamento) e problemas para dormir."
Tempo com a família
Entre os benefícios para os trabalhadores, a pesquisa registra a diminuição dos relatos de estresse no ambiente de trabalho: 39% das pessoas ouvidas disseram sentir que seu nível de estresse diminuiu, contra 13% que disseram que o estresse aumentou e 48% que não notaram mudanças. Além disso, 48% das pessoas disseram estar mais satisfeitas com seus empregos do que antes do teste.
Um dos ganhos mais relatados foi no equilíbrio entre o trabalho remunerado e as demandas de trabalho doméstico e de cuidados: 60% das pessoas relataram sentir que estava mais fácil balancear as duas pontas.
"Você não tem ideia do que isso significa pra minha família - a quantidade de dinheiro que vamos conseguir poupar no cuidado com as crianças", disse um trabalhador de uma organização sem fins lucrativos citado pela pesquisa de forma anônima.
No mesmo sentido, conflitos entre trabalho e o tempo com a família diminuíram: 54% dos trabalhadores relataram ser menos provável que se sentissem cansados demais para realizar trabalhos domésticos - antes do teste, apenas 10% relataram essa situação.
A pesquisa também buscou saber se a mudança traria benefícios para a divisão do trabalho doméstico entre os gêneros. De fato, homens relataram ter aumentado mais seu tempo dedicado às tarefas de casa do que as mulheres: 27% contra 13%. No entanto, 68% das pessoas não relataram mudanças na divisão da carga desse trabalho entre homem e mulher em seus lares.
O novo CEO da 4 Day Week Global, Dale Whelehan, cita outra diferenças de resultado entre os gêneros detectadas no estudo.
"Homens e mulheres se beneficiaram da semana de quatro dias, mas a experiência das mulheres em geral é melhor. É o caso para burnout, satisfação com vida e trabalho, saúde mental e redução do tempo no transporte. De forma encorajadora, o fardo dos deveres não relacionados ao trabalho fora de casa parece se equilibrar mais, com mais homem assumindo uma parcela maior do trabalho doméstico e do cuidado com as crianças."
Com o resultado do Reino Unido, a Four Week Global chegou a 91 empresas e aproximadamente 3.500 trabalhadores que participaram de programas piloto ao redor do globo, incluindo países como Irlanda, Canadá, Estados Unidos e Nova Zelândia.
Nas próximas semanas, a organização deve divulgar os resultados do teste que está sendo realizado na Austrália. Também já experimentos em desenvolvimento na África do Sul, Brasil e outros países da Europa, com resultados previstos para os próximos meses.
Brasil: reivindicação histórica
A redução da jornada de trabalho sem diminuição de salários é uma reivindicação histórica do movimento sindical brasileiro. Ela está presente na Pauta da Classe Trabalhadora, documento aprovado durante a Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat), que aconteceu em abril de 2022, convocada por dez centrais sindicais. Sobre a questão da jornada, a pauta propõe: "Estabelecer a Jornada de trabalho em até 40 horas semanais, sem redução de salário e com controle das horas extras, eliminando as formas precarizantes de flexibilização da jornada".
No formato de redução para quatro dias por semana, a proposta foi incluída na pauta de reinvidicações dos bancários, em sua campanha salarial do ano passado.
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